Saudações flamengas a todos,
Flamengo guerreou e venceu o
primeiro round contra o enjoado Athlético-PR, abrindo pequena vantagem para o
confronto de volta. E é aquilo, qualquer vantagem, mesmo que mínima, é
importante e tem que ser explorada.
Antes disso, outro jogo crucial,
contra o rival “de sempre”, o Palmeiras, que vive momento turbulento. Ganhar essa
partida de sábado pode ter o efeito de jogar uma âncora para o oponente que
está se debatendo dentro da água. Hora de enfiar a faca e rodar. Resta saber se
o time já está à altura da tarefa. De qualquer forma, seguindo a série “Caminhos
da Bola”, o foco é justamente o alviverde. Alguns egressos do Parque Antarctica
se mostraram fracassos retumbantes, outros deixaram saudades.
SÉRIE “CAMINHOS DA
BOLA”
IX
FLAMENGO - PALMEIRAS
JURANDIR (1942-1946)
Goleiro seguro, de boa colocação
e muito aguerrido (não tem medo de se atirar aos pés dos atacantes), chega ao
Palestra Itália em 1935, após boas passagens por AA São Bento, Fluminense e São
Paulo da Floresta (atual São Paulo FC). No clube “italiano” vive grande
momento, conquistando o título paulista de 1936 e chegando à Seleção Brasileira
(é o primeiro arqueiro da história do Palestra/Palmeiras a ser convocado). Após
quatro anos, vai atuar na Argentina e, em 1942, é contratado pelo Flamengo, que
precisa de um reserva para Yustrich. No entanto, Jurandir se destaca de tal
forma que logo barra o antigo titular. Permanece inquestionável sob o arco
rubro-negro, sendo um dos símbolos da conquista do primeiro Tricampeonato
Carioca (1942-43-44). Em 1946, volta à capital paulista, para defender o
Corinthians. Até hoje, é considerado um dos grandes goleiros da história do
Flamengo.
SÉRGIO (1996)
Goleiro formado na base do
Palmeiras, estreia na equipe profissional em 1992, mas é no ano seguinte que
recebe sua primeira grande oportunidade, com a lesão do titular Velloso. É o
titular na campanha dos títulos paulista (que quebra longo jejum) e brasileiro,
mas, na sequência, começa a colecionar atuações irregulares, que o fazem ser
considerado o “elo fraco” do estrelado time montado pela Parmalat. Em 1995, com
a temporada ruim do alviverde e a volta de Velloso, é colocado em
disponibilidade e, no início do ano seguinte, é negociado com o Flamengo numa
troca que envolve também a ida de Mancuso e do lateral Índio para a Gávea, em
troca do volante Marquinhos, do lateral Gustavo e do zagueiro Cláudio. O arqueiro,
a aposta rubro-negra para resolver um problema que se arrasta há um ano, inicia
a temporada como titular, mas algumas atuações inseguras começam a trazer
desconfiança. Para piorar, após um 0-0 contra o Vasco pela Taça Cidade
Maravilhosa (em que, em contraponto à atuação fantástica de Carlos Germano,
solta várias bolas fáceis), dá entrevista reconhecendo que “as pernas tremeram”
diante da torcida. Pouco depois, uma falha clamorosa que custa um empate contra
o Olaria (1-1), pelo mesmo torneio, sela seu destino. É barrado por Roger e não
recupera mais a posição. No final do ano, é repassado à Internacional-SP, e
anos depois retorna ao Palmeiras. Encerra a carreira em 2013.
LUÍS PEREIRA (1980-1981)
Baiano de Juazeiro, inicia a
carreira tardiamente, aos 18 anos, no São Bento de Sorocaba, onde é conhecido
como “Chevrolet”, em alusão à sua profissão anterior de mecânico. Zagueiro de
técnica refinada e grande imposição física, chama a atenção do Palmeiras, para
onde se transfere em 1968, dando início a uma trajetória que o eleva à condição
de ídolo e um dos maiores zagueiros da história alviverde. Em 1975, após dois
títulos brasileiros e uma Copa do Mundo disputada como titular, transfere-se
para o Atlético Madrid-ESP, onde também marca seu nome. Em 1980 volta ao Brasil
e acerta transferência ao Flamengo, que se ressente de um nome forte para
qualificar sua criticada zaga. No entanto, lento e pesado, sofre para entrar em
forma e não convence. Falha no gol da derrota para o Bangu (0-1) que se mostra
decisiva para a eliminação do Primeiro Turno do Estadual 1980. No Segundo
Turno, chega a ser barrado por Coutinho, mas está em campo na derrota para o
Serrano de Anapolina, que praticamente decreta o fim do sonho do Tetra. No ano
seguinte, com a saída de Coutinho, recupera a posição, mas faz Brasileiro
discreto, sem justificar sua condição de estrela. Após a eliminação da
competição nacional, retorna ao Palmeiras, trocado pelo ponta Baroninho. No
alviverde, recupera seu bom futebol. Pendura as chuteiras em meados dos anos
90, após elogiadas passagens por Portuguesa e Santo André.
