Foto: Maga Jr/Agência F8/Gazeta Press |
Salve, Buteco! Dos clássicos interestaduais, o Grêmio certamente é, ao lado do Atlético Mineiro, e mais recentemente do Palmeiras, o adversário em relação ao qual eu mais nutro o sentimento de rivalidade. Minha saga particular com esse clássico já foi contada em mais de um post, mas gostaria de destacar que, com a vitória de ontem, o Flamengo empatou o retrospecto geral em número de vitórias: num total agora de 119 jogos, cada clube tem 40 vitórias e ainda ocorreram 39 empates. O saldo de gols, que já foi muito grande em favor do tricolor gaúcho, agora é de apenas cinco (146 x 151). Os dados podem ser conferidos tanto no FlaEstatística quanto na Gremiopédia.
Esse é um jogo que eu "sinto" mais do que os outros e presto muita atenção nos detalhes, inclusive os que antecedem as partidas. Não tinha a menor sombra de dúvida que, pelo comportamento histórico de Renato Portaluppi como jogador e treinador enquanto adversário do Flamengo, o Grêmio faria jogo duro no Maracanã.
Outra preocupação era o desgaste. Com o jogo de ontem, e contando desde o Fla-Flu de 1º de junho pela Copa do Brasil, o Flamengo completou uma maratona de 4 jogos em 11 dias, numa média de um jogo a cada dois dias e meio (menos de 3 dias).
Já o Grêmio, que vem do acesso da Série B para a Série A, não está disputando qualquer competição internacional nesta temporada e, por conta disso, seu último jogo pela Copa do Brasil ocorreu no dia 31 de maio, tendo então disputado apenas dois jogos no mesmo período de 11 dias.
Com a ansiedade a mil, como sempre ocorre antes desse clássico, enxerguei um primeiro sinal positivo quando a escalação não foi vazada ainda no sábado, último treino antes do jogo. O Careca mostrou que estava ligado no contexto do clássico e no treinador adversário, um notório adepto da espionagem. Afinal de contas, quem não se lembra do lúdico "Drone do Grêmio" antes da final da Libertadores de 2017, contra o Lanús, da Argentina?
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Antes da bola rolar, outro detalhe que somente adversários tradicionais do Flamengo observam: a escolha do campo no primeiro tempo. Valendo-se da velha estratégia de impedir o Flamengo de atacar para o Setor Norte na etapa final, já no sorteio pôde-se ver que o Grêmio não viria de brincadeira.
Não sei se a formação com 3 zagueiros foi a melhor escolha, mas com certeza o fato de estarem menos desgastados levou os gaúchos a se imporem no início da partida, e o Mais Querido poderia perfeitamente ter tomado de um a dois gols nos primeiros quinze minutos.
Demorou um pouquinho, mas o Flamengo entrou no jogo e também criou as suas chances. Gabriel Barbosa, quando o placar ainda estava 0x0, e depois do primeiro gol, desperdiçou duas chances cara a cara com o goleiro. O gol de Cebolinha, após grande jogada de Wesley, foi marcado quando o time já estava melhor em campo.
No segundo tempo, com o Grêmio saindo para o jogo em busca do empate, achei que o jogo ficou bastante aberto e as duas equipes passaram a encontrar muitos espaços na defesa da outra. Nessa toada, o placar começou a ser construído.
Aos 19 minutos, num lance de muita competência do ataque rubro-negro, Cebolinha, Pulgar e Victor Hugo pressionaram a saída de bola gaúcha, e o meia João Pedro, que vinha fazendo ótima partida, recuou mal, permitindo a Pedro interceptar o passe, ajeitar para o lado e abrir 2x0 na contagem.
Mal rolou novamente a bola e o terceiro gol poderia ter saído, se Everton Ribeiro houvesse notado a infiltração de Gérson, jogada que vem se tornando uma das mais letais armas do nosso ataque.
E as equipes seguiam se alternando nas ações ofensivas. Luzito Suárez cobrou falta desviada por Fabrício Bruno e Vina finalizou de fora da área levando perigo à meta de Matheus Cunha, enquanto Bruno Henrique e Ayrton Lucas tiveram liberdade para também finalizar pouco antes da grande área, em lances desperdiçados.
A partir dos 33 minutos o Grêmio aumentou a pressão e passou a construir jogadas que levaram a várias finalizações dentro da área. Na mais clara delas, Luizito Suárez chegou a carimbar as duas traves em uma mesma finalização.
Esgotado o tempo regulamentar, o ritmo das duas equipes não diminuiu. Bruno Henrique, cuja movimentação intensa e desenvolta foi a grande notícia da noite, desperdiçou uma chance claríssima finalizando de dentro da área, pouco antes da marca do pênalti, no que merecia ter sido uma linda assistência de Gérson.
Na sequência, Villasanti carimbou o travessão, tendo o lance culminado com um heroico, mas até agora não devidamente valorizado, pulo de David Luiz cabeceando a bola na chuteira de Vina, num lance que Rondinelli certamente assinaria.
E como todo adversário quem vem partindo para a "trocação" com o Flamengo, o Grêmio pagou o preço, tal como aqueles que partiam para cima na época em que Renato estava no banco de reservas do Mais Querido.
Lançado por Victor Hugo, Gérson foi até a linha de fundo, na ponta esquerda, e cruzou como se estivesse usando as mãos para Bruno Henrique saltar como nos velhos tempos e fechar o placar, levando o Maracanã às lágrimas e à catarse redentora de um dos ídolos mais marcantes da História do clube.
Bruno Henrique voltou. Não poderíamos ter reforço melhor.
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O número de finalizações do Grêmio de dentro da área certamente fugiu do usual. Sampaoli ressaltou o desgaste na entrevista coletiva pós-jogo como um dos fatores que dificultou a performance da equipe. Não tenho a menor dúvida de que sua leitura de cenário é correta.
Como vocês sabem, dou muita atenção a preparação e estrutura, e, portanto, a fatores como pré-temporada, fisiologia, bioquímica, alimentação, equipamentos, minutagem, rodagem de elenco e calendário, dentre tantos outros que se mostram absolutamente decisivos na performance de um clube que disputa simultaneamente as três maiores competições do desgastante calendário.
Portanto, considerando esse contexto, o trabalho do argentino é, na minha opinião, um dos mais impressionantes que já vi um treinador desenvolver no Flamengo, mesmo não sendo, até aqui, um dos melhores exemplos históricos de qualidade de futebol.
A questão, para mim, é a recuperação das condições físicas no elenco, no estado no qual se encontrava quando de sua chegada, e a competitividade que o time passou a ter, colhendo resultados num contexto absolutamente desfavorável, o qual, na minha opinião, mostra que se trata de um treinador muito acima da média que o Flamengo, fora do circuito europeu, pode alcançar.
Contudo, a obrigação de vencer está no hino do clube e o Careca só marcará mesmo o seu nome na História se essa recuperação fantástica se converter em títulos no segundo semestre.
Tenho fé que muito mais, inclusive qualidade de jogo, virá com reforços e tempo de trabalho, especialmente esses 11 dias sem jogos.
Em nível de crise, o pior já passou, mas certamente teremos muitas batalhas pesadas pela frente.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.