Foto: Gilvan de Souza (Flamengo) |
Salve, Buteco! O Flamengo tem me deixado muito triste desde a eliminação para o Olimpia, nas oitavas de final da Libertadores. Até então, estava consciente do risco de fracasso, porém ainda alimentava a esperança de avanço na competição, ainda que aos trancos e barrancos. A derrota abriu um fosso de decepção e desalento. Está difícil escrever, pois mil pensamentos me vêem à cabeça, mas as palavras não aparecem na hora de digitar.
Os conflitos internos só pioraram esse sentimento, já que o time parece ainda estar catando os cacos de todos esses eventos danosos. Sampaoli, que vem sendo muito sincero nas entrevistas pós-jogo, bem mais do que a média dos treinadores do Flamengo, disse outro dia que vem se adaptando à forma dos jogadores jogarem, tanto que seus times anteriores jogavam de maneira bem diferente do atual.
Ao mesmo tempo, o treinador tem destacado sua prerrogativa de montar o sistema de jogo. A imprensa vem fazendo um escarcéu em torno do que considera uma contradição. Não acho que o treinador esteja sendo contraditório no discurso, mas ao mesmo tempo me pergunto se vem sendo autêntico e fiel às ideias nas quais acredita, desde a escalação até o sistema tático.
No jogo de ontem, o Flamengo teve oportunidade de descer para o vestiário com uma vantagem maior do que só um gol, mas mesmo o primeiro tempo não chegou a me agradar. Mais uma vez, vi um jogo de "trocação", com o adversário finalizando bastante à nossa meta. Jogo de posição sempre envolveu controle, tudo o que o Flamengo não vem conseguindo ter sobre os seus adversários.
O segundo tempo me lembrou muito a etapa final no Defensores del Chaco, o que talvez tenha potencializado a minha tristeza com o time. Não vejo evolução e estou cada vez mais descrente na possibilidade dos "Heróis de Lima" serem encaixados em um time competitivo.
Será que Sampaoli acredita mesmo que essa seja a solução ideal ou está gerenciando, à moda brasileira, o conflagrado ambiente interno rubro-negro? Difícil acreditar em um time confiante e unido nesse cenário. Mais difícil ainda é entender a contratação de treinador com filosofia europeia autoral para dirigir o time como se fosse um boleiro tupiniquim.
O certo é que, mais uma vez como visitante, o Flamengo sem alma, e sobretudo desalmado no tratamento dispensado aos seus torcedores, foi amassado nos 45 minutos finais por uma equipe mais física, porém bem menos técnica. Em 2023, os adversários estão muito melhor preparados, física e taticamente, diminuindo a distância que o talento do elenco rubro-negro outrora proporcionava. O aparente descontrole do extracampo de algumas peças importantes torna o cenário ainda mais instável.
Durante o final de semana, em um grupo de WhatsApp que integro com amigos queridos, debatemos eventual sucessão do Careca. Afinal, foi ele próprio que afirmou, na coletiva pós-jogo de quarta-feira, que "aqui (no Flamengo) um mês é como se fosse um ano" e que não sabia se ainda estará no clube quando se iniciarem as finais da Copa do Brasil.
Substituí-lo não seria uma tarefa simples. Rogério Ceni aparece como o nome mais cotado e mais estável dentre outros como Cuca, Mano Menezes, Wagner Mancini, Zé Ricardo, Jorginho, Odair Hellmann... Logo se vê o tamanho do problema. É uma lista depressiva de treinadores livres no mercado. Nossa Diretoria nos meteu em um buraco profundo.
Há ainda os que falam em Tite, como se houvesse a mínima possibilidade de ele aceitar, mas imagino que também devam acreditar no Coelhinho da Páscoa, no Papai Noel e na gestão Braz. São os amantes do folclore.
Restam os estrangeiros, seus sistemas autorais e sua cultura tática menos propensa ao conforto das nossas estrelas. Uns nomes mais, outros menos flexíveis ou próximos ao estilo preferido do elenco. O Flamengo é campeão mundial hegemônico no esporte de rodar em círculos.
Enfim, o Mais Querido alcançou os três pontos no Alto da Glória, porém mais uma vez não apresentou um cisco de futebol.
Esse segundo semestre será bem longo...
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Segundo o Estado de S. Paulo, o Supremo Tribunal Federal "está a um voto de liberar juízes para julgarem ações de clientes de escritórios de parentes." Ao ler essa notícia ontem pela manhã, subitamente me lembrei das liminares obtidas pelo Vasco da Gama para jogar no Maracanã no contexto bem descrito pelo (ótimo) jornalista Rodrigo Mattos em dois tuites (1 e 2):
O Brasil é uma sociedade decadente na ética e na moral. A cúpula dos três poderes, há tempos, vem sendo o espelho dessa degeneração.
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Meus pêsames às famílias e aos amigos dos torcedores do Corinthians mortos no desastre rodoviário neste último final de semana. Que os falecidos descansem em paz e os sobreviventes tenham plena recuperação de seus ferimentos.
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