DAVID BRAZ (2009-2012)
Joia da base do Palmeiras,
destaca-se com um futebol de extrema técnica, desarme limpo e saída de bola
qualificada. Ascende ao time profissional sob Vanderlei Luxemburgo, ajudando na
conquista do Estadual 2008. No entanto, logo depois consegue rescindir
unilateralmente seu contrato por atraso salarial, e se transfere para o
Panathinaikos-GRE. No ano seguinte, o Flamengo o traz por empréstimo,
precisando repor a aposentadoria de Fábio Luciano. Mesmo como reserva, faz bom
Brasileiro 2009, sendo premiado com um dos gols na partida que dá o
Hexacampeonato ao Flamengo (2-1 Grêmio). No ano seguinte, o rubro-negro adquire
seus direitos em definitivo e, ao se reencontrar com Luxemburgo, consolida-se
como titular, conquistando o Estadual 2011 de forma invicta. No entanto, em
2012 cai de rendimento e é envolvido em uma troca com o Santos, na transação
que traz o volante Ibson de volta ao Flamengo. Hoje defende o Fluminense.
ARMERO (2015)
Vivendo crônico problema na
lateral-esquerda, o Flamengo consegue em 2015 a contratação, por empréstimo, do
colombiano Pablo Armero. Revelado no América Cali-COL, Armero deixa ótima
impressão em sua passagem pelo Palmeiras, especialmente na temporada 2009, com
um futebol de grande fôlego e capacidade no apoio. Também são célebres suas
danças na comemoração de gols, conhecidas como “Armeration”. Assim, após longa
passagem pelo futebol italiano e a disputa, como titular da boa Seleção
Colombiana, da Copa do Mundo 2014, Armero é tido como potencial solução para o
drama rubro-negro no setor. No entanto, lesões e problemas extracampo impedem
que Armero estabeleça uma sequência satisfatória de jogos, e, quando o jovem
Jorge é lançado e ostenta futebol convincente, o colombiano é preterido
definitivamente. No final do ano, é devolvido à Udinese-ITA. No Brasil, ainda
atua por Bahia, CSA e Guarani, voltando a se envolver em problemas
disciplinares.
MÁRCIO ARAÚJO (2014-2017)
Chega ao Palmeiras em 2010, após
trajetória de altos e baixos no Atlético-MG. No alviverde, é um dos expoentes
de um período difícil, de grande aridez técnica e carência de títulos. Volante
combativo mas extremamente limitado, também desfruta de uma relação de amor e
ódio com a exigente torcida palmeirense, sendo especialmente marcante a
temporada de 2012, em que o Palmeiras conquista a Copa do Brasil e, a seguir, é
rebaixado para a Série B. Em 2014, o Flamengo, com a frustrada negociação por
Elias, contrata às pressas o volante, que no entanto não pode mais ser
utilizado na Libertadores. A despeito da evidente e grosseira diferença de
nível para um dos heróis de 2013, Márcio Araújo tem razoável início, marcando o
controverso gol que dá o Estadual 2014 ao Flamengo, e fazendo ótima partida (com
direito a gol) nos 4-2 contra o Palmeiras, no início do Brasileiro. Com o
tempo, torna-se uma espécie de “utilitário” que jamais perde a condição de
titular, mesmo com a alucinante rotação de treinadores no rubro-negro. Mas, à
medida que o Flamengo vai refinando seu elenco, a impaciência da torcida com o
futebol limitado, burocrático e já não tão aplicado de Márcio Araújo vai
aumentando. Em 2016, após a eliminação da Primeira Liga, declara “foi bom,
porque agora são menos jogos e dá pra descansar”, o que enfurece as redes
sociais rubro-negras. A irritação persiste com a recorrente e aparentemente
inexplicável preferência do treinador Zé Ricardo em mantê-lo no time em
detrimento do colombiano Cuellar, de futebol visivelmente superior. Em 2017,
mesmo perdendo o status de titular absoluto, é um dos jogadores estigmatizados
pela perda de vários títulos e, sem clima para continuar, não tem seu contrato
renovado no início de 2018, indo defender a Chapecoense. Atualmente está sem
clube, após passagens pelo futebol do Maranhão, sua terra natal.
