segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Primeira Resenha de 2024: O Flamengo que eu Quero e os Desafios da Temporada

Zico abre a contagem no Maracanã.
Era domingo, 31 de janeiro de 1982, e o Flamengo venceria o Ferroviário/CE por 3x0,
com 3 gols do Galinho de Quintino, pela 4ª Rodada da 1ª Fase do Campeonato Brasileiro.

Salve, Buteco! Feliz 2024! Pode parecer clichê começar o ano falando mais uma vez sobre a Geração Zico, mas entendo que é necessário, não por conta da obviedade dos seus títulos e do seu brilhantismo, mas por um aspecto que será fundamental para que o Mais Querido volte a vencer na atualidade: ambição, fome de bola, querer mais, mais e mais; não se acomodar, pouco importando quantas taças já tiverem sido conquistadas.

É preciso contextualizar e tomo como exemplo a final do Campeonato Brasileiro de 1980. Naquele jogo, nada menos do que 6 (seis) jogadores que jogariam como titulares a Copa do Mundo de 1982 estavam em campo: Leandro, Júnior e Zico pelo Flamengo, e Luisinho, Toninho Cerezo e Éder pelo Atlético Mineiro. Observem que poderiam ter sido 8 (oito), se Tita não resolvesse "impor" a Telê jogar na posição do Zico e o teimoso (e saudoso) treinador não houvesse "implicado" com Reinaldo.

Agora tentem imaginar algo semelhante ocorrendo com os melhores jogadores brasileiros neste Século XXI e terão uma boa ideia do nível do futebol brasileiro da época. Podemos afirmar, com segurança, que não tínhamos o melhor campeonato do mundo, em razão do formato e da falta de organização, mas que tínhamos, sem a menor sombra de dúvida, o melhor futebol do planeta, mesmo só vindo a conquistar novamente uma Copa do Mundo na década seguinte, em 1994. 

Tempos nos quais os torneios brasileiros eram televisionados para a Europa e que a imprensa especializada internacional reconhecia em um jogador que atuava no Brasil o status de melhor do mundo:





Muita coisa mudou desde então. Estamos carecas de discutir o tema, especialmente depois do post O Mundial de Clubes - 4ª Parte - A Lei Bosman, o Fim da Intercontinental e o Mundial de Clubes da FIFA. Lei Bosman e o fim da Lei do Passe, êxodo de jogadores mais talentosos desde as categorias de base ou, no máximo, ao completarem 18 anos e jogarem poucas partidas no profissional; abismo financeiro, concentração de conhecimento e talento...

Enfim, por essa multiplicidade de fatores conjunturais, não dá para exigir do futebol brasileiro, de pronto e a curto ou médio prazo, que volte a ser o que já foi. Contudo, acho que dá para cobrar do clube mais rico das três Américas, um exemplo de gestão financeira, que tenha uma gestão profissional e responsável no esporte; o compromisso com a essência do clube, traduzida em um trecho do seu hino popular: "vencer, vencer, vencer".

É possível cobrar, também, dos atletas, em retorno ao que o clube e sua torcida lhes fornecessem - no primeiro caso, estrutura e remuneração; no segundo, amor incondicional como em nenhum outro lugar do mundo -, que entreguem o máximo de si em cada jogo, em cada competição.

A propósito, vêm a calhar as palavras do Galinho de Quintino, em uma recente participação no programa Redação SporTV (corte feito por um torcedor rubro-negro): 


Tentando encontrar parâmetros atuais para explicar o que foi Zico jogando, diria que era o Messi com a força mental e a determinação do Cristiano Ronaldo. 

Só para que quem não o viu jogar possa ter ao menos uma vaga ideia. 

O Flamengo não tem como formar um time e um elenco com o nível do time da primeira metade da década de 80, mas tem como se comportar com a determinação e a dignidade da sua até hoje maior e mais importante geração, tomando por exemplo o seu ídolo máximo.



***

Aliás, falando em Copa Intercontinental, com o já confirmado o retorno da competição em substituição ao atual Mundial de Clubes da FIFA, é importante entendermos a nova conjuntura da competições mundiais de clubes de futebol e o reflexo disso nas temporadas do Mais Querido do Brasil.

