Salve, Buteco! Bora tomar um cafezinho? Estão servidos? O Flamengo não entrará em campo até o dia 23 de novembro, quinta-feira, e precisamos manter o Blog em funcionamento e o papo em dia. Dando início à prosa, confesso a vocês que estou adorando a interrupção das competições durante a Data FIFA. Estou, do verbo estar, expressão que remete ao presente. Logo, não quer dizer que sempre estarei satisfeito com essas paralisações. Poderá haver temporadas nas quais as Datas FIFA trarão uma quebra de ritmo indesejada. Porém, por princípio, acho que essas paralisações vêm para o bem: como não é possível controlar a FIFA e seu calendário caça-níqueis repleto de competições de seleções, que pelo menos não prejudique mais ainda as competições de clubes, impedindo que jogadores atuem por quem paga seus salários.
Mas o meu ponto é outro, relacionado com o motivo de eu estar satisfeito com essa Data FIFA que está por se iniciar. É que, do ângulo que enxergo o cenário, o presente do Flamengo é como um retorno no tempo, a 2017/2018, quando já havia ficado claro para o torcedor que os anos de fuga do rebaixamento haviam passado, mas estava longe de estar esclarecido quando as taças importantes começariam a ser levantadas.
Eram tempos de alívio contaminado pela frustração. Tipo assim: "nossa, estamos na primeira parte da tabela, classificados para a Libertadores! Mas e as taças? Quando chegam?" Hoje é um pouco diferente: o alívio se foi e ficou a frustração, somada à ansiedade, oriunda da realidade paralela na qual o sonho de repetir 2019 é eterno e determinante, mas nunca acontece. "Nossa, que ano merda! Mas eu daria pelo menos mais 1 ano de contrato pro Filipe Luís e contrato de produtividade pro Rodrigo Caio. Tem que renovar logo com o Bruno Henrique, pois ele não pode ir pro Palmeiras. O Flamengo poderia pensar em trazer de volta o Rafinha. É melhor antecipar logo a renovação do Gabi."
Esse perfil de torcedor (podem reparar) esculachou os treinadores e comissões técnicas estrangeiros, relativizou ou até ridicularizou as críticas ao esculhambado planejamento do Departamento de Futebol para a temporada/2023, inclusive as férias prolongadas concedidas a pedido dos atletas, e acha que a responsabilidade pelo estado do camisa 10 Gabriel Barbosa pode ser do Landim, do Braz, do Vitor Pereira, do Sampaoli, do Bolsonaro, do Lula ou até do Putin, do Netanyahu ou do Hamas, mas jamais do próprio atleta, vítima de uma conspiração caça-cliques em curso no ex-Twitter.
Do outro lado, há torcedores que culpam o camisa 10 por todos os fracassos do ano, desde o famigerado pedido de férias ainda no gramado do Estádio Monumental Isidro Romero Carbo até todas, absolutamente todas as derrotas importantes da temporada. Para esses torcedores, Gabriel crucificou Jesus Cristo, queimou viva Joana D'Arc e ainda romperá os sete selos, inciando o Apocalipse bíblico.
Acho que faço parte de uma ala moderada desse grupo (muitos risos), mas preciso me policiar, quem sabe até me curar. Todo radicalismo é doentio. Apontar erros e até responsabilidades é bem diferente de escolher alguém para o papel de bode expiatório, prática perfeita para deixar outros culpados livres de responsabilidade.
Suspeito que Gabriel esteja enfermo, da mente e da alma. Entendo que é preciso encontrar o equilíbrio entre apontar seus erros e sua responsabilidade pela temporada/2023, bem como avaliar criteriosamente a relação de custo e benefício da renovação de seu contrato, e o respeito pelo ser humano e ídolo da torcida e do clube.
E não é só e simplesmente o Gabriel. É o Gabriel que não quer mais se sacrificar pelo Pedro, mas também o Pedro que se recusa a se aquecer e não estava jogando rigorosamente nada até outro dia; o Bruno Henrique e o Everton Ribeiro, que querem extensões generosas em seus contratos mesmo com a perda de todos os títulos disputados na temporada e de suas atuações individuais abaixo da crítica, e o Arrascaeta confeiteiro, que ensaia uma subida de produção, mas ainda não consegue completar uma partida, jogando por 90 minutos. Esses jogadores são os líderes do Flamengo que tomou as viradas do Grêmio e do Santos, e quase tomou a virada do Fluminense no sábado.
