segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Nós e a Final da Libertadores/2024

 

Salve, Buteco! Num dia desses estava conversando com vocês sobre qual seria o desfecho preferido de cada torcedor rubro-negro para as competições nas quais o Mais Querido não tem mais condições de conquistar e posso dizer a vocês, definitivamente, que posso categorizar a final entre Atlético/MG x Botafogo como uma das potencialmente mais difíceis para assistir, por envolver as duas torcidas que eu talvez mais deteste. Nos dias de hoje, talvez apenas um Fluminense x Palmeiras, que o Boca Juniors evitou em 2023, conseguiria provocar em mim um dilema tão complexo.

Todavia, mais importante do que discutir preferências de tal ou qual torcedor é compreender o cenário subjacente a essa final, que envolveu muito mais do que duas "SAF's" de ex-integrantes do Clube dos Treze, englobando, na verdade, dois modelos de gestão completamente distintos. 

O Atlético Mineiro, até outro dia, era gerido por Rodrigo Caetano, o qual, em nível de "política de contratações", eu definiria como uma espécie de "Marcos Braz com selo profissional", e que foi o artífice da montagem do elenco atual. O modelo Caetano, muito parecido com o do Braz, envolve uma rede complexa de contatos com empresários, resultando em contratações focadas nas individualidades, muitas vezes bastante questionadas pelo torcedor. Nesse modelo, o vestiário tem muitas "cobras-criadas", dentre as quais jogadores com passagens em vários clubes grandes, graças ao bom trabalho de quem os agencia.


Do outro lado, um Departamento de Futebol montado num formato diametralmente oposto. Não que seja a oitava maravilha do mundo. Muito pelo contrário, as SAFs do chamado Eagle Group não dominam  nenhuma das ligas as quais pertencem. Para ficar nos exemplos dos dois mais famosos, na Premier League 2022/2023 o Crystal Palace conseguiu um honroso 11º lugar que o afastou da tendência ioio (sobe e desce) para a segunda divisão de lá, mas atualmente balança na perigosa 17ª posição, flertando com o rebaixamento.

Na Ligue 1, o Olympique de Lyon, tradicional e importante clube francês, um dos maiores do país, após dar uma passeada na Zona Perigosa em 2022/2023, conseguiu terminar o campeonato em 5º lugar, atrás de Paris Saint-Germain, Racing de Lens, Olympique de Marseille e Rennes (atual clube de um certo argentino Careca). Na temporada atual, ainda em curso (quase na metade), podemos dizer que subiu uma posição, estando em 4º lugar, atrás de PSG, Monaco e Marseille.

Acontece que, como bem define aquele famoso ditado popular, "em terra de cego, quem tem um olho é rei". Pois bem, isso possivelmente explica o Botafogo de John Textor nadar de braçada no futebol brasileiro atual. Já havia batido na trave em 2023 com Luís Castro, bom treinador que fracassou recentemente no Mundo Árabe (assim como Marcelo Gallardo). A saída do português fez a gestão do norte-americano derrapar na escolha dos sucessores.

Entretanto, quando finalmente acertou, com Arthur Jorge, e claro, com um baita upgrade no elenco, o resultado do trabalho do Departamento de Futebol canino apareceu a olhos vistos, montando um elenco com base em critérios profissionalmente depurados, inclusive e especialmente de "scout", aqueles números que há mais de duas décadas os norte-americanos começaram a fazer no Baseball, realidade bem retratada no filme "Money Ball", produzido em 2011 e estrelado por Brad Pitt.

Ao avançar nas Copas e naufragar vergonhosamente no Campeonato Brasileiro, a SAF do Atlético Mineiro, comandada dentro das quatro linhas pelo argentino Gabriel Milito, firmou-se com uma formação que envolvia três atacantes - Hulk, Paulinho (ex-Vasco da Gama e Bayer Leverkusen) e... Deyverson! (ex-Palmeiras e Cuiabá).

Não me levem a mal. Nas finais contra Flamengo (Copa do Brasil) e Botafogo (Libertadores), Hulk demonstrou, na minha modesta oponião, que é um baita jogador. O que o Atlético demonstrou de competitividade deveu-se quase que exclusivamente a ele, que carrega o time nas costas. Deyvinho, a seu turno, teve seu brilho nesta temporada e merece elogios, ao contrário de Paulinho, uma espécie de vagalume treme-treme.

