Saudações flamengas a todos,
E chegou ao fim aquele que, pelo
contexto, pela estrutura colocada à disposição, pelo nível dos jogadores, pela
remuneração polpuda e pela incapacidade de cumprimento de algumas metas de
baixa complexidade, pode ser considerado o pior trabalho de um treinador sob a
gestão Rodolfo Landim, e talvez a pior passagem desde que Ney Franco saiu do
Ninho do Urubu pela porta dos fundos, incapaz de vencer um mísero jogo dentre
os sete que disputou, no já longínquo 2014.
E, como as divindades da bola
sempre costumam deixar mensagens expressivas para a posteridade, o epitáfio do
lastimável Vitor Pereira foi escrito em negrito e letras garrafais, na
vexatória goleada que fez o Flamengo, pela primeira vez em sua história, sofrer
a reversão de uma vantagem de dois gols em uma Final de Estadual. Vexame que se
somou a outros que engordaram o currículo do entediado treinador luso, tais
como a eliminação para um time do possante futebol saudita no Mundial, a perda
de um título internacional em um Maracanã lotado para uma equipe equatoriana de
porte médio e, mais recentemente, a derrota na estreia da Libertadores para uma
espécie de “Sampaio Correa” do Equador, que ostentava em suas fileiras um
senhor de idade e um atacante cujo estado atlético (ou a sua falta) poderia ser
comparável ao do nosso Vice-Presidente de Futebol.
Voltamos ao tempo em que
colecionávamos vexames e chacota. Qual seria o limite? A briga para não cair no
Brasileiro?
Entretanto, enveredar pelo cômodo
caminho de espancar o medíocre, preguiçoso, tosco, apático e burocrático
trabalho de Vitor Pereira e seu jogo posicional de totó seria apor antolhos que
fariam impedir o esquadrinhamento de outros aspectos que tornaram “viável” a
apresentação desta coisa absolutamente indizível e incompatível com a história
antiga e recente do CR Flamengo.
Porque nem nos “anos de chumbo”,
lá nos idos dos 2000s, viu-se um amontoado tão pouco identificado com as cores
negras e rubras do nosso pavilhão.
A coisa começa com a imoral,
obscena e ofensiva extensão do período de férias graciosamente concedido ao
elenco, como “prêmio” pelo esforço de ter desenvolvido, ao longo de TODA a
temporada de 2022, coisa de três ou quatro meses de futebol de alta performance,
sob o “comando” do estimado Dorival Júnior. Pois. Por conta de três meses de
bola, o plantel ganhou quase dois meses de férias, aí não contando o recesso autoimposto
nos dias que se seguiram à conquista da Libertadores, quando o clube caminhou
em campo no epílogo do Brasileiro, deixando-se abater por equipes já rebaixadas
à Série B.
“Falta comando, falta pulso a
esta administração banana, que deixa o poste urinar no cachorro.”
E chegou Vítor Pereira.
Português, de bom currículo,
inclusive tendo derrotado o “SemiDeus” Jorge Jesus num desses Campeonatos Portugueses,
capaz de impor um “nó tático” no segundo jogo da Final da Copa do Brasil ao
Flamengo de Dorival (cuja atuação melhor no 0-0 de Itaquera ficou esquecida), a
ponto de quase tirar do rubro-negro o Tetra da competição, Vítor Pereira chegou
como o estrangeiro da vez, o homem capaz de fazer o Flamengo campeão mundial,
continental, da coisa toda.
Um treinador adepto do jogo
posicional de totó, de um futebol predominantemente físico, intenso e de escapadas
em velocidade. Não necessariamente reativo, embora flertando com esse aspecto,
mas incapaz de prescindir do vigor e do frescor de seus atletas.
Analisando com calma agora, mesmo
sob o risco do chavão da inspeção de obra pronta, tinha como dar certo?
Em tempo: não que se esteja aqui
a demonizar o tal jogo de posição que, como toda filosofia, requer condições
adequadas para sua implementação e que, se bem executada, tende a produzir
desempenho e resultados de alto nível. A questão reside na aparente certeza de
que os aspectos nos quais se funda o tal jogo posicional são de encaixe extremamente
difícil a um elenco que se acostumou a praticar um futebol móvel, caótico,
associativo (de toques curtos, quase como um “toco y me voy”) e a se defender
em blocos. Querer de volantes pesados como Willian Arão (quando atuava no
Flamengo) ou Thiago Maia, ou lentos, como Gérson, que exerçam “perseguições” e
grandes deslocamentos para cobrir amplos espaços é flertar com a perspectiva do
desastre, por exemplo.
E daí se chega a mais uma questão.
Se realmente a Diretoria do Flamengo parece crer que treinadores posicionais
são os mais adequados para treinar a equipe (talvez seduzidos pelo complexo
argumento de que se trata do “jogo ofensivo do Guardiola”), como demonstra a
sistemática insistência por profissionais desse perfil (sem nunca negligenciar
o fator “griffe”), beira o inacreditável que o clube não faça nenhum movimento
consistente no sentido de promover a reformulação de seu elenco, com peças
adaptáveis à sofisticada filosofia tática, que se pretende empurrar “goela
abaixo” do plantel.
Em que pese a indigência tática e
anímica do finado trabalho de Vitor Pereira, como justificar a absoluta falta
de opções de jogadores para atuar aberto pelo lado direito do campo, além do
caro e caótico Marinho? Ou a evidente carência do plantel de volantes da
equipe, formado por Thiago Maia (o único de características defensivas típicas),
pelo veterano Vidal, pelo já citado Gerson e pelo instável e limitado Erick
Pulgar, que vive lesionado, além dos jovens Igor Jesus e Éverton, aquele de futebol
rudimentar, este último nem isso?
“Jogadores jovens, baratos e com
bom potencial de revenda. Não vemos como fugir desse perfil.”
Costuma-se dizer que no Brasil o
ano começa “após o Carnaval”. Clichês à parte, parece que o ano do Flamengo
também só se inicia após a chegada do treinador do segundo semestre, como aliás
insinuou o (cada vez mais) boquirroto Filipe Luís após o vexame Aucas. De
qualquer forma, antes disso é necessário aguardar o desfecho de mais uma
temporada da Série “Esperando Jesus”, que todo ano exibe novos capítulos em
alguma rede social perto de você. Afinal de contas, tem eleição chegando e
imagem é tudo.
Quando o Arrascaeta se for, quem
virá para seu lugar? O Rodriguinho?
Boa semana a todos.
(PS1 – também estou acompanhando
atentamente o processo de contratação do novo treinador. Os nomes até aqui
ventilados com mais força foram o óbvio Jorge Jesus, que a Diretoria quer fazer
convencer que está tentando trazer, além de Tite, Jorge Sampaoli e até mesmo
Cuca. Um totalmente diferente do outro. Tudo griffe).
(PS2 - este texto foi escrito antes do vexame de Maringá. Porque o Flamengo de Landim, Braz e Tostes é assim. Os vexames já se tornam obsoletos com enorme velocidade. De qualquer forma, deve-se parabenizar esta Diretoria. DESTRUIR em SEIS MESES o melhor time da América do Sul é algo para poucos NO MUNDO.
(PS3 - se resolverem esperar 45 dias com essa "comissão técnica" e esses jogadores, o Flamengo estará diante de um risco real de rebaixamento à Série B. Que ninguém se iluda. Grêmio, Inter, Cruzeiro já mostraram o caminho. Estamos na mesma toada).