Salve, Buteco! Cantei a pedra durante a semana. As primeiras notícias pós-folga do elenco davam conta que a formação para o confronto contra o Athletico/PR era um ensaio para a do primeiro jogo da final da Copa do Brasil, contra o São Paulo. Os trabalhos de Vítor Pereira e Jorge Sampaoli no Flamengo nesta desastrosa temporada de 2023 têm em comum o fato de que, muito embora, sem brilho técnico e tático, assim como sem futebol de qualidade, tenham encontrado escalações minimamente competitivas, optaram, em finais de campeonato, por acomodar jogadores de maior projeção no elenco, contrariando suas convicções.
Vítor Pereira, após encontrar a fórmula nos 45 minutos do Fla-Flu da Taça Guanabara (apesar da virada no 2T), conseguiu a expressiva vantagem de 2x0 sobre o Fluminense no primeiro jogo da final do Estadual executando melhor a mesma ideia tática. Veio o jogo de Quito, contra o Aucas, com rodagem do elenco, seguido da crise e, na finalíssima, a estranha escalação com Gabriel Barbosa e Pedro, culminando com a goleada por 1x4.
Jorge Sampaoli, do seu jeito e com algumas diferenças no desenho tático, mas seguindo a mesma diretriz, eliminou com autoridade o mesmo adversário, deixando ainda mais claro o caminho a ser seguido. É bem verdade que a trajetória do argentino no Flamengo teve muitas oscilações, mas a campanha na Copa do Brasil tinha um direção clara, reforçada pela ótima vitória contra o Botafogo, no Engenhão.
Vejam bem, seguir essa diretriz como treinador do Flamengo não é nada fácil, eis que, na prática, significa colocar figurões do elenco no banco de reservas no início das partidas, especialmente, embora não exclusivamente, as estrelas do setor ofensivo. É que a "cultura" do profissional de futebol brasileiro simplesmente odeia essa filosofia. O meio acredita piamente em titularidade definida, bem como em fórmulas para as maiores individualidades jogarem juntas. Se alguém tiver que sentar no banco, dificilmente será na paz.
Inegavelmente, as mais expressivas vitórias do futebol brasileiro, seja pela Seleção Brasileira ou por seus clubes, foram conquistadas nesse formato. Logo, deveria ser intuitivo que qualquer tentativa de buscar outro caminho precisaria ser acompanhada de muita atenção e preparação na parte da persuasão e da motivação do elenco, obviedade que jamais entrou no radar de preocupações dos nossos dirigentes.
Para além disso, e independentemente do formato tático (mais europeu, brasileiro ou sul-americano) e da proporção em que o campo filosófico influencia o planejamento e o trabalho de um treinador, hoje dificilmente alguém consegue "se defender com 8", como pedem os emocionados torcedores fãs de jogador (antes do clube).
Todavia, e infelizmente, no Flamengo da Diretoria que monta o elenco com mais jogadores com potencial de titularidade do que o máximo que as regras do esporte bretão permitem cada time usar simultaneamente, o que prevalece, de maneira contraditória, não é o interesse do clube e uma rodagem criteriosa de elenco, mas a cultura da acomodação de todos no onze titular.
O gol do São Paulo é didático. Observem como se dá a transição defensiva do Flamengo e tirem suas próprias conclusões:
Não merece clemência o treinador que se torna cúmplice desse sistema e não escala de acordo com suas convicções. A entrevista pós-jogo do argentino foi, antes de tudo, cínica, típica de quem apenas espera a multa rescisória. Um verdadeiro desrespeito com o clube e a torcida.
Por outro lado, é bom que se frise, seus erros não se resumem a essa capitulação ao seu entorno, muito parecida com o que ocorreu com Vítor Pereira em sua semana final no clube. Sampaoli pecou sobretudo na insistência com o jovem Matheus Cunha, o qual claramente, desde Assunção, mostrou que não está pronto para os jogos de maior pressão sobre o Flamengo. A falha no gol sampaolino era tão certa como o revezamento entre o dia e a noite.
Sampaoli foi omisso e irresponsável, tal qual Paulo Sousa e seu treinador de goleiros, Paulo Grilo (Falante), na insistência com Hugo Souza.
O entorno pesa a seu favor como atenuante, sem dúvida, mas o treinador é muito bem remunerado para desafiá-lo e entregar algo mais do que o bando que se apresentou ontem.
No plano ideal, o ambiente deveria ser são e favorecer o treinador. Contudo, Sampaoli sabia aonde estava pisando. O valor da multa rescisória não deixa dúvida.
