Saudações flamengas a todos,
E acabou que encaminhamos a vaga
para a Final da Copa do Brasil (que ainda está, evidentemente, em aberto),
fazendo tudo levar a crer que vamos repetir a roleta russa do ano passado. “Win
or wall”. Ano passado deu certo. A ver o que nos espera dessa vez.
De qualquer forma, enquanto isso,
a Diretoria segue demonstrando uma desconcertante incapacidade de promover a reformulação
de um elenco cujas peças-chave, a cada dia, demonstram estar próximas de
escrever o capítulo final da belíssima história que erigiram com as cores
rubro-negras. Nada é eterno, diria o poeta, mas os dirigentes flamengos, fundados
em sabe-se lá em que tipo de crença, insistem em esfregar na cara da cena
esportiva nacional sua inaptidão em prover o Flamengo de peças de reposição de
primeira linha. De qualquer forma, índices reluzentes de EBITDA, cashflow, aderência
ao budget etc devem gerar prestígio individual junto ao mercado financeiro. O
clube passa e o nome fica...
Enquanto isso, sábado tem
amistoso contra um adversário neurastênico. Que ainda não ganhou nenhum jogo
com o novo treinador. Perspectiva iminente de aborrecimento. Aproveitando,
segue mais um capítulo da série “Caminhos da Bola”, agora abordando o galináceo
confronto do fim de semana. Chama a atenção o número de goleiros da lista.
SÉRIE “CAMINHOS DA
BOLA”
X
FLAMENGO – ATLÉTICO
MG
MARCIAL (1963-1965)
Desde cedo mostra talento como
goleiro, atuando nas divisões de base do Sete de Setembro-MG, e chama a atenção
do Atlético-MG, por onde se profissionaliza. No entanto, a passagem pelo
alvinegro é interrompida pela necessidade de seguir seus estudos de Medicina.
Mas, após um hiato de 2 anos, assume o gol da equipe mineira em 1962, sendo
destaque na conquista do Estadual do mesmo ano e chegando a ser convocado à
Seleção Brasileira. No ano seguinte, precisando de um goleiro de ponta, o
Flamengo investe vultosa soma em Marcial, que já chega assumindo a posição. Dá
muito certo, e Marcial se torna um dos esteios da defesa rubro-negra na
campanha do título Carioca de 1963. Na histórica Final contra o Fluminense,
fecha o gol e garante o 0-0 que dá a taça ao Flamengo, tornando-se herói. Sua
defesa, nos minutos finais, de um arremate do tricolor Escurinho, é eternizada
em crônica de Nelson Rodrigues. Segue como titular até 1965, quando é vendido
ao Corinthians, pensando em terminar a Faculdade. Encerra a carreira precocemente,
com apenas 26 anos, para abraçar a profissão de médico. Falece em 2018.
RENATO (1964-1968, 1972-1975)
Goleiro de muito reflexo e ótima
colocação, chega às divisões de base do Flamengo em 1963, após ser descoberto
nas areias de Copacabana. No ano seguinte, é lançado “na fogueira” em um jogo
decisivo contra o Santos de Pelé e se sai bem, segurando um suado 0-0. Mas, sem
oportunidades, é emprestado ao Taubaté-SP. No retorno, segue sofrendo com a
forte concorrência e acaba negociado com o Uberlândia-MG. Suas atuações no
Campeonato Mineiro o levam ao Atlético-MG, onde ascende rapidamente e se torna
destaque. Em 1971 atinge o auge no clube das Alterosas, quando conquista o
Brasileiro. Mas, no ano seguinte, o clube se interessa pelo uruguaio
Mazurkiewicz e Renato acerta seu retorno ao Flamengo. No rubro-negro enfim se
consolida como titular e estabelece trajetória vitoriosa, conquistando dois
Estaduais. Em 1975, é envolvido em uma rumorosa troca que o leva ao Fluminense.
Encerra a carreira em 1983, atuando no futebol do Oriente Médio.
