Salve, Buteco! Dentre os motivos que levaram o Japão a entrar na Segunda Guerra Mundial, um dos mais importantes foi a disposição das Sociedades Secretas que existiam à época naquele país. Dentre elas, uma se destacava como a mais proeminente e era conhecida como Koauryoukai, Kukuryoukai ou Dragão Negro, definida pela Wikipedia brasileira como um "proeminente grupo paramilitar ultra-nacionalista de extrema-direita no Japão que foi ativo pelo menos até o final da Segunda Guerra Mundial."
A Sociedade do Dragão Negro era chefiada por Mitsuru Toyama, a quem os seguidores tinham devoção "tão ou mais fanática do que a dos nazistas por Adolf Hitler". Sua figura era considerada "um símbolo da expansão do Império do Sol Nascente" e a ele era atribuída influência em movimentos políticos no Havaí, na China e nas Ilhas Filipinas.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do Império Japonês, o Dragão Negro foi extinto, porém o seu nome, curiosamente, viria, ressignificado, a batizar um movimento político de jovens torcedores fanáticos e apaixonados por um clube de futebol brasileiro, mais precisamente do Rio de Janeiro - o Clube de Regatas do Flamengo.
***
O ano era 1946. Tricampeão carioca em 1942-43-44, o Flamengo andava mal das pernas no Supercampeonato que decidiria o título estadual e viria a ser conquistado pelo Fluminense. Naquela época, o Mais Querido mandava seus jogos no Estádio José Bastos Padilha, eis que o Maracanã sequer havia sido construído. Tempos nos quais o futebol ainda era amador e as camisas usadas pelos jogadores sequer possuíam numeração.
Mas como eu ia dizendo, o Flamengo andava mal das pernas no Campeonato Carioca e, numa das tardes de jogo no Estádio da Gávea, o jovem Fadel Fadel, que viria a ser vice-presidente de futebol na gestão Gilberto Cardoso (1951-55) e a presidir o Flamengo no início da década de 60, quase foi expulso da tribuna pelo então presidente Hilton Santos, que não admitia sua presença, alegando que o local era reservado para dirigentes e convidados especiais.
Fadel acabou permanecendo, graças à "Turma do Deixa-Disso", mas o tumulto foi grande. O grupo de jovens torcedores já existia e discutia cotidianamente o Flamengo, mas até então não possuía qualquer nome ou designação. A partir daquele evento, contudo, a oposição nasceu "oficialmente".
Este grupo, composto com nomes das estaturas de Ary Barroso, José Lins do Rego, Gustavo de Carvalho (autor do 1º gol do Flamengo), José Scassa e Marco Aurélio Moreira Leite, dentre outros, passou a ter sua existência notada por uma entidade tão antiga quanto o futebol do Flamengo - a imprensa anti-Flamengo. Partiu dela, portanto, a maldosa (muito maldosa) alcunha "Dragão Negro" para apelidar o grupo, ao qual frequentemente se referia como "seita" e "sociedade secreta".
Ocorre que, tal como viria a ocorrer, mais adiante, com a alusão a favela e ao mascote do clube, o urubu, nossos heróis "mataram no peito" a alcunha e, para a surpresa de exatamente zero pessoas, passaram a adotá-la, orgulhosos.
Nada poderia ser mais Flamengo...
Nascia então o Dragão Negro, grupo que passou a ter grande força política e a eleger vários presidentes, assim como infernizou absolutamente todos aqueles que ousaram se desvirtuar das diretrizes que basearam o apoio para serem eleitos e enfraqueceram o Flamengo nas competições que disputava.
Seu ponto de encontro era o segundo andar da Confeitaria Colombo, na Rua Gonçalves Dias, 32, no Centro do Rio de Janeiro. Lá, durante as décadas de 40 a 70, muitas articulações para eleger presidentes foram forjadas, assim como a migração para a oposição, quando era preciso.
O Dragão Negro se metia em literalmente tudo, mas especialmente em contratações, chegando ao ponto de participar de negociação de atletas e até escoltá-los do exterior ao território nacional (algo que contarei oportunamente, em outro post).
Entretanto, após os falecimentos de Gilberto Cardoso (1955) e José Lins do Rego (1957), o grupo foi se dispersando e perdendo força, sem, porém, deixar de existir e expressar sua opinião na política do clube. Todavia, de meados para o início da década de 70, até por restarem muito poucas pessoas do início do movimento, o grupo acabou se concentrando em torno da figura de Marco Aurélio Moreira Leite, que no final da década de 60 tentou reacender o grupo trazendo para diversas reuniões personalidades notórias da sociedade do Rio de Janeiro, tais como Henfil, Carlinhos Niemeyer, Otelo "Caçador" e outros, dentre eles um jovem advogado de nome Márcio Baroukel de Souza Braga.
Moreira Leite tentou, sem sucesso, eleger-se presidente do clube, tendo, porém, sido derrotado todas as vezes em que tentou, notadamente no período de 1966 a 1973, quando Luiz Roberto Veiga Brito e André Richer se revezaram na presidência do clube. Em 1974, contudo, esse ciclo foi rompido por Hélio Maurício (1974/1976), presidente que dá nome ao ginásio que abriga, na Gávea, partidas de voleibol e basquetebol.
Hélio Maurício talvez tenha sido um dos presidentes que mais foi infernizado pelo Dragão Negro e sua vertente então mais moderna. Eram tempos nos quais o Flamengo assistia, no Rio, ao Vasco da Gama desfilar como campeão brasileiro de 1974 e o domínio da Máquina Tricolor de Francisco Horta.
No início de 1976, último ano de gestão do presidente rubro-negro, um notório e festejado jornalista tricolor, de nome Nélson Rodrigues, captou com precisão a essência do fenômeno chamado Dragão Negro:
Se você for eleitor e comparecer ao clube hoje, vote na Chapa 1 - Raça, Amor e Gestão.
A Chapa 1, com Bap e Willeman, é a única que tem efetivas condições de erguer o Flamengo a um patamar de competitividade próximo ao europeu, tal como ocorreu em 2019/2020, enquanto tivemos Mister Jorge Jesus.
A palavra está com vocês.
Uma ótima semana pra gente.
Bom dia e SRN a tod@s.