SuperaçãoSubstantivo feminino. Ação de superar, de ultrapassar uma situação desagradável, perigosa: depois da doença, minha vida tem sido um exercício de superação. Ação de vencer, de conseguir a vitória; sobrepujamento: a conquista do campeonato foi uma prova de superação dos jogadores.
Salve, Buteco! Topam entrar mais uma vez na Máquina do Tempo do Buteco? Antes de mais nada, um alerta sobre o roteiro da nossa viagem: superação e momentos desfavoráveis, expressões que compõem o título do post de hoje, não devem ser confundidos com momentos de fuga da zona de rebaixamento. Os jogos do passado que visitaremos hoje têm uma forte carga de dramaticidade, mas não necessariamente em contextos de fuga da degola, e sim de superação em clássicos, regionais ou interestaduais, pelo Campeonato Brasileiro, na maioria dos quais o adversário conquistou posteriormente o título brasileiro ou da Libertadores, ou ainda, não fazia muito tempo, havia vencido o Mais Querido em uma final.
Todos esses jogos foram precedidos de um fortíssimo componente ansiolítico, causado pelo iminente risco de uma derrota vexatória, contexto o qual, todavia, tornou-se combustível para, ainda que apenas momentaneamente, durante 90 minutos, o Manto Sagrado, ungido pela benção da Nação Rubro-Negra, prevalecer como bastilha inexpugnável, na feliz e imortal expressão do tricolor Nélson Rodrigues.
Apertem os cintos e vamos então viajar no tempo por esses dramáticos clássicos.
1) Flamengo 1x0 Botafogo (20/9/1989)
Apenas três meses antes, com o gol irregular de Maurício (que empurrou Leonardo no lance), o Botafogo sagrava-se campeão carioca, saindo da fila na qual se encontrava desde 1968.
Após retornar da Alemanha, onde conquistou o Torneio Internacional de Hamburgo vencendo o St. Pauli (2x0) e o Hamburgo (3x1), o Mais Querido engatou a seguinte sequência: 2x4 Corinthians (Pacaembu - Copa do Brasil), 2x2 Grêmio (Maracanã - Copa do Brasil), 1x6 Grêmio (Olímpico - Copa do Brasil), 0x0 Atlético Mineiro (Maracanã - Brasileiro), 1x1 Atlético Paranaense (Pinheirão - BrasIleiro) e 0x1 Corinthians (Maracanã - Brasileiro).
Era o primeiro clássico contra o Botafogo após a final do Estadual e o Flamengo venceu com um gol de Ailton, num potente chute de fora da área.
2) Flamengo 2x0 Vasco da Gama (5/11/1989)
3) Corinthians 1x2 Flamengo (1/9/1999)
Falar do time de 1999 é sempre um motivo de satisfação para mim, por considerá-lo um dos mais briosos, porém subestimados e injustiçados da História do Flamengo. Em plena gestão Edmundo Santos Silva, ou seja, em meio ao caos destrutivo daquela "indigestão", o Mais Querido venceu o então campeão da Libertadores/1998, o Vasco da Gama, conquistando o título Estadual, e, no apagar das luzes da temporada, a cinco dias do Natal, pela final da Copa Mercosul conquistou o título em cima do campeão seguinte da Libertadores, o poderoso Palmeiras de Luís Felipe Scolari, que semanas antes havia perdido apertado o Mundial de Clubes para o Manchester United.
Todavia, como sempre lhes digo e tentei explicar mais detalhadamente no post Brasileirão x Copas, no Flamengo a fatura do avanço em uma ou mais copas, com a honrosa exceção de 2019, sempre foi cobrada na campanha do Campeonato Brasileiro. Em 1999 não foi diferente. Então, antes de enfrentar o futuro campeão brasileiro, o Mais Querido, que até havia conquistado algumas boas vitórias, perdeu duas partidas seguidas, 0x2 para a Universidad de Chile no Santa Laura, pela Mercosul, e uma incômoda virada de 3x4 no Maracanã para o Grêmio de Ronaldinho Gaúcho.
A apreensão da torcida tornou-se inevitável. Contudo, o Mais Querido se superou, sob a batuta do baixola Romário, em grande noite, vencendo por 2x1.
4) Flamengo 4x0 Vasco da Gama (27/10/2000)
A temporada/2000 só foi boa pelo apoteótico bicampeonato estadual, envolvendo superação após o "Chocolate de Páscoa" na final Taça Guanabara, os trágicos 1x5 para o Vasco da Gama, coroando a demissão de Paulo César Carpegiani em sua segunda passagem como treinador pelo clube.
Além do bi estadual, um dos pouquíssimos momentos de alegria do torcedor rubro-negro em 2000 foi a goleada sobre o rival Cruzmaltino, futuro campeão brasileiro. Festa de Adriano, então ainda não Imperador, Edilson e Petkovic.
O clássico sucedeu uma sequência de 4 derrotas consecutivas pelo Brasileiro - 0x2 Ponte Preta (Moisés Lucarelli), 1x3 Botafogo (Maracanã), 1x2 Sport Recife (Maracanã) e 1x2 América/MG (Maracanã).
