sexta-feira, 31 de março de 2023

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Essa semana dou sequência à Série “Caminhos da Bola”, em que são listadas contratações históricas de jogadores previamente identificados com determinado clube.

O escolhido dessa semana é o adversário das Finais do Estadual. Ao longo do tempo, o Flamengo trouxe vários atletas que nutriam forte identificação com o Fluminense. Basta ver que no elenco atual há três exemplos (Ayrton Lucas, Gerson e Pedro), não listados aqui porque suas páginas no Flamengo ainda estão sendo escritas. Também não foram citados os jogadores envolvidos no “Troca-troca do Horta” nos anos 70, já tratados em texto recente.

Ainda assim, a lista é bastante ampla, e vários nomes ainda ficaram de fora.

 

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SÉRIE CAMINHOS DA BOLA

 

2 – FLAMENGO – FLUMINENSE

EDINHO (1987-1988)

Um dos raros jogadores revelados na base do Fluminense a se destacar no período da “Máquina” dos anos 1970, sobrevive ao seu desmonte e se torna ídolo, numa trajetória que atinge seu ápice em 1980, quando marca o gol da conquista do Estadual na Final contra o Vasco (1-0). Após a Copa de 1982 transfere-se para a Udinese-ITA. Em 1987, depois de bom desempenho nos gramados italianos, volta ao Brasil para encerrar a carreira, desejando retornar ao Fluminense. No entanto, frustrado com a baixa proposta do tricolor, resolve aceitar jogar no Flamengo, reeditando parceria com o amigo Zico. Mas, a poucos dias do Brasileiro, dá entrevista à Revista Placar afirmando ser “tricolor de coração” e deixando claro que o Flamengo nunca fora sua primeira opção de contrato. As declarações irritam a Diretoria do Flamengo a tal ponto que por pouco o negócio não é desfeito. Esse incidente e uma agressão sofrida num jogo contra o Vasco (afunda o malar) fazem Edinho demorar a engrenar, mas o jogador se firma como ponto de sustentação da defesa do Flamengo Campeão Brasileiro de 1987. No ano seguinte, cai de rendimento e após o Estadual entra em atrito com o novo treinador Candinho, o que faz com que rescinda o contrato e retorne para o Fluminense, onde fica um ano. Encerra a carreira em 1989, atuando pelo Grêmio.


JUAN (2006-2010)

Revelado no São Paulo, transfere-se para o Fluminense após passagem apagada pelo futebol inglês. Nas Laranjeiras, conquista um Estadual e é elogiado, mas um desentendimento de seu empresário com a Diretoria tricolor faz com que vários jogadores, entre eles Juan, passem a defender o Flamengo. No rubro-negro, aonde chega em 2006, demora a se firmar (chega a ser barrado pelo limitado André), mas, com a vinda de Ney Franco, encaixa-se perfeitamente no novo esquema com “alas”, que explora seu potencial altamente ofensivo. Marca o gol do título da Copa do Brasil 2006 na Final contra o Vasco, e em 2007 é um dos protagonistas da arrancada que leva o Flamengo à Libertadores, o que o faz ser convocado à Seleção Brasileira. Mas, apesar do elevado número de assistências e gols, vive relação de altos e baixos com a torcida, que se incomoda com sua postura marrenta e algo indolente. Após ganhar um Brasileiro, uma Copa do Brasil e três Estaduais, encerra o ciclo rubro-negro em 2010, voltando para o São Paulo e iniciando um périplo por vários clubes, antes de encerrar a carreira em 2019.


BRANCO (1995)

Chega ao Fluminense em 1982 ainda jovem, egresso do Internacional. Seu jogo intenso e físico, lembrando laterais europeus, agrada tanto que logo é alçado ao time titular, como peça-chave da reformulação que resulta na equipe que conquista um Brasileiro e três Estaduais. Em 1986, após boas atuações na Copa do Mundo, é negociado com o Brescia-ITA, iniciando uma trajetória de sete anos por gramados europeus. Em 1995 chega ao Flamengo, após passagens irregulares pelo próprio Fluminense e por Grêmio e Corinthians, como integrante de um pacote de reforços trazido pela nova Diretoria rubro-negra (cujo principal nome é Romário). Mas, com visíveis problemas físicos, não é sombra do jogador de outrora. Chega a ser barrado e passa a jogar no meio-campo, mas em nenhum momento seu futebol convence a torcida. Na profunda reformulação que se segue à perda do Estadual, acerta seu retorno ao Internacional. Encerra a carreira em 1998, participando da campanha que rebaixa o Fluminense à Série C do Brasileiro.


