Olá, Buteco.
Não afirmo que nenhum grande clube brasileiro possa alcançar numa temporada os três principais títulos (Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores), mas posso dizer que, com os calendários praticados no país, essa façanha tende a ser muito rara.
É pensando nessa façanha improvável que trago hoje, para conhecimento e análise de vocês, um estudo sobre a experiência desenvolvida pelo treinador Dorival Jr., em 2022, quando comandou o Flamengo a partir de 11/06 (11ª primeira rodada do BR) e conseguiu levar o clube às conquistas da Copa do Brasil e da Copa Libertadores da América e ao quinto lugar no Brasileirão, com 62 pontos.
Tite, nosso treinador atual, não parece inclinado a adotar fórmula semelhante e talvez pretenda, com seus rodízios, tentar a façanha improvável de ser campeão da porra toda (CPT), mas é certo que, com o calendário demoníaco produzido pelas autoridades do futebol brasileiro e sul-americano para esta temporada, as chances de ser CPT em 2024 são remotíssimas, mais ainda quando levamos em conta que, neste começo do segundo trimestre, nosso elenco principal ainda tem deficiências importantes e que, no meio da temporada, o Flamengo pode vir a perder algumas das boas promessas que já foram integradas ao grupo principal.
São objetos de meu interesse no estudo:
1) A caminhada que levou à definição de dois times distintos, A e B, atribuindo-se ao Time A a missão de disputar as copas e, ao Time B, a de disputar o Brasileirão.
2) O desempenho dos dois times no cumprimento dessas missões.
Dividi a campanha desenvolvida entre 11/06 e 29/10 em fases, que foram detalhadas em tabelas apresentadas adiante:
Fase 1– Ensaios Variados e Definição do Time A – 11/06 a 24/07 – 13 jogos
Fase 2 – Times A e B Definidos – De 27/07 a 31/08 – Lázaro vai embora – 10 jogos
Fase 3 – Times A, B e Misto – De 04/09 a 29/10 – Rumo aos Títulos – 15 jogos
Cada tabela contém parte da sequência de jogos enfrentados pelo Mais Querido, desde a primeira partida em que foi comandado por Dorival Jr. (11/06, derrota para o Internacional por 3 a 1), até a partida final da Copa Libertadores (29/10, vitória sobre o Athletico PR por 1 a 0).
Foram excluídos do estudo:
Os jogos disputados sob o comando do treinador Paulo Sousa (antes, portanto, da chegada de Dorival Jr. ao Flamengo).
Os jogos da 35ª à 38ª rodada do Brasileirão, por não merecerem integrar um estudo sério da campanha rubro-negra de 2022, já que realizados depois do inacreditável (porém verdadeiro) anúncio de férias do elenco, semente da vexaminosa temporada de 2023.
Esclarecimentos Preliminares:
A análise das escalações utilizadas por Dorival Jr. permite concluirmos, de forma clara, que os seguintes jogadores foram os titulares dos times A e B:
Time A – Santos, Rodinei, David Luiz, Léo Pereira, Filipe Luís, Thiago Maia, João Gomes, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabriel, Pedro.
Time B – Santos, Matheuzinho, Fabrício Bruno, Pablo, Ayrton Lucas, Vidal, Diego, Victor Hugo, Marinho, Lázaro, Cebolinha.
A análise foi feita considerando, sempre, os jogadores que começaram as partidas, sendo desconsideradas as substituições, para evitar um aumento muito grande do trabalho de pesquisa.
No estudo, considerei como integrantes do “Time C” todos os demais jogadores que, não sendo titulares do Time A ou do Time B, começaram jogando uma ou mais partidas da “era Dorival”.
Foram eles: Rodrigo Caio, William Arão, Andreas Pereira, Bruno Henrique, Vitinho, Gustavo Henrique e Matheus França.
Cabe aqui uma ressalva, quanto ao Matheus França. Considerei que ele foi do Time C enquanto o Lázaro foi o titular do B, mas passei a considerá-lo como titular do B depois da saída do Lázaro, seguindo o que fez o treinador Dorival a partir da 32ª rodada.
O goleiro titular foi, quase sempre, o Santos, mas Diego Alves e Hugo começaram jogando algumas partidas.
Considerei que o Flamengo foi representado pelo seu Time A quando iniciaram a partida pelo menos 7 dos 10 jogadores de linha titulares desse time, valendo o mesmo para o Time B.
