Salve, Buteco! Quando a escalação do Flamengo foi divulgada ontem, como de praxe, cerca de uma hora antes do início da partida, a primeira coisa da qual me lembrei foi do nosso amigo Bitts (@Bittencourt23) falando sobre a demora para contratar, alvos caríssimos e (provavelmente) intangíveis, outros de relação custo x benefício controversa, tudo isso em meio a reportagens enaltecendo o faturamento e a gestão financeira do clube.
Subiu-me então o sangue, fervendo. Consegui me conter e falar poucos palavrões. Escrevi no Buteco, tão-somente, que no papel o Palmeiras ganharia o jogo. E fui-me embora. Afinal de contas, os mais antigos sabem como fico durante os jogos.
Repeti a frase em grupos de WhatsApp. Para alguns, ainda disse, em mensagens de voz (algumas já em tom enfurecido), o que pensava sobre o assunto. A priorização das copas em detrimento do Campeonato Brasileiro, algo que pode estar começando a perigosamente se sedimentar de maneira cultural no Flamengo, nasce desse sistema (palavra da moda) de contratações e planejamento, de suas diretrizes e dinâmica. Gosto de chamá-lo de "Sistema Braz".
Obviamente, também existe o sistema do treinador e a maneira como ele o concebe para ser aplicado em cada jogo, diante do contexto que se apresenta - adversário, sequência de jogos, condições dos atletas (de jogo, psicológicas, físicas e técnicas). Teoria e prática, escolhas boas e ruins, tudo isso influi no sistema (de jogo) e no seu funcionamento dentro de campo.
Eu já admirava o Careca Jorge Luis Sampaoli Moya, mas confesso que aos poucos o argentino está me conquistando com suas atitudes, no dia a dia do Flamengo. Vejam suas declarações sobre o primeiro tempo, na coletiva pós-jogo:
"A equipe estava confusa no primeiro tempo. Conversamos no intervalo e colocamos o [Everton] Ribeiro para mudar o cenário. O plano inicial não funcionou, arranjamos uma solução melhor."
"Hoje, pensamos em ter dois pontas fechando por fora. É um campo difícil, e pensamos que o um contra um pelos lados poderia nos dar solução. Só que o time não teve capacidade de jogar, não encontrou os espaços. No segundo tempo, conseguimos superar o rival. Temos que trabalhar muito para que o time tenha a possibilidade de jogar com pontas em linhas."
Quando o responsável pelo sistema (de jogo) assume a responsabilidade pelo seu não funcionamento, tudo fica mais fácil, inclusive para quem escreve a análise pós-jogo, percebem? Isso porque nossas mentes também têm seus sistemas (de pensamento), que funcionam conforme nossas crenças e temores. A depender do tom que se critica, começam as reações, algumas com receio de se iniciar um movimento para derrubada de treinador, outras de que haja "passagem de pano porque habla español" (risos).
Só que o Careca já tratou de exorcizar esses demônios ao apontar o problema e a solução que pretende adotar. E de fato, o time é muito acostumado a jogar com meias "e por dentro". Não parece que o treinador quer subtrair essa característica e proceder a uma espécie de "mudança de DNA", mas apenas incorporar outra, tornando o time mais versátil e polivalente. Essa, por sinal, é uma das qualidades positivas da filosofia do jogo de posição. Convém aproveitá-la.
Temos um treinador bem acima da média, Amigos. Com muita vontade de trabalhar no clube. Amadurecido pelos acertos e erros cometidos na carreira, e pela idade. Está curtindo a realização de um sonho.
Sinto que pode dar certo.
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Com as palavras do Careca, que resumem de maneira precisa o que taticamente foi o jogo, vou me limitar a abordar apenas alguns lances. Começo pela constatação de que o Palmeiras poderia ter aberto pelo menos dois gols de vantagem no primeiro tempo, que poderia até ter sido diminuída pela chance desperdiçada por Cebolinha pouco antes do intervalo. Então, o placar moral do primeiro tempo foi Palmeiras 2x1.
Mas na etapa final o Mais Querido poderia ter virado esse hipotético jogo de chances não convertidas. Para além do gol de Arrascaeta, o contra-ataque desperdiçado pelo Mago da Camisa 7, o responsável pela assistência no gol de empate, foi a chance concreta de vitória, que também poderia ter acontecido pelo pênalti não marcado.
Aliás, sobram lances de tranco pelas costas em pênaltis marcados a favor do Palmeiras neste campeonato. Somando-os ao de ontem (sobre Everton Ribeiro, não marcado) e o de Vitor Roque em Pulgar no confronto contra a Brisa quarta-feira passada, já podemos afirmar que tranco nas costas é falta, desde que seja a favor do Palmeiras e não do Flamengo.
O sistema é foda, Parceiro; mas curiosamente beneficia quem aponta a sua existência e se diz vítima dele.
Só rindo mesmo. Até porque, como disse o Careca, foram tantas perguntas a ele que acabou fazendo a coletiva pelos dois...