TORÓ (2006-2010)

“Uma chuva de gols” nos tempos de futsal e base do Fluminense faz nascer o apelido e grande expectativa quanto ao futuro deste atacante atarracado. Mas as coisas não acontecem como esperado, especialmente em função do temperamento difícil de um jovem sempre mimado, e Toró não consegue se destacar no profissional do tricolor. Em 2006, o Flamengo resolve lhe dar uma chance, mas uma briga com Renato Abreu durante um amistoso quase abrevia sua passagem pelo rubro-negro. Agora atuando como volante, tem dificuldade para se firmar com Ney Franco, mas em 2007, com a chegada de Joel Santana, que enxerga em seu jogo voluntarioso e de alta intensidade atributos ideais para compor a chamada “Tropa de Elite”, Toró volta a ser parte importante do elenco. Nos anos seguintes, o rubro-negro qualifica o plantel e Toró retorna à reserva, mas na reta final do Brasileiro 2009 o jogador vive seu último momento de destaque, ao atuar como titular, em substituição ao lesionado Maldonado, nos jogos que confirmam o Hexacampeonato Brasileiro. No final do ano seguinte, desgastado, transfere-se para o Atlético-MG.


DIEGO SOUZA (2005-2006)

Revelado em Xerém, destaca-se na campanha que dá ao tricolor o Estadual 2005 e o vice-campeonato da Copa do Brasil do mesmo ano. Suas boas atuações lhe rendem uma transferência para o Benfica-POR, mas os portugueses de imediato o repassam ao Flamengo, para um empréstimo por um ano. No rubro-negro, atua como volante e tem participação ativa na milagrosa trajetória que culmina com a fuga do rebaixamento daquele ano. Seu ápice é o belo gol marcado em um Fla-Flu pelo Brasileiro 2005, que confere ao Flamengo o empate em 2-2, em que comemora tirando a camisa, saltando no alambrado e respondendo com gritos e palavrões aos xingamentos que havia recebido da torcida do ex-clube. Mas, apesar da qualidade mostrada, sua história no Flamengo é marcada pela constante briga com a balança, que o faz chegar a ser barrado. Ao final do empréstimo, desmotivado, já é um reserva pouco atuante. Volta ao Benfica, iniciando uma trajetória marcada por passagens em vários clubes e pela adaptação à função de atacante. Atualmente defende o Grêmio.


ROGER FLORES (2007)

Ícone do renascimento do Fluminense, torna-se protagonista na campanha que leva o tricolor da Série C à Primeira Divisão em 1999. No ano seguinte, segue regendo o meio-campo da equipe das Laranjeiras, o que o faz integrar a Seleção Brasileira Olímpica e a ser vendido ao Benfica-POR. Cinco anos depois, integra robusto pacote de reforços levados ao Corinthians por um investidor externo. Mas sua passagem pela equipe paulista é acidentada, com altos e baixos e, após uma lesão que o alija dos gramados por vários meses, é emprestado para o Flamengo, em 2007. No rubro-negro, limita-se a exercer o papel de coadjuvante, incapaz de entregar a intensidade exigida por Joel Santana. Ainda assim, protagoniza alguns momentos, como o gol que decreta a vitória sobre o Corinthians (2-1) no Maracanã, que ajuda a afundar o time paulista rumo à Série B. Ao final da temporada, o Flamengo não renova o empréstimo do jogador, que é repassado ao Grêmio.


CONCA (2017)

Meia revelado pelo River Plate-ARG, chega ao Brasil em 2007, emprestado pelo clube argentino ao Vasco, onde deixa ótima impressão. Mas, em 2008, o Fluminense atravessa o cruzmaltino e contrata o jogador em definitivo, dando início a uma trajetória marcante, que rende um Brasileiro e dois vice-campeonatos continentais ao tricolor. Em 2017, após vários anos no futebol chinês, retorno ao Fluminense e novo contrato na China, é liberado pelo Shanghai SIPG, seu clube, para tratar uma grave lesão de joelho no Flamengo, o que redunda em um contrato de empréstimo por um ano ao rubro-negro. Após vários meses de recuperação, Conca estreia no Brasileiro 2017, numa vitória por 2-0 contra a Ponte Preta. A seguir, atua contra o Paraná Clube, pela Primeira Liga. Nas duas partidas, entra no final e exibe nítida e evidente limitação física. Não retorna mais a campo e, no final do ano, após 27 minutos jogados, é devolvido aos chineses. Pouco depois, encerra a carreira.


