Charge: Mário Alberto |
Salve, Buteco! A vida e sua imprevisibilidade. No início de 2020, quando o Coronavírus (Covid-19) era apenas uma notícia internacional "dos lados da China", a Nação Rubro-Negra vivia o êxtase. Empilhando taças, à exceção do Mundial de Clubes, perdido na prorrogação para o maior Liverpool de todos os tempos, o Flamengo do Mister Jorge Jesus parecia ser praticamente "imparável" e mal conhecia adversários, no cenário brasileiro e sul-americano, capazes de pará-lo. O único adversário aparentemente à altura era o River Plate de Marcelo Gallardo, o qual, todavia, como bem sabemos, foi batido na épica final de Lima, em 23 de novembro de 2019.
Veio a pandemia e muita coisa mudou, a começar pelo próprio Flamengo. Centro de Excelência e Performance desestruturado, saída de Jorge Jesus, mudanças nos critérios de contratação, trocas infelizes de treinador, uma após a outra, tudo isso contribuiu para que o Mais Querido nunca mais fosse "aquele" que beirava a perfeição em 2019.
Quanto aos adversários, a economia argentina ruiu e o River Plate, muito embora ainda seja um adversário forte, perdeu corpo, inclusive porque Marcelo Gallardo encerrou o seu ciclo de 8 anos no clube. Para piorar a situação dos Millonários, no momento há chances plausíveis de um dos seus destaques, o meia uruguaio Nicolás De La Cruz, vestir o Manto Sagrado.
Em compensação, no lugar do River Plate ressurgiu o Palmeiras, ainda mais forte do que nos anos de 2016 e 2018. A Diretoria perdida, indecisa (talvez desnorteada) e extremamente pressionada ouviu os "nãos" do espanhol Miguel-Ángel Ramírez e do argentino Jorge Sampaoli (hoje no Flamengo, quem diria?), até que, num ato de desespero, viajou para a Grécia e pagou a multa rescisória ao Paok Salonica para trazer um jovem treinador português de nome Abel Ferreira, cuja única façanha relevante na carreira havia sido a então recente eliminação do Benfica de Jorge Jesus na fase qualificatória da Champions League 2020/2021...
Nesse ínterim, enquanto as competições de futebol em todo o mundo ainda se encontravam suspensas por conta da pandemia do Coronavírus, eu publiquei uma série de posts abordando o histórico e a relação com rivais, por vários ângulos, desde taças conquistadas ao próprio retrospecto em confrontos diretos. Ei-los:
Olho no Passado, Mirando o Futuro
Olho no Passado, Mirando o Futuro (2)
O Clássico dos Milhões por Década
O Fla-Flu e o Clássico da Rivalidade por Década
Rivalidades
O último post, somado aos dois outros sobre os clássicos cariocas, é o mote para a nossa conversa hoje: será que no olhar sobre cada adversário mudou alguma coisa nesses três anos?
Vou passar as minhas impressões, aguardando depois os comentários de vocês:
Vasco da Gama: o Gigante da Colina só piorou. Nem mesmo a recente transformação em SAF, ainda não cogitada seriamente à época, resolveu seus problemas. Tudo indica que não teve a sorte de outros clubes e acabou sendo adquirido pelos investidores com menos tino para gestão de futebol. Não há perspectiva de melhora nem mesmo a médio prazo. O risco do quinto rebaixamento é real. Por enquanto, a rivalidade se resume a memórias do passado cada vez mais distante do Clássico dos Milhões, bem como a recentes brigas entre algumas torcidas organizadas de ambos os clubes.
Fluminense: o Tricolor das Laranjeiras aumentou o investimento no futebol, porém manteve a dívida do clube no mesmo patamar de antes, sem alteração significativa. Dentro das quatro linhas, entre os cariocas, foi sem dúvida o maior adversário do Flamengo, como prova o bicampeonato estadual conquistado sobre o Mais Querido, incogitável há três anos. Até o mês de maio, era a grande sensação do futebol do continente, quando então tomou o troco rubro-negro na Copa do Brasil... Seguiu-se um período de instabilidade, que ainda não terminou, e por isso o futuro da "Suposta Máquina Tricolor" e de seu comandante Fernando Diniz, na temporada/2023, passou a ser uma incógnita, assim como a situação financeira do clube, especialmente se não conquistar nenhum dos títulos grandes ou deixar de avançar nas copas.
Botafogo: o menor dos maiores cariocas foi a grande surpresa do triênio. Aparentemente com o pior cenário entre os três, o Glorioso, ao ser transformado em SAF, sem a menor sombra de dúvida foi adquirido pelo investidor mais experiente, rico e competente entre os maiores clubes que seguiram o rumo da transformação em clube empresa, deixando o modelo associativo. Ainda é recente o seu acesso à Série A e talvez seja difícil imaginar a liderança sendo confirmada na 38ª Rodada do Campeonato Brasileiro/2023, mas a projeção de um Centro de Treinamentos com 19 campos e a parceria do Lyon, adquirido pelo mesmo investidor, mostram que é bom nos acostumarmos com uma nova era do Clássico da Rivalidade. A tendência é que o Botafogo se consolide, a curto prazo, como o rival mais competitivo entre os três cariocas, e por um longo tempo.