O ponto, aqui, e os mais atentos já devem ter percebido, é que o Atlético Mineiro/2024 é o Flamengo/2023 - três atacantes (no caso do Flamengo, um meia ofensivo) de grife com as mãos nas cadeiras na fase defensiva do jogo, contra um adversário no qual todos contribuem na recomposição, e com um técnico gringo, também de grife, completamente perdido à beira do gramado.


Comparem os elencos. Não é só investimento. É critério na montagem de elenco. A diferença entre os finalistas se mostrou brutal, nesse quesito.

O reflexo dessa diferença foi visto nos 45 minutos iniciais da final de sábado, em uma espécie de relação matemática futebolística. Enquanto o Botafogo, jogando com um a menos desde os 34 segundos de jogo, "marcava com 9", o Atlético, com seu trio de grife no ataque, na prática marcava com 7, o que obviamente anulava a "vantagem numérica" da representação alvinegra carioca.

O resto é História, e com "H" maiúsculo, devemos reconhecer.

Que venha o Apocalipse.

***

Outro debate bem instigante, dentro desse tema, pode ser descrito em uma pergunta: "por que o Botafogo superou de forma tão categórica o Palmeiras de Abel Ferreira?"

Uma das análises mais interessantes da passagem de Jorge Jesus pelo Flamengo é a que o descreve como "um combo de treinador e diretor técnico". Raros são os treinadores com essa capacidade no mundo do futebol e mais raros ainda aqueles capazes de o serem no Flamengo.

O Palmeiras tentou reproduzir o modelo com Abel Ferreira. Jamais foram 100% bem sucedidos. Abel Ferreira, como diretor técnico, não engraxaria os sapatos de Jorge Jesus e, atualmente, tampouco faz frente ao Departamento de Futebol do Botafogo, apesar dos títulos. 

É fácil perceber: o português, depois de 2021, não conseguiu mais vencer nenhuma copa, muito embora tenha conseguido ser bicampeão brasileiro. Ocorre que o Palmeiras de 2022/2023/2024 só se preocupou autenticamente com o Campeonato Brasileiro depois de cair nas copas, da mesmíssima forma que o Flamengo de Rogério Ceni em 2020. 

Em 2020, quando conquistou a Libertadores e a Copa do Brasil, o Palmeiras foi 7º colocado no Brasileirão; em 2021, quando conquistou a Libertadores, foi 3º colocado, com 66 pontos, 5 atrás do vice-campeão Flamengo (71) e 18 atrás do campeão Atlético/MG (84).

Já em 2024, quando a (Nefasta) CBF deu ao Alviverde Imponente a vantagem de disputar a "decisão do Campeonato Brasileiro" em  plena terça-feira da semana da final da Libertadores, disputada pelo adversário, o resultado foi uma derrota contundente e inapelável dentro de casa.

Como o Flamengo deve se comportar diante dessa realidade será assunto para outro post, oportunamente. Porém, desde logo fiquem com o seguinte pensamento: nem sempre haverá alguém da altura de Jorge Jesus para trabalhar no clube.

***

Numa realidade alternativa, estilo "What If" da Marvel ou "Fringe", antigo seriado com a belíssima Anna Torv, o Flamengo de Sampaoli possivelmente se mobilizaria e eliminaria o Fluminense de Fernando Diniz nas quartas-de-final da Libertadores, tal como havia feito nas oitavas de final da Copa do Brasil.

Já o Flamengo de Tite... Bem, esse teria certamente passado mais um vexame, um cataclisma no estilo "Fênix Negra", que faria o vexame para o Peñarol parecer uma derrota digna.


Mas e o Flamengo de Filipe Luís? O que será que aconteceria? Bem, neste caso com certeza teria jogo. Não que o desfecho viesse necessariamente a ser positivo para nós, rubro-negros, em um cenário de tantos desfalques (a maioria por contusão). Não tenho dúvidas, porém, que as equipes competiriam entre si.

***

Dia 9 de dezembro haverá eleição para presidente do Clube de Regatas do Flamengo, a qual será, certamente, uma das mais importantes de toda a História do clube.

A Chapa 1, com Bap e Willeman, é a única que tem efetivas condições de erguer o Flamengo a um patamar de competitividade próximo ao europeu, tal como ocorreu em 2019/2020, enquanto tivemos Mister Jorge Jesus.

Uma ótima semana pra gente.

Bom dia e SRN a tod@s.


* Texto escrito antes de Flamengo x Internacional, disputado ontem à tarde no Maracanã, pela 36ª Rodada do Campeonato Brasileiro/2024.