MANCUSO (1996-1997)
Revelado no Ferro Carril
Oeste-ARG, é no Velez Sarsfield-ARG, seu clube de infância, que se projeta,
participando do início da montagem do time que conquistaria, em 1994, a América
e o Mundo. Em 1995, após passar pelo Boca Juniors-ARG e disputar a Copa do
Mundo 1994, transfere-se para o Palmeiras, para qualificar ainda mais uma
equipe já poderosa. No entanto, a temporada marcada pela perda de todos os
títulos em disputa provoca uma reformulação no elenco alviverde e, no início de
1996, Mancuso vai para o Flamengo, envolvido em uma troca de jogadores. No
rubro-negro, seu futebol voluntarioso, aguerrido ao extremo e de boa técnica
encantam a torcida desde o início, e Mancuso se torna um dos pilares defensivos
da equipe que conquista invicta o Estadual 1996, tendo sofrido, em todo o
primeiro semestre, apenas uma derrota. Na sequência do ano, sofre com a perda
de qualidade do elenco e vê crescer a pecha de jogador violento. Mesmo assim,
continua nas graças da torcida, que o enxerga como um símbolo de raça e
entrega. Em 1997, diante de lesões e de uma renovação no elenco, volta ao
futebol argentino, passando a defender o Independiente-ARG. Chega a atuar pelo
Santa Cruz-PE antes de encerrar a carreira, em 2000. Até hoje se refere com
carinho à sua passagem pelo Flamengo, também sendo lembrado com saudades por
muitos torcedores.
ALEX (2000)
Meia-atacante extremamente
talentoso, capaz de funcionar, com igual eficiência, como “arco” e “flecha”,
desponta no Coritiba, sendo fundamental na campanha do acesso do clube
paranaense à Série A, em 1996. No ano seguinte, transfere-se para o Palmeiras,
onde logo se torna a principal estrela de uma equipe recheada de craques. No
alviverde, conquista títulos nacionais e continentais, chegando a duas Finais
de Libertadores (ganha uma, em 1999) e, quando é considerado um dos principais
jogadores em atividade no país (apesar da fama de “vagalume”, decorrente de sua
irregularidade), é vendido ao Parma-ITA, em 2000. No entanto, diante do
desinteresse do clube italiano em aproveitá-lo de imediato, Alex é emprestado
ao Flamengo no mesmo ano, dentro do projeto rubro-negro de montar um supertime
com o aporte da ISL. No entanto, o jogador somente chega ao rubro-negro em
outubro, após disputar as Olimpíadas. Ao desembarcar na Gávea, depara-se com um
ambiente de caos administrativo e técnico, e não consegue render. Ainda assim,
deixa uma pequena amostra de seu brilhante futebol nas vitórias sobre
Corinthians (4-1, no Pacaembu) e Vitória (3-2, no Maracanã), em que marca belos
gols. No final da temporada, com o Flamengo lhe devendo salários, consegue
acertar sua saída antecipada, tendo atuado apenas dois meses do período
previsto de um ano de empréstimo. Viverá o auge da carreira em 2003, pelo
Cruzeiro, o que lhe renderá uma transferência para o futebol turco. Em 2014
para de jogar, defendendo o mesmo Coritiba que o revelou.
VAGNER LOVE (2010, 2012)
Atacante de grande mobilidade e
faro de gol revelado pelo Bangu, chega ao Palmeiras em 2001 ainda jovem, após
fugazes passagens por Vasco e Campo Grande. No alviverde, estreia pelo
profissional em 2003, em um dos mais difíceis momentos da história do clube
paulista, mas, com personalidade, comanda a equipe que conquista a Série B,
rapidamente caindo nas graças de uma torcida carente de ídolos. No entanto, o
ótimo desempenho de Vagner Love chama a atenção do CSKA-RUS, que o contrata em
2004. Cinco anos depois, após vários títulos pelo clube russo (entre eles, uma
Copa da UEFA), retorna ao Palmeiras por empréstimo, mas acaba estigmatizado
pela perda de um título brasileiro que parecia certo. Hostilizado, chega a ser
agredido por membros de torcida organizada, e, com isso, consegue cumprir o
restante do tempo de empréstimo em seu clube de coração, o Flamengo. Os seis
meses de 2010 no rubro-negro são intensos, formando com Adriano o ataque
conhecido como “Império do Amor”, que coleciona ilusões e frustrações, embora
Love corresponda à expectativa, com boas atuações e gols. No último jogo antes
da volta à Rússia, marca o gol da vitória contra o Palmeiras (1-0) no Pacaembu,
calando um estádio que o vaiava ostensivamente. Em 2012, o Flamengo o contrata
em definitivo, com a intenção de montar um ataque devastador ao lado de
Ronaldinho Gaúcho. Mas a temporada novamente é marcada por decepções e Love,
apesar de seguir com bom desempenho individual, não consegue reverter a sina de
não ganhar nenhum título pelo Flamengo. No final do ano, novamente machuca o
ex-clube, ao marcar o gol do empate (1-1) que decreta o rebaixamento do
Palmeiras à Série B. No início de 2013, a nova Diretoria do Flamengo declara
não ter condições de manter o jogador, e Vagner Love, contra a vontade, é
devolvido ao CSKA. Atualmente defende o Sport, após ter rodado por vários
clubes.
