Salve, Buteco! E eis que, mais uma vez, o Clube de Regatas do Flamengo tem a sua frente uma viagem a Quito para a disputa de uma partida pela Copa Libertadores da América. Desde que voltou a disputar a Copa Libertadores da América, em 2018, o Mais Querido do Brasil (e do Mundo) percorreu o percurso andino por 6 (seis) ocasiões, entre jogos da própria Libertadores e da Recopa Sul-Americana, colhendo 4 (quatro) derrotas, 1 (um) empate e apenas 1 (uma) vitória.
Falar em jogo em Quito é falar em altitude e um dos posts que mais gostei de escrever foi o que publiquei aqui no Buteco ano passado, intitulado Altitude e Atitude. Nele, onde os estimados Amigos podem checar as tabelas, dividi os estádios mais importantes das 3 Américas em nível de altitude entre os de altitude extremada (acima de 3.000msnm e os de altitude moderada (abaixo de 3.000msnm), além de (detalhe muito importante) identifiquei a real altitude de cada um.
O detalhe é de fato muito importante porque há diversas "pegadinhas" na real localização de cada estádio (em nível de altitude) que passam desapercebidas pela imprensa esportiva e, portanto, pelo público em geral. Meu medo é que as comissões técnicas das equipes brasileiras, ou melhor, especificamente do Clube de Regatas do Flamengo, também não tenham essa percepção.
Percebam, Amigos, que o grande problema da imprensa esportiva brasileira em geral é tratar a Cordilheira dos Andes, na qual países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru têm estádios, como se fosse uma região de superfície plana e não acidentada; como se fosse o Planalto Central ou os Pampas Gaúchos.
Então, por exemplo, é comum a gente ler que o time tal jogará na altitude de La Paz a 3.600msnm. Não sei quem escolheu esse número e nem de onde o tirou, mas o certo é que as delegações desembarcam no Aeroporto de El Alto, situado a 4.079msnm, e depois "descem" para jogar no Estádio Hernando Siles, que se situa não a 3.600, mas um pouquinho abaixo, a 3.581msnm. Por que 3.600? Não sei. Numerologia, Cabala, superstição, apenas a força do hábito ou pura e simples preguiça de pesquisar, vá saber...
Comecei pelo exemplo de La Paz apenas para ressaltar a obviedade de que a Cordilheira dos Andes não é um planalto ou uma planície, bem como que há diferenças brutais de altitude nas cidades onde estão os estádios nos quais os clubes brasileiros (e o Flamengo, portanto) jogam pelas competições da Conmebol.
Inclusive, os 19 metros que separam da verdade a "informação oficial" que a imprensa normalmente divulga sobre a posição do Estádio Hernando Siles são provavelmente irrelevantes, mas os de Quito não me parecem que sejam. Muito pelo contrário. Eis a "Pegadinha de Quito".
Nesses 6 jogos em Quito, Flamengo jogou em 4 estádios diferentes, a saber: Rodrigo Paz Delgado ou Casa Blanca (LDU - 2.726msnm), Olímpico Atahualpa (Municipalidade de Quito - 2.769), Banco Guayaquil (Independiente Del Valle - 2.517msnm) e Gonzalo Pozo Ripalda (Aucas - 2.873msnm).
É isso mesmo que vocês estão lendo: entre o estádio do Aucas e o do Independiente Del Valle há uma distância de 356m de altura. Como a imprensa elegeu os 2.850msnm para todos os estádios de Quito, tratando a cidade como se fosse um pedacinho dos Pampas Gaúchos no Equador, essa sensível realidade passa desapercebida ao público em geral.
Quando digo a vocês que temo que as nossas comissões técnicas também não tenham se atentado para o detalhe é por conta da diferença, que imagino existir, entre jogar contra um forte, organizado e bom time do Independiente Del Valle a 2.517 msnm e jogar contra um amontoado do Aucas, dentre eles alguns jogadores com evidente excesso de peso, porém 356m acima, exatamente a 2.873msnm.