Nos jogos em que a escalação inicial teve menos de 7 jogadores de linha titulares do Time A ou do Time B, considerei que o Flamengo jogou com Time Misto.
Fase 1 – Ensaios Variados e Definição do Time A – 11/06 a 24/07
O resumo da Fase 1 apresenta os seguintes desempenhos:
Time A – 5 Jogos – 15 pontos – 100% de aproveitamento
Time B – 1 Jogo – 3 pontos – 100% de aproveitamento
Time Misto – 7 jogos – 9 pontos – 42,9% de aproveitamento
Consolidado dos Três Times – 13 jogos – 31 pontos – 79,5%
Data |
Competição |
Adversário |
Placar |
Time Usado |
Pontos |
11/6 |
Brasileiro (11ª) |
Internacional |
1 x 3 |
A(5) B(1) C(4) |
0 |
15/6 |
Brasileiro (12ª) |
Cuiabá |
2 x 0 |
A(5) B(3) C(2) |
3 |
19/6 |
Brasileiro (13ª) |
Atlético MG |
0 x 2 |
A(4) B(3) C(3) |
0 |
22/6 |
Copa do Brasil |
Atlético MG |
1 x 2 |
A(5) B(2) C(3) |
0 |
25/6 |
Brasileiro (14ª) |
América MG |
3 x 0 |
A(7) B(1) C(2) |
3 |
29/6 |
Libertadores |
Tolima |
1 x 0 |
A(8) B(1) (1) |
3 |
2/7 |
Brasileiro (15ª) |
Santos |
2 x 1 |
A(3) B(5) C(2) |
3 |
6/7 |
Libertadores |
Tolima |
7 x 1 |
A(9) C(1) |
3 |
10/7 |
Brasileiro (16ª) |
Corinthians |
0 x 1 |
A(4) B(3) C(3) |
0 |
13/7 |
Copa do Brasil |
Atlético MG |
2 x 0 |
A(10) |
3 |
16/7 |
Brasileiro (17ª) |
Coritiba |
2 x 0 |
A(2) B(7) C(1) |
3 |
20/7 |
Brasileiro (18ª) |
Juventude |
4 x 0 |
A(10) |
3 |
24/7 |
Brasileiro (19ª) |
Avaí |
2 x 1 |
A(5) B(5) |
3 |
Na montagem da coluna “Time Usado”, considerei apenas os jogadores de linha (excluí o goleiro) e indiquei, entre parênteses, o número de jogadores escalados de cada um dos times.
Exemplo: No jogo do dia 11/06, iniciaram a partida 5 jogadores do time A, 1 jogador do time B e 4 jogadores do time C.
Minha ideia inicial a respeito da trajetória desenvolvida na campanha era de que Dorival passara mais tempo procurando um time, mas a análise da Fase 1 revela que, na verdade, ele começou a achar seu Time A no quinto jogo (Flamengo 3 x 0 América MG), realizado em 25/06, apenas duas semanas depois de sua estreia contra o Internacional.
Nessa quinta partida, Dorival escalou 7 jogadores de linha que se firmariam como titulares do seu Time A, aquele que conquistaria as duas copas.
Ainda na Fase 1, o Time A jogou e venceu mais quatro partidas, duas pela Libertadores (8 e 9 titulares), uma pela Copa do Brasil (10 titulares) e uma pelo Brasileiro (10 titulares).
Dorival também chegou a esboçar o Time B na Fase 1, escalando 7 de seus titulares no dia 16/07, na partida em que o Flamengo derrotou o Coritiba por 2 a 0, mas não repetiu a escalação na vitória sobre o Avaí (24/07, 2 a 0), quando voltou a iniciar o jogo com o Time Misto.
No balanço da Fase 1 fica claro, portanto, que Dorival já havia encontrado seu time das copas e que estava perto de encontrar o time com que disputaria o Brasileirão.
