sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Seleções Rubro-Negras (Times Mais Queridos)

 

Salve, Buteco! Aviso desde logo que esse post terá duas partes e uma continuidade amanhã, num outro formato. Contudo, e como hoje fazem 43 anos do título mundial conquistado em 1981, resolvi homenagear aquele que considero o maior e melhor Flamengo de toda a sua História, colocando-o justamente neste patamar.

Um time mágico, formado em sua ampla maioria por jogadores formados nas divisões de base do clube. Tempos para mim saudosos, nos quais a maioria dos jogadores atuavam no país, ou seja, as transferências para o exterior eram raras e excepcionais.

Portanto, o feito de conquistar o mundo com um time praticamente formado apenas por "pratas-da-casa" torna o título de 1981 muito especial e provavelmente inigualável num horizonte de até mesmo longo prazo.

Por isso mesmo, o time de 1981 é o que mais gostei até hoje. Percebam que é diferente de ser o melhor, muito embora, no caso de 1981, haja essa coincidência. Falo de uma questão de afinidade mesmo. Aquele com o qual mais me envolvi. Um time que despertava em mim e em milhões de outros torcedores a vontade genuína de acompanhá-lo diariamente, a cada passo, torcendo muito pelas vitórias e conquistas.

1981 foi Zico e Júnior como heróis de infância; foi assistir ao despertar de Leandro como cracaço de bola; Andrade, Adílio e Tita desfilando categoria como os melhores coadjuvantes que já vi. Foi o mundo se encantando e reverenciando um dos melhores times da História do Futebol.

1981 é a essência do orgulho rubro-negro. Feliz foi e é quem o viveu.

Bem, partindo dessa premissa, qual seja, 1981 no topo, qual seria o meu Top 5 de times do Flamengo dos quais mais gostei?

Ressaltando que é uma avaliação puramente subjetiva, por envolver afinidade, antes de tudo, vou tentar fazer o ranking dentre os que vi nos meus 55 anos de vida.

Em segundo lugar vem o time de 2019. Não é "apenas" pela grandiosidade das conquistas da Libertadores e do Brasileiro, nas circunstâncias em que ocorreram - no primeiro caso, de maneira épica, coroando uma campanha contra grandes ex-campeões; no segundo, pela campanha histórica e acachapantemente superior as dos adversários.

2019 envolve, também,  ligação com o Mister Jorge Jesus, treinador que talvez tenha sido o que melhor conseguiu canalizar a essência rubro-negra, pelo menos na forma que a sinto e enxergo: o Flamengo e a competitividade em primeiro lugar; seriedade; respeito com a torcida; dedicação total para alcançar as metas mais altas.

2019 dava vontade de acompanhar cada instante do dia-a-dia daquele time; fazia a gente sonhar com muitos anos daquele futebol tática e individualmente mágico, como se fosse possível eternizá-lo. Dava vontade de esquecer todo o resto.

2019 foi a dieta restritiva e a máxima concentração do Gabigol; a explosão e a pujança do Bruno Henrique, e a magia do Arrascaeta; os laterais que lembravam o futebol de antigamente, pela exuberante qualidade técnica; o Mago da Camisa 7, que dava equilíbrio ao time.

2019 ficará para sempre em nossos corações.

O terceiro lugar da minha lista vem justamente para quebrar a impressão de que o "gostar" está vinculado necessariamente às maiores conquistas. É bom lembrar que eram outros tempos, nos quais, como já disse, era raro jogadores brasileiros atuarem no exterior e o futebol era bem menos "financeiro", com muito menos competições e jogos oficiais.

1979 é o Flamengo, em 82 jogos, marcando 205 gols e sofrendo apenas 60, acumulando um saldo de 144 gols. Impressionados? Pois saibam que foi o ano no qual a FERJ precisou criar um segundo Campeonato Carioca para preencher as datas até o início do Campeonato Brasileiro, que viria a ser disputado no segundo semestre, porque o Flamengo conquistou avassaladoramente o primeiro - todos os turnos, evitando a realização das finais.

1979 foi o ano dos 5x1 no Atlético Mineiro com Pelé jogando com o número 10 do Manto Sagrado, cedido por Zico, em reverência ao Rei. um jogo que marcou a História e, segundo o falecido cronista atleticano Roberto Drummond, o início da neurose do Galo com o Flamengo.

Tempos da coleção de figurinhas dos jogadores, as quais vinham como brindes na compra do chicletão de tutti-frutti.

