Salve, Buteco! Foi um final de semana de despedidas emocionantes. Enquanto o Velho Lobo nos deixou e partiu para outro plano, Everton Ribeiro e Rodrigo Caio, de maneira muito respeitosa, despediram-se do Flamengo e da Nação Rubro-Negra com vídeos carinhosos nos quais reconheceram e agradeceram o ganho que tiveram na relação com o clube e a torcida.
O caso de Everton Ribeiro teve contornos especiais, pelo caráter familiar que marcou a sua relação com o Mais Querido. Quando chegou em 2017, o Mago e sua esposa Marília Nery ainda não haviam tido filhos, os quais, no decorrer dos 6 (seis) anos de vínculo com o Flamengo, nasceram nas pessoas dos adoráveis Augusto (Guto) e Antônio (Totói), cujas manifestações rubro-negras desde a mais tenra idade criaram um vínculo especial com a Nação.
Em uma sociedade cada vez mais materialista e individualista, a celebração de forma tão nobre de um ciclo que se encerra no mundo do futebol é algo muito raro, ao menos no Brasil, e por isso deve ser enaltecida.
O torcedor rubro-negro também pode se orgulhar se recordando do passado, pois os tempos parecem mesmo ter mudado, já que o encerramento de ciclos com seus ídolos nem sempre foi tranquilo ou com perda do status por parte do atleta.
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Em 1969, em uma transação feita em sigilo feita pelos presidentes Veiga Brito, do Flamengo, e Reinaldo Reis, do Vasco da Gama, no sábado de Carnaval, alcançando o valor recorde para o futebol Brasileiro de Cr$ 500 mil, o ponta direita Luís Carlos "Tatu", cria das categorias de base, deixou a Gávea rumo a São Januário, levando a torcida rubro-negra à loucura.
Revista Grandes Clubes Brasileiros |
"No primeiro jogo que fiz pelo Vasco, contra a Seleção da União Soviética, fui atingido por um zagueiro e tive um problema no pé direito. O jogo seguinte foi contra o São Cristóvão e fui atingido no mesmo local. Então, não houve jeito e fiquei um ano parado."
E no primeiro jogo que disputou contra o Mais Querido, foram marcados dois pênaltis contra o Flamengo. No primeiro, Luís Carlos disse que cobrou mal, porém converteu a penalidade; mas no segundo... perdeu e foi massacarado... por ambas as torcidas!
Diz a sabedoria popular que tatu não sobe em árvore. Não preciso dizer que a Nação Rubro-Negra jamais viu esse Tatu da mesma maneira.
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Tita comemora o gol marcado sobre o Flamengo, que deu o título de campeão carioca de 1987 ao Vasco da Gama |
Seis meses depois, desentendendo-se com o treinador Paulo César Carpegiani no final do ano, transferiu-se para o Grêmio, onde ficou um semestre e foi campeão da Libertadores. Contudo, com a negociação de Zico para a Udinese, foi repatriado para, finalmente, vestir a camisa com a qual tanto sonhava. No início, as coisas correram bem e o Mais Querido conquistou a Taça Guanabara, mas o desfecho do campeonato, com o título do Fluminense, trouxe decepção.
Vieram as vaias e a volta de Zico, devolvendo-o para a ponta direita. Para piorar, o "Doutor" Sócrates também havia chegado com vaga cativa na meiuca. Ao se transferir para o Internacional, um Tita magoado deixou o clube, bradando "Flamengo nunca mais".
Contudo, o divórcio com a torcida só viria mesmo com a transferência para o Vasco da Gama e o gol do título em 1987, o que tornou Tita o herói "menos querido" de 1981.
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Júnior supera Bebeto durante a vitória rubro-negra por 2x0 pelo Campeonato Brasileiro de 1989, o "Jogo do Bujica" ou "Bujicaço! |
A transferência de Bebeto para o Vasco da Gama não surgiu do nada. O finado Gilberto Cardoso Filho, presidente do Flamengo, disse-lhe na cara que "não valia U$ 200 mil", o que fez o jogador se sentir humilhado, ainda mais porque, antes, já lhe havia sido negado um adiantamento para que pudesse comprar uma casa.
O Baianinho, porém, errou na dose. A transferência para um arquirrival do Rio de Janeiro, com direito a aliciamento, na Granja Comary, pelo também finado vice-presidente de futebol Eurico Miranda, então diretor da Seleção Brasileira na CBF, custou o carinho da Nação Rubro-Negra.
Ele bem que tentou consertar, voltando ao Flamengo. Terminou com fama de traíra por ambas as torcidas. Nada mais deu certo.
Houve, porém, um ciclo que tinha tudo para terminar mal ou perdendo a magia, e que, por obra dos Deuses do Futebol, terminou como um conto de fadas - para a torcida do Flamengo.
Recentemente, Dejan Petkovic contou ao canal de Rafael Cotta as agruras que passou antes da final de 2001 contra o Vasco da Gama. Com atraso de salários que chegava a 8 (oito meses), o pagamento de apenas 2 (dois), não cumprido às vésperas do jogo decisivo, tirou-lhe do sério.
O Sérvio encheu a cara e foi chamado por Zagallo para uma conversa na manhã seguinte. O Velho Lobo lhe perguntou se estava ciente de que, se o Flamengo perdesse a final, ele seria o responsável. Com a resposta afirmativa, e a compreensão e o apoio do grupo, foi escalado.
O resto é História.
Pet ainda jogaria pelo Vasco da Gama, sendo campeão da Taça Guanabara, da Taça Rio e, consequentemente, do Estadual de 2003, e pelo Fluminense, onde não conquistou títulos, mas desfilou com exibições de alta categoria. Até que... numa dessas reviravoltas que só o mundo da bola proporciona, voltou ao Flamengo, e para fazer História.
Sua contratação, decidida pelo presidente Delair Dumbrosck para composição de dívida, provocou (ou foi utilizada como pretexto) para o rompimento do vice-presidente de futebol Kleber Leite, substituído por Marcos Braz.
E como eu ia dizendo, o resto é História.
Eu ainda poderia falar de Renato, Romário e alguns outros, mas acho que já está bom para hoje. O Mago nos deixou definitivamente, como atleta, mas só o futuro dirá se ostentará a condição de ídolo. Tanto ele, como sua esposa Marília, tiveram uma atitude grandiosa na despedida, porém só os caminhos da bola desenharão o futuro da relação com o clube.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.