Salve, Buteco! Há quatro anos, em plena pandemia de Covid-19, publiquei, nas segundas-feiras de 2 e 8 de junho, os posts O Clássico dos Milhões por Década e O Fla-Flu e o Clássico da Rivalidade por Década. No desfecho do segundo post, escrevi o seguinte:
"Vivemos um momento mundialmente histórico e, claro, o futebol também passará por grandes mudanças. A julgar pela última década e os últimos anos, especialmente 2019, arrisco dizer que o futuro dos trio de rivais cariocas é nebuloso. Em razão disso, os dois últimos posts são a minha forma de homenagear esses três históricos oponentes e os grandes clássicos que, ao longo de mais de um século, disputaram contra o Mais Querido do Brasil. Neste momento da pausa, olhar para o passado, mirando o futuro, continua me parecendo uma boa forma de curtir o grande momento que vive o Clube de Regatas do Flamengo e acompanhar o que parece ser um inevitável processo de mudanças na hierarquia do futebol brasileiro.Portanto, "medir" os adversários e situar a rivalidade em um contexto histórico ajuda a estabelecer metas e entender o tamanho dos desafios que o Mais Querido tem a sua frente. Todavia, como o Século XXI está sendo implacável com o trio de rivais cariocas, algo me diz que esses novos desafios não estarão mais no Rio de Janeiro e sim em outras fronteiras. Mas isso é assunto para outros posts..."
Desde então, o Botafogo se tornou uma SAF competitiva e o Fluminense continua investindo na base mas, ao mesmo tempo, sustentando o seu futebol com gastos acima da capacidade de arrecadação. Conquistou uma Libertadores, mas o horizonte é nebuloso.
E o Vasco da Gama? Também virou SAF, tal qual Botafogo e Cruzeiro, mas ao que parece, não deu sorte na escolha do investidor. Enquanto o Cruzeiro foi adquirido por um investidor inexperiente, mas bem intencionado, o Vasco da Gama foi adquirido por um grupo um tanto esquisito, a respeito do qual existem alegações de práticas muito pouco ortodoxas, para não dizer criminosas.
O Clássico dos Milhões ainda é o mesmo? Talvez não, é difícil cravar, pois até a SAF do Cruzmaltino subiu no telhado (no momento); porém, tenho certeza de que ninguém vai negar a importância histórica da vitória de ontem. Afinal de contas, para além de ter sido a maior aplicada pelo Flamengo em toda a História do clássico, o Mais Querido não marcava mais de 4 gols no Vasco da Gama desde... 1943! Mais precisamente no dia 3 de outubro, quando, no campo de General Severiano, pelo Campeonato Carioca (primeiro título do primeiro Tri), foi aplicada a, até ontem, maior goleada rubro-negra do confronto - 6x2, gols de Perácio (2), Pirillo (2), Zizinho (1) e Vevé (1).
Tempos nos quais o futebol brasileiro sequer utilizava numeração nas costas das camisas dos atletas e o rival liderava o confronto direto, realmente vencendo mais do que o Flamengo no clássico, como expliquei no mesmo post:
"Das cinco décadas nas quais esteve à frente no confronto direto, apenas nas quatro primeiras o Vasco da Gama venceu mais vezes o Flamengo, eis que, a partir dos anos 50, iniciou-se a reação rubro-negra, com a geração de Garcia, Tomires, Pavão, Jadir, Dequinha, Jordan, Evaristo, Joel, Rubens, Benítez, Índio, Dida, Paulinho, Esquerdinha e Zagallo, dentre outros. Aliás, o "Expresso da Vitória" existiu justamente no intervalo situado entre os dois primeiros tricampeonatos do Flamengo.
(...)
A reação iniciada na década de 50 foi consolidada nos anos 60, conforme já havia adiantado neste post do ano passado (FOCO!!!!), “graças especialmente a um time pouco lembrado, comandado por Silva, o ‘Batuta’, e Almir, o ‘Pernambuquinho’, que surrou seguidamente os cruzmaltinos, sem dó nem piedade.” Na ocasião, faltou mencionar nomes como Espanhol, Doval e Paulo Cézar Caju, este já na década de 70, que também tiveram importante participação nessa jornada."
80 (oitenta) anos depois, o Flamengo volta a marcar mais de 4 gols no Vasco da Gama. 80 (oitenta) anos depois, o Flamengo volta a marcar 6 gols no Vasco da Gama. Prestem atenção nos números: 80 (oitenta) anos. Espaço de 8 décadas, com virada de século e de milênio.
Ontem, Tite e seus comandados escreveram seus nomes na História do Flamengo (em alguns casos, mais uma vez).
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Dizem que as goleadas surgem do nada, quando menos se espera. Pois ontem a máxima se mostrou absolutamente correta. O começo rubro-negro não foi nada bom e a estratégia vascaína parecia que daria certo. O começo intenso e avassalador do adversário contrastava com um Flamengo pálido, quase letárgico. Os alertas do post de sábado pareciam ter se tornado reais. E Dona Ivone Bacchi foi injustamente alvo de palavras mal colocadas de minha parte.
Contudo, após sofrer o gol, o time se transformou dentro de campo. Mas um jogador, em especial, foi o artífice do empate e da virada - Everton Cebolinha. Chamou o jogo para si e colocou-o debaixo do braço, primeiro empatando-o com um chute de fora da área, e em seguida driblando a zaga vascaína e cruzando para Pedro marcar no estilo futevôlei, ou seja, de peito.
Os ventos estavam tão favoráveis que David Luiz marcou seu segundo gol com o Manto Sagrado. Parece outro jogador, como aquele de 2022, titular e campeão da Copa do Brasil e da Libertadores, o que enquadrou Hulk dentro de campo no "Jogo do Inferno".
Durante o intervalo, escrevi no Twitter:
Por sinal, Adenor teve sensibilidade, percebeu o cenário favorável e, muito experiente, aproveitou o momento para capitalizar em seu favor. Nada mais justo. À beira do campo, empurrou o time para frente e não deixou o ritmo diminuir. Os gols, então, foram chegando, primeiro com Arrascaeta, depois com Bruno Henrique e, por fim, Gabigol. Simbolicamente, tinha que ser dele o gol histórico.
No Twitter, André Nunes Rocha descreveu com perfeição o momento:
Aquela goleada que mostraria a diferença atual entre os clubes, cobrada há anos desde a reestruturação, finalmente chegou. Na primeira vez que sonhei com isso Muricy Ramalho era o treinador (😂) e sequer havia perdido a primeira para o Vasco. Estávamos em 2016!
Foi bem diferente daqueles 4x1 em 2019 (Jorge Jesus) e em 2023 (Jorge Sampaoli). Com o Mister, o primeiro tempo foi mais complicado do que o placar sugere e, com o Careca, o time tirou o pé no segundo tempo.
Coisa que, ontem, Tite não deixou acontecer. Claro que muito por conta do intervalo de 11 dias até o próximo jogo. Mas é aquilo que ponderei mais acima: teve sensibilidade para perceber o momento e capitalizar em seu favor. Inegavelmente fez história. E a goleada trará bons fluidos e deixará o ambiente mais leve.
Obrigado, Tite. Agora é com você. Não deixe a peteca cair e vamos ter um segundo semestre muito vitorioso. Esses números mostram que a postura de ontem é o caminho certo.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.