Saudações flamengas a todos,
Essa semana dou sequência à Série
“Caminhos da Bola”, em que são listadas contratações históricas de jogadores previamente
identificados com determinado clube.
O escolhido dessa semana é o
adversário das Finais do Estadual. Ao longo do tempo, o Flamengo trouxe vários
atletas que nutriam forte identificação com o Fluminense. Basta ver que no
elenco atual há três exemplos (Ayrton Lucas, Gerson e Pedro), não listados aqui
porque suas páginas no Flamengo ainda estão sendo escritas. Também não foram
citados os jogadores envolvidos no “Troca-troca do Horta” nos anos 70, já tratados
em texto recente.
Ainda assim, a lista é bastante
ampla, e vários nomes ainda ficaram de fora.
* * *
SÉRIE CAMINHOS DA
BOLA
2 – FLAMENGO – FLUMINENSE
EDINHO (1987-1988)
Um dos raros jogadores revelados
na base do Fluminense a se destacar no período da “Máquina” dos anos 1970,
sobrevive ao seu desmonte e se torna ídolo, numa trajetória que atinge seu
ápice em 1980, quando marca o gol da conquista do Estadual na Final contra o
Vasco (1-0). Após a Copa de 1982 transfere-se para a Udinese-ITA. Em 1987,
depois de bom desempenho nos gramados italianos, volta ao Brasil para encerrar
a carreira, desejando retornar ao Fluminense. No entanto, frustrado com a baixa
proposta do tricolor, resolve aceitar jogar no Flamengo, reeditando parceria
com o amigo Zico. Mas, a poucos dias do Brasileiro, dá entrevista à Revista
Placar afirmando ser “tricolor de coração” e deixando claro que o Flamengo
nunca fora sua primeira opção de contrato. As declarações irritam a Diretoria
do Flamengo a tal ponto que por pouco o negócio não é desfeito. Esse incidente
e uma agressão sofrida num jogo contra o Vasco (afunda o malar) fazem Edinho demorar a engrenar,
mas o jogador se firma como ponto de sustentação da defesa do Flamengo Campeão
Brasileiro de 1987. No ano seguinte, cai de rendimento e após o Estadual entra
em atrito com o novo treinador Candinho, o que faz com que rescinda o contrato
e retorne para o Fluminense, onde fica um ano. Encerra a carreira em 1989,
atuando pelo Grêmio.
JUAN (2006-2010)
Revelado no São Paulo,
transfere-se para o Fluminense após passagem apagada pelo futebol inglês. Nas
Laranjeiras, conquista um Estadual e é elogiado, mas um desentendimento de seu
empresário com a Diretoria tricolor faz com que vários jogadores, entre eles
Juan, passem a defender o Flamengo. No rubro-negro, aonde chega em 2006, demora
a se firmar (chega a ser barrado pelo limitado André), mas, com a vinda de Ney
Franco, encaixa-se perfeitamente no novo esquema com “alas”, que explora seu
potencial altamente ofensivo. Marca o gol do título da Copa do Brasil 2006 na
Final contra o Vasco, e em 2007 é um dos protagonistas da arrancada que leva o
Flamengo à Libertadores, o que o faz ser convocado à Seleção Brasileira. Mas,
apesar do elevado número de assistências e gols, vive relação de altos e baixos
com a torcida, que se incomoda com sua postura marrenta e algo indolente. Após
ganhar um Brasileiro, uma Copa do Brasil e três Estaduais, encerra o ciclo
rubro-negro em 2010, voltando para o São Paulo e iniciando um périplo por
vários clubes, antes de encerrar a carreira em 2019.
BRANCO (1995)
Chega ao Fluminense em 1982 ainda
jovem, egresso do Internacional. Seu jogo intenso e físico, lembrando laterais
europeus, agrada tanto que logo é alçado ao time titular, como peça-chave da
reformulação que resulta na equipe que conquista um Brasileiro e três
Estaduais. Em 1986, após boas atuações na Copa do Mundo, é negociado com o
Brescia-ITA, iniciando uma trajetória de sete anos por gramados europeus. Em
1995 chega ao Flamengo, após passagens irregulares pelo próprio Fluminense e
por Grêmio e Corinthians, como integrante de um pacote de reforços trazido pela
nova Diretoria rubro-negra (cujo principal nome é Romário). Mas, com visíveis
problemas físicos, não é sombra do jogador de outrora. Chega a ser barrado e
passa a jogar no meio-campo, mas em nenhum momento seu futebol convence a
torcida. Na profunda reformulação que se segue à perda do Estadual, acerta seu
retorno ao Internacional. Encerra a carreira em 1998, participando da campanha
que rebaixa o Fluminense à Série C do Brasileiro.