BRUNO (2006-2010)
Goleiro de grande estatura e ótimo
desempenho em cobranças de pênaltis, chega à base do Atlético-MG em 2002 e três
anos depois ganha sequência no time principal, por onde se destaca, apesar do
rebaixamento à Série B. No entanto, apesar de ser tido como um dos principais
nomes de uma nova geração, perde a posição para Diego Alves, com quem não
cultiva boa relação, o que o faz ser negociado com o Corinthians, em 2006. Mas
sequer chega a atuar pelo clube paulista, após se desentender com o treinador,
e meses depois é repassado por empréstimo ao Flamengo. O rubro-negro enfrenta
problemas com o desempenho irregular de Diego, e Bruno não demora a elevar o
nível das atuações na posição. Em 2007 ganha seu primeiro Estadual, ao defender
duas cobranças em decisão de pênaltis contra o Botafogo, o que o consolida como
titular absoluto. Pouco depois, o Flamengo o contrata em definitivo, e tem
início uma relação intensa e turbulenta, de altos e baixos, onde a evidente
qualidade técnica é contraposta com atuações irregulares e com o farto número
de incidentes extracampo. Em 2009 vive seu grande momento no Flamengo, ao
conquistar o Hexacampeonato Brasileiro, defendendo vários pênaltis na reta
final (meses antes, repetira o feito de 2007, ganhando nos pênaltis o Tri
Estadual). O auge da carreira acende o interesse de clubes como Milan-ITA e
Zenit-RUS, mas, em 2010, o goleiro é preso por envolvimento no assassinato da
modelo Eliza Samúdio, crime pelo qual é julgado e condenado.
DIEGO ALVES (2017-2022)
Revelado pelo Botafogo-SP, a
quantidade de prêmios que ganha em torneios da base faz com que ganhe uma
oportunidade no Atlético-MG, para onde se transfere em 2004. No ano seguinte,
suas atuações o levam à Seleção Brasileira Sub-20, o que, ironicamente, faz com
que perca a posição de titular para o desafeto Bruno. Mas, em 2006, recupera a
posição e se torna destaque na campanha do clube mineiro na Série B. No ano
seguinte, é transferido para o Almería-ESP, dando início a uma sólida e muito
bem-sucedida passagem pelo futebol espanhol, onde assombra torcedores e
jornalistas com sua impressionante capacidade de defender pênaltis. Em 2017
está se desvinculando do Valencia-ESP, quando a torcida do Flamengo inicia
forte campanha nas redes sociais por sua contratação, em função da péssima fase
de Muralha e do despreparo do jovem reserva Thiago. Pressionada, a Diretoria
traz o goleiro que, após início instável, toma conta da posição, mostrando
muita autoconfiança e espírito competitivo. No entanto, o temperamento difícil
e a frequência com que se lesiona fazem com que perca a posição para César, no
Brasileiro 2018, e quase seja negociado. Mantido no elenco e mordido, começa a
empilhar atuações espetaculares no início do ano seguinte (Ajax-HOL e San
Jose-BOL são exemplos antológicos), naquela que se torna sua melhor temporada
no Flamengo. Num 4-1 contra o Vasco pelo Brasileiro, defende dois pênaltis. No
jogo de ida da Semifinal da Libertadores, faz defesa espetacular que segura o
1-1 contra o Grêmio, em Porto Alegre. No ano seguinte, após ganhar inúmeros
títulos, seu rendimento começa a cair. Após o “canto do cisne”, em que ganha
“na unha” a decisão nos pênaltis que dá ao Flamengo o título da Supercopa 2021,
contra o Palmeiras, começa a falhar com frequência e a apresentar irritante
número de lesões, o que abre espaço ao jovem e instável Hugo. Em 2022 entra em
rota de colisão com a comissão técnica e, com a contratação de Santos, vê
encerrado seu ciclo no Flamengo. Atualmente está sem clube, após rápida
passagem pelo Celta-ESP.
ALCIR (1996)
Cria da base do Atlético-MG, é
revelação no Brasileiro 1995, ano em que chega à Seleção Brasileira Sub-20.
Vivendo grave problema na lateral-direita, o Flamengo consegue, no início de
1996, trazer o jogador por empréstimo. Mas Alcir, apesar de vencer o duelo com
o ex-palmeirense Índio, jamais convence e passa a ser considerado o “elo fraco”
da estrelada equipe de Joel Santana. Antes da última partida da Taça Guanabara,
o Flamengo traz, por empréstimo, o badalado Zé Maria, titular da Seleção
Brasileira, e Alcir é relegado à reserva, de onde não sai mais. Após a
conquista do Estadual, Alcir é devolvido ao Atlético-MG. Em 2011, encerra uma
carreira que tem como ponto culminante a conquista da Copa do Brasil 1999, pelo
Juventude.
