quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Coluna do Carlos César - Vassoura Nova ou Novos Tempos?

Na imagem, o treinador Jorge Fernando Filipe Luís Pinheiro de Jesus Kasmirski

Olá, Buteco!


Começo com uma historinha político-familiar.

Numa época em que o vereador carioca Cesar Maia era prefeito do Rio de Janeiro e a atriz Malu Mader brilhava numa novela da Rede Globo, o jornalista Anselmo Góes contou, na sua coluna no jornal O Globo, o que disse a neta do então prefeito a respeito do avô:

Meu avô se acha. Ele pensa que é melhor que a Malu Mader.

Malu Mader (musa rubro-negra)

Nosso atual VP de Futebol costuma agir de um jeito que permite imaginarmos que às vezes ele também pensa que é melhor que a Malu Mader.

Vai daí que passa a ideia de ser uma pessoa pouco permeável a influências da torcida.

Creio que, se fosse mais aberto a influências e frequentasse o Buteco para colher ideias, saberia do grande poder do efeito vassoura nova e teria providenciado, em tempo mais hábil, a substituição do treinador Tite, muito possivelmente evitando a eliminação do Flamengo na Copa Libertadores, no nosso lastimável confronto de quartas de final com o Peñarol.

No post “O projeto de insucesso vira realidade - Que venha a vassouranova”, publicado logo após a derrota do Flamengo para o Peñarol no jogo de ida no Maracanã, previ a consolidação do projeto de insucesso do futebol no segundo mandato da gestão Braz/Landim, por não acreditar numa virada em Montevidéu (a consolidação do insucesso aconteceu, pelo menos em parte, apesar das esperanças agora renovadas para o fim da temporada), e pedi a promoção temporária do Filipe Luís para que, neste fim de 2024, pudéssemos aproveitar os bons ares que o efeito vassoura nova costuma produzir.

Filipe Luís acabou negociando um contrato até o final de 2025 e, superando as expectativas mais cautelosas e até algumas bem otimistas, começou varrendo muito bem e levando o Flamengo a desempenhos que, no incrível estilo bipolar da Nação Rubro-Negra, já transportaram muitos de nós da depressão para a euforia, na linha “Rumo a Tóquio”.

Literalmente, FL acordou um Flamengo meio letárgico para levá-lo à vitória no jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil e, no confronto seguinte, a uma boa vitória sobre o Bahia, fora de casa, numa partida que preocupava, mas que o time resolveu satisfatoriamente.


Planos do novo treinador

O Amigo Paulão (@PauloSantos) postou, no dia 08/10, a seguinte notícia sobre os planos do nosso novo treinador:

Filipe Luís prepara ‘revolução’ no elenco do Flamengo em período de Data Fifa.

Os pontos que o treinador pretende trabalhar:

** Retomar confiança
** Aumentar repertório tático
** Potencializar ataque
** Sincronizar meio de campo
** Corrigir defesa

Leo José | Coluna do Fla

Filipe anunciou em entrevistas ─ e isso tem sido tema das análises dos comentaristas ─ que pretende adotar um modelo pelo qual o Flamengo proponha o jogo e que isso significará assumir alguns riscos.

O discurso fez os mais otimistas fazerem um link direto entre nosso novo treinador e Mister Jorge Jesus, o que me leva a viajar nessa hipótese.

O Flamengo de Jorge Jesus realmente jogava um futebol propositivo, que tentava neutralizar os riscos do modelo com linhas altas, inclusive a defensiva, para que a compactação do time e a pressão pós-perda fossem obstáculo a tramas verticais dos adversários.

Contava, para isso, com excelente preparo físico dos jogadores e com Rodrigo Caio em boa forma, um zagueiro acertador de defesas e ótimo na coordenação das linhas, inclusive na formação da linha de impedimento, recurso muito bem utilizado pelo Mister.

O Flamengo que começa a ser comandado por Filipe Luís sofre com deficiências de preparação física dos jogadores e, se realmente pretender usar a compactação de linhas e a linha de impedimento como recursos para a neutralização das tramas verticais dos adversários, precisará identificar o zagueiro inteligente que terá que comandar essas movimentações.

À luz do que vi no jogo contra o Bahia, todos os itens da agenda Data Fifa do Filipe Luís fazem sentido, mas acrescento e comento o que me parece pertinente:

** A melhora do condicionamento físico do grupo é e será fundamental para a sustentação do jogo propositivo e para a neutralização dos riscos inerentes. Lembro o quanto o Flamengo do Mister se beneficiava do diferencial físico no segundo tempo das partidas, quase sempre amassando adversários, com destaque máximo para a reação contra o River Plate, na épica final de Lima em que, nitidamente, o Flamengo começou a crescer a partir dos 65 minutos, quando o time argentino tentou cadenciar o jogo por lhe faltar fôlego.

** A recuperação física e técnica de alguns jogadores também será fundamental e aqui eu destaco De La Cruz, surpreendentemente convertido, no jogo contra o Bahia, num burocrata tocador de bolas para o lado e Gabriel, favorito contra Carlinhos e BH na disputa para se tornar o melhor reserva do Pedro, na atual contingência.