GAÚCHO (1990-1993)
Cria da base do Flamengo, chega a
figurar como um dos candidatos a “Novo Zico” em reportagem da Revista Placar em
1982, mas não consegue se firmar em uma posição muito concorrida e, em 1984, é
repassado ao XV de Piracicaba-SP. Quatro anos depois, após passar por vários
clubes, chega ao Palmeiras, onde logo impressiona com a facilidade em marcar
gols, especialmente de cabeça. No Brasileiro 1988, protagoniza episódio
inusitado, ao defender dois pênaltis contra o Flamengo no Maracanã, depois de
ir para o gol por causa de lesão do titular Zetti. No entanto, a decepcionante
temporada de 1989, em que o Palmeiras chega perto do título mas falha nos
momentos decisivos do Estadual e do Brasileiro (em um contexto de longo jejum
de títulos), faz com que Gaúcho entre em atrito com a torcida, e, no início de
1990, seja negociado com o Flamengo. Na volta ao rubro-negro, rapidamente toma
conta da camisa 9, exalando marra, irreverência, confiança e gols, ganhando a
imediata afeição de uma torcida ainda ressentida com a traumática saída de
Bebeto (a começar na estreia, em que marca dois gols num 3-1 contra a
Cabofriense e, na saída, declara-se aborrecido com sua má forma, que o ‘impediu
de marcar mais gols’). Tem início um período mágico, iluminado, marcado por
gols e mais gols, títulos (um Brasileiro, uma Copa do Brasil e um Estadual,
entre outras taças menores) e o auge da fama e da carreira (chega a participar
de programas de TV na Globo). Em 1992 sofre séria lesão, o que inicia seu
declínio. Ainda assim, marca gols importantes na reta final do Brasileiro, que
o Flamengo conquista. Mas cai vertiginosamente de produção no segundo semestre
(também por conta de excessos fora de campo), o que faz com que o rubro-negro
contrate, para 1993, o atacante Nilson, que lhe servirá de “sombra”. Após idas
e vindas da condição de titular (sendo sempre o preferido da torcida), Gaúcho é
transferido ao Lecce-ITA, no meio do ano. Encerra a carreira em 1996, sem
jamais ter reeditado o futebol dos tempos de Flamengo. Em 2001 funda o
Cuiabá-MT, clube que hoje disputa a Série A do Brasileiro. Em 2016 falece, em
decorrência de um câncer de próstata. Até hoje é lembrado como um dos ícones de
uma época feliz para o Flamengo.
BARONINHO (1981)
Ponta-esquerda veloz e goleador,
dotado de chute muito forte, chega ao Palmeiras em 1978, após se destacar pelo
Noroeste-SP, clube que o revelou. No alviverde vive ótimo momento, por pouco
não conquistando o Brasileiro em 1978 e 1979. Mas é tragado pela forte crise
pela qual passa o clube em 1980, e no ano seguinte é negociado com o Flamengo,
em troca do retorno de Luís Pereira. No rubro-negro, chega para repor a saída
de Júlio César “Uri Geller” e rapidamente assume a condição de titular,
apresentando bom rendimento e gols (destaque para o belo tento marcado na
difícil vitória, 2-1, contra o Wilstermann-BOL, em Cochabamba, pela
Libertadores, em um tirambaço de fora da área). No entanto, na reta final da
temporada é colocado na reserva pelo treinador Carpegiani, que passa a utilizar
o meia Lico como “falso-ponta”, o que equilibra o time, que se torna a máquina
que conquista o Mundo. Mas, irritado com a barração (que se deu por motivos
táticos, não técnicos), entra em atrito com o treinador e com parte do elenco
e, sem ambiente, acerta, no início de 1982, seu retorno ao Palmeiras. Encerra a
carreira em 1993, após várias passagens por clubes do interior paulista.
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