Fase 2 – Times A e B Definidos – De 27/07 a 31/08 – Lázaro vai embora
O resumo da Fase 2 apresenta os seguintes desempenhos:
Time A – 5 Jogos – 13 pontos – 86,7% de aproveitamento
Time B – 5 Jogos – 13 pontos – 86,7% de aproveitamento
Time Misto – Nenhum jogo
Consolidado dos Três Times – 10 jogos – 26 pontos – 86,7%
Data |
Competição |
Adversário |
Placar |
Time Usado |
Pontos |
27/7 |
Copa do Brasil |
Athletico PR |
0 x 0 |
A(10) |
1 |
30/7 |
Brasileiro (20ª) |
Atlético GO |
4 x 1 |
B(10) |
3 |
02/8 |
Libertadores |
Corinthians |
2 x 0 |
A(10) |
3 |
06/8 |
Brasileiro (21ª) |
São Paulo |
2 x 0 |
B(10) |
3 |
09/8 |
Libertadores |
Corinthians |
1 x 0 |
A(10) |
3 |
14/8 |
Brasileiro (22ª) |
Athletico PR |
5 x 0 |
B(9) A(1) |
3 |
17/8 |
Copa do Brasil |
Athletico PR |
1 x 0 |
A(8) B(2) |
3 |
21/8 |
Brasileiro (23ª) |
Palmeiras |
1 x 1 |
B(7) A(3) |
1 |
24/8 |
Copa do Brasil |
São Paulo |
3 x 1 |
A(10) |
3 |
28/8 |
Brasileiro (24ª) |
Botafogo |
1 x 0 |
B(9) A(1) |
3 |
31/8 |
Libertadores |
Vélez Sarsfield |
4 x 0 |
A(10) |
3 |
Na 20ª rodada do Brasileirão, na vitória por 4 a 1 sobre o Atlético Goianiense, Dorival escalou, pela primeira vez, o seu Time B completo (10 titulares).
Na sequência da Fase 2, continuou usando o Time B no Brasileirão, até a 24ª rodada, derrotando São Paulo, Athletico PR e Botafogo e empatando com o Palmeiras, naquele jogo que ficou célebre pelas críticas por não ter escalado o Time A e por ter ficado clara a estratégia de priorização das copas.
Na Fase 2, enquanto o Time B jogava o Brasileirão, o Time A se dedicava exclusivamente às copas, fazendo cinco partidas, nas quais empatou com o Athletico PR em 27/07 e, em seguida, enfileirou quatro vitórias contra o Corinthians (dois jogos) e contra Athletico PR e São Paulo.
Estou tentando, nesse estágio do estudo, me ater aos fatos, evitando subjetividades, mas não resisto a expor aqui uma opinião sobre o Time B, que o Dorival definiu como titular para a disputa do Brasileirão.
Quem olha a escalação titular daquele Time B vê que a defesa era razoável, que o meio de campo era composto por um jogador oscilante (Vidal), por um meia chegando ao fim de sua carreira (Diego) e por um jovem, Victor Hugo, que precisava desdobrar-se na sustentação defensiva e na construção ofensiva, para compensar os déficits físicos inevitáveis de seus companheiros de linha média.
No ataque, tínhamos dois jogadores em fases muito ruins, Marinho e Cebolinha, e o Lázaro, fazendo um bom falso 9 e tentando dar vida inteligente ao nosso setor ofensivo.
A meu ver, Lázaro cumpriu um papel muito importante na viabilização do Time B, daí eu ter destacado sua saída no título da análise da Fase 2, acreditando que tenha sido um dos fatos, não o único, que levaram o Dorival a recorrer, no início da Fase 3, ao Time Misto.