** Melhora do condicionamento físico e correção da defesa se combinam para que o Flamengo se torne mais confiável no setor defensivo. No jogo contra o Bahia, o time correu maiores riscos e cedeu temporariamente o domínio do jogo ao adversário quando, por falta de fôlego dos titulares, passou a marcar em bloco baixo. Feitas as substituições, o Flamengo reequilibrou a partida (boa notícia porque, com Tite, o time piorava com as substituições) e até recuperou o domínio, voltando a reduzir seus riscos.

** Ainda quanto à correção da defesa, precisamos evoluir muito no bloqueio da bola aérea adversária. Quando o Bahia chegou ao ataque, seus atacantes conseguiram vencer nossos zagueiros nas disputas aéreas, embora com menos liberdade para cabecear do que em jogos anteriores. Mas é um item crítico que tem que parar de nos roubar pontos.

** Também importantes, aumento de repertório tático e potencialização do ataque me preocupam menos, porque acho que nosso elenco tem muitos jogadores aptos a assimilarem bem esse tipo de trabalho e, com a adoção do modelo propositivo, produzirem mais no campo ofensivo e começarem a matar os jogos (melhor maneira de evitar riscos).

Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Curto e Médio Prazos

Em qualquer análise prospectiva do que pode vir a ser o trabalho do nosso novo treinador, precisamos distinguir curto e médio prazos (do longo, nem falo, porque há muita água pra rolar debaixo da ponte, inclusive uma eleição para a presidência do Flamengo).

Filipe trabalha, agora, para resolver o curto prazo, vale dizer, o jogo da volta na semifinal da Copa do Brasil e sabe-se lá o quê nas rodadas mais próximas do Brasileirão.

A depender do que conseguir nesses desafios, continuará cuidando do curto prazo, seja para preparar o time para os dois jogos da final da Copa do Brasil (assim espero), seja para sabe-se lá o quê (de novo) nas rodadas finais do Brasileirão.

Se tiver sucesso nos confrontos da Copa do Brasil e conseguir algo de bom no Brasileirão, poderá pensar um pouco mais no médio prazo, que entendo ser o primeiro semestre de 2025.

Esse contexto me leva a considerar que, neste final de 2024, FL usará pouco os jovens, por estar administrando uma emergência: preparar suficientemente seu time titular e os reservas mais imediatos para a prática de um modelo de jogo competitivo e, tanto quanto possível, vencedor nesta fase.


Vassoura Nova ou Novos Tempos?

Em meados da década de 1980, tive oportunidade de trabalhar com um especialista em gestão de pessoas que dizia que é muito diferente uma pessoa ou uma equipe querer “livrar-se de” ou querer “livrar-se para”.

Livrar-se de” é apenas tornar-se livre de algo que incomoda, sem um propósito mais construtivo.

Livrar-se para” é remover obstáculos e abrir caminho para o desenvolvimento de algum projeto transformador e vencedor.

Na substituição de treinadores, a atual gestão do futebol do Flamengo praticou, com muita frequência, o “livrar-se de”, sempre associado ao erro da terceirização do futebol do clube ao treinador da hora.

Quando a terceirização deu certo, como aconteceu com Jorge Jesus e, em menor escala, também com Rogério Ceni e Dorival Júnior, ela colheu louros.

Quando deu errado, os atuais gestores “livraram-se de” e seguiram em frente, sem qualquer mudança de modelo, como pode voltar a acontecer agora com Filipe Luís.

Enquanto dá suas primeiras varridas, Filipe Luís mostra trazer consigo entusiasmo e ideias inovadoras que, a partir do médio prazo, podem encaminhar o Flamengo para novos tempos (na dependência, porém, da ocupação dos postos de comando do futebol do clube por gente preparada para realizar um trabalho mais profundo e mais participativo do que o feito pelos atuais gestores).

Afinal, por mais que venha a se mostrar qualificado, Filipe Luís é apenas um jovem treinador e, se pode se sair bem na sua missão de curto prazo (esta é sua prioridade imediata, claro), é exigir demais que, no médio prazo, ele seja capaz de compensar deficiências estruturais de um clube do porte do Flamengo, quando produzidas (ou mantidas) por má gestão.

O único que conseguiu fazer isso plenamente (e assim mesmo ajudado pelo bom staff deixado pelo ex-presidente Bandeira de Mello) foi Jorge Jesus, um treinador que soma muita qualificação com grande experiência no futebol.

E os jogadores? Aproveitarão a oportunidade para praticarem o “livrar-se para” e, engajando-se a fundo num projeto vencedor, eternizarem seus nomes na história do clube?

Acho que não depende só deles, porque mais adiante o novo treinador pode não ir bem, mas entendo que eles podem contribuir, em boa medida, para que o treinador Filipe Luís seja mais do que apenas uma vassoura nova passageira e consiga ser, com a também indispensável contribuição dos gestores do clube, um mobilizador de novos tempos no futebol do Flamengo.

Afinal, apesar de algumas deficiências, o Flamengo tem um dos melhores elencos da América do Sul e, ajudados por um modelo de jogo mais compatível com o perfil deles, nossos jogadores podem resgatar o ânimo e a inspiração que, a partir da chegada de Jorge Jesus, empolgaram o Flamengo 2019 e levaram ao eterno Ano Mágico.

Carlinhos Tomara encerra proclamando:

TOMARA QUE SEJA ASSIM E QUE VENHAM NOVOS ÓTIMOS TEMPOS!

SAUDAÇÕES RUBRO-NEGRAS!

Carlos César Ribeiro Batista