TORÓ (2006-2010)
“Uma chuva de gols” nos tempos de
futsal e base do Fluminense faz nascer o apelido e grande expectativa quanto ao
futuro deste atacante atarracado. Mas as coisas não acontecem como esperado,
especialmente em função do temperamento difícil de um jovem sempre mimado, e
Toró não consegue se destacar no profissional do tricolor. Em 2006, o Flamengo
resolve lhe dar uma chance, mas uma briga com Renato Abreu durante um amistoso
quase abrevia sua passagem pelo rubro-negro. Agora atuando como volante, tem
dificuldade para se firmar com Ney Franco, mas em 2007, com a chegada de Joel
Santana, que enxerga em seu jogo voluntarioso e de alta intensidade atributos ideais
para compor a chamada “Tropa de Elite”, Toró volta a ser parte importante do
elenco. Nos anos seguintes, o rubro-negro qualifica o plantel e Toró retorna à
reserva, mas na reta final do Brasileiro 2009 o jogador vive seu último momento
de destaque, ao atuar como titular, em substituição ao lesionado Maldonado, nos
jogos que confirmam o Hexacampeonato Brasileiro. No final do ano seguinte,
desgastado, transfere-se para o Atlético-MG.
DIEGO SOUZA (2005-2006)
Revelado em Xerém, destaca-se na
campanha que dá ao tricolor o Estadual 2005 e o vice-campeonato da Copa do
Brasil do mesmo ano. Suas boas atuações lhe rendem uma transferência para o
Benfica-POR, mas os portugueses de imediato o repassam ao Flamengo, para um
empréstimo por um ano. No rubro-negro, atua como volante e tem participação
ativa na milagrosa trajetória que culmina com a fuga do rebaixamento daquele
ano. Seu ápice é o belo gol marcado em um Fla-Flu pelo Brasileiro 2005, que confere
ao Flamengo o empate em 2-2, em que comemora tirando a camisa, saltando no
alambrado e respondendo com gritos e palavrões aos xingamentos que havia
recebido da torcida do ex-clube. Mas, apesar da qualidade mostrada, sua
história no Flamengo é marcada pela constante briga com a balança, que o faz
chegar a ser barrado. Ao final do empréstimo, desmotivado, já é um reserva
pouco atuante. Volta ao Benfica, iniciando uma trajetória marcada por passagens
em vários clubes e pela adaptação à função de atacante. Atualmente defende o
Grêmio.
ROGER FLORES (2007)
Ícone do renascimento do
Fluminense, torna-se protagonista na campanha que leva o tricolor da Série C à
Primeira Divisão em 1999. No ano seguinte, segue regendo o meio-campo da equipe
das Laranjeiras, o que o faz integrar a Seleção Brasileira Olímpica e a ser
vendido ao Benfica-POR. Cinco anos depois, integra robusto pacote de reforços levados
ao Corinthians por um investidor externo. Mas sua passagem pela equipe paulista
é acidentada, com altos e baixos e, após uma lesão que o alija dos gramados por
vários meses, é emprestado para o Flamengo, em 2007. No rubro-negro, limita-se
a exercer o papel de coadjuvante, incapaz de entregar a intensidade exigida por
Joel Santana. Ainda assim, protagoniza alguns momentos, como o gol que decreta
a vitória sobre o Corinthians (2-1) no Maracanã, que ajuda a afundar o time
paulista rumo à Série B. Ao final da temporada, o Flamengo não renova o
empréstimo do jogador, que é repassado ao Grêmio.
CONCA (2017)
Meia revelado pelo River Plate-ARG,
chega ao Brasil em 2007, emprestado pelo clube argentino ao Vasco, onde deixa
ótima impressão. Mas, em 2008, o Fluminense atravessa o cruzmaltino e contrata
o jogador em definitivo, dando início a uma trajetória marcante, que rende um
Brasileiro e dois vice-campeonatos continentais ao tricolor. Em 2017, após
vários anos no futebol chinês, retorno ao Fluminense e novo contrato na China,
é liberado pelo Shanghai SIPG, seu clube, para tratar uma grave lesão de joelho
no Flamengo, o que redunda em um contrato de empréstimo por um ano ao
rubro-negro. Após vários meses de recuperação, Conca estreia no Brasileiro 2017,
numa vitória por 2-0 contra a Ponte Preta. A seguir, atua contra o Paraná
Clube, pela Primeira Liga. Nas duas partidas, entra no final e exibe nítida e
evidente limitação física. Não retorna mais a campo e, no final do ano, após 27
minutos jogados, é devolvido aos chineses. Pouco depois, encerra a carreira.