Fase 3 – Times A, B e Misto – De 04/09 a 29/10 – Rumo aos Títulos
O resumo da Fase 3 apresenta os seguintes desempenhos:
Time A – 7 Jogos – 9 pontos – 42,9% de aproveitamento – DOIS TÍTULOS
Time B – 3 Jogos – 9 pontos – 100% de aproveitamento
Time Misto – 5 jogos – 11 pontos – 73,3% de aproveitamento
Consolidado dos Três Times – 15 jogos – 29 pontos – 64,4%
Data |
Competição |
Adversário |
Placar |
Time Usado |
Pontos |
04/9 |
Brasileiro (25ª) |
Ceará |
1 x 1 |
A(2) B(6) C(2) |
1 |
07/9 |
Libertadores |
Vélez Sarsfield |
2 x 1 |
A(6) B(4) |
3 |
11/9 |
Brasileiro (26ª) |
Goiás |
1 x 1 |
A(4) B(6) |
1 |
14/9 |
Copa do Brasil |
São Paulo |
1 x 0 |
A(10) |
3 |
18/9 |
Brasileiro (27ª) |
Fluminense |
1 x 2 |
A(10) |
0 |
28/9 |
Brasileiro (28ª) |
Fortaleza |
2 x 3 |
A(7) B(1) C(2) |
0 |
01/10 |
Brasileiro (29ª) |
Bragantino |
4 x 1 |
A(6) B(4) |
3 |
05/10 |
Brasileiro (30ª) |
Internacional |
0 x 0 |
A(10) |
1 |
08/10 |
Brasileiro (31ª) |
Cuiabá |
2 x 1 |
B(8) C(2) |
3 |
12/10 |
Copa do Brasil |
Corinthians |
0 x 0 |
A(10) |
1 |
15/10 |
Brasileiro (32ª) |
Atlético MG |
1 x 0 |
B(8) A(1) C(1) |
3 |
19/10 |
Copa do Brasil |
Corinthians |
1 x 1 |
A(9) B(1) |
1 |
22/10 |
Brasileiro (33ª) |
América MG |
2 x 1 |
B(9) A(1) |
3 |
25/10 |
Brasileiro (34ª) |
Santos |
3 x 2 |
B(6) A(3) C(1) |
3 |
29/10 |
Libertadores |
Athletico PR |
1 x 0 |
A(10) |
3 |
Por que Dorival parou de usar o Time B no Brasileirão?
Considero que a saída do Lázaro teve alguma influência nessa decisão, já que o cria deixou o Flamengo após a 24ª rodada do BR e o treinador só efetivou o Matheus França como centroavante titular do Time B na 32ª rodada.
O principal motivo, porém, foi a necessidade de garantir que os jogadores do Time A, incumbidos de disputar as competições priorizadas, não perdessem ritmo de jogo no período entre 14/09 (dia do último jogo semifinal da Copa do Brasil) e 12/10 (dia do primeiro jogo da final da CB). Vejam o hiato e a predominância de uso do Time A (dois jogos da CB e três do BR), com baixa pontuação no BR (um ponto em três partidas destacadas em vermelho):
Data |
Competição |
Adversário |
Placar |
Time Usado |
Pontos |
14/9 |
Copa do Brasil |
São Paulo |
1 x 0 |
A(10) |
3 |
18/9 |
Brasileiro (27ª) |
Fluminense |
1 x 2 |
B(10) |
0 |
28/9 |
Brasileiro (28ª) |
Fortaleza |
2 x 3 |
A(10) |
0 |
1/10 |
Brasileiro (29ª) |
Bragantino |
4 x 1 |
A(6) B(4) |
3 |
5/10 |
Brasileiro (30ª) |
Internacional |
0 x 0 |
A(10) |
1 |
12/10 |
Copa do Brasil |
Corinthians |
0 x 0 |
A(10) |
3 |
Desempenhos Totais dos Três Times no Conjunto das Fases 1, 2 e 3
Time A – 17 Jogos – 37 pontos – 72,5% de aproveitamento – DOIS TÍTULOS
Time B – 9 Jogos – 25 pontos – 92,6% de aproveitamento
Time Misto – 12 jogos – 20 pontos – 55,6% de aproveitamento
Consolidado dos Três Times – 38 jogos – 82 pontos – 71,9% de aproveitamento
Desempenhos Específicos no Brasileirão
Time A – 5 Jogos – 7 pontos – 46,7% de aproveitamento
Time B – 9 Jogos – 25 pontos – 92,6% de aproveitamento
Time Misto – 10 jogos – 17 pontos – 56,7% de aproveitamento
Consolidado dos Três Times – 24 jogos – 49 pontos – 68,1% de aproveitamento
Para não deixar passar em branco, registro que:
O aproveitamento do Flamengo nas dez primeiras rodadas do BR22, sob o comando do treinador Paulo Sousa, foi de 33,3%.
O aproveitamento (ou desaproveitamento) do time nas quatro rodadas finais do Brasileirão (ENFIM, FÉRIAS!!!) foi de 8,33% (quatro jogos, três derrotas e um empate), apenas comparecendo com suas mentes e seus corpos desmotivados às partidas em que deveriam ter enfrentado Corinthians(4º colocado no BR), Coritiba(15º), Juventude(20º) e Avaí(19º).
Desempenhos Específicos nas Copas
Time A – 12 Jogos – 30 pontos – 83,3% de aproveitamento – DOIS TÍTULOS
Time B – Nenhum jogo.