O que se lê a respeito dos efeitos da altitude em atletas de futebol profissional na imprensa, e já vimos que temos que ter filtro para absorver o que se publica sobre altitude, é que os efeitos começam a ser sentidos a dois mil e poucos metros, o que corresponde, mais ou menos, a altura do Estádio Azteca, na Cidade do México.
Esta icônica cena não me deixa mentir.
Feita essa (a meu ver) importante contextualização, vamos aos números atualizados da LDU como mandante, em Libertadores, no Casa Blanca.
Edição |
V. |
E. |
D. |
Algoz |
Gols + |
Gols - |
1999 |
4v. |
- |
- |
- |
9 |
2 |
2000 |
- |
1e. |
2d. |
Olimpia |
2 |
5 |
Corinthians |
||||||
2004 |
3v. |
- |
- |
- |
12 |
3 |
2005 |
3v. |
1e. |
- |
- |
6 |
3 |
2006 |
4v. |
- |
1d. |
Vélez Sarsfield |
16 |
4 |
2007 |
2v. |
1e. |
- |
- |
7 |
3 |
2008 Campeã |
4v. |
3e. |
- |
- |
17 |
5 |
2009 |
1v. |
1e. |
1d. |
Sport Recife |
6 |
6 |
2011 |
3v. |
- |
1d. |
Vélez Sarsfield |
10 |
2 |
2013 |
1v. |
- |
|
---- |
1 |
-- |
2016 |
1v. |
- |
2d. |
Toluca |
5 |
5 |
Grêmio |
||||||
2019 |
3v. |
|
1d |
Boca Juniors |
2 |
|
2020 |
3v. |
|
1d |
Santos |
|
|
2021 |
2v. |
|
1d. |
Flamengo |
|
|
2024 |
2v. |
|
1d. |
Junior Barranquilla |
|
|
Total |
41j. |
37v. |
7e. |
11d. |
124 gols pró |
38 gols sofridos |
Percebam, Amigos, que, a despeito de uma interessante semelhança entre os uniformes, não estamos tratando do Real Madrid dos Andes. É uma equipe forte, hoje com uma tradição respeitável em competições da Conmebol, porém, convenhamos, não a ponto de se equivaler, em competitividade, aos Galáticos, ao AC Milan ou ao Liverpool em suas melhores temporadas de Champions League, convenhamo.
Volta e meia alguém ganha da LDU no Casa Blanca. Viram a lista? Até o Sport Recife já conseguiu. O Vélez Sarsfield chegou até a repetir a façanha. O Flamengo (do Ceni) conquistou a nossa primeira vitória no estádio, em 2021. Logo, é de se perguntar o que fazer para alcançar este feito.
É aqui que entra a atitude.
Qualquer jogo contra os grandes do Equador é difícil pela qualidade do futebol local, que não é mais inofensivo como via de regra era décadas atrás, no Século XX. Muitos jogos disputados a nivel do mar, em Guayaquil (a "Pérola do Pacífico"), também são muito difíceis. O Flamengo chegou a perder para o Emelec por lá (2x3/2012 e 0x2/2019). E quem não se lembra da dramática virada contra os Elétricos Azuis (2x1) com dois gols do jovem Vinicius Jr, em 2008?
O que pega a mais nos jogos em Quito é, especialmente, os segundos tempos das partidas, por conta justamente do fator altitude. Por exemplo, em 2023, no dia 21 de fevereiro, o Flamengo de Vitor Pereira, após desperdiçar algumas chances de gol, uma delas inacreditável, com Gabriel Barbosa, perdeu o jogo nos 45 minutos finais, sem conseguir mais agredir o adversário.
