segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

De Abel Braga a Filipe Luís - Os 11 Treinadores da Gestão Landim


Salve, Buteco! Uma das mais consistentes críticas que se fez em relação ao Departamento de Futebol do Flamengo nos seis nos de gestão do presidente Rodolfo Landim foi a falta de um projeto esportivo e, portanto, de uma linha de trabalho, de um norte a ser seguido.

A maior prova da consistência da crítica é a variação caótica de características entre os profissionais contratados a cada mudança, o que, em um círculo vicioso, acabou por ser uma das causas mais importantes da frequência com a qual os treinadores foram trocados.

Contudo, ressalvado esse importante fator contextual, que certamente prejudicou bastante o trabalho de muitos desses profissionais, como poderíamos avaliar a atuação de cada um deles? O que poderiam ter feito e deixaram de fazer?

A seguir, a minha contribuição para os debates. Todos temos preferências e critérios próprios, mas tentei ser o mais neutro e justo possível.


Abel Braga

Números: 30j, 19v, 7e e 4d, com 71% de aproveitamento.

Títulos: Flórida Cup e Campeonato Carioca/2019.

Virtudes: ascensão sobre o elenco, com total controle do vestiário; indicação da contratação de Bruno Henrique e bom desempenho nos clássicos estaduais.

Defeitos: baixo nível tático e escolhas equivocadas, além da má vontade com relação a reforços do patamar de Arrascaeta e Gabigol.

Atuações Marcantes: San José 0x1 Flamengo (altitude de Oruro) e Flamengo 6x1 San José, pela Fase de Grupo da Libertadores.

Pecados mortais: absoluta falta de sintonia com a torcida e o clube, a ponto de ser um dos treinadores com maior rejeição pela torcida; derrota para o Peñarol no Maracanã com Arrascaeta no banco no jogo da Fase de Grupos da Libertadores; ironia agressiva em entrevistas, como na coletiva pós-jogo após a derrota para o Internacional no Beira-Rio, desrespeitando o clube e a torcida.


Jorge Jesus (Mister)

Números: 57j, 43v, 10e e 4d, com 81,3% de aproveitamento.

Títulos: Copa Libertadores da América e Campeonato Brasileiro/2020; Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Campeonato Carioca/2020.

Virtudes: ascensão absoluta sobre o elenco, com total controle do vestiário; excelência tática revolucionária; jogo agressivo, ofensivo e bonito; postura profissional e extremamente exigente; combo de treinador e diretor técnico; precisão na indicação de reforços; completa sintonia com o clube; idolatria da torcida; excelente adaptação ao contexto do futebol brasileiro.

Defeitos: nada relevante.

Atuações Marcantes: Flamengo 6x1 Goiás, Flamengo 4x1 Vasco da Gama, Flamengo 3x0 Palmeiras, Flamengo 5x0 Grêmio, Flamengo 4x1 Corinthians, Flamengo 2x1 River Plate, Palmeiras 1x3 Flamengo e Flamengo 6x1 Avaí.

Erros crassos (nenhum pecado mortal): Rafinha na meia direita contra o Emelec (Guayaquil), titulares na 38ª Rodada do Campeonato Brasileiro (0x4 Santos) e Lincoln em vez de Reinier na final do Mundial contra o Liverpool.


Domènec Torrent

Números: 23j, 13v, 4e e 6d, com 62,3% de aproveitamento.

Títulos: nenhum.

Virtudes: desempenho eficiente nas copas; futebol muito ofensivo e taticamente sofisticado no ataque; jogo bonito e utilização de todo o elenco, com excelente aproveitamento da base – lançou João Gomes no profissional; jogadores como Gabriel Noga, Otávio (hoje no Porto), Lázaro e Richard Ríos tiveram importantes oportunidades, tendo sido utilizados com bom aproveitamento.

Defeitos: inexperiência e falta de habilidade como gestor de recursos humanos; intransigência tática e nenhuma disposição para se adaptar ao contexto do clube e do futebol brasileiro.

Atuação Marcante: Corinthians 1x5 Flamengo.

Pecados mortais: descompromisso tático inconsequente e irresponsável com a competitividade defensiva em jogos não eliminatórios, resultando em goleadas históricas que foram por ele relativizadas; nenhuma ascendência sobre o elenco, resultando na perda completa do vestiário.

Rogério Ceni

Números: 45j, 23v, 11e e 11d, com 59,3% de aproveitamento.

Títulos: Campeonato Brasileiro/2020, Campeonato Carioca e Supercopa do Brasil/2021.

Virtudes: qualidade e precisão no estudo dos treinadores adversários e na montagem de estratégia de jogo; seriedade e empenho fora do comum, dando tudo de si para o clube; sorte nas decisões.

Defeitos: fraco na leitura de jogo e nas substituições; falta de habilidade como gestor de recursos humanos, especialmente no trato com os funcionários do clube; vaidade e ausência de autocrítica.

