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Mas, como eu ia dizendo: por que o Flamengo se tornou tão popular? Terá sido pelos craques que, digamos, a partir dos anos 30, brilharam com sua camisa?
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Sim, eles fizeram com que milhões de brasileiros se abraçassem à bandeira rubro-negra. Mas o Flamengo já era popular antes deles. Numa época em que alguns jogadores ainda entravam em campo de gorro, toalha e óculos, e os juízes apitavam de terno, gravata e chapéu, foi o Flamengo que tirou o colarinho duro do futebol e fez deste a paixão dos descamisados, dos banguelas, dos desvalidos. Nascido da elite carioca, ele logo caiu nos braços do povo. Em 1912, seus craques foram os primeiros que as pessoas simples das ruas puderam conhecer, cumprimentar e pedir autógrafo. Em 1914, o Flamengo já era convidado a jogar em capitais e grotões longe do Rio. E, em cada uma dessas cidades, plantava torcedores - para sempre. Donde se pode falar também da missão civilizadora do Flamengo, ao levar iniciativas e bossas pioneiras para os centros menores e vê-las adotadas pelos clubes e torcidas locais.
Duvida? Eis algumas.
Do Flamengo nasceu, em 1942, a primeira torcida organizada: a Charanga, com bandinha, faixas e bandeiras. Foram também os torcedores rubro-negros que criaram o hábito de sair às ruas e de ir para o estádio e até para o trabalho, em dia de semana, com a camisa do clube. O Flamengo foi também o primeiro clube a ter o seu nome abreviado pela torcida - Mengo! - e a fazer desse apelido um superlativo: Mengão! Suas galeras criaram os refrões que depois seriam copiados pelos torcedores de outros clubes. E nenhum outro teve tantos sambas e marchas compostos em sua homenagem (hinos, tem dois). Bem cedo, o Flamengo foi sinônimo nacional de festa, alegria e Carnaval.
Os títulos, as vitórias e os craques podem explicar muita coisa. Mas não explicam tudo - porque, afinal, os outros clubes também têm o seu rico patrimônio de glórias. O Flamengo, queiram ou não, é que é diferente. E, isso, desde a sua fundação, em 1985 - o que faz com que a paixão por ele já se estenda por cinco gerações. Pense apenas no seguinte: os netos dos primeiros torcedores do Flamengo são os avós dos pequenos torcedores de hoje.
Mas, enfim, por que tudo isso?
A resposta vem de longe. Na verdade, de muito antes que o primeiro Flamengo chutasse uma bola."
Ruy Castro. Trecho de "Uma Nação Sonhando"; extraído do livro "O Vermelho e o Negro: Pequena Grande História do Flamengo"; 1ª Edição; São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
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"Mais um ano do meu querido Flamengo. Amo-o como um dos mais ardentes amores da minha vida. E por ele este meu coração de 50 anos bate no peito com as 120 pulsações dos minutos apertados da torcida. Sinto-o na angústia e não me amargo com isso. Aí está minha paixão incontida, o meu arrebatamento de homem, confundido na multidão.
E é por tanto amor que me dói a injustiça dos que não sabem conter as malignidades e se concentram contra um clube sem arrogância, tão camaradesco, sem bobagens, tão largado nas exuberâncias.
Mais um ano do meu Flamengo. E ele cada vez mais no coração do povo brasileiro. Não queremos maior troféu nem maior glória.
15/11/1951
José Lins do Rego. "O FLAMENGO". Extraído de "FLAMENGO É PURO AMOR: 111 crônicas escolhidas"; 3ª Edição; Rio de Janeiro; José Olympio, 2013.
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Deus te abençoe, Flamengo. Muito obrigado por existir.
A palavra está com vocês.
Bom FDS e SRN a tod@s.