segunda-feira, 24 de abril de 2023

O Bonde da História

 

Salve, Buteco! Num bate-papo com o nosso amigo Carlos César Ribeiro Batista (que está no estaleiro, mas breve voltará ao nosso convívio), ele citou uma frase de Nelson Rodrigues, no sentido de que o subdesenvolvimento não se improvisa, mas é obra de séculos. Encontrei um padrão de semelhança entre o subdesenvolvimento brasileiro e as práticas amadoras recorrentes do nosso Departamento de Futebol.

Sou um torcedor que cobra do clube a profissionalização integral do setor e não a sua gerência pela vice-presidência de futebol amadora. É bem diferente quando o vice-presidente amador, figura obrigatória por norma estatutária, apenas supervisiona, com prudente distância, o trabalho dos profissionais. Ocorre que no futebol do Flamengo, ao contrário, o VP é a figura central da gestão e responsável direto pelas principais decisões do setor.

Entristece-me como cada vez mais a relação do presidente Rodolfo Landim com o vice-presidente de futebol Marcos Braz se assemelha a do ex-presidente Eduardo Bandeira de Melo com Fred Luz e Rodrigo Caetano, a trinca da qual nenhum torcedor rubro-negro com um mínimo de bom senso tem saudade. Temo inclusive que, pelo tempo decorrido e o quanto falta para as eleições de 2024, o fenômeno da semelhança se transforme em repetição e o mandatário-mor comece a "tomar decisões de sua cabeça", como tantas vezes fez o seu rival político.

Em seu entorno, o Flamengo, preso em um emaranhado de relações do VP de Futebol com a política, e do próprio clube com atletas endeusados e empresários parceiros, assiste com passividade bovina a rivais se estruturarem e, com gestão profissional, diminuírem a distância esportiva. As derrotas se acumulam e na temporada em curso não parece que será simples alcançar a reação com resultados positivos dentro de campo.

Aliás, desde o desmonte, acelerado durante a pandemia, da estrutura do antigo Centro de Excelência e Performance, o Flamengo coleciona títulos apesar da gestão amadora do Departamento de Futebol, em que pese ser muito comum o equívoco de se atribuir as últimas taças a um inexistente e fantasioso sucesso gerencial. 

É bom frisar que não é exatamente simples "profissionalizar" um departamento de futebol, especialmente no Brasil. Não sobram profissionais em cada esquina e a própria expressão "filosofia de trabalho" é um tanto fluida, sujeita a uma série de diferentes interpretações.

Apesar disso, é óbvio que o bonde da História está passando e o Flamengo parece optar por perdê-lo ao abraçar o subdesenvolvimento gerencial, por puro apego ao "lirismo" da tradicional figura do dirigente amador que personifica o futebol.

2019 foi, sem dúvida, um ano longevo, que produziu efeitos nos três seguintes; contudo, 2023 parece ter chegado para mostrar que o ciclo pode ter vivido o seu último dia vitorioso em 29 de outubro de 2022.


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O jogo de quarta-feira ganhou contornos ainda mais dramáticos. A tendência é do ambiente estar carregado e qualquer fagulha precipitar vaias intensas e fortes protestos.

O argentino Jorge Sampaoli não merece o contexto que o recebe, mas terá que rapidamente aprender a lidar com ele. Se conseguir levar o time à recuperação e a ao menos um título de expressão nesta temporada, terá feito, provavelmente, o maior trabalho da sua carreira.

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A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.