Time Misto – 2 jogos – 3 pontos – 50,0% de aproveitamento
Consolidado dos Três Times – 14 jogos – 33 pontos – 78,6% de aproveitamento
Apesar das críticas à queda de desempenho do Time A nas últimas fases das copas, o aproveitamento conseguido ao longo das duas competições foi excelente (83,3%) e alimenta a reflexão que farei adiante sobre o que classifico como grande acerto, nas circunstâncias daquele momento: a decisão de montar dois times e dar a eles focos diferentes.
Grau de Dificuldade Enfrentado no Brasileirão
Aí, a coisa se complica.
Como medir a dificuldade enfrentada pelos Times A, B e Misto no Brasileirão?
Na falta de uma régua precisa para medir esse fator, optei por adotar, como grau de dificuldade, a pontuação alcançada pelos adversários no final do campeonato e fazer as médias dessas pontuações relativas aos jogos disputados pelo A, pelo B e pelo Misto.
Com base nesse critério, os graus de dificuldade enfrentados pelos Times A e B não foram muito diferentes:
Time A – Média de Pontos na Rodada 38 – 54,6 pontos
Time B – Média de Pontos na Rodada 38 – 52,9 pontos
Time Misto – Média de Pontos na Rodada 38 – 49,3 pontos
Se alguém quiser fazer uma análise qualitativa, informo os adversários que cada time enfrentou e, nos parênteses, as respectivas colocações ao final da 38ª rodada:
Time A – América MG(10º); Juventude(20º); Fluminense(3º); Fortaleza(8º); Internacional(2º).
Time B – Coritiba(15º); Atlético GO(18º); São Paulo(9º); Athletico PR(6º); Palmeiras(1º); Botafogo(11º); Cuiabá(16º); Atlético MG(7º); América MG(10º).
Time Misto – Internacional(2º); Cuiabá(16º); Atlético MG(7º); Santos(12º); Corinthians(4º); Avaí(19º); Ceará(17º); Goiás(13º); Bragantino(14º); Santos(12º).
O Time A enfrentou, portanto, 2 times da segunda página da tabela e 3 da primeira página, inclusive o segundo e o terceiro colocados no campeonato.
O Time B enfrentou 4 times da segunda página e 5 da primeira página, mas só o campeão Palmeiras entre os primeiros colocados.
O Time Misto enfrentou 7 times da segunda página e apenas 3 da primeira, inclusive o vice-campeão Internacional. Foi favorecido por enfrentar poucos times da primeira página, mas encarou a pedreira inicial, quando Dorival ainda procurava um time, ocasião em que precisou jogar, fora de casa, contra o Inter e o Atlético MG (se excluirmos dos cálculos os três jogos iniciais, em que o time vivia uma fase de ensaios e de busca de alguma identidade, o aproveitamento do Time Misto passa a ser de 66,7% no Brasileirão).
REFLEXÕES LIVRES (e desordenadas)
É possível ser campeão da porra toda? Num ano como 2022, ia ser muito difícil, porque o Palmeiras errou pouco e fez 81 pontos (71,1% de aproveitamento), porém acontecem anos como 2020 e 2023, em que os campeões fizeram pontuações baixas: Flamengo, em 2020 (71 pontos e 62,3%) e Palmeiras, em 2023 (70 pontos e 61,4%).
No padrão de competitividade do futebol brasileiro, começar mal um Brasileirão é praticamente condenar-se a não brigar pelo título. No período normal do trabalho do Dorival e mesmo priorizando as copas, o Flamengo fez 49 pontos em 24 jogos, com aproveitamento de 68,1%, suficiente para ganhar, com folga, campeonatos como os de 2020 e 2023. Assumindo com apenas 12 pontos conquistados em 10 jogos, praticamente entrou condenado a brigar apenas por uma boa classificação (desconsideremos, por óbvio, as vergonhosas quatro rodadas finais).
É por isso que acho que, embora isso vá contra as minhas preferências (a minha primeira prioridade sempre é o Brasileirão), a decisão de priorizar as copas foi correta em 2022 porque, se o Flamengo tentasse brigar pelo BR, muito provavelmente não teria conquistado as duas copas.
Não dá pra contar que um Time B vá ter sempre o ótimo desempenho conseguido em 2022 (92,6%), mas dá pra pensar que, com um elenco mais encorpado (onze bons reservas e seis a oito bons jogadores oriundos da base), é possível enfrentar o calendário sempre irracional e brigar com mais chances por todos os títulos.
