quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Reflexões Cameleônico-Daltônicas

 

Salve, Buteco! O tema do calendário é muito rico e aparentemente inesgotável, então não estranhem eu ter mais alguns pontos para abordar. Um especialmente me incomoda. É que, quando se fala em desgaste como causa de uma má-atuação do Flamengo, muitos torcedores logo relacionam o argumento com uma justificativa que exonera treinador e jogadores de responsabilidade. Só que, ao menos na minha opinião, não é esse o caso, inclusive da atual comissão técnica.

Se embarcarmos na Máquina do Tempo do Buteco e viajarmos apenas 11 meses para o passado, visitaremos a reta final de Jorge Sampaoli numa temporada que se mostrou absolutamente catastrófica, começando com a derrota na Supercopa do Brasil, passando pela eliminação na semifinal do Mundial de Clubes FIFA para o Al-Hilal, pelo vice-campeonato da Recopa Sul-Americana em pleno Maracanã para o Del Valle, o vice com goleada histórica para o Fluminense, a eliminação na Libertadores para um Olimpia muito mais fraco e até a queda na final da Copa do Brasil para o São Paulo.

Lembrar desse cenário é importante para podermos contextualizar a contratação de Tite. Obviamente, a Diretoria do Flamengo estava desesperada e fragilizada, o que a levou a fazer algumas concessões importantes, dentre elas o formato da nova comissão técnica, com uma dinâmica semi-colegiada, na qual o veterano treinador ocupa posição central, sendo responsável pelas principais decisões, porém (reparem) não por todas.

Esse formato e essa dinâmica causaram muitos dos problemas que vivemos hoje, o que é, antes de mais nada, culpa da Diretoria, mas não exonera especialmente o treinador da responsabilidade pelas falhas no planejamento (ex.: elenco curto, com base inutilizada) e pela incapacidade (por falta de conhecimento ou por teimosia) de corrigir os rumos do seu trabalho.

Portanto, afirmar, como fiz na segunda-feira, que o estado de exaustão de jogadores como Ayrton Lucas, Gérson e Luiz Araújo foi a principal causa da má-atuação não isenta o treinador da responsabilidade por rodar pouco o elenco, não trabalhar a base e "estourar" as suas principais peças.

Exemplificando, se o Flamengo "abandonou a pressão pós-perda", certamente o fez por conta do estado de exaustão do elenco, o qual foi provocado justamente pela aridez tática que caracteriza o trabalho do nosso treinador. E se o Flamengo não trabalha mais a bola em toques curtos para tentar minimizar os efeitos de momentos de grande desgaste, o maior responsável certamente é o treinador.

Não são poucas as vozes que se erguem para pedir a cabeça do "Ferguson da Serra Gaúcha", o "Camaleão Daltônico dos Vinhedos", o "Encantador de Serpentes". Contudo, eu não me empolgo com essa solução, a uma, porque faltam 3 meses para acabar o segundo mandato dessa miserável gestão, cujo segundo triênio foi salva por um semestre de Dorival Júnior como treinador, e eu simplesmente não consigo conceber essas pessoas escolhendo outro treinador.

A duas, porque o risco de piorar não deve ser desprezado. Basta observar que Fernando Diniz é agenciado pelo empresário mais próximo do nosso VP de Futebol e muito provavelmente seria um nome posto à mesa do nosso presidente.

A três, porque o Clube de Regatas do Flamengo merece começar uma nova gestão em janeiro/2025, que tenha a liberdade de escolha de um diretor técnico e do novo treinador (sim, novo treinador, pois não concebo a permanência do Flautista de Caxias do Sul), sem ter o custo de pagar uma estratosférica multa rescisória para exercer a prerrogativa mais  básica de uma Diretoria recém-empossada.

Por esse conjunto de fatores, não gostaria que o trabalho do Pífano da Região das Hortênsias fosse descontinuado antes do fim de seu contrato. Entretanto, ainda assim, temo que isso aconteça.

Primeiro, porque o cidadão em questão adora uma panela e elenco curto. Logo, chego a ter aflição só de imaginar como ele utilizará, se utilizará de fato, peças como os gringos recém-chegados - o argentino Carlos "Charly" Alcaraz e o equatoriano Gonzalo Plata.

Segundo, porque ele odeia mudanças e jogadores com esse perfil exercerão involuntariamente uma pressão para que haja mais rodízio de peças e, por via de conseqüência, ao menos um pouquinho, da forma de jogar, o que pode expor a sua falta de repertório tático.

Terceiro, porque a torcida não aguenta mais as mesmas desculpas, o mesmo discurso, a cada entrevista pós-jogo (a última, por sinal, foi tétrica).

Apesar disso tudo, e por mais incrível que pareça, acho que o Tite ainda pode dar a volta por cima. Uma das razões que me levam a pensar dessa maneita é o chaveamento das quartas de final da Copa do Brasil. Corinthians e Juventude são adversários bem superáveis. Outra é o controle do vestiário. Até que me provem  contrário, considero que os jogadores gostam muito do Encantador de Serpentes.

Todavia, nem eu mesmo sei dizer qual é a alternativa mais provável - recuperação ou queda do Pífano da Região das Hortênsias.

Acredito mesmo é que o Peñarol será o fiel da balança, pois pelo Bahia iremos passar, até com alguma segurança.

Hoje fico por aqui. A palavra, como sempre, está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.