Salve, Buteco! O Club Bolivar, ou "La Academia", nosso adversário de hoje à noite, foi fundado no dia 12 de abril de 1925 em La Paz, Bolívia, mas só começou a disputar campeonatos oficiais em 1927, quando foi vice-campeão do Campeonato Paceño da La Paz Fútbol Asociation, o primeiro torneio amador da História do Futebol Boliviano e título que só viria a conquistar em 1932, sob circunstâncias um tanto peculiares, eis que o certame foi interrompido por força da Guerra do Chaco, travada entre a Bolívia e o Paraguai, levando a organizadora do torneio a considerar como classificação final a da última rodada disputada antes da guerra. Líder, o Bolivar se consagrou campeão, tendo como vice o The Strongest, que a partir de então se tornou o seu principal rival.
Desde então, o Bolivar cresceu e se tornou o maior clube do futebol daquele país andino, e sem margem para a menor discussão, pois possui extravagantes 30 títulos nacionais, o que, no complexo sistema do futebol boliviano, inclui desde o Campeonato Paceño, passando pelos tempos do Torneio Integrado, o Certamen Nacional Mixto, o Torneo Nacional e da Liga de Fútbol Profesional (associação civil), até a atual División Primera del Fútbol Boliviano, organizada pela Federación de Fútbol Boliviano desde a temporada 2016/2017. Digo extravagantes porque os 30 títulos equivalem, mais ou menos, ao dobro do que possuem os principais concorrentes - The Strongest, com 16 títulos, e Jorge Wilstermann, com 15.
Quando se fala em tamanho de torcida, o Bolivar tampouco possui algum concorrente "sério" - com sólidos 40% da preferência nacional, percentual estável ao longo de décadas, os Azuis sequer enxergam o Oriente Petrolero e o The Strongest, que dividem a segunda colocação possuindo cada qual apenas 13% da preferência do restante da torcida boliviana. Um verdadeiro massacre azul celeste, portanto.
Apesar de tradicionalmente mandar seus jogos internacionais no Hernando Siles, estádio público do Departamento de La Paz, situado a 3.581msnm, no bairro Miraflores, o clube é originário do bairro Tembladerani, onde é proprietário do Estádio Libertador Simón Bolívar, situado a 3.706msnm, e que já serviu até mesmo de palco para jogos da Seleção Boliviana enquanto o Hernando Siles era remodelado, mas que ultimamente não tinha capacidade liberada para mais de 5.000.
Hoje demolido para resconstrução em formato moderno, com capacidade para 25.000 espectadores (fala-se em 35.000), o estádio é o espelho do quanto o Bolivar é querido. Durante minhas pesquisas, deparei-me com relatos nostálgicos e emocionados da população de Tembladerani, por conta da demolição do que era um dos maiores símbolos do afeto pelo mais popular do país. A construção do novo Simón Bolívar envolve, vejam só, a revitalização da área. Quem me dera que aqui no Rio de Janeiro também fosse assim, tão fácil e respeitoso com um ente tão importante na História da cidade...
Em 2024, o Bolivar chega a sua 38ª participação na Libertadores, completando 256 partidas jogadas, incluindo as duas primeiras rodadas da Fase de Grupos da atual edição. No total, obteve 103 vitórias, 54 empates e 100 derrotas, marcando 381 gols e sofrendo 390, tendo chegado a 2 semifinais, 6 oitavas de final e 5 quartas de final. Na Copa Sul-Americana, chegou ao vice-campeonato na edição de 2004, conquistada pelo Boca Juniors (Bolivar 1x0 no Hernando Siles e Boca 2x0 em La Bombonera).
Em janeiro de 2021, o Bolivar se juntou ao Grupo City como o primeiro clube parceiro (o que é diferente de membro ou propriedade do grupo), tendo, nas palavras do próprio conglomerado, "access to a wide breadth of expertise, proprietary technology, best practice, and strategic advice developed by City Football Group through its multi-club structure."
Um dos resultados mais latentes da parceria foi obtido em 2023, com a boa campanha na Libertadores, incluindo a eliminação do então vice-campeão Athletico/PR nas oitavas de final, em plena Arena da Baixada - 3x1 em La Paz, 0x2 em Curitiba e 5x4 nos pênaltis. O time era então treinado pelo espanhol Beñat San José, o qual fazia excelente trabalho, mas optou por aceitar uma proposta do Atlas de Guadalajara, do México.
O sucessor do espanhol é o argentino Flavio Robatto, que fez carreira no futebol colombiano (Cúcuta, Alianza, Jaguares e Atlético Hulia) e também no boliviano (Nacional de Potosí). Sob o comando de Robatto, o Bolivar teve um começo esfusiante nas duas primeiras rodadas da Libertadores e vinha fazendo boa campanha no Campeonato Boliviano até que, recentemente, foi eliminado pelo modestíssimo Deportivo San Antonio Bulo Bulo, da cidade de Entre Ríos, de apenas 31 mil habitantes, segundo o último senso demográfico, realizado em 2012 - segundo a matéria publicada nesta madrugada pelo GE, a campanha na temporada é de 12j, com 7v, 2e e 3d; 27 gp e 17gc.
O futebol praticado pelo Bolivar nas duas últimas edições da Libertadores (inclusive a atual) já exibe traços do padrão que o Grupo City busca implementar - sistema de jogo de posição, muita intensidade, marcação em linhas altas exercendo forte pressão sobre o adversário visitante, a 3.581msnm (atenção para a altura exata da localização do estádio). Essa dinâmica de jogo pôde ser vista na goleada de 4x0 sobre o Palestino, no Chile, e também no primeiro tempo da vitória sobre o Millonarios, em La Paz, quando chegou a marcar o terceiro gol com um a menos em campo, abrindo 3x0 no placar - os colombianos diminuiriam na etapa final, valendo-se da vantagem numérica dentro das quatro linhas.
Apesar da dúvida que a eliminação do adversário no Campeonato Boliviano provoca, a verdade é que o prognóstico para o Mais Querido no jogo de hoje à noite não é dos mais favoráveis, dada a escolha (por necessidade) da comissão técnica de jogar em La Paz com uma formação alternativa. A nós, torcedores, resta torcer por uma surpresa, talvez a partir de um especial trabalho de motivação para quem entrar em campo, aproveitando a oportunidade para fazer História com o Flamengo, vencendo o Bolivar em La Paz pela primeira vez.
E por falar em retrospecto (4j, 1v, 1e e 2d), o Mais Querido não vence o Bolivar desde... 1983! Foi um 5x2 pela Libertadores, no Maracanã. Não há imagens do jogo em fontes abertas, mas apenas a narração de César Rizzo para a Rádio Globo AM/RJ:
O Ficha Técnica, como de costume, subirá as 19:00h.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.