Gerdau, torcedor-símbolo do CR Flamengo In memorian |
Salve, Buteco! O Flamengo campeão de 1939, tricampeão estadual (6 vezes), octacampeão brasileiro, tricampeão da Libertadores e campeão Mundial, o Flamengo conectado com sua essência desperta diversos sentimentos na torcida arco-íris, desde o medo até o mais profundo ódio. Torcida arco-íris que, diga-se de passagem, é um tanto heterogênea, por ser composta tanto pelo torcedor raíz que genuinamente não gosta do Flamengo, como também por todos aqueles travestidos de profissionais da imprensa esportiva - diretores de redação, de televisão, narradores, comentaristas, repórteres. Aquele tipo que se vende como profissional técnico e imparcial, mas no fundo não passa de um passional torcedor com grife, poder e microfone.
Buscando entender a origem do ódio anti-Flamengo, lembrei-me do seguinte trecho da magistral obra de Edilberto Coutinho intitulada "Nação Rubro-Negra", da série "Grandes Clubes do Futebol Brasileiro e seus Maiores Ídolos Volume 1 - Flamengo":
"Alberto Borgeth e seus companheiros de rebelião, ao deixarem o Fluminense, adotam novos hábitos: incorporam o espírito flamengo que vinha sendo moldado pela República Paz e Amor. O Flamengo nunca desejou ser um club à inglesa. Nem ao menos clube, mas grupo, ao ser criado. O Flamengo, nada britânico, nada europeu, era uma inovação brasileira em matéria de agremiação esportiva (em geral feita nos moldes sisudos das instituições britânicas que se queria copiar). O Flamengo já é caracterizado bem diferentemente. Tem a cara do carioca: moleque, sério e criativo. Quanto mais diferente do Fluminense, melhor para ele: é mais Flamengo, mais povo. Por isto, Nelson Rodrigues (fingindo não conhecer a história verdadeira) se perguntava, em repetidas crônicas: “como é que um Fluminense conseguiu gerar um Flamengo?” A resposta é certamente esta: o Fluminense não gerou o Flamengo, coisa alguma. Ora, Mestre Nelson Rodrigues, os rapazes do motim de 1911, que vão fazer o futebol do Flamengo em 1912, já encontram uma agremiação madura, com suas características próprias. Nem tentam impor a ordem cerradamente tricolor por aquelas bandas escancaradamente rubro-negras. Tratam é de se adaptar, o que nada tem de difícil, porque muitos deles já eram flamengos. Ou, como se disse, eram fla-flus (fla no remo, flu no futebol). Simplesmente o que fizeram foi abandonar o lado flu e se assumirem totalmente fla.
A popularidade do Flamengo, segundo Alberto Borgeth, veio dos treinos na Praia do Russell. O Fluminense tinha sua sede, seu campo ara treinar. O Flamengo treinava naquele descampado. Uma desvantagem? Daí surge sua grande vantagem: é o começo da galera rubro-negra.
Nas tarde de treino, os jogadores do Flamengo trocavam de roupa na antiga garagem de barcos, no 22 da Praia. Com suas chuteiras barulhentas, caminhavam até o Russell. A garotada virava rubronegrada. Os moleques, alvoroçados, acompanhavam Borghert, faziam perguntas a Píndaro de Carvalho, transformavam Armando de Almeida, o Galo, num autêntico ídolo. Estabelecia-se uma intimidade, que não seria possível com os finos e distante moços do Fluminense. O Flamengo conquistava o seu público e aprendia que era preciso permanecer com ele.
É com a diferença que a vida começa e os novos valores se firmam. A graça do Flamengo estava em ser diferente do Fluminense. Entenda-se aqui a heterogeneidade como fonte autêntica de vida. Fosse o Flamengo imitar o Fluminense, não teria sobrevivido. Ou se tornado tão grande. Repita-se: é com a diferença que a vida começa, enquanto o idêntico e o homogêneo são potencialmente mortíferos." (págs. 101/102, 1990, Fundação Nestlé Cultura)
O Fluminense odeia o Flamengo porque neuroticamente nega o seu verdadeiro Pai. Como magistralmente demonstrou o nosso querido Adriano Melo nesta edição dos Alfarrábios, o Fluminense foi fundado por dirigentes rubro-negros, tanto o então presidente, como futuros e ex-presidentes, realidade difícil de ser enfrentada especialmente porque o arquirrival, mais moderno apenas no futebol, acabou por se tornar muito maior, mais relevante e bem mais atrativo.