Em 1979 Zico marcou 81 gols em 71 jogos, formando com Cláudio Adão (47 gols) uma das melhores duplas que o Mais Querido já teve. 1979 foi, também, um ano do máximo brilho do capitão Cláudio Coutinho, um dos maiores treinadores que já passaram pelo clube.

Tudo caminhava para a conquista do Campeonato Brasileiro, porém uma trágica eliminação para o Palmeiras de Telê Santana, no Maracanã (1x4), mudou o curso da História. Mas essa já é outra estória, a ser contada oportunamente.

O time de 1979 foi um dos que mais me fez vibrar como torcedor do Flamengo.

Já escrevi sobre esse time de 1987 no post Memórias de Um Jovem de 18 Anos, publicado lá atrás, em 24 de fevereiro de 2011:

Era 13 de dezembro de 1987, aniversário de seis anos do título mundial de 1981. Data comemorativa, ao mesmo tempo nostálgica, era também destinada a marcar a conquista mais um título brasileiro, o quarto num espaço de oito anos. Aquela geração arrebatadora estava no fim, mas ainda iria conquistar mais dois títulos brasileiros, o primeiro deles naquele mesmo dia. E esse título significava deixar o Flamengo como o clube com mais títulos brasileiros, ultrapassando o próprio rival, o Internacional, o único que, como ele, então possuía três. Naquele tempo, em que a CBF não precisava reconhecer torneios do passado para fazer política, embora também fizesse muita política, só que de outra forma, o Palmeiras e o São Paulo tinham apenas dois títulos cada um, enquanto Vasco, Grêmio, Fluminense e Atlético/MG só tinham um; já o Corinthians, o Santos, o Cruzeiro e o Botafogo não tinham simplesmente nenhum.

O mundo era diferente. O Regime Militar agonizava, mas ainda existia; a Constituição Cidadã só seria promulgada no ano seguinte; os brasileiros padeciam com mais um desastroso plano econômico, o nada saudoso "Plano Bresser"; no exterior, a Guerra Fria vivia seus últimos anos antes da "Glasnost"; eram os tempos finais da União Soviética e da "Cortina-de-Ferro". Brasília ainda era a "Capital do Rock" e havia uma banda por metro quadrado na cidade. Eu mesmo tinha a minha. Bons tempos que não voltam. No futebol, enquanto Zico lutava contra as contusões e caminhava para o fim da carreira, Diego Maradona iniciava sua curva descendente após a magnífica Copa do Mundo de 1986, começando uma jornada obscura no mundo das drogas.

Em meio a uma crise administrativa e financeira sem precedentes, a CBF jogou a toalha e disse que não tinha condições de organizar o campeonato brasileiro daquele ano. Os clubes se reuniram em torno do presidente do São Paulo F.C. e o resto da história vocês sabem. Mas aquele campeonato curto, quase que composto apenas de times grandes, à exceção de Santa Cruz, Coritiba e Goiás, foi na verdade um dos melhores de todos os tempos e não poderia ter sido vencido por outro senão o maior e melhor de todos os tempos, o CR Flamengo.

Marcante para quem vivia e vive na Região Centro-Oeste foi a semifinal contra o Atlético/MG. Alguns torcedores do Flamengo que vivem no Rio costumam dizer aos que vivem fora que às vezes lhes falta a exata compreensão da rivalidade local e que isso explicaria não dar tanta importância ao Campeonato Estadual. Pois eu lhes respondo sempre que não sabem o que é viver em Brasília, cidade naturalmente cosmopolita e habitada por pessoas de todos os cantos do país, que gostam tanto de futebol quanto qualquer outro fã desse esporte em qualquer outro canto do mundo, sendo que, dentre essas pessoas de todo o país, há uma expressiva quantidade de cariocas, advinda da transferência da capital do Rio para cá, e, pelas condições geográficas, os mineiros, dentre os quais os hostis atleticanos, eternamente ressentidos por 1980 e 1981. Pensem ainda no que é conviver, no meio de tudo isso, com os paulistas... Mas deixa pra lá, senão acabo falando ainda dos gaúchos e sua mania de grandeza, pois estamos tratando é dos atleticanos, para mim, os torcedores mais chatos do Brasil, disparados. Bem, o que posso lhes dizer é que, com uma campanha melhor, jogando o fino, dirigidos pelo "Mestre" Telê Santana, senti-me vingado por toda a choradeira e aporrinhação de seis/sete anos, além de ter vencido o treinador do Palmeiras de 1979, aquele dos 1x4 no Maracanã. É bom demais ganhar do Atlético; mas talvez precise ser dessa região e dessa época para compreender esse sentimento em toda sua plenitude.

