Salve, Buteco! Nunca escondi de vocês a minha admiração por Jorge Sampaoli, o cada vez menos treinador do Flamengo. O desfecho de sua passagem pelo clube é, para mim, extremamente frustrante, dado o potencial que acredito ter, e também porque nutro simpatia pela figura, por mais que muitos de vocês possam achar estranho. Vi no Careca, desde o início, tal como em Paulo Sousa, uma enorme vontade de trabalhar no clube, o que, por exemplo, em momento algum consegui enxergar em Vítor Pereira. A diferença em favor do argentino talvez esteja em sua clara afinidade com o Rio de Janeiro, cidade da qual gosta e pretende fixar raízes.
Infelizmente, porém, nada disso adiantou. Vocês sabem que eu valorizo muito o contexto em cada avaliação, o que faz com que qualquer treinador que trabalhe sob a direção de Rodolfo Landim e Marcos Braz tenha a minha compaixão e a tolerância em relação aos erros. É que o ambiente profissional de araque do Departamento de Futebol do Flamengo, que privilegia interesses pessoais, vem extraindo o pior da cada treinador, a ponto de eu haver perdido completamente a confiança no vice-presidente de futebol e quase toda (só resta a gestão financeira) no presidente.
Entretanto, algumas situações constituem verdadeiros e efetivos divisores de água e acredito que, como se diz por aqui, na Região Centro-Oeste, o Careca "pulou o corguim" e adentrou por um terreno no qual jamais deveria ter caminhado. Quem prega máxima competitividade e exigência não poderia ficar inerte, como aconteceu no segundo tempo de Assunção, por mais que as falhas de Matheus Cunha escapassem do seu controle. Ele poderia ao menos ter tentado diminuir a pressão sobre o noviço goleiro se tivesse substituído a tempo e modo naqueles fatídicos 45 minutos finais, visando diminuir a pressão paraguaia.
Outro erro crasso, e irreparável, esteve nas escalações acadeladas no 0x3 para o Athletico Parananse e no 0x1 do primeiro jogo da final da Copa do Brasil, contra o São Paulo. Ao repetir Vítor Pereira e abandonar o caminho da competitividade, alinhado com o seu discurso e aonde estavam depositadas as únicas chances de êxito em seu trabalho, o Careca acabou por selar o seu destino no Clube de Regatas do Flamengo.
Foi como se, naquela derradeira semana decisiva, tivesse dado as costas propositalmente para a sorte, pois não é qualquer treinador que, após um evento cataclísimico como a agressão de seu braço-direito Pablo Hernández (preparador físico) sobre Pedro, ganha nova chance dos Deuses do Futebol, que veio com a formação que levou à ótima vitória sobre o Botafogo no Engenhão. O que restava de respeito do grupo, contudo, foi-se em companhia das nossas chances de título com a inexplicável escalação de Cariacica, seguida da bizarra insistência em um primeiro jogo de final de Copa do Brasil.
Uma pena, pois o Flamengo de Sampaoli, se não chegou a ser brilhante em momento algum, conseguiu ser competitivo e ter bons resultados sob a agitada batuta do hermano. A fantástica recuperação dentro do caos na preparação física, deixado por Mário Monteiro e Vítor Pereira; a comissão técnica, o projeto esportivo, a empolgação e o grau de exigência do Careca, tudo era bastante promissor.
De qualquer modo, muito mais importante do que eu ou cada um de vocês acha sobre o grau de responsabilidade de um treinador pelo fracasso na disputa desta ou aquela competição é enxergar quando o trabalho se esgotou; quando se inviabilizou completamente; quando chegou ao ponto de se tornar natureza morta, transformando o treinador em um caricato zumbi.
Bastante triste, espero que Jorge Sampaoli esteja dando hoje os seus últimos passos no clube, não porque queira vê-lo pelas costas, mas porque é preciso constatar que o trabalho acabou. Será melhor para todos os lados que cada um tome o seu rumo. A torcida poderá enfim depositar alguma esperança nas últimas chances de algo positivo na desastrosa temporada/2023 do Flamengo, e quem, como eu, não gosta de troca de treinadores, mas odeia a abjeta perseguição da imprensa anti-Flamengo a treinadores estrangeiros no clube, certamente se sentirá aliviado e receberá um abençoado livramento.
O meu respeito e a minha admiração, contudo, permanecerão. Desejo ao Careca, do fundo do coração, muita sorte e sucesso no seguimento da carreira, sempre que não estiver enfrentando o Mais Querido.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.