O Fluminense também odeia o Flamengo porque somos sua antítese, como bem ilustra Edilberto Coutinho, na mesma obra, em outra passagem:
E as danças? Ingressando no Flamengo, os ex-jogadores do Fluminense passaram a participar do reco-reco na garagem. Dança só de homens. Como os antigos forrós do Nordeste, dançados pelos ditos cabras-machos de Lampião. (Remador com remador, cangaceiro com cangaceiro). A chegada dos jogadores traria alguma modificação. Em breve, o reco-reco flamengo sairia às ruas. Se tornaria uma tradição do carnaval carioca. Virava corso, no percurso entre garagem e o Largo do Machado, onde as comemorações de uma vitória no futebol eram regadas a muita cerveja (já da Antarctica, passada a fase da Bock Ale, a mais consumida no ano de fundação do Clube). (op. cit. pág. 103)
O Flamengo jamais foi aceito por seus coirmãos, e muito menos o foi a dimensão que tomou.
O Botafogo, fusão do Club de Regatas Botafogo com o Botafogo Football Club, por via da sua verente do remo pode se dizer um ano mais antigo, eis que fundado em 1894 como Club de Regatas. Contudo, é comum em seus torcedores o recorte da História para atribuir o nascimento do Flamengo ao ano de 1912, jamais aceitando que o Clube de Regatas cujos fundadores nele se inspiraram tenha se tornado muito mais popular e relevante.
Já o Vasco da Gama atribui ao Flamengo a pecha de lhe tomar indevidamente o título de "Clube do Povo", alegando que, institucionalmente, foi o que pioneiramente abriu as portas para os negros jogarem futebol. Entretanto, ao se autointiular, arrogantemente, como o "legítimo clube do povo", deslegitimando outros clubes, especialmente o Flamengo, trata como inexistente o seu inegável dilema existencial, retratado nesta matéria do Jornal Extra:
Em reportagem publicada na terça-feira (27/9), o jornal britânico "Daily Star" cita o Vasco da Gama como um dos gigantes do futebol brasileiro, que "conquistou o Brasil e a América do Sul no passado". A matéria, porém, não foca no mérito esportivo, mas no caráter do navegador português que deu o nome ao clube carioca.
"Historiadores sugerem que a façanha do aventureiro português está imortalizada na camisa de Vasco da Gama, a faixa que representa sua rota para a Índia. No entanto, a maior conquista de Da Gama é ofuscada pela crueldade que ele mostrou em alto mar", escreve o jornal.
O "Daily Mail" cita o trabalho do historiador Jean-Baptiste Prashant More:
"Vasco da Gama cometeu alguns dos crimes mais hediondos. Em 1º de outubro de 1502, ele impiedosamente ordenou a morte de 700 peregrinos inocentes de Malabar (na Índia). Metade dos peregrinos era composta por mulheres e crianças."
Alguns relatos citam o "temperamento incontrolável" de Vasco da Gama, descrito no hino do clube carioca como "heroico português", e que ele tinha uma tendência a matar seus oponentes difíceis por causa de suas "birras violentas" nas negociações comerciais.
Outros relatos compartilham histórias de tomada de reféns e ameaças de civis com armas.
Nada como reescrever a História, certo? A narrativa vascaína peca, antes de tudo, por convenientemente "se esquecer" das contribuições de outros clubes, com destaque para Bangu e Ponte Preta, cronologicamente anteriores.
Além disso, evita a crise de identidade da instituição Club de Regatas Vasco da Gama (hoje SAF), a qual vai desde o nome até o próprio hino, que glorifica o (serial killer ou mass murderer?) navegador português, atribuindo-lhe a fama de "heróico".
Enfim, um clube português, que leva o nome de um cruel homicida lusitano, ensinando as pessoas, inclusive descendentes de escravos, por quem devem torcer e com quem devem se identificar...
É bem mais fácil e conveniente atacar o Flamengo...
Um bom artigo para quem quiser se aprofundar na História do "Heróico Navegador Português", seletivamente omitida pela mídia nacional:
O Massacre dos Peregrinos
https://temposdecolera.blogs.sapo.pt/vasco-da-gama-o-massacre-dos-peregrinos-63531 (muitas fontes bibliográficas)
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A parte paulista desse ódio pode ser facilmente explicada. O eixo Rio-São Paulo é fonte de rivalidades em todas as áreas, como política, cultura e economia. Não haveria de ser diferente nos esportes. O ponto é que apenas um clube do Rio de Janeiro atravessou os Séculos XIX a XXI como um real e concreto obstáculo para a hegemonia paulista: justamente o Clube de Regatas do Flamengo.