A Copa Intercontinental voltará a ser disputada anualmente, mas agora com a inclusão das outras confederações que não a disputavam até 2004, ano de sua última edição. Cuida-se de efeito produzido pelo Mundial de Clubes da FIFA, disputado a partir de 2004 até 2023. As Confederações de Futebol da América do Norte (CONCACAF), da África (CAF), da Ásia (AFC) e da Oceania (OFC), que já disputavam o Mundial de Clubes da FIFA, agora se unem à UEFA e à CONMEBOL tendo representantes na nova Copa Intercontinental.

Fruto da nova divisão de forças do futebol mundial, a partir da qual a UEFA se agigantou e a CONMEBOL “encolheu”, tendo sido alcançada ou, quando menos, ficando a pouca distância das demais confederações, apenas o campeão da Champions League da UEFA tem vaga garantida na final. As demais confederações disputarão playoffs em duas chaves: a das Américas (CONMEBOL x CONCACAF) e a da África, Ásia e Oceania.

Do lado das Américas, o campeão da Libertadores enfrentará o campeão da Champions League da Concacaf valendo uma vaga para a semifinal da Intercontinental. Do outro lado, haverá um jogo a mais para a definição do segundo semifinalista: o campeão da Oceania enfrentará, como visitante, o campeão da África ou da Ásia, e o vencedor do confronto enfrentará o representante da confederação que, naquela edição, ficou de “bye”.

Na minha cabeça, a Intercontinental continuará a ser Mundial de Clubes e a contagem de títulos e campeões seguirá normalmente, desde o Manchester City campeão de 2023. Passará a ser como no vôlei, na coexistência da Liga Mundial de Seleções e as Olimpíadas. A novidade, no futebol, é a Copa do Mundo de Clubes, a Olimpíada dos outros esportes, agora no futebol de clubes. A contagem, aqui, iniciar-se-á do zero, na minha modesta opinião.

O Flamengo que eu quero, no contexto atual do futebol mundial, não é obrigado a repetir a Geração Zico e humilhar o campeão da Champions League, mas, quando menos, obriga-o a disputar a prorrogação na final da Intercontinental.

O Flamengo que eu quero jamais admitirá perder para mexicano, africano ou árabe e suará sangue para se firmar como a força predominante fora da Europa.

O Flamengo que eu quero não fará feio nas primeiras edições da Copa do Mundo de Clubes e se firmará como uma força respeitada inclusive no continente europeu, para, quem sabe, um dia voltar a conquistar o mundo, seja pela Intercontinental, seja pela Copa do Mundo de Clubes, hoje um sonho intangível.

Só que o futuro, no futebol, pertence aos Deuses e o Mais Querido do Brasil (e do Mundo) sempre terá São Judas Tadeu ao seu lado. Logo, é só dar uma força para o Santo fazer o seu trabalho...

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O primeiro desafio de 2024 será fazer o elenco voltar a ter fome de conquistas, a ponto de se comprometer com um projeto de maior força do futebol de clubes fora do continente europeu.

O segundo desafio de 2024 será entender que ninguém mais, no cenário ultracompetitivo do futebol internacional de hoje, “defende com 7 ou 8”, e que para o Flamengo ser competitivo precisará pensar, primeiro, nos interesses do clube. Logo, se o ídolo da torcida, o jogador do contrato milionário e super badalado não conseguir “voltar para marcar”, passará a frequentar, ao menos ocasionalmente, o banco de reservas ou a ser substituído no decorrer dos jogos. A minutagem e o desempenho dentro das quatro linhas terão que falar mais alto.

O terceiro desafio de 2024 será superar o sistema atual de contratações e aprimorar o scout do clube, superando o critério da pura e simples parceria com empresário (s).

O quarto desafio será deixar a política não invadir o Departamento de Futebol em um ano eleitoral, tanto para a Câmara de Vereadores do Município do Rio de Janeiro, como no âmbito do Clube de Regatas do Flamengo.

O quinto desafio será a torcida entender que, por mais querido que seja o ídolo, o Mais Querido deverá ser sempre o Flamengo.

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Um feliz 2024, com saúde, harmonia familiar, prosperidade e muitas taças do Mais Querido do Brasil e do Mundo.

E ao Seu Denir, as nossas homenagens. Que descanse em paz na companhia do nosso Senhor Deus.

A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.