Atuações Marcantes: Flamengo 2x0 Palmeiras, Grêmio 2x4 Flamengo, Vélez Sarsfield 2x3 Flamengo, Flamengo 1x0 Palmeiras e LDU 2x3 Flamengo.

Pecados mortais: brigou com o clube inteiro (Departamento de Futebol), até com o vigia (marmita de frango), despertando o ódio kamikaze de funcionários; incapacidade de se adaptar ao contexto negativo de muitos desfalques (convocações) e de renovar o seu trabalho diante de estudos dos treinadores adversários.


Renato Gaúcho

Números: 37j, 23v, 11e e 11d, com 72,1% de aproveitamento.

Títulos: nenhum.

Virtudes: futebol muito ofensivo e jogo bonito, explorando a qualidade individual de cada atleta, que fez a alegria da torcida; leitura de jogo; muito boa relação com o elenco; alta adaptação às peculiaridades e problemas do Departamento de Futebol do Clube (por ele não criados).

Defeitos: pouca variação tática, seja na parte defensiva, seja na ofensiva, tornando-se dependente da individualidade dos atletas; excesso de liberdade no trato pessoal com o elenco, comprometendo em parte a hierarquia.

Atuações Marcantes: Bahia 0x5 Flamengo, Flamengo 4x1 Defensa y Justicia, Flamengo 5x1 São Paulo, Olimpia 1x4 Flamengo, Flamengo 5x1 Olimpia, Grêmio 0x4 Flamengo e Palmeiras 1x3 Flamengo.

Pecados mortais: abandono do Campeonato Brasileiro; aposta na Geração 85 e eliminação com goleada no Maracanã no jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil/2021; postura leniente nos confrontos contra o Grêmio pelo Campeonato Brasileiro (pedido de desculpas de Gabigol a Felipão no Maracanã e substituição de Vitinho na Arena); incapacidade de se adaptar ao contexto negativo de muitos desfalques (contusões) e de renovar o seu trabalho diante de estudos dos treinadores adversários; irresponsabilidade na semana da final da Libertadores (não treinou o time principal na terça-feira, dia do jogo contra o Grêmio pelo Brasileiro); nó tático tomado de Abel Ferreira no início da final da Libertadores (jogada nas costas de Filipe Luís).


Paulo Sousa

Números: 32j, 19v, 7e e 6d, com 66,7% de aproveitamento.

Títulos: nenhum.

Virtudes: seriedade, empenho e vontade de trabalhar no clube, dando tudo de si (até dinheiro, pagando a multa rescisória para a Federação Polonesa); contribuição na parte científica (ex.: bioquímico e scout – indicação de Pulgar); profissionais de alto gabarito na preparação física.

Defeitos: absoluta falta de habilidade como gestor de recursos humanos; intransigência tática; decisões muito conceituais e pouco práticas, sendo algumas até incompreensíveis; postura excessivamente professoral, sem nenhuma disposição para se adaptar ao contexto do clube e do futebol brasileiro.

Atuações Marcantes: nenhuma.

Pecados mortais: utilização de Diego Ribas (veteraníssimo) no Fla-Flu do Estadual e na final da Supercopa do Brasil contra o Atético/MG; Éverton Ribeiro na ala esquerda; aposta inconsequente em Hugo Souza; incapacidade de fazer o time jogar bem com um mínimo de regularidade; derrota na final do Campeonato Carioca para o Fluminense de Abel Braga; desempenho inaceitável e abaixo da crítica no Campeonato Brasileiro, aproximando o clube da zona de rebaixamento.


Dorival Júnior (Doripau)

Números: 42j, 25v, 8e e 9d, com 65,9% de aproveitamento.

Títulos: Copas do Brasil e Libertadores da América/2022.

Virtudes: reconstrução tática do time em muito pouco tempo; futebol muito ofensivo e jogo bonito, explorando a qualidade individual de cada atleta, que fez a alegria da torcida; muito boa relação com o elenco; boa utilização do elenco no formato times A e B; alta adaptação às peculiaridades e problemas do Departamento de Futebol do Clube (por ele não criados).

Defeitos: falta de variação tática, especialmente na reta final, demonstrando pouca capacidade de renovar o seu trabalho diante de estudos dos treinadores adversários, tornando-se dependente da individualidade dos atletas; excesso de liberdade ao elenco, dificultando até mesmo mudanças táticas que se faziam necessárias.

Atuações Marcantes: Flamengo 7x1 Deportes Tolima, Flamengo 2x0 Atlético/MG, Flamengo 5x0 Athletico/PR (reservas) e Vélez Sarsfield 0x4 Flamengo.

Erros crassos (nenhum pecado mortal): cumplicidade com a decisão do vice-presidente de futebol de “liberar” os titulares após a conquista do título da Libertadores da América; cobiça sobre o cargo de treinador da Seleção Brasileira, dificultando a negociação de renovação (cláusula de rescisão).



Vítor Pereira

Números: 18j, 10v, 1e e 7d, com 57,4% de aproveitamento.

Títulos: nenhum.