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O caos de relacionamento que hoje corrói o Departamento de Futebol do Flamengo é consequência da degradação da coalização que elegeu Rodolfo Landim e por ele é mantida até hoje, bem além do que a razão e a precaução exigiriam.
A propósito, leiam esta matéria, publicada na manhã de ontem pelo jornalista Rodrigo Mattos (@_rodrigomattos_):
A final da Copa do Brasil - cujo primeiro jogo contra o São Paulo será neste domingo no Maracanã - decide não só se o Flamengo terá um título importante na temporada. Seu resultado terá influência direta tanto nos rumos do futebol quanto na política do clube. Uma demonstração desse cenário foi a reunião do Conselho Deliberativo de quinta-feira no Flamengo.
No confuso encontro, o presidente rubro-negro, Rodolfo Landim, perdeu pelo menos uma votação importante: houve maioria clara para rejeitar a proposta de alterar o estatuto para proibir quem exerce cargo político de se candidatar a presidente. Era uma pauta defendida por Landim e seu vice Rodrigo Dunshee. Há dúvida só se o resultado foi homologado.
Em outra votação, foi rejeitada a extensão de mandatos futuros de presidentes para quatro anos, em vez dos três anos atuais com reeleição. Nesse caso, Landim discursou antes que não queria ficar no clube além de 2024, fim do seu mandato. Ele diz que não tem interesse de seguir como presidente além disso. Ou seja, não defendeu a proposta.
Um grupo de apoiadores do presidente que queria sua permanência por mais um ano além de 2024 foi frustrado. Landim não estimulou esse movimento, nem o rejeitou. Estava neutro.
O fato é que o presidente era dominante no Conselho Deliberativo até pouco tempo. Só que a pressão por mudanças no futebol virou o vento, inclusive com membros da situação questionando bastante suas escolhas, como a permanência do técnico Sampaoli e dos dirigentes do futebol, Marcos Braz e Bruno Spindel. A derrota para o Athletico-PR, na véspera da reunião, teve peso em decisões contra a situação.
Landim está completamente consciente da pressão. Sentiu na reunião que as críticas de conselheiros se concentram em Braz muito mais do que nele. Recebeu apoio de quem reclamou do vice de futebol.
O próprio presidente do clube, portanto, sabe que será necessária uma avaliação do trabalho do futebol ao final da temporada. Uma análise que começa no elenco e vai até o próprio Landim.
Aliados do dirigente apostam em alguma mudança. A questão é o tamanho dessas alterações. E é aí que entra a Copa do Brasil.
Uma vitória na final, e mais uma temporada com título, reduz bastante a pressão por uma mudança radical no futebol do clube. Acredita-se então na situação que Landim faria mudanças e renovação no elenco, sem alterações radicais.
Mas uma derrota obrigaria a uma modificação maior no futebol, na avaliação de aliados. Isso obviamente passa por Sampaoli, que Landim segurou no clube até agora, e pela cúpula do futebol. Landim gosta de Braz, a quem enxerga como um bom executivo de futebol que não é remunerado. Mas o nível de insatisfação com seu trabalho entre aliados só cresce.
O ano de 2024 será eleitoral. A oposição mostrou força na votação no Conselho Deliberativo. E a rejeição ao acúmulo de cargo político e presidente do clube abriu brecha para candidatura do ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello.
O ex-dirigente diz não ter intenção de se candidatar, mas seus apoiadores o querem no pleito. O grupo de Landim está convencido de que a intenção de Bandeira é voltar a ser presidente e deputado ao mesmo tempo. Há um antagonismo claro entre os dois mesmo que não sejam candidatos. Landim vê Bandeira usando o clube pela política, enquanto o opositor acusou o presidente atual de tentar dar um golpe.
Ambos vão ter protagonismo na eleição mesmo que os dois candidatos dos grupos sejam outros - no caso da situação, será com certeza.
Em um cenário desses, um triunfo da Copa do Brasil permite um alívio em mais uma temporada com título. Uma derrota obrigará a uma reação da gestão para dar uma resposta aos associados em ano eleitoral. Aliados vão aumentar bastante a pressão sobre presidente.
Não sei se só por incapacidade pessoal (emocional) de colocar fim à aliança política moribunda ou por outros motivos desconhecidos, o presidente hoje não parece ter força sequer para dizer ao seu vice-presidente geral que não havia a menor condição de colocar em votação a proposta para aumentar os mandatos presidenciais para quatro anos, já que absolutamente ninguém acreditou que não seria futuramente proposta uma emenda para ser estendida ao mandato atual, até porque o próprio Landim manteve uma postura bizarramente "neutra" em relação à ideia, como bem esclarece o texto.