THIAGO NEVES (2011)

Joia da base do Paraná Clube e tão talentoso como de temperamento difícil, chega ao Fluminense em 2007, após passagem sem brilho pelo futebol japonês. Não demora a se tornar o principal jogador tricolor, conquistando uma Copa do Brasil e o vice-campeonato da Libertadores 2008 (em que, na Final, marca três gols e perde um pênalti decisivo). Após atuar no futebol alemão, é emprestado em 2011 ao Flamengo pelo Al Hilal-ARA, vindo no pacote de reforços que também traz o astro Ronaldinho Gaúcho. Logo na estreia, marca um gol de placa numa vitória sobre o Vasco (2-1) pelo Estadual 2011, que o Flamengo conquista de forma invicta, sendo Thiago Neves eleito o melhor jogador da competição, o que começa a afastar a rejeição inicial da torcida rubro-negra. No Brasileiro mantém o bom nível das atuações (destaque para o “hat-trick” nos 5-1 sobre o Cruzeiro, no Engenhão), sendo importante na campanha que classifica o rubro-negro para a Libertadores. No final do ano, o Flamengo não consegue adquiri-lo em definitivo e Thiago Neves retorna ao Fluminense, iniciando uma série de passagens controversas por clubes do Brasil.


ROBERTINHO (1983)

Cria da base do Fluminense, torna-se, na virada dos anos 1970/1980, um dos principais jogadores da equipe após o radical corte de investimentos que afasta as estrelas da época da “Máquina de Horta”. Ponta-direita driblador e finalizador, chega à Seleção Brasileira e assume o posto de craque do time com a venda de Edinho ao futebol italiano. Mas, desencantado com a falta de perspectivas nas Laranjeiras, acerta, no início de 1983, sua transferência para o Flamengo. Já na apresentação, impressiona-se com a diferença de estrutura entre os clubes (“mas aqui é muito maior, não tem como comparar”). Participa diretamente da campanha do Tricampeonato Brasileiro, eventualmente como titular. Faz, após bela jogada, o cruzamento para Adílio marcar o gol do título na Final contra o Santos. No entanto, no segundo semestre não resiste à crise decorrente da venda de Zico, cai muito de rendimento e acaba negociado com o Palmeiras. Ainda passa por vários clubes antes de encerrar a carreira, nos anos 1990.


RONI (2007)

Destaque no Vila Nova, ganha projeção atuando pelo Fluminense (1997-2000), em que é considerado um dos poucos jogadores de qualidade de um time indigente e afundado nas Séries B e C do Brasileiro. Seus gols o levam à Seleção Brasileira e a uma transferência para a Arábia Saudita. Em 2007, após rodar por vários clubes (destaque para as positivas passagens por Goiás e Atlético-MG, ajudando este último a retornar à Série A em 2006), é contratado pelo Flamengo. Mas, no rubro-negro, apresenta rendimento irregular, não conseguindo se firmar como titular. Seu grande momento é o gol que decreta o empate (3-3) contra o Botafogo, pela Taça Guanabara. Após a conquista do Estadual, perde ainda mais espaço no esquema de Ney Franco, que faz uso de apenas um atacante (Souza). Assim, para o Brasileiro, é negociado com o Cruzeiro. Encerra a carreira em 2012, após retornar ao futebol goiano.

 

HENRIQUE DOURADO (2018-2019)

Verdadeiro andarilho da bola, ganha o apelido de “Ceifador” durante sua curta passagem pelo Palmeiras, em 2014. Mas é no Fluminense, que defende a partir de 2016, já com 27 anos, que enfim estabelece um laço de identificação maior com uma torcida, que, carente, encanta-se com seus gols e seu temperamento forte. Os bons números no tricolor (termina 2017 como o principal goleador da temporada) chamam a atenção do Flamengo que, precisando de um atacante para substituir Guerrero, contrata Henrique Dourado em definitivo junto ao rival, em 2018. Jogador físico e limitado tecnicamente, não cai nas graças da torcida rubro-negra, sofre lesões e não consegue se firmar, mas ainda assim termina o ano como o maior artilheiro rubro-negro. De positivo, mantém a fama de batedor infalível de pênaltis, tendo convertido todas as penalidades que cobra. No ano seguinte, ainda disputa os primeiros jogos (marca belo gol de bicicleta no Estadual), mas, dentro do processo de reformulação do elenco, é negociado com o futebol chinês.

(Parte 1: Flamengo – Corinthians)