RÉVER (2016-2018)
Projeta-se nacionalmente em 2005,
ao ser um dos destaques da surpreendente conquista da Copa do Brasil pelo
Paulista de Jundiaí, clube que o revela. Zagueiro de grande impulsão, imposição
física e boa técnica, embora um tanto lento, chega ao Atlético-MG em 2010, após
elogiada passagem pelo Grêmio e rápida experiência no futebol alemão. No clube
mineiro, cai nas graças da torcida e chega ao auge da carreira, tornando-se o
zagueiro com o maior número de gols marcados na história do alvinegro. No
entanto, com a crescente frequência de lesões, perde espaço e é negociado com o
Internacional, em 2014. Dois anos depois, o Flamengo vive situação emergencial
em seu plantel de zagueiros e consegue trazer Réver por empréstimo. O início não
poderia ser melhor. Réver qualifica sensivelmente o nível da defesa
rubro-negra, sendo eleito o melhor zagueiro do Brasileiro 2016. Segue
importante na temporada seguinte, embora a perda de títulos importantes (a
despeito da conquista de um Estadual) comece a trazer desgaste com a torcida.
Em 2018 volta a conviver com lesões, e já não consegue manter rendimento
satisfatório. Com isso, o Flamengo opta por devolver o jogador ao Internacional
no final do ano. Atualmente, defende o Atlético-MG.
EDER LOPES (1993)
Volante marcador mas de bom
passe, em contraponto aos “brucutus” da época, é revelado pela base atleticana,
chegando aos profissionais em 1987, ano em que já se destaca na equipe titular
que chega às Semifinais do Brasileiro, iniciando uma longa história de
identificação com as cores alvinegras, com atuações que o levam à Seleção
Brasileira. Em 1993, após conquistar três Estaduais e uma Copa Conmebol, é
emprestado ao Flamengo, que busca repor a saída de Uidemar. No rubro-negro, não
consegue se firmar como titular, mas tem participação ativa nas campanhas da
Supercopa e do Brasileiro, sempre entrando no decorrer dos jogos. Ao final da
temporada, retorna ao Atlético-MG, onde permanece até 1996. Encerra a carreira
em 1999, atuando pelo Mogi Mirim-SP.
MOACIR (1997)
Volante muito técnico, é um dos
expoentes da talentosa geração que surge na base do Atlético-MG no final dos
anos 1980. Entre 1988 e 1992, é titular, destaque e ganha títulos no clube
mineiro, em especial a Copa Conmebol, o que o leva à Seleção Brasileira e ao
futebol espanhol. Retorna ao Brasil em 1996, e no ano seguinte o Flamengo o
contrata por empréstimo para o primeiro semestre. Moacir rapidamente se firma e
se torna ponto de equilíbrio na equipe que chega à Final do Torneio Rio-São Paulo,
em que é considerado um dos melhores jogadores. Marca, de cabeça, o segundo da
goleada por 7-0 sobre o Madureira, pela Taça Guanabara (jogo célebre pela
confusão entre Romário e o lateral Cafezinho). No entanto, a seguir sofre séria
lesão e não atua mais pelo rubro-negro, indo parar na Portuguesa. Pendura as
chuteiras em 2003, defendendo o Uberaba-MG.
MARCINHO (2008)
Meia-atacante irrequieto, de bom
arranque e ótima finalização, é revelado pela base do Cruzeiro, fazendo parte
do vitorioso elenco celeste na temporada de 2003. No entanto, sem conseguir se
firmar como titular, transfere-se para o Grêmio, indo, a seguir, atuar na
Turquia. Em 2006 é contratado pelo Atlético-MG, onde se torna um dos principais
jogadores na campanha do acesso à Série A e convence a torcida, antes
desconfiada de seu passado cruzeirense. No ano seguinte, conquista o Estadual e
se torna ídolo. Mas, no final do ano, briga com a Diretoria e se transfere para
o Flamengo, onde se encaixa “como uma luva” em um time que se ressentia de
força ofensiva. No rubro-negro, ganha o Estadual 2008 e se torna um dos craques
do Brasileiro que o Flamengo inicia liderando com folga, mas se envolve em
vários problemas extracampo (entre eles, um incidente com prostitutas após um
1-1 contra o Atlético-MG, em Minas) e, de forma tão surpreendente quanto
abrupta, aceita proposta do Al-Jazeera-EMI e vai jogar no Oriente Médio, saindo
no meio da competição de que era o artilheiro. Volta ao Brasil em 2014, já na
fase final da carreira, que encerra em 2016, jogando pelo Santa Cruz.
