Saudações flamengas a todos,
Após o Flamengo oferecer à sua torcida
mais uma atuação opaca e insossa, dentro do padrão recente de momentos em que o
time vence mas não convence, convence mas não vence ou não vence nem convence,
flerta irresponsavelmente com uma eliminação que seria a mais vexatória de sua
história, e insiste em colocar em campo jogadores que já fazem hora extra em
suas carreiras, ficamos no aguardo de mais uma exibição que se promete enervante
e arrastada, contra um adversário limitado mas aguerrido, que certamente irá “tocar
correria”. Resta invocar São Judas Tadeu, que anda bastante atarefado
ultimamente.
Essa semana, seguimos com a série
“Caminhos da Bola”, com ênfase, naturalmente, no adversário de amanhã, o
Cruzeiro, trazendo uma lista de jogadores que, ao chegarem ao Flamengo, nutriam
alguma identificação com o clube das Alterosas. Chama atenção que a maioria
deles, salvo duas grandes exceções, acabou passando pela Gávea de forma quase
anônima. Também cabe pontuar que logo Éverton Ribeiro (que ainda está
escrevendo sua história no Flamengo) passará a encorpar essa relação, até aqui
coalhada de coadjuvantes.
SÉRIE “CAMINHOS DA
BOLA”
V
FLAMENGO - CRUZEIRO
RAUL (1978-1983)
Formado na base do Atlético-PR,
chega ao Cruzeiro em 1965, após passagens apagadas por Coritiba e São Paulo. E
desde o início mostra personalidade, ao improvisar uma blusa amarela para atuar
no clássico regional contra o Atlético-MG, em que fecha o gol e faz da camisa
sua marca pessoal (na época os goleiros usam somente cinza ou preto). No time
mineiro, conquista 9 Estaduais (de 11 disputados), uma Taça Brasil e uma
Libertadores. Em 1978, entediado com a rotina dos gramados, resolve abandonar o
futebol, mas uma gorda proposta do Flamengo o seduz. Entretanto, no rubro-negro
Raul demora a se firmar, por conta de lesões e de polêmicas decorrentes de sua
aversão aos treinos. Quando enfim toma conta da posição, traz uma estabilidade
e uma segurança de que a equipe se ressentia, e vira personagem importante na
trajetória que faz do Flamengo multicampeão. Na Gávea fatura um Mundial, uma
Libertadores, 3 Brasileiros e 4 Estaduais, o que o torna um dos mais vitoriosos
jogadores do país. Encerra a carreira em 1983, num jogo de despedida que lota o
Maracanã (com direito a participação de Zico). Até hoje é lembrado com carinho
pelas torcidas dos dois clubes.
PAULO CÉSAR (1995)
Goleiro de gestos econômicos, é
contratado pelo Cruzeiro em 1989, após vários anos atuando especialmente pelo
interior paulista. Na Raposa enfim conquista estabilidade, permanecendo até
1993 na equipe, onde conquista títulos nacionais e continentais. Dois anos
depois, o Flamengo não consegue encontrar um substituto para Gilmar Rinaldi,
que deixou o clube no final de 1994. As tentativas com Adriano, Emerson e Roger
são frustradas, e o rubro-negro consegue trazer, para o segundo semestre, Paulo
César, eleito o melhor goleiro do Brasileiro anterior, agora pela Portuguesa. E
de fato Paulo César começa muito bem, mostrando nível superior aos antecessores
e saindo relativamente ileso das críticas ao péssimo desempenho de um time caro
e improdutivo.
Mas o goleiro entra em
atrito com as estrelas de um elenco rachado e desunido, e, na reta final, cai
de rendimento. Comete falha grotesca no gol que dá o empate ao Bahia nos
acréscimos, negando vitória certa ao rubro-negro pelo Brasileiro, e vai mal
justo na decisão da Supercopa contra o Independiente-ARG. No final da
melancólica temporada, deixa o Flamengo e vai defender o Guarani. Anos mais
tarde volta ao Cruzeiro, acabando marcado pela falha na Final da Copa do Brasil
1998, que dá o título ao Palmeiras.