Virtudes: boa utilização da base e desenvolvimento de estratégia tática para enfrentar o Fluminense de Fernando Diniz, futuro campeão da Libertadores.

Defeitos: falta de verve para enfrentar e reverter o contexto adverso – pré-temporada curta, venda de João Gomes, panelas e insatisfação com a substituição de Dorival Júnior; desempenho desastroso em decisões.

Atuações Marcantes: nenhuma.

Pecados mortais: perda do título da Recopa Sul-Americana para um clube equatoriano no Maracanã; escalação no segundo jogo da final do Campeonato Carioca/2023, desmontando a estratégia eficaz da primeira partida; perda do título com goleada humilhante, reversão de vantagem de 2 gols e maior diferença de gols desde a final do Campeonato Carioca/1962 (61 anos depois); perda de 3 finais em um trimestre (recorde negativo histórico).


Jorge Sampaoli

Números: 39j, 20v, 11e e 8d, com 60,7% de aproveitamento.

Títulos: nenhum.

Virtudes: choque de gestão, com gestor de futebol (não aproveitado pelo clube) e especialmente na preparação física, revertendo o quadro totalmente negativo mesmo sem espaço no calendário; jogo ofensivo; desempenho eficiente (porém sem encantar a torcida) até o episódio do soco após o jogo contra o Atlético/MG no Independência.

Defeitos: gestão de recursos humanos historicamente desastrosa; teimosia em não modificar decisões claramente equivocadas; absoluta incapacidade de enfrentar as pressões do elenco; critérios incompreensíveis nas escolhas dos titulares (apesar da alta rodagem do elenco).

Atuações Marcantes: Flamengo 8x2 Maringá, Flamengo 4x1 Vasco da Gama e Athletico/PR 0x2 Flamengo.

Pecados mortais: Gabigol titular, mesmo em péssima fase, em detrimento de Pedro; Matheus Cunha como titular, mesmo após a chegada de Rossi; não se posicionou pela demissão de Pablo Fernández após o soco em Pedro; inércia nas substituições e alterações táticas no segundo tempo contra o Olimpia em Assunção; escalações contra Athletico/PR em Cariacica e São Paulo no Maracanã (1º jogo da final da Copa do Brasil), inexplicavelmente alterando a formação que parecia ter ressuscitado o time no Engenhão (2x1 sobre o Botafogo).


Tite

Números: 68j, 41v, 11e e 16d, com 65,7% de aproveitamento.

Título: Campeonato Carioca/2024.

Virtude: ascensão sobre o elenco, com total controle do vestiário; regularidade de desempenho no Campeonato Brasileiro até a reta final da Copa América.

Defeitos: planejamento ilógico e irreal na minutagem dos jogadores e na dependência de Pedro no ataque; excessiva delegação de responsabilidade para auxiliares; absoluta incapacidade de adaptar e renovar o seu trabalho diante de contextos adversos (dinâmicos) e estudos dos treinadores adversários; péssima utilização da base.

Atuações Marcantes: Flamengo 3x0 Palmeiras, Flamengo 6x1 Vasco da Gama, Atlético/MG 2x4 Flamengo e Flamengo 2x0 Palmeiras.

Pecados mortais: pouca sintonia com a torcida e o clube; não utilização da base para rodar o elenco e opção por modelo tático que acarretou esforço demasiado (distâncias percorridas), fugindo das características de alguns jogadores do elenco, por ambos os motivos causando uma profusão de contusões; escalações e atuações trágicas na altitude (Bogotá e La Paz – fase de grupos); inferioridade tática nos confrontos contra o Botafogo (Arthur Jorge); escalação de time misto contra o São Paulo no Morumbi, estando na liderança do Campeonato Brasileiro; intransigência irresponsável diante da realidade que impunha mudanças nas opções táticas, de rotação do elenco e utilização de peças.

Filipe Luís (Fili)

Números: 15j, 9v, 5e e 1d, com 71,1% de aproveitamento.

Título: Copa do Brasil/2024.

Virtudes: boa relação e profundo conhecimento do elenco, mantendo um bom ambiente no vestiário; alta performance tática, com grande variação entre um jogo e outro e não raro dentro de um mesmo jogo; variação de estratégias, entre o jogo ofensivo (linhas altas), intermediário (blocos médios) e defensivo (linhas baixas); altíssima capacidade de adaptação a contextos negativos, como desfalques e expulsões; postura profissional e de completa sintonia com o clube; idolatria da torcida (filhote de Jorge Jesus); adaptação natural ao futebol brasileiro, com aproveitamento harmônico da experiência como jogador no futebol europeu.

Defeitos: nada relevante.

Atuações Marcantes: Flamengo 3x1 Atlético/MG e Flamengo 3x2 Internacional.

Erros crassos (nenhum pecado mortal): substituições e estratégia no segundo tempo do Fla-Flu, em sua única derrota até aqui.

Sucesso e longa vida no Flamengo ao nosso Filhote de Mister!

A palavra está com vocês.

Uma ótima semana pra gente.

Bom dia e SRN a tod@s.