Foto: Gilvan Souza/Flamengo |
Salve, Buteco! Durante a semana uma das hipóteses que levantei foi a de que o movimento da diretoria do Vasco da Gama, de levar o jogo para o Engenhão, contra a vontade da FERJ e do BEPE - Batalhão Especial de Policiamento de Estádios da Polícia Militar do Rio de Janeiro, e depois de todo o escândalo e o festival de liminares dos últimos anos reivindicando mandar jogos no Maracanã, poderia "trazer o Flamengo para o jogo". Pudemos constatar, porém, pelos 45 minutos iniciais, que não foi bem assim que as coisas andaram.
O Flamengo do primeiro tempo foi irreconhecível, a começar pelas atuações individuais de alguns dos seus melhores jogadores. No setor defensivo, especificamente no lado direito, Léo Ortiz teva uma atuação pavorosa, a começar pela profusão de erros técnicos banais. O 10 da zaga não parecia ele mesmo. Assim como Wesley, intranquilo, incomodado. Era pereceptível pelas expressões faciais de ambos. As imagens não mentiam.
O Flamengo tentou comandar na base da imposição tática e técnica, seguindo o seu modelo de jogo. O que se viu, contudo, foi uma atuação no melhor estilo "arame-liso". Sem nenhuma objetividade, e com graves deficiências na construção, o time foi cedendo o controle do jogo (diferente de posse de bola) e, do meio para a metade do 1º tempo, foi o Vasco da Gama, melhor postado dentro de campo (pasmem), que conseguiu finalizar com perigo a gol.
Foi assim que Rayan obrigou Rossi a praticar grande defesa e, na sequência do lance, finalizou para o gol aberto, mas o nosso 10 da zaga se redimiu de todos os erros técnicos e da atuação pífia até então, e salvou quase em cima da linha. Nas minhas peladas de infância, a gente gritava "Amaraaaaaaallll", fazendo referência ao lance salvador do ex-jogador do Corinthians no 0x0 do Brasil contra a Espanha na Copa do Mundo de 1978.
Léo Jardim, o bom goleiro do Vasco da Gama, deve ter descido para o vestiário com o uniforme limpinho e sem uma gota de suor. Se ganhasse por produtividade, teria levado prejuízo financeiro, na certa.
Esse cenário me emputeceu completamente. A narração tendenciosa da rede aberta (fugi do imbecil que comentava no Sportv), o jogo mental da semana inteira, praticado pela Diretoria adversária, a imposição na base do grito, de faltas violentas e da catimba nos 45 minutos iniciais, tudo isso me levou a perguntar (a amigos) se a grande deficiência de SuperFili como treinador seria a parte mental. Afinal de contas, ele próprio, talvez numa declaração impensada, afirmou que não é um treinador motivacional. O contexto levou a essa indagação, compreendem?
Felizmente, a volta do intervalo fez com que desaparecessem os fantasmas na minha cabeça. Vejam bem, não foi uma atuação de gala, longe disso, mas a gente via nos semblantes dos jogadores a tranquilidade e o foco em jogar futebol. Wesley, por exemplo, voltou a jogar com desenvoltura. Aquele ser irreconhecível, da primeira etapa, que tropeçava na bola e não conseguia dar sequência a uma jogada, cedeu lugar ao lateral direito mais cobiçado do futebol mundial na atualidade.
Era o Flamengo de volta. Em um gramado sintético, do qual não gosta, é bem verdade, mas isso deixou de ser desculpa para o time não jogar futebol. E foi jogando bola que as jogadas começaram a acontecer e Léo Jardim começou a justificar o salário que o Vasco da Gama lhe paga (?), se bem que desse último detalhe eu não tenho bem certeza...
Vocês não imaginam como eu fiquei aliviado em constatar a capacidade do nosso treinador de acalmar os jogadores e fazê-los voltar a sua vocação natural, que é jogar futebol ofensivo, com um mínimo de qualidade e organização tática, impondo-se ao adversário.
É claro que alguns ajustes também ajudaram, como, por exemplo, a inversão de lado entre Plata e Luiz Araújo. Ontem, o equatoriano pela esquerda e o pontinha canhoto pela direita foi o encaixe que funcionou melhor, o que não significa que a formação do 1º tempo não possa funcionar em outros jogos, como, inclusive, já aconteceu. Basta lembrar do gol marcado por Luiz Araújo contra o Botafogo, em Belém.
Mas ontem a bola na trave do nosso pontinha canhoto sinalizava que a mundança de lado tinha vindo "para o bem". O time voltou a fluir. Minimamente, mas fluiu. Até o Arrascaeta, que não anda na melhor forma, e ainda que mais na bola parada (cobranças de falta e de escanteio), começava a aparecer.
Aos 21 minutos, o Rei dos Clássicos, apagado na partida, deu o ar da sua graça. Que golaço, Senhoras e Senhores! Que go-la-ço! Lance de classe. O indigno narrador da Rede Globo ficou um bom tempo sugerindo que BH27 havia "pegado mal na bola" e, depois do jogo, de maneira deselegante e como um mau perdedor, Vegetti afirmou que havia sido sorte.
Coisa nenhuma. Quando BH27 recebeu de Plata e dominou com o pé direito, dando ainda uma ajeitadinha com o peito, em uma fração de segundos percebeu que teria apenas aquele momento de liberdade, em curto espaço, para fazer a bola chegar ao gol vascaíno. Sem tempo para ajeitar da melhor maneira, bateu de esquerda, de três dedos, e fez com que a bola chegasse ao ângulo superior direito de Léo Jardim como se tivesse sido arremessada, com as mãos, por um gênio do basquete como Michael Jordan ou LeBron James.
A gorduchinha foi, então, girando, girando, girando pelo ar, até descansar enquanto os poucos rubro-negros presentes no Engenhão faziam a festa. Nunca senti tanta vontade de gritar "Ah, é Bruno Henrique!".
Sinto que nesse 2025 isso está voltando a virar rotina.
A palavra está com vocês.
Bom domingo e SRN a tod@s.