IRINEU (2007)
Cria do Cruzeiro, começa a ter
oportunidades no time profissional em 2003, participando das campanhas dos
vários títulos conquistados ao longo do ano. No entanto, o excesso de zagueiros
no elenco lhe tira espaço, e em 2005 Irineu é emprestado ao Ipatinga, por onde
se destaca na surpreendente campanha do título mineiro conquistado no mesmo
ano. Em 2007, por indicação do treinador Ney Franco, chega por empréstimo ao
Flamengo, sendo mais um integrante daquela que é chamada “República do Pão de
Queijo” (grupo numeroso de atletas egressos do Ipatinga). Mas em nenhum momento
Irineu convence a torcida, nem mesmo após a conquista do Estadual. Após péssimo
início no Brasileiro (em que chega a marcar um inacreditável gol contra,
errando um voleio dentro da área num jogo contra o Grêmio), é colocado fora dos
planos pelo novo treinador Joel Santana e devolvido ao Cruzeiro.
CLEISSON (1998-1999)
Meia versátil e vigoroso (às
vezes em excesso), capaz de atuar como volante ou até mais avançado, com
facilidade para finalizar e compor o sistema defensivo, torna-se uma espécie de
símbolo do Cruzeiro dos anos 1990, conquistando vários títulos, sempre como
titular. Em 1998, indicado por Paulo Autuori (que o dirigiu na conquista da
Libertadores 1997), integra um pacote de reforços trazido pelo Flamengo. Logo
se torna titular, mas a péssima temporada do rubro-negro acende, no final do
ano, um processo de reformulação que o faz se transferir para o Grêmio. Roda
por vários clubes até encerrar a carreira, em 2009, pelo Fortaleza.
AUGUSTO RECIFE (2005)
Faz parte da equipe do Cruzeiro
que, em 2003, conquista o Brasileiro, a Copa do Brasil e o Estadual, sob o
comando de Vanderlei Luxemburgo, o que, de certa forma, confere certo “selo de
qualidade” a seu futebol esforçado e aplicado taticamente. Anos depois, começa
a ser emprestado a outros clubes, entre eles o Flamengo que, em 2005, precisa
de um volante para repor a saída do rústico Da Silva. Mesmo em um time
indigente tecnicamente, Augusto Recife não consegue se firmar e, após o
rubro-negro escapar milagrosamente do rebaixamento, o jogador é devolvido ao
Cruzeiro, passando a rodar por vários clubes. Ainda está em atividade, atuando
no futebol capixaba.
MALDONADO (2009-2012)
Volante chileno de boa técnica,
vem de boas passagens por Colo Colo-CHI e São Paulo quando desembarca na Toca
da Raposa, em 2003. Também faz parte (é um dos protagonistas) do time que
impressiona o país, e cai nas graças da torcida mineira, permanecendo no
Cruzeiro por mais duas temporadas. Em 2009, o Flamengo vai ao mercado em busca
de reforços e consegue contratar Maldonado, que surge como oportunidade de mercado
após se desligar do Fenerbahçe-TUR. O chileno logo se torna ponto de equilíbrio
e um dos fatores da espetacular melhora no desempenho do rubro-negro, que
arranca para o Hexacampeonato Brasileiro (ironicamente, marca seu único gol
pelo Flamengo justamente no Mineirão, contra o Atlético-MG, antigo rival). Mas
uma grave lesão sofrida no final desta temporada (em amistoso pela Seleção
Chilena) acaba comprometendo o restante de sua carreira. As sequelas da
contusão impedem que consiga estabelecer uma sequência de jogos nos anos
seguintes. Ainda permanece no Flamengo (atuando esporadicamente) até 2012.
Pouco tempo depois, encerra a carreira, de volta ao Chile.
MARCO ANTONIO BOIADEIRO (1994)
Armador muito habilidoso, chama a
atenção ao fazer parte do Guarani que chega ao Vice-Campeonato Brasileiro em
1986, após espetacular duelo com o São Paulo. Depois de razoável passagem pelo
Vasco (enfim conquista um Brasileiro), chega em 1991 ao Cruzeiro, onde se torna
protagonista e peça-chave de uma equipe que ganha duas Supercopas Libertadores
e uma Copa do Brasil e é convocado para a Seleção Brasileira, em 1993. No
entanto, perde o pênalti decisivo na Final da Copa América contra a Argentina,
o que, de certa forma, simboliza o início de seu declínio. No ano seguinte, chega
ao Flamengo por empréstimo, integrando um pacote emergencial de reforços de uma
equipe que inicia muito mal a temporada. Boiadeiro demora a engrenar, mas
cresce na reta final do Estadual que, por pouco, o rubro-negro não conquista.
Ao final do empréstimo de três meses, o Flamengo, sem dinheiro, não exerce a
compra do jogador, que se transfere para o Corinthians.