É o mesmo Flamengo que perdeu para o Al Hilal, quase perdeu para o Al Ahly (sendo salvo pela expulsão de um egípcio), não conseguiu vencer o Independiente Del Valle na prorrogação, tomou virada na final da Taça Guanabara e ainda foi goleado na finalíssima do Estadual (após abrir vantagem de 2 gols no primeiro jogo), o que não acontecia desde 1961 (Botafogo 3x0 com show de Garrincha). O Flamengo que não teve forças para se impor ao Olimpia e ao São Paulo. O Flamengo que muito provavelmente só conquistará o G4 ao final do Campeonato Brasileiro.
Tudo começa com as ligações pessoais desses atletas com o vice-presidente de futebol e a mistura com a política partidária. Hoje, conquistar títulos e ter máxima competitividade não é mais prioridade, mas sim manter o sistema que sustenta essas relações interpessoais, às custas do clube.
Por conta disso, passei a avaliar as passagens de treinadores anteriores com mais cautela, tentando contextualizar. As entradas de Bruno Henrique, Everton Ribeiro e Gabriel Barbosa nas etapas finais dos jogos conta Grêmio, Santos e Fluminense remetem às escalações da finalíssima do Estadual e do primeiro jogo da final da Copa do Brasil. Cada treinador responsável por essas escalações errou nas decisões, mas o contexto da relação de cada um deles com a Geração 2019, para gerir o elenco e sobreviver no cargo, não pode mais ser ignorado.
O Flamengo de 2023 só foi competitivo quando priorizou o binômio técnica e força - Flamengo 2x0, 0x0 e 2x0 Fluminense; 2x1 Racing; 2x0 Grêmio, 2x0 Athletico/PR, 2x1 Atlético Mineiro, 2x1 Botafogo e 3x0 Palmeiras. Poucos jogos em uma longa temporada. Menos Geração 2019 e mais saúde e renovação.
Saber encerrar ciclos é uma virtude que espelha sapiência e maturidade, ou seja, tudo o que não existe na gestão de futebol do Flamengo. É triste constatar que a torcida se divide e se perde em cabos de guerra os quais, direta ou indiretamente, defendem quem não pensa no clube em primeiro lugar.
Enfim, a Data FIFA de certa maneira amenizará todo esse processo doentiamente polarizado que, como um flagelo, assola o dia a dia da torcida do Flamengo e suas interações com dirigentes, comissão técnica, setoristas e influencers.
Que sejam 12 dias de paz, até o jogo contra o Bragantino.
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O que resta da tabela para o Flamengo e seus concorrentes é o seguinte:
Rodada |
FLAMENGO |
PALMEIRAS |
BOTAFOGO |
BRAGANTINO |
GRÊMIO |
ATLÉTICO |
29ª |
Bragantino (c) 23/11 Adiado Data FIFA |
---- |
Fortaleza (f) 23/11 Adiado Data FIFA |
Flamengo (f) 23/11 Adiado Data FIFA |
---- |
---- |
35ª |
América/MG (f) |
Fortaleza (f) |
Santos (c) |
Internacional (f) |
Atlético/MG (f) |
Grêmio (c) |
36ª |
Atlético/MG (c) |
América/MG (c) |
Coritiba (f) |
Fortaleza (c) |
Goiás (c) |
São Paulo (c) |
37ª |
Cuiabá (c) |
Fluminense (c) |
Cruzeiro (c) |
Coritiba (c) |
Vasco da Gama (c) |
Flamengo (f) |
38ª |
São Paulo (f) |
Cruzeiro (f) |
Internacional (f) |
Vasco da Gama (f) |
Fluminense (f) |
Bahia (f) |
Nenhum dos concorrentes faz uma campanha irretocável. Todos tiveram seus altos e baixos. Contudo, no frigir dos ovos, não será fácil tirar a liderança do Palmeiras em 5 rodadas, especialmente porque o Flamengo de 2023 é capaz de vencer Bragantino, Atlético e São Paulo, mas tropeçar no América e no Cuiabá.
Em tese, o Palmeiras deverá ser mais regular e conquistar mais um Campeonato Brasileiro. Há perigos no caminho, como o Fortaleza no Castelão, onde a equipe palestrina não vem sendo feliz nas últimas temporadas, ou o Fluminense de Fernando Diniz, que talvez escolha essa partida como treinamento para o Mundial e demonstração de força perante o treinador mais vitorioso no Brasil nos últimos anos.
O problema é que quem seca inevitavelmente não fez o dever de casa. A bola pune, como sempre ensinou Muricy Ramalho. É mais racional não alimentar expectativas e focar no G4.
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A palavra está com vocês.
Uma Ótima semana e SRN a tod@s.