O mesmo presidente que mantém um treinador contra a vontade do seu vice-presidente de futebol, do qual, contudo, estranhamente não se desliga. A ocasião é perfeita para lembrar a matéria publicada pelo jornalista Diogo Dantas (@diogodantas) em O Globo no dia 12 de agosto de 2023:
O torcedor rubro-negro já viu esse filme e se lembra de jogos negativamente marcantes sob o comando de Vítor Pereira, Paulo Sousa, Domènec Torrent. Agora foi a vez de Jorge Sampaoli. A eliminação na Libertadores traz à tona um roteiro repetido no Flamengo. Nos momentos de crise no futebol, a diretoria sai de cena e há o choque velado entre elenco e treinador. A roda gigante gira e é pilotada, mesmo que indiretamente, pelo vice de futebol Marcos Braz, dirigente amador, que embora responda ao presidente Rodolfo Landim é o “01” da principal e mais rica pasta do clube, recheada de profissionais com histórico ou competência questionáveis, mas que atendem a um modelo que se forjou na fritura de técnicos para se perpetuar e, no fim do dia, conquistar títulos.
A estrutura amadora em termos de gestão ignora a hierarquia. Os jogadores não veem como líderes ou chefes seus superiores, que não se comportam como tal no dia a dia. O diretor Bruno Spindel é um negociador sagaz e um torcedor efusivo durante os jogos. Os gerentes Fabinho e Juan dois ex-jogadores que são "camaradas" dos atletas que formam o plantel.
Na prática, a cobrança, o desgaste, o desconforto, é sempre papel do treinador, ou dos torcedores de organizadas que estrategicamente aparecem para hostilizar a todos como no desembarque de ontem no Rio após a queda no Paraguai. Sampaoli foi o menos atacado. Sobrou para alguns atletas e para a diretoria, incluindo Braz, Spindel e Landim - o presidente se escondeu e aguardou os protestos para ir para casa. Como ninguém se apresenta para mais esclarecimentos, o foco se volta para o técnico.
O Flamengo tem optado, desde Jorge Jesus, por um perfil de profissional para terceirizar sua gestão de pessoas e crises. Nesse cenário, Braz perdeu o comando há tempos e alterna momentos de desgaste com a torcida com outros em que se vangloria pelos títulos recentes conquistados no campo, a base de muito dinheiro, e oriundo de uma administração competente das finanças rubro-negras.
— Longe do resultado que a gente queria, Flamengo não jogou bem, as coisas não aconteceram do jeito que a gente pretendia, a gente queria muito continuar nessa competição, competição que nos últimos quatro anos chegamos em três. Temos o Brasileiro e a Copa do Brasil aí que são títulos importantes — afirmou o vice, ainda no Paraguai, sem comentar sobre o futuro de Sampaoli.
Para que esse ciclo vicioso persista é preciso encontrar outro culpado para justificar o fracasso de um elenco milionário. E o elo mais fraco é sempre o treinador. A multa para interromper trabalhos vira um efeito colateral. Caso queira tirar Sampaoli, serão R$ 15 milhões, nada perdo da receita na casa do bilhão. A ordem de Landim e por consequência de Braz é seguir em frente, no aguardo que os jogos da Copa do Brasil sejam um alento para a temporada que parece irrecuperável.
Ao fim dela, Sampaoli dificilmente permanecerá, e o ciclo se reinicia, com os mesmos personagens no comando, uma reestruturação de elenco vagarosa, usada para alimentar uma fantasia irreal de que é possível ganhar tudo sempre, mas com um culpado diferente para ser responsabilizado por todos os outros quando algo não ocorrer como esperado.
O ambiente era propício para mais uma provocação de moleque do portador da camisa 10 do Flamengo, o qual mais uma vez não jogou absolutamente nada e foi facilmente anulado pela marcação sampaolina (não confundir com o arremedo de marcação do sistema tático do argentino):
Nesse teatro dos horrores, coube a Dorival o papel de mocinho, enquanto ao presidente, aos vices-presidentes geral e de futebol, à comissão técnica e uma boa parte do elenco o papel da vilania, fingindo que os melhores interesses do Flamengo para eles são prioridade.
Que a vida cobre de cada um (menos Dorival) a fatura por esses atentados contra o clube e a Nação Rubro-Negra.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.