E o que dizer do gol de Renato?

E o que dizer do gol do Renato? Bem, sobre o Renato eu tenho que abrir um parágrafo à parte. Era um ídolo. E não adianta virem falar de gol de barriga em 1995, do que ele falou enquanto treinador do Fluminense em 2008. Será que não dá pra entender que a coluna aborda o que ele era em 1987? Era ídolo! Í-do-lo. Eu separo as coisas e guardo grandes recordações daquela época e das atuações do Renato. E digo que aquele terceiro gol no Mineirão foi o gol do Flamengo que mais me fez vibrar até hoje na vida, ao lado do terceiro gol do Nunes em 1980. E digo mais: sorte do Flamengo que o Renato não jogou a Copa de 1986, porque, se tivesse jogado, o Brasil talvez tivesse sido campeão, ele tivesse ido jogar na Europa mais cedo, o Flamengo não teria tido condições de contratá-lo e com certeza não teria sido campeão em 1987.

Finalmente, o nosso ídolo maior: Zico. Foi seu último título pelo Flamengo. Ele declarou nos últimos dias que mal conseguia terminar o primeiro tempo dos jogos, pois, no dia seguinte ao da finalíssima, foi direto para a mesa de cirurgia operar o joelho. Um exemplo de abnegação, o nosso querido Galinho de Quintino foi o grande líder e inspirador daquele time. Teve grande importância, ao lado do Leandro e do Andrade, no surgimento dos então jovens Aílton, Zinho e Leonardo, além da afirmação do Bebeto no comando do ataque e nos últimos seis jogos, sem contar a bola redonda que jogou em algumas partidas, como contra o Santa Cruz no Maracanã e contra o Atlético/MG no Mineirão, no primeiro tempo.

A conquista seria sucedida depois por anos de insucessos, interrompidos por três conquistas marcantes - Copa do Brasil/1990, Estadual/1991 e Brasileiro/1992 -, as quais posteriormente foram sucedidas pela difícil década de 90. Foi então um marco importante, conquistado por heróis que, por sinal, tiveram carreiras bem sucedidas depois disso.

Por isso mesmo, como homenagem final, lembro que o elenco de 1987 foi base da seleção brasileira em Copas do Mundo que se seguiram: Zé Carlos (reserva na Copa/1990), Jorginho (titular na Copa/94), Aldair (titular na Copa/94), Leonardo (começou titular na Copa/94), Zinho (titular na Copa/1994), Renato Gaúcho (Copa/1990) e Bebeto (Copa/90, titular Copa/94 e titular Copa/98). O time tinha ainda Leandro (Copa/82), Edinho (Copas/78, 82 e 86) e Zico (Copas 78, 82 e 86).

Uma verdadeira seleção, portanto.

1987 é mais um time histórico a ser homenageado neste 13 de dezembro.

Confesso que talvez goste mais do que o time de 2009 me fez sentir do que propriamente do time em si. Não apenas conquistar, mas disputar de verdade um Campeonato Brasileiro depois de 17 (dezessete) longos anos, com pinta de campeão, fez renascer em todos os rubro-negros que viveram aquele momento o sentimento de protagonismo que havia se perdido desde o último suspiro da "Geração Zico", com o Maestro Júnior, em 1992.

O time tinha, também, alguns jogadores especiais para mim. Gostava muito do Juan "Marrentinho", do Maldonado e, é claro, do Pet e do Imperador.

A volta do Imperador foi um momento de restauração da autoestima rubro-negra, seriamente abalada após tantos "anos de chumbo". Mas ao menos para mim, o sentimento de "arrancada" e "DCF" (deixou chegar, fodeu) veio a partir da vitória por 3x0 sobre o Santo André, no Maracanã. Naquele momento, comentei com o meu pai que o time tinha jogado um "futebol de campeão". Ainda estávamos na 22ª Rodada...

16 rodadas depois, vieram o escanteio cobrado por Petkovic, o gol de Angelim, e o fim do jejum de 17 anos...

2009 foi a coroação da transição entre os anos de chumbo e as mudanças a partir de 2013. Foi como se São Judas Tadeu nos desse a dádiva para que aguentássemos um pouco mais até a mudança definitiva de patamar.

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E aí, Buteco? Os Amigos por acaso têm um Top 5 favorito?

A palavra está com vocês.

BodiSRN a tod@s.