Aproveitando o embalo da vitória por 2x0 sobre o Vélez Sarsfield em Buenos Aires, pela Mercosul, que quebrou a sequência de resultados negativos pelo certame nacional, o Mais Querido goleou o arquirrival em uma exibição de gala, contrastando com a vexatória campanha que culminou com a 19ª posição.
A última rodada reservava um confronto que prometia ser indigesto. Tanto que, conforme já contei neste post como exemplo de mobilização rubro-negra, o São Paulo de Rogério Ceni fez uma boa campanha e terminou na terceira colocação. Era um clube muito bem estruturado, ao contrário do Flamengo, atolado em dívidas e vindo de dois anos consecutivos de árduas lutas para fugir do rebaixamento para a Série B.
A confiança são-paulina era tão alta, em contraste com o baixo prestígio rubro-negro, que do lado do Morumbi, antes da bola rolar, começou a correr uma forte especulação de que o seu goleiro jogaria na linha no segundo tempo, de modo a aumentar os números de sua artilharia com a camisa tricolor.
Para quem duvida, a entrevista pré-jogo com o goleiro Rogério Ceni afasta qualquer margem para discussão:
Com a faca nos dentes, o Flamengo se impôs e venceu por 3x1 no Morumbi, acabando com qualquer conversinha de goleiro jogar na linha. Na ocasião, o meia Fernando Diniz, atual técnico campeão da Libertadores, disputou a última de suas doze partidas com o Manto Sagrado.
6) Flamengo 3x3 Fluminense (10/10/2010)
7) Flamengo 2x1 Atlético Mineiro (26/9/2012)
E o que dizer da temporada/2012, Amigos? Basta lembrar que foi a última do triênio Patrícia Amorim. Não precisa de mais nada, certo? 3º lugar no Estadual, 11º no Brasileiro, após um flerte prologado com a Zona do Rebaixamento, numa espécie de "recaída" em relação aos primeiros 6 anos do Século XXI; rescisão de Ronaldinho Gaúcho, boicote à gestão do Galinho de Quintino no Departamento de Futebol, escândalos extracampo (orgias com bodes e anões, jogador tirando foto com soldados do narcotráfico e seus fuzis)...
Em meio ao mais completo caos, eis que o Mais Querido, combalido, preparava-se para receber o futuro vice-campeão brasileiro e campeão da Libertadores/2013, e, como se não bastasse, o novo clube de Ronaldinho Gaúcho, após a vexaminosa rescisão por inadimplência do clube, causada pela assunção da dívida e responsabilidades da Traffic por decisão de Patrícia Amorim...
Numa noite em que Léo Moura jogou de meia direita, o Mais Querido se superou no Engenhão, marcando 2x1 numa vitória que lavou a honra da Nação Rubro-Negra, no primeiro confronto contra o seu ex-camisa 10.
8) Palmeiras 1x1 Flamengo (14/9/2016)
Alguém pode questionar o meu recuo no discurso da "arrancada" para o título, como em 1987, 1992, 2009 e 2020. É que as viradas sofridas para Grêmio e Santos realmente quebraram o meu otimismo e o Palmeiras vem de cinco vitórias consecutivas. A distância na tabela nem é tão grande assim (6 pontos), mas o problema é o momento do Flamengo e sua gestão de futebol irresponsável e esculhambada, assim como o elenco tão milionário, quanto acomodado.
Por isso mesmo, em que pese a ótima vitória de domingo no Castelão, sobre o Fortaleza, não chega como favorito ao confronto contra o Palmeiras, que vem de 5 vitórias em sequência no certame. Basta lembrar do parco futebol que o time vem apresentando. Além disso, se é fato que os resultados vêm aparecendo na ótima campanha como visitante, o Mais Querido, como mandante, ocupa a inaceitável e constrangedora 12ª posição, ou seja, encontra-se na parte debaixo da tabela.
Todavia, é justamente nesse ponto que entra a ideia do post de hoje. Vejam bem, todo mundo sabe que, nos dias atuais, o Mais Querido tem muito mais investimento do que em qualquer das temporadas cujos jogos rememoramos nessa viagem pelo tempo, e desde 2016 a rivalidade entre Flamengo e Palmeiras, que já não era de se desprezar, acabou se acirrando.
É justamente nesses momentos, em clásicos nos quais o Mais Querido entra como azarão, que a mística do Manto Sagrado costuma se manifestar.
Então, bem no sapatinho, confio na mística da superação e nos 3 pontos para chegarmos em melhores condições psicológicas ao Fla-Flu do próximo sábado. Potencial o time tem.
Por outro lado, sem ao menos duas vitórias nesses próximos dois clássicos eu não voltarei a tocar no tema arrancada e título brasileiro.
Que São Judas Tadeu nos abençoe e conduza a importantes vitórias na duríssima sequência contra Palmeiras, Fluminense e Bragantino no Maracanã, sempre com o apoio da Nação Rubro-Negra.
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O Ficha Técnica subirá as 19:00h e a bola rolará para Flamengo x Palmeiras as 21:30h no Maracanã.
A palavra está com vocês.