quinta-feira, 22 de junho de 2023

A violência


"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente"
Renato Russo

A identificação do torcedor com seu time de futebol gera, além de alegrias, muitas tristezas e frustrações. E muitos torcedores canalizam estas frustrações para a violência. Uma maneira simples e rápida de externar seus recalques perante a vida. Temos, portanto, torcedores em comportamentos marginais, com as benções do Estado, invadindo e quebrando Centros de treinamento, hotéis, residências, campos de futebol e seus entornos. 

Como se fosse uma nuvem de gafanhotos torpes.  

Para o Estado isto é bom. A massa de indivíduos ao invés de canalizar suas frustrações contra a corrupção, desmandos jurídicos, executivos e parlamentares, se voltam contra clubes de futebol ignorando que o esporte não é uma ciência exata. Do outro lado há o adversário. E de seu próprio lado há jogadores bem ou mal orientados taticamente, bem ou mal preparados fisiologicamente. Fora a questão da motivação emocional de cada um. No quadro em que o profissional vive em constante ameaça qual o interesse que ele teria em permanecer? Qual interesse geraria em outros profissionais virem trabalhar no clube? A violência da torcida é uma faca enfiada em si mesma.

Se é que boa parte deste segmento brutalizado da sociedade efetivamente sejam "torcedores". Porque não duvido que muitos, senão a maioria destes seres torçam mais pela oportunidade de exercer violência do que ao clube em questão. Visto que fora deste arquétipo de "torcedor de futebol", qual a oportunidade que estes indivíduos têm em ofender, lançar bombas, agredir terceiros e nada lhes ocorrerem e ainda terem os aplausos de uma multidão que não só aplaudem como cobram estes tipo de iniciativa frustrados também porque seu time "não vai bem"?

Então há os torcedores que efetivamente partem para a ação violenta e há os torcedores que se escondem sob uma capa de "pessoa do bem" mas na verdade apelam para que esta violência seja cometida por terceiros para compensar as próprias frustrações. Qual a diferença de um e de outro a não ser o grau diferente de covardia?

Preguem melhor administração de seus clubes, critérios de arbitragem mais transparentes, gramados adequados para o jogo, contratações mais efetivas, treinamentos mais científicos, psicólogos para os jogadores, salários pagos em dia, trocas de passes mais certeiras, finalizações mais precisas advindas de treinamentos mais intensos. Mas tudo depende do resultado. Se o resultado é bom apesar de por dentro estar em ruínas o torcedor fica feliz. Se o resultado começa a acompanhar a ruína já instalada por dentro, então o torcedor se enraivece. Sempre "pego na surpresa". Porque o futebol embora cause esta identificação é visto de forma emocional e não racional.  

Agora jogador de futebol profissional no Brasil tem que discutir sua motivação de jogo com pessoas brutais e emocionais, muitas delas com passado e presente criminosos, que invadem seus espaços de trabalho, de entretenimento, suas horas com a família, para verem colocarem dedos na cara e aguentarem ofensas, ameaças e empurrões. Porque o dirigente permite isto. E permite porque se não permitir ele e sua família passam a ser alvo. E todos queremos que os alvos sejam os outros. Não é mesmo?

E a imprensa? Sempre a criticar a violência, exibe as cenas de violência continuamente porque lhes garante visibilidade, clicks, audiência. Sempre a criticar o comportamento da torcida, cobre entusiasticamente todas invasões de torcedores nos gramados, estádios e CT´s. E você torcedor? Quando seu time está mal não deseja também que haja uma pressão virulenta contra os jogadores? Que invadam aeroporto e empurrem e xinguem os jogadores? 

Enfim, como sempre, pensamos que o problema está nos outros e nunca dentro de nós mesmos.