SÉRGIO ARAÚJO (1988-1989)
Ponta-direita muito arisco, veloz
e goleador, é mais uma joia revelada na base atleticana em meados dos anos 80,
sendo o principal destaque do time que chega à Semifinal do Brasileiro 1986,
quando se torna ídolo da torcida. No entanto, fica marcado pela traumática
eliminação na Semifinal do Brasileiro 1987 para o Flamengo (perde gols
incríveis no jogo de ida) e, após se desentender com o treinador Telê Santana
no início do Brasileiro 1988, é colocado à venda. O Flamengo, precisando repor
a venda de Renato Gaúcho para a Roma-ITA, atravessa o São Paulo e contrata o
jogador. Estreia no rubro-negro de forma rumorosa, marcando os dois gols no
empate em 2-2 com o Botafogo mas, ironicamente, logo depois volta a se
encontrar com Telê Santana, que é contratado pelo Flamengo. Inicialmente os
dois se entendem e Sérgio Araújo mostra bom desempenho na sensacional campanha
de recuperação que dá uma vaga nas Quartas-de-Final ao rubro-negro (marca um
belo gol na vitória por 2-0 contra seu ex-clube, no Maracanã, que sela a
classificação). No entanto, no início do ano seguinte Telê faz ajustes na
equipe, e a necessidade de um jogador mais combativo faz com que perca espaço
para o aguerrido Alcindo. Sem sequência, perde rendimento e se torna um
coadjuvante caro. Com a volta de Renato Gaúcho para o Brasileiro, é negociado
com o Grêmio. Anos depois, chega a retornar ao Atlético-MG antes de rodar por
vários clubes e parar de jogar em 2000, defendendo o Serra-ES. Hoje atua como
treinador.
DARIO (1973-1974)
“Fica de olho no 9 do Campusca”,
ouve o Presidente do Atlético-MG, já instalado nas arquibancadas do Maracanã
para acompanhar um jogo preliminar entre São Cristóvão x Campo Grande em 1968,
interessado no futebol de um jovem meia do São Cristóvão. Mas é mesmo o
improvável “9 do Campusca” que rouba a cena. É alto, desengonçado, com uma
incapacidade quase humorística de dominar uma bola, o que o torna praticamente
um clandestino no meio dos demais jogadores. No entanto, sua velocidade
imparável, impulsão descomunal e, principalmente, a desconcertante capacidade
de finalização logo se fazem mostrar. Os três gols que marca na vitória por 3-0
convencem o Dirigente, e Dario toma o caminho de Belo Horizonte. No entanto, o
início é difícil, com o atacante sendo ostensivamente rejeitado pela torcida,
que não aceita sua falta de habilidade. Somente em 1969, sob Yustrich, Dario
volta a ter oportunidades, e, num amistoso contra a Seleção Soviética, marca
dois gols na vitória atleticana por 2-1, jogo que marca sua virada no clube. No
Campeonato Mineiro, começa como reserva, mas vai entrando e decidindo jogos, e
acaba artilheiro da competição. Seus números começam a chamar a atenção do
país, a ponto de sua convocação para a Seleção Brasileira (contra quem marca um
gol em um amistoso, pela Seleção Mineira) ser defendida pelo Presidente da
República, gerando um incidente que ajuda a derrubar o treinador João Saldanha.
Dario vai à Copa (como reserva), e logo começa a ganhar títulos. Após
conquistar os Estaduais de 1970 e 1971, marca, contra o Botafogo, o gol que dá
o Brasileiro 1971 ao Atlético-MG. É o artilheiro dos Brasileiros 1971 e 1972, e
das edições 1971 e 1972 do Torneio do Povo. Com esse cartel, é vendido ao
Flamengo no início de 1973. Mas, no rubro-negro, apesar de começar a mostrar a
irreverência que marcará sua carreira (“comigo ou ‘semigo’, o Flamengo será
campeão”, “para a problemática, eu trago a solucionática”, “não existe gol
feio, feio é não fazer gol”), não consegue render, e acaba sendo marcado pela
péssima temporada da equipe, apesar de seus números não serem ruins. No início
de 1974, com a ascensão de Zico, começa a marcar gols em profusão, mas já está
fora dos planos, e o Flamengo o vende de volta ao Atlético-MG. Dario encerra a
carreira em 1986, após um estonteante périplo por vários clubes do Brasil
(decide outro Brasileiro, o de 1976, pelo Internacional). No início de 1976, ainda
defendendo o Sport, estabelece o recorde brasileiro de gols marcados em um só
jogo (dez, nos 14-0 sobre o Santo Amaro, pelo Estadual), marca que ainda hoje
não foi batida. É considerado o quarto maior artilheiro da história do futebol
brasileiro, com 926 gols marcados.
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