Olá Buteco, bom dia!
Eu não tenho o hábito de assistir ao futebol europeu. Talvez, inconscientemente, eu me aborreça com o fato deles levarem os nossos melhores para engrandecer os campeonatos de lá. Não consigo entender, por exemplo, o que faz Lucas Paquetá no West Ham. O próprio Gomes, Flamengo vendeu para Wolverhampton. Realmente me aborrece o fato de perdermos jogador para um timeco desses.
Mas, enfim, vamos ao que
interessa: como eu raramente assisto ao futebol europeu, me surpreendi
demasiadamente na final do Mundial de Clubes desse ano. Estávamos acompanhando
aqui em casa, meus filhos já estão grandes (Pedro está com 12, Caio com 8), gostam
de jogar futebol, estão acompanhando o Flamengo e, naturalmente, nossos rivais.
Então, a pergunta sobre as chances do Fluminense ser campeão do mundo apareceu
na conversa sobre o jogo, o que me levou a uma reflexão geral sobre o futebol
brasileiro (sulamericano, em geral, para ser mais exato) e o futebol europeu. Vamos
trazê-la para o nosso debate de hoje.
É certo que a grana alta está lá
e que, portanto, o sonho de qualquer jogador hoje é sair do país para jogar na Europa.
Mas, além da qualidade técnica adqurida com os milhões de euros, há uma
diferença fundamental entre o que eu vi no Manchester City e o futebol que se
pratica aqui: o jogo sem a bola.
Foi exatamente esse o meu
primeiro ponto na conversa com os meninos: eles jogam tanto sem a bola quanto com
ela, talvez até mais. Certamente, mais! Duas jogadas dessa final serviram para
ilustrar essa afirmação: no primeiro gol do City, quando o defensor intercepta
o passe errado do Marcelo, tem o campo aberto e toda liberdade para finalizar
de fora de área. A marcação só chega depois que a bola já saíra do pé dele, um
abraço. Do outro lado, há uma jogada quando ainda estava 1x0, no qual o goleiro
(brasileiro!) do City sai jogando errado e o meio-campo do Fluminense intercepta
e faz a ligação rápida para o centroavante, que é derrubado dentro da área. Pênalti
claro, anulado após consulta ao var, por impedimento. O que me impressionou
nessa jogada foi a distância em que o zagueiro do City se encontrava do Cano, no momento em que a
bola é recuperada pelo Fluminense e o quanto ele correu para conseguir deixar o
centroavante argentino em impedimento. Comentei com as crianças que, se fosse
aqui, o camarada estaria parado e levantando o braço, pedindo um impedimento
que, certamente, não aconteceria.
Sabe que fazia muito bem a linha
de impedimento por aqui? Sim, ele mesmo, o Flamengo mágico de Jorge Jesus...
Outra coisa que me impressionou
foi a força física do campeão europeu. Os dois volantes, Stones e Rodri, são
duas torres, jogadores muito altos e fortes, atletas de alto rendimento, “projetados”
para aguentar a dinâmica exaustiva de combate no meio-campo, onde os duelos se
desenvolverão em sua maior parte do tempo. Aí olhei para o Flamengo e comparei
com Allan. É bom jogador, técnico e tal, mas olhem a discrepância física. Não
tem nem comparação... Novamente, fui levado às lembranças do Mister, quando ele
citou que o “Vinição” daria jogador, pelo porte físico privilegiado.
Historicamente, o Flamengo se
caracteriza como um time que joga e deixa jogar. É comum pegar entrevistas de
adversários às vésperas de qualquer jogo no Maracanã e ouvirmos algo do tipo “sabemos
que o Flamengo vem com tudo para cima de nós, vamos tentar nos segurar e
aproveitar os espaços que se oferecerão!”. O City joga e não deixa jogar. Incrível
a capacidade de marcação, sem falta, do time inglês, os jogadores disputam a
bola, sem aquelas burrices que acontecem no jogo aqui, de chegar no adversário
de qualquer jeito, permitindo que a arbitragem soe o apito a cada contato. Sabe
que Flamengo jogava e não deixava jogar? Sim, ele mesmo...
Mas não é só o Flamengo do Ano
Mágico de 2019. O maior Flamengo da história tinha Andrade, Adílio, Zico, Tita
e Lico no meio-campo. Um time que jogava e não deixava jogar! Não à toa, o
nosso 3x0 no Liverpool é o maior placar dos Campeonatos Mundiais, em favor de
um sulamericano, desde que o torneio passou a ter uma sede fixa.
O Flamengo teve um time “europeu”
em 2019. Paradoxalmente, o grande expoente desse time foi um jogador que
“fracassou na Europa”, o nosso artilheiro. Gabigol, assim como os europeus, não
é um jogador que se destaca pela habilidade. Dificilmente o veremos driblando
três ou quatro em arrancada, como faziam vários dos nossos centroavantes históricos,
mas é um jogador que se destacou pela incrível capacidade de ler o jogo e se
posicionar nos espaços surgidos pela movimentação ofensiva. São vários gols em
que ele aparece sozinho para conferir (o mais emblemático o de empate na final
da Libertadores 2019), dando a impressão de que “qualquer um faria”. Não, não
era qualquer um que faria. Aliás, o Gabriel de hoje, sem explosão física, provavelmente
não fizesse.
Infelizmente, não sobrou quase nada daquele time. Mas aquela mentalidade está na nossa história. O grande desafio do Flamengo, após o impressionante e sempre reverenciado processo que resolveu nossos problemas financeiros, é elevar o nível de profissionalismo no departamento de futebol, ao ponto dos europeus. Se quisermos ter chances de bater de frente com o campeão deles, isto passa por excluir práticas do “jeitinho”, do “correr pelo treinador” ou do “correr para o craque jogar”, do “vai jogar no sacrifício porque é decisão”. Não acredito que isso seja feito ainda nessa gestão, deixaram chegar num ponto irreversível. Mas para aqueles que pretendem se candidatar no fim do ano, fica a dica.
Feliz Ano Novo!!!
Saudações RubroNegras!!!