ELI CARLOS (1978)
Irmão mais velho de Silas
(jogador célebre no São Paulo dos anos 1980 e depois treinador), o irrequieto
meia-atacante começa a se destacar no Coritiba, onde faz história em meados dos
anos 1970. Mas vive seu auge no Cruzeiro de 1977, por onde se torna Campeão
Estadual, artilheiro e ídolo. No entanto, no ano seguinte cai de rendimento e é
emprestado ao Flamengo, numa operação que também envolve o goleiro Raul (que
vai em definitivo). No rubro-negro, sofre para encontrar espaço numa posição
onde sobram craques, mas mesmo assim é bastante utilizado na reta final do
Estadual, entrando no decorrer das partidas. No final do ano, é devolvido ao
Cruzeiro, onde sofre com o início do declínio da equipe. Falece em 2020, após
complicações decorrentes de uma endoscopia.
CARLINHOS SABIÁ (1986-1987)
Um dos poucos destaques de uma
época duríssima (junto, talvez, com o jovem Tostão), atua pelo Cruzeiro entre
1978 e 1986, conquistando, nesse período, apenas um Estadual. Em 1986, a
Diretoria do Cruzeiro resiste a uma proposta “irrecusável” do rival Atlético-MG
e o vende ao Flamengo, que precisa de um ponta-direita “de ofício”, em
transação que envolve a ida do meia Élder para a Toca da Raposa. Na Gávea,
participa como coadjuvante da campanha do título estadual (seu melhor momento é
o gol que marca na difícil vitória por 2-0 sobre o América, pela Taça
Guanabara). Ganha mais espaço no Brasileiro, atuando como titular em muitos
jogos, mas não convence. No início de 1987, a chegada de Renato Gaúcho sepulta
suas chances no Flamengo, e Carlinhos é vendido ao Atlético-PR, por onde se
destaca. Hoje atua como empresário de jogadores.
MARCELO MORENO (2013)
A trajetória deste atacante, de
boa técnica e finalização eficiente, no futebol brasileiro se inicia com uma
ótima passagem pelo Vitória, entre 2005 e 2007, ano em que se transfere para o
Cruzeiro. No clube mineiro permanece por pouco tempo, mas desenvolve marcante
relação com a torcida, especialmente pelos expressivos números e pela
participação importante na conquista de um Estadual. Em 2012 retorna da Europa
e passa a defender o Grêmio, mas no início do ano seguinte entra em atrito com
o treinador Vanderlei Luxemburgo, o que o faz ser emprestado ao Flamengo. A
torcida rubro-negra o recebe com desconfiança, especialmente após algumas
declarações ofensivas de seu pai e empresário, mas seu início muito bom, com 5
gols em oito jogos, traz a ilusão de que as coisas irão engrenar (o jogador
chega a protagonizar um vídeo promocional de qualidade duvidosa, marcado pelo
bordão “Faz, Moreno!”). No entanto, o atacante se lesiona e perde espaço para a
fulminante ascensão de Hernane Brocador, com a qual não consegue lidar e se
apaga. Ao final do ano, na condição de (caro) coadjuvante, é devolvido ao
Grêmio, que o repassa ao Cruzeiro. Atualmente defende o Independiente Del Valle-EQU.
WANDERLEY (2011)
Atacante de área goleador e
bastante limitado, projeta-se na Ponte Preta que chega ao Vice-Campeonato
Paulista de 2008, o que o faz se transferir, no mesmo ano, para o Cruzeiro. No
Brasileiro, o time mineiro faz ótima campanha (3º Lugar), mas Wanderley não
consegue se destacar. Após nova chance, e novo desempenho opaco na Raposa,
começa a ser emprestado a outros clubes. No início de 2011, desvalorizado, é
contratado pelo Flamengo junto ao Grêmio Prudente, para a reserva de Diego
Maurício, que está em ascensão. Mas Wanderley se torna personagem inusitado na
campanha do título estadual invicto, marcando gols que rendem pontos preciosos
ao rubro-negro, sempre entrando no decorrer dos jogos, e comemorando os tentos
com longas e eufóricas “voltas olímpicas” que empolgam a torcida. Seu grande
momento é o gol que marca, já no finalzinho, decretando o 1-0 do Flamengo sobre
o Nova Iguaçu, na estreia de Ronaldinho Gaúcho, em um Engenhão lotado. Após o
Estadual, o atacante ainda disputa algumas partidas pelo Brasileiro, mas uma
proposta vantajosa (para jogador e clube) o faz ser negociado com o Al-Arabi
Doha-QAT.
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Links capítulos anteriores:
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Parte II: Flamengo – Fluminense
Parte III: Flamengo –Internacional
Parte IV: Flamengo – Botafogo