Palmeiras: a projeção do post Rivalidades acabou vindo a se confirmar. Pior ainda, além da rivalidade só ter aumentado, o Flamengo, em decisões no confronto direto, só ganhou uma Supercopa, nos pênaltis, e perdeu um título de Libertadores e outra Supercopa, com bola rolando. A última vitória sobre o Palestra remonta ao Campeonato Brasileiro de 2021. Efeitos do fim da Era Jorge Jesus e do início da Era Abel Ferreira, sem que o Mais Querido tenha conseguido acertar a mão e manter um treinador vencedor. Teremos força para reagir ainda nessa temporada? Podemos confiar na Era Sampaoli?
Corinthians: já que estamos falando em "eras de treinadores", a temporada de Vítor Pereira no comando do Corinthians, no ano de 2022, constituiu uma verdadeira exceção na cada vez mais decadente performance corintiana. A final da Copa do Brasil e a posterior e desastrosa passagem do treinador pelo Ninho tocaram fogo na rivalidade, como jamais havia ocorrido na História do clássico, porém acredito que já se possa afirmar que, com a partida do Luso e sua Sogra, o incêndio passou. É difícil imaginar os Mosqueteiros fazendo frente ao Flamengo tão cedo, pois as equipes ocupam patamares distintos de competitividade. O que acham?
São Paulo: se o post Rivalidades houvesse sido escrito alguns meses depois, na época das passagens de Rogério Ceni pelo Flamengo e de Fernando Diniz pelo São Paulo, o tom teria sido ainda mais amargo. Contudo, a partir de Renato Portaluppi, o Tricolor do Morumbi só tomou ferro do Mais Querido, a ponto de podermos afirmar que temos um processo de reparação histórica em pleno curso. Seja então com Renight, Paulo Sousa ou Dorival Júnior, o Flamengo só doutrinou pelo Campeonato Brasileiro e pela Copa do Brasil. Porém, doravante, com Dorival à frente do rival, o que podemos esperar, afinal? Doripau ou Dorimal?
Atlético/MG: de quase rebaixado no Campeonato Brasileiro de 2019, o Galo simplesmente ressurgiu como grande rival, ressuscitando o passado belicoso, com uma grande injeção de capital de investidores/torcedores do clube. Prestes a inaugurar a sua Arena, que será carinhosamente chamada aqui no Buteco de "Arena Cu de Zebra", o rival passa por apuros financeiros, pois a obra, como sói ocorrer com todas de grande porte no Brasil, está custando razoavelmente mais do que o previsto, provocando um aumento da dívida em proporção sensivelmente maior do que a calculada. Nem mesmo a expertise dos investidores no ramo de construções foi capaz de conter o cenário. Vivendo problemas com o treinador argentino e prestes a negociar um importante atleta com o Mais Querido para abater as dívidas de curto prazo, o segundo semestre do Galo é um grande ponto de interrogação, assim como seu futuro a médio prazo.
Athletico/PR: dois cruzamentos pela Copa do Brasil e uma final da Libertadores depois, durante esse triênio a rivalidade com certeza se acirrou bastante, como lamentavelmente incidentes fora de campo comprovam, desde provocações do provecto treinador 1x7, vias de fato no caminho dos vestiários da Arena da Baixada até bárbaras agressões a uma família rubro-negra, ocorridas em um restaurante de Curitiba no segundo semestre de 2022. No próximo mês de julho, mais um confronto se avizinha, dessa vez pelas quartas de final da atual edição da Copa do Brasil, e ninguém se surpreenderá se ainda houver outro pela Libertadores. A grande pergunta que tenho a fazer a vocês, contudo, é: até aqui Brisa, será que devemos passar a chamar o rival de Ventania?
Internacional: muito, muito choro, na verdade um oceano de lágrimas na disputa do título brasileiro de 2020, revivendo 2009, e mais nada. No último confronto pela atual edição do Campeonato Brasileiro, vencido pelo Colorado, registros de convivência harmônica entre as duas torcidas aos redores do Beira-Rio. No frigir dos ovos, continua a ser uma rivalidade bastante cordial, até porque existe o Grêmio entre nós...
Grêmio: especialmente depois do inesperado e surpreendente rebaixamento gaúcho em 2021, que, por sua vez, sucedeu outra série de resultados positivos por parte do Mais Querido (aqui também podemos falar em reparação histórica) no Brasileiro/2020 e na Copa do Brasil/2021, o que de mais tenso houve no clássico sequer se pode dizer que atinge a relação entre os clubes, mas tão-somente a Nação e o treinador Renato Portaluppi, com suas posturas esquisitas nos dois jogos pelo Campeonato Brasileiro/2021. Contudo, se o Mengão soprar a Brisa, é bem provável que encontre novamente o velho rival com Renight em seu comando, quando então um novo capítulo dessa tradicional rivalidade estará prestes a ser escrito.
Minhas homenagens a Cruzeiro e Santos, em relação aos quais, porém, não houve atualização relevante, no primeiro caso, pelos anos de Série B, e, no segundo, pela falta de confrontos de maior destaque durante o período.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.