THIAGO NEVES (2011)
Joia da base do Paraná Clube e
tão talentoso como de temperamento difícil, chega ao Fluminense em 2007, após
passagem sem brilho pelo futebol japonês. Não demora a se tornar o principal
jogador tricolor, conquistando uma Copa do Brasil e o vice-campeonato da
Libertadores 2008 (em que, na Final, marca três gols e perde um pênalti
decisivo). Após atuar no futebol alemão, é emprestado em 2011 ao Flamengo pelo
Al Hilal-ARA, vindo no pacote de reforços que também traz o astro Ronaldinho
Gaúcho. Logo na estreia, marca um gol de placa numa vitória sobre o Vasco (2-1)
pelo Estadual 2011, que o Flamengo conquista de forma invicta, sendo Thiago
Neves eleito o melhor jogador da competição, o que começa a afastar a rejeição
inicial da torcida rubro-negra. No Brasileiro mantém o bom nível das atuações
(destaque para o “hat-trick” nos 5-1 sobre o Cruzeiro, no Engenhão), sendo
importante na campanha que classifica o rubro-negro para a Libertadores. No
final do ano, o Flamengo não consegue adquiri-lo em definitivo e Thiago Neves
retorna ao Fluminense, iniciando uma série de passagens controversas por clubes
do Brasil.
ROBERTINHO (1983)
Cria da base do Fluminense, torna-se,
na virada dos anos 1970/1980, um dos principais jogadores da equipe após o
radical corte de investimentos que afasta as estrelas da época da “Máquina de
Horta”. Ponta-direita driblador e finalizador, chega à Seleção Brasileira e
assume o posto de craque do time com a venda de Edinho ao futebol italiano.
Mas, desencantado com a falta de perspectivas nas Laranjeiras, acerta, no
início de 1983, sua transferência para o Flamengo. Já na apresentação,
impressiona-se com a diferença de estrutura entre os clubes (“mas aqui é muito
maior, não tem como comparar”). Participa diretamente da campanha do
Tricampeonato Brasileiro, eventualmente como titular. Faz, após bela jogada, o
cruzamento para Adílio marcar o gol do título na Final contra o Santos. No
entanto, no segundo semestre não resiste à crise decorrente da venda de Zico,
cai muito de rendimento e acaba negociado com o Palmeiras. Ainda passa por
vários clubes antes de encerrar a carreira, nos anos 1990.
RONI (2007)
Destaque no Vila Nova, ganha
projeção atuando pelo Fluminense (1997-2000), em que é considerado um dos
poucos jogadores de qualidade de um time indigente e afundado nas Séries B e C
do Brasileiro. Seus gols o levam à Seleção Brasileira e a uma transferência
para a Arábia Saudita. Em 2007, após rodar por vários clubes (destaque para as
positivas passagens por Goiás e Atlético-MG, ajudando este último a retornar à
Série A em 2006), é contratado pelo Flamengo. Mas, no rubro-negro, apresenta
rendimento irregular, não conseguindo se firmar como titular. Seu grande
momento é o gol que decreta o empate (3-3) contra o Botafogo, pela Taça
Guanabara. Após a conquista do Estadual, perde ainda mais espaço no esquema de
Ney Franco, que faz uso de apenas um atacante (Souza). Assim, para o Brasileiro,
é negociado com o Cruzeiro. Encerra a carreira em 2012, após retornar ao
futebol goiano.
HENRIQUE DOURADO (2018-2019)
Verdadeiro andarilho da bola,
ganha o apelido de “Ceifador” durante sua curta passagem pelo Palmeiras, em
2014. Mas é no Fluminense, que defende a partir de 2016, já com 27 anos, que
enfim estabelece um laço de identificação maior com uma torcida, que, carente,
encanta-se com seus gols e seu temperamento forte. Os bons números no tricolor
(termina 2017 como o principal goleador da temporada) chamam a atenção do
Flamengo que, precisando de um atacante para substituir Guerrero, contrata
Henrique Dourado em definitivo junto ao rival, em 2018. Jogador físico e
limitado tecnicamente, não cai nas graças da torcida rubro-negra, sofre lesões
e não consegue se firmar, mas ainda assim termina o ano como o maior artilheiro
rubro-negro. De positivo, mantém a fama de batedor infalível de pênaltis, tendo
convertido todas as penalidades que cobra. No ano seguinte, ainda disputa os
primeiros jogos (marca belo gol de bicicleta no Estadual), mas, dentro do
processo de reformulação do elenco, é negociado com o futebol chinês.
(Parte 1: Flamengo – Corinthians)