Salve, Buteco! Após o temido primeiro Fla-Flu pelas oitavas de final da Copa do Brasil/2023, publiquei o post Sinais Vitais, valorizando o que parecia ser a retomada da motivação e da competitividade do Flamengo após as derrotas na Supercopa, no Mundial de Clubes, na Recopa Sul-Americana e no Estadual. Contudo, o Flamengo atual, especialmente os seus jogadores e dirigentes, perenes em relação às comissões técnicas que periodicamente derretem dentro da estrutura do Departamento de Futebol, parece mais preocupado em lutar internamente do que dentro das quatro linhas.
Ao longo da temporada, ao menor sinal de retomada da verve vencedora rubro-negra, fazendo jus à letra de seu hino, o time sempre decepcionou. Foi assim ao marcar o gol da vitória na decisão sobre o Independiente Del Valle, na final da Recopa Sul-Americana, fracassando depois na prorrogação; ao abrir 2x0 de vantagem no primeiro jogo das finais do Estadual, sendo goleado na finalíssima; ao cair para o Olimpia em Assunção, pelas oitavas de final da Libertadores, após abrir vantagem no Maracanã; ao vencer Atlético Mineiro e Botafogo fora de casa, pelo Campeonato Brasileiro, e também após se classificar para as finais da Copa do Brasil.
O campeão da Libertadores e da Copa do Brasil de 2022 se tornou um time perdedor, fracassado e não confiável. Por conta disso, antes do jogo de ontem, contra o Fortaleza, no Castelão, publiquei o seguinte comentário no Ficha Técnica:
Atualizei o post e inclui uma homenagem aos rubro-negros do Nordeste. Serão quase 16.000 hoje no Castelão, pelo que foi divulgado.
Em homenagem a esses rubro-negros, proponho que tentemos tirar a emoção e fazer um prognóstico para o jogo de hoje.
Eu começo:
Domènec, Ceni, Vitor Pereira e Sampaoli tentaram emplacar o 4-3-3 com esse elenco e nenhum conseguiu. Logo, essa é a minha primeira preocupação para o jogo de hoje, considerando a escalação que foi anunciada.
Minha segunda preocupação vem do "mental", que subdivido entre o "clima no vestiário" e a confiança. Duas derrotas consecutivas, com o time tomando viradas no segundo tempo. Renovações pendentes, risco de mais saídas de jogadores renomados do que nas temporadas anteriores, treinador tentando conter as incursões na noite carioca.
Terceira preocupação: a linha defensiva tem muita saúde, mas pouca capacidade para fazer uma boa saída de bola. O bom e forte Fortaleza deve vir babando, com marcação alta, tentando retomar a campanha pela vaga na Libertadores, e o Flamengo e seus "mistos" são um fator motivacional perene para eles.
Enfim, se o mental não atrapalhar, as maiores chances são de um empate no sufoco ou uma derrota por placar apertado. Agora, se o mental não estiver em dia, vai ter goleada. Essa me parece segunda hipótese menos provável, mas ainda assim possível. Não acredito em vitória, de jeito nenhum.
A palavra está com vocês, rs.
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Fui 100% sincero e não estava de onda. É que eu realmente não esperava uma vitória. Contudo, o 4-3-3 do Adenor me surpreendeu pelas consistência e competitividade. Durante 30 minutos o Flamengo se impôs no Castelão, com Luís Araújo se reabilitando da pavorosa exibição em Brasília e Cebolinha jogando bem pela esquerda, a ponto de se poder afirmar que essa primeira meia hora de jogo foi o que o Flamengo mostrou de mais seguro e organizado jogando com dois pontas abertos desde 2020.
Ainda aos 10 minutos, o time criou essa chance de gol e eu pergunto a vocês o que explica o árbitro Anderson Daronco, vulgo "Braço-de-Coxa", não haver marcado o pênalti? É fato que o VAR não estava funcionando naquele momento, mas o lance foi muito claro, concordam?
As atuações de Pulgar e Arrascaeta estavam longe de ser brilhantes, mas o Flamengo tinha controle e jogava no campo do Fortaleza. Após a parada para hidratação, porém, Juan Pablo Vojvoda ajustou o seu time, que passou a exercer forte pressão. O jogo ficou mais "trocado", mas com maior intensidade por parte do Fortaleza, tendência que se intensificaria nos 45 minutos finais.
Antes de descer para o vestiário, contudo, o Mais Querido fez justiça ao seu melhor futebol e aos 60% de posse de bola abrindo o placar numa jogada que contou com a aplicação dos pontas, a inteligência de Filipe Luís no passe decisivo e o corta-luz providencial de Pulgar até a bola chegar ao domínio de Pedro, o qual nos dois últimos jogos parece ter ressuscitado de um sono que parecia ser profundo e interminável.
Arrascaeta ainda poderia ter ampliado o placar, mas se enrolou com a bola no final de um pique incrível, que se iniciou ainda na intermediária rubro-negra, com uma roubada de bola pelo alto, e terminou na linha de fundo da defesa cearense. O uruguaio, que vem sendo justamente questionado por sua forma física, parecia o papa-léguas e surpreendeu pelas explosão e velocidade exibidas no lance.