É difícil ter dois bons times distintos, mas o Flamengo 2022 esteve perto disso, beneficiando-se do entrosamento resultante da repetição das escalações de cada time e do fato de poupar seus atletas, que começavam jogando apenas uma vez por semana. Embora essa citação esteja sendo feita em apenas um parágrafo deste estudo, atribuo a essa moderação no uso dos jogadores um peso muito relevante na conquista das duas copas. Não é algo fácil de fazer e nem sempre será viável, mas foi um belo drible na insanidade do calendário, drible que deixou o Flamengo na cara do gol da conquista da Copa do Brasil e da Libertadores.
Ponto relevante a considerar, pela dificuldade trazida para os treinamentos, é que o Time B não era um espelho do Time A, porque Marinho e Cebolinha jogavam abertos, enquanto que o Time A atacava por dentro. Talvez fosse diferente se BH não tivesse se lesionado gravemente no segundo jogo da era Dorival, mas o fato é que, a partir daí, o treinador definiu a força ofensiva do Time A com base no quarteto Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabriel e Pedro.
Enquanto isso, o Time B atacava com dois pontas característicos (ambos em fases extremamente improdutivas), com Lázaro fazendo um bom falso 9, com a aproximação de dois volantes com características ofensivas, Vidal e Victor Hugo, e com avanço dos laterais Matheuzinho e Ayrton Lucas. Não por acaso, cerca de metade dos gols do Time B foi marcada por defensores e jogadores do meio de campo, já que o ataque ficava aquém do necessário, salvando-se apenas o Lázaro.
O problema do Brasileirão ser predominantemente disputado nos fins de semana, enquanto as copas são jogadas nos meios de semana, dificulta o uso do melhor time no Brasileirão e na Libertadores, empurrando o clube para a fórmula adotada pelo Flamengo em 2022: Time A nas copas e Time B no BR, fórmula aceitável em circunstâncias anormais como as que vigoraram naquele ano, mas inaceitável em anos normais.
Time B não é uma fórmula mágica infalível, mas pode ser a base de uma estratégia vencedora no contexto de competições e calendário a que se sujeitam os times brasileiros. Qualquer clube brasileiro que disputa várias competições simultâneas numa temporada pode valer-se da estratégia de formação de dois times, mas pouquíssimos clubes, no Brasil, podem fazer isso alcançando bom nível de qualidade de elenco nos dois times. O Flamengo é um desses pouquíssimos.
A montagem e treinamento de dois times distintos para revezamento nas competições e drible no calendário insano exige elenco encorpado, como anotei acima, mas também um bom treinador e uma boa comissão técnica. Dorival e sua CT fizeram um bom trabalho em 2022 e isso foi fundamental para que conseguíssemos dois títulos.
Tite é um bom treinador e conta com uma boa CT, mas não dá sinais de que, mais adiante, vai montar dois times distintos.
Ainda assim, pra animar a resenha e a reflexão sobre nosso elenco atual, pergunto:
Se você fosse o Tite e resolvesse montar times A e B para a temporada 2024, como escalaria os titulares de cada equipe?
E quem seriam os jogadores que complementariam o elenco, formando uma espécie de “time C”, ainda que incompleto (com menos de dez jogadores de linha)?
Pra não correr da raia, declaro meus votos (com base nos desempenhos atuais, na lista dos 50 inscritos na Libertadores e em algumas apostas pessoais):
Time A – Rossi, Varela, Fabrício Bruno, Léo Pereira, Ayrton Lucas, Erick Pulgar, De La Cruz, Arrascaeta, Gerson (na direita), Pedro, Cebolinha.
Time B – Matheus Cunha, Wesley, Léo Ortiz, Cleiton, Viña, Igor Jesus, Allan, Victor Hugo, Luiz Araújo, Carlinhos (Gabriel, se liberado), Bruno Henrique.
“Time C” – Goleiros (não conheço os melhores reservas da posição), David Luiz (zaga direita), Carbone (zaga esquerda e lateral esquerda), Rayan Lucas e Daniel Cabral (volantes), Lorran (meia), Matheus Gonçalves (falso ponta direita), Werton (ponta), Wallace Yan e Weliton (atacantes).
Saudações Rubro-Negras.
Carlos César Ribeiro Batista