Um mês e pouquinho depois, aos 5 de abril, o Flamengo não teve maiores dificuldades para se impor ao Aucas no primeiro tempo, mesmo não jogando bem. Ocorre que o mesmo problema surgiu, novamente, no segundo tempo. Tomamos a virada com direito a gol de jogador que disputaria com o Walter (ex-Athletico/PR) uma competição de peso (literal sentido da palavra) nas grandes áreas adversárias. Só que (percebam), havia 356m de diferença de altura (localização) entre um estádio e outro. Será que os portugueses sabiam disso? Muito provavalmente, não. O que se sabe é que, contra o Del Valle, o Luso fez 3 substituições, ao passo que, contra o Aucas, 5.
Não que isso seja problema para amanhã. Os imprecisos 2850msnm de referência da imprensa para a localização (altura) do Casa Blanca são mais do que suficientes para demonstrar a precaução necessária para o confronto de amanhã. O ponto é justamente chegar a Quito muito bem preparado ou, do contrário, a bola, em parceria com a altitude, pune sem piedade, na meia hora final de partida.
2019 é outro ótimo exemplo. Ainda sob o comando do "anti" Abel Braga, o Flamengo apesar de haver aberto o placar com Bruno Henrique no primeiro tempo, desperdiçoui oportunidades de gol, permitndo à LDU conseguiu empatar ainda na primeira etapa e, na base da pressão, encurralando o Flamengo em seu próprio campo, virar o jogo no segundo tempo.
Em 2021, meu quarto exemplo, o Flamengo (de Ceni, repito) abriu 2x0 com uma ótima atuação no primeiro tempo, mas levou dois gols na segunda etapa e ficou perto de sofrer a virada. Felizmente, marcou o terceiro no final, depois de uma bola esticada, aos 34 (81 minutos), que resultou em pênalti convertido pelo Predestinado. 3x2 no sufoco.
Tempos nos quais o Flamengo tinha, no ataque, valores individuais às pencas para decidir partidas em contextos como esse. Em 2025 já não é mais assim, pois alguns saíram e outros não têm mais a mesma capacidade física de antes, seja por idade, em alguns casos, seja por volta de contusão, em outros.
E para piorar, nossa direção técnica errou (feio) no alvo e, apesar de haver contratado um atacante bastante útil no jogo coletivo, o suposto centroavante mostra-se incapaz de suprir a lacuna de ter outro bom finalizador no ataque, além do Pedro (voltando de contusão séria)
Acredito que o time atual seja taticamente melhor organizado, sem desmerecer o ótimo trabalho de preparação feito pelo Nareba para abrir a vantagem no primeiro tempo. Ressalto apenas que o time de 2021 tinha bem mais poder de fogo do que o de 2025 no presente momento da temporada (abril), computados todos os fatores circunstanciais, somados aos mais "gerais", de montagem de elenco. O post Artilharia (e Lesões, Calendário, etc.), publicado no início de janeiro desse ano, não me deixa mentir.
Ainda assim, consigo enxergar claramente as chances de vitória amanhã. Não consta que, a exemplo do ano passado, o atual time da LDU esteja entre os melhores que já apresentou em todas as suas participações na História da Libertadores. Contudo, ainda assim, será preciso muita organização e precisão, por parte de SuperFili, na hora de mexer, necessidade inevitável na segunda etapa. É crucial estudar muito bem o adversário e, o mais importante, não desperdiçar chances de gol.
Senão, Amigos, contra time fraco ou forte, é caixão e vela preta, com direito a turbulência no desembarque, quando descer do morro. Não é o que eu quero, obviamente, mas é o que acontecerá. Não precisa ser vidente para prever esse desfecho.
Não se pode negar que foi o próprio Flamengo que se colocou nessa situação, pela inaceitável derrota para o Central Córdoba em pleno Maracanã. Responsabilidade que deve ser dividida entre direção técnica, comissão técnica e elenco. Todo mundo no mesmo barco. É bom que remem, unidos, na mesma direção.
3 pontos amanhã, SuperFili! É só o que te peço!
A palavra está com vocês.
Uma ótima semana pra gente.
Bom dia e SRN a tod@s.