É por causa do Flamengo que o Corinthians não é a maior torcida, que o Palmeiras não é o clube mais rico e próspero e que o São Paulo não poderá jamais se autointitular genuinamente como "Soberano".
É por causa do Flamengo que o maior PIB da América Latina não consegue se impor totalmente no futebol.
É por causa do Flamengo que uma das regiões mais populosas das três Américas não tem o clube mais popular do seu país.
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É difícil cogitar a existência de um profissional do futebol que não tenha um time de coração, seja dirigente de federação ou confederação, seja jornalista ou mesmo árbitro. Vou mais adiante: não se deve exigir de ninguém que "deixe de não gostar" de determinado clube. É livre o direito de gostar, desgostar, amar, odiar, admirar ou desprezar o clube de sua preferência ou rejeição.
Não pode ser diferente com profissionais do futebol.
A questão, ao menos na minha opinião, é a linha tênue que separa a isenção e o profissionalismo do gostar/degostar.
Princípio II — A Dedicação do Jornalista para Realidade Objetiva
A tarefa primeira do jornalista é garantir o direito das pessoas à informação verdadeira e autêntica através de uma dedicação honesta para realidade objetiva por meio de que são informados fatos conscienciosamente no contexto formal deles/delas e mostram as conexões essenciais deles/delas e sem causar distorção, com desenvolvimento devido da capacidade criativa do jornalista, de forma que o público é provido com material adequado para facilitar a formação de um quadro preciso e compreensivo do mundo no qual a origem, a natureza e a essência dos acontecimentos, processos e estados dos casos são tão objetivamente quanto possível compreendidos.
O Flamengo como representação do mal e de tudo que é desonesto não passa de uma criação do torcedor anti-Flamengo escondido no rótulo e na grife da profissão de jornalista.
Percebam que o diabo, definitivamente, mora nos detalhes...
É muito comum que esse tipo de "profisisonal" trabalhe em empresas que defendem publicamente bandeiras humanistas como as antirracista, contra homofobia e contra a violência e discriminação contra a mulher, bem como que se posicionem na mesma direção.
Só que, para essas pessoas, o Flamengo cidadão, popular, vencedor e maior clube do país é, antes de tudo, um incômodo, por razões que podem remontar até mesmo as suas frustrações de infância ou adolescência.
Assim, quando a vítima de um ato racista, homofóbico ou misógino atinge integrante da torcida do Flamengo, a omissão e o silêncio são a sua resposta, para satisfação de seus sentimentos mal resolvidos.
Sem o menor constrangimento ou pudor, criam as mais absurdas narrativas difamatórias, colocando-se na posição de "justiceiros históricos" para, influenciando, "ensinarem" ao torcedor "por quem não deve torcer", tratando-o, assim, como simples gado. O suprassumo da arrogância.
Nas transmissões e mesas redondas, os adversários são chamados por seus carinhosos apelidos e as interpretações dos lances de jogo invariavelmente se dividem entre a dúvida da irregularidade nas marcações favoráveis ao Flamengo e a sobriedade do "nada a marcar" quando ocorre o inverso. A novidade recente, nesta seara, é a "orientação instantânea" à cabine do VAR, como se o narrador indicasse qual resultado a revisão deve ter (será que as "orientações" chegam às cabines de VAR?).
A mensagem subliminar do "Flamengo só ganha roubado", linha editorial inconfessa, está, cotidianamente presente, em cada matéria, transmissão e programa.
Nem mesmo atletas formados no Ninho do Urubu escapam. "Neguebinha" - o que fez Negueba para merecer esse tratamento? E o Erick Flores? Em comum, apenas dois jogadores negros formados na base do Flamengo, motivo suficiente para a pauta ser esquecida.
"Não joga na seleção o que joga no Real Madrid", como se ele fosse o problema e mesmo quando não está em campo (!). Ninguém está a salvo. A perseguição é implacável.
Ah, essas emissoras e seus lacradores...
No fundo, é gente que odeia tudo o que simboliza preto, pobre, puta, "bicha" e mulher, mas que não faz qualquer cerimônia para pagar de politicamente correto na frente das câmeras.
A essas pessoas, dedico o meu profundo e irreversível desprezo.
Não importa o que vocês façam, o Flamengo será eternamente o seu algoz, o seu terror.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.