Cebolinha ainda obrigaria o goleiro João Ricardo a praticar uma grande defesa, no último lance de perigo da etapa inicial.
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O segundo tempo foi uma espécie de aula prática do "tem que saber sofrer", expressão uma vez utilizada por Zé Ricardo e reproduzida por vários treinadores brasileiros quando seus times sofrem forte pressão do adversário. O Flamengo perdeu intensidade e passou a contra-atacar com bem menos frequência, sendo muito pressionado pelo Fortaleza especialmente no lado direito do setor defensivo, no qual Matheuzinho exibia a conhecida limitação defensiva e Luís Araújo se exauria nos esforços para ajudá-lo na recomposição.
Nesse cenário, apesar do Fortaleza não haver finalizado com perigo, o cansaço chegou. Com 65% de posse de bola e 18 finalizações, das quais apenas 3 chegaram ao gol de Rossi, o volume de jogo do Leão do Pici exauriu o time rubro-negro. Arrascaeta foi o primeiro a sair, para a entrada de Victor Hugo, e depois Rodrigo Caio, Everton Ribeiro e Ayrton Lucas substituíram, respectivamente, Thiago Maia (terceiro cartão), Cebolinha e Pedro.
Praticamente se limitando a anular as ações ofensivas do Tricolor de Aço, o Mais Querido criou apenas duas oportunidades, a primeira, na altura dos 19 minutos, quando Matheuzinho finalizou de voleio para fora, e a segunda aos 42 minutos, quando uma bela linha de passes entre Filipe Luís, Ayrton Lucas e Everton Ribeiro encontrou Luís Araújo livre dentro da grande área para dar números finais ao placar.
Aliás, aproveitando o ensejo, curti muito da entrada do Beijinho sem a saída de Filipe Luís. O conceito me agrada como alternativa de jogo, permitindo aproveitar a capacidade de construção do veterano e a explosão do camisa 6 no apoio ao ataque.
Não sei até que ponto foi um improviso em meio a tantos desfalques ou uma ideia que virá a ser mais explorada no futuro, mas talvez a simples possibilidade de ter sido o improviso já me agrade. O que sei é que dificilmente um treinador estrangeiro teria o mesmo desprendimento. Sem abusar da neurolinguística, acho que Tite ontem demonstrou conhecimento e... "adaptabilidade" 😂.
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"Vamos partir da verdade. Sonhos nós temos, mas riscos também temos que não classificar para a Libertadores. A equipe vai oscilar dentro dos jogos. Tudo que queremos é dividir a alegria com o torcedor, mas que ele entenda que precisa ajudar uma equipe que vai oscilar"
Tite
Tite não tem absolutamente nada a ver com o que aconteceu antes de sua chegada, como Sampaoli tampouco tinha com o que aconteceu entre a saída de Dorival Junior e a demissão de Vítor Pereira. O nosso atual treinador, contudo, ao contrário do argentino, tem a boa vontade de toda a diretoria, do elenco, da torcida e da imprensa que cobre o clube.
Vejo essa confiança como um bom sinal, pois o Tite que chega ao Flamengo é maduro, talhado por passagens não só por grandes clubes do futebol brasileiro, mas por duas copas do mundo no comando da Seleção Brasileira. Contudo, para além do currículo, o aspecto que me deixa mais curioso na contratação de Adenor é o fato de ser o primeiro treinador brasileiro a, no Flamengo, aliar o estudo e a experiência a uma comissão técnica ampla e de excelência.
Conforme escrevi este ano no post "O Que Espera Por Adenor no Flamengo", em 2021, no post "E a Comissão Técnica?", questionei o raciocínio de Marcos Braz, que admitia o erro quanto ao tamanho e a qualidade da comissão técnica de Domènec Torrent, porém contraditoriamente não adotara o mesmo raciocínio em relação a Rogério Ceni, o que (na minha opinião) indicava um grande retrocesso após a saída de Jorge Jesus e, ainda, uma postura irresponsável, por se tratar, em ambos os casos, de treinadores experientes.
Portanto, Tite, em tese, é uma espécie de elo entre esses dois mundos que vêm colidindo dentro do Flamengo desde que Jorge Jesus voltou a Portugal - o conhecimento teórico e seus processos modernos desenvolvidos no Velho Mundo em contraposição à cultura brasileira de praticar o futebol, que envolve criatividade, intuição e improviso, além de muito conservadorismo nos costumes - hierarquia, titularidade e "insubstituibilidade".
Talvez sem merecer, o elenco tem agora uma última oportunidade, em 2023, para agir com dignidade e retribuir tudo o que recebe em nível de remuneração e estrutura de trabalho do clube, bem como de carinho e apoio da maior torcida do Brasil e do mundo.
Que não nos decepcionem mais uma vez.
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A palavra está com vocês
Boa semana e SRN a tod@s.
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