sexta-feira, 17 de março de 2023

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Na esteira da enervante e desnecessariamente prolongada controvérsia resultante da opção do treinador Vitor Pereira em (na prática) trocar o Corinthians pelo Flamengo, trago aqui outros exemplos de jogadores que fizeram o mesmo, seja saindo diretamente do Parque São Jorge para a Gávea, seja vindo depois.

Na lista estão jogadores que, quando chegaram ao Flamengo, detinham forte identificação com as coisas corintianas, sendo o Corinthians o clube ao qual eram associados, mesmo tendo defendido outros clubes (por isso nomes como Rodinei, Willian Arão, Renato Abreu e Bruno, de passagens apagadas pelo alvinegro, não vão aparecer).

Evidentemente a lista não é exaustiva. Fiquem à vontade para mencionar outros exemplos nos comentários.

Esse texto de hoje dá início a uma série, em que transferências semelhantes, com jogadores originários de outros clubes/centros, irão aparecer.

* * *

SÉRIE CAMINHOS DA BOLA

 I

FLAMENGO - CORINTHIANS

FELIPE (2011-2014)

Revelado pelo Vitória, destaca-se atuando pelo Corinthians, onde conquista um Campeonato Paulista e uma Copa do Brasil, ambos em 2009. Mas, de temperamento difícil, desentende-se com a Diretoria do clube alvinegro e, em 2010, transfere-se para o Braga-POR, que no ano seguinte o empresta ao Flamengo. Já na estreia defende um pênalti, em um amistoso contra o Londrina. No Estadual 2011, é protagonista nas vitórias nos pênaltis contra Botafogo e Fluminense, ratificando sua fama de “pegador de penais”. No entanto, problemas de concentração e relacionamento o fazem oscilar, a ponto de perder temporariamente a posição para o jovem Paulo Vitor. Em 2013 se recupera e vive seu melhor momento no Flamengo, com atuações espetaculares e decisivas para o título da Copa do Brasil, que o fazem ser especulado na Seleção Brasileira. Inicia bem a temporada seguinte (ganha mais um Estadual), mas, com o retorno de Vanderlei Luxemburgo (com quem se desentendera em 2012), perde espaço e, fora dos planos, tem seu contrato rescindido no início de 2015.

ROGER GUERREIRO (2004)

Lateral-esquerdo que surge no São Caetano que surpreende o país em 2000, dois anos depois é contratado pelo Corinthians, onde se firma como titular e ganha títulos nas temporadas de 2002 e 2003. No entanto, acaba marcado pela expulsão no jogo que elimina o alvinegro da Libertadores 2003 (derrota, 1-2, no Pacaembu para o River Plate-ARG). Em 2004, indicado por Júnior, a quem chamou atenção na curtíssima passagem do Maestro como treinador no Parque São Jorge, é emprestado ao Flamengo. Esforçado mas visivelmente limitado, enfrenta desconfiança inicial da torcida rubro-negra (chega a ser vaiado), mas se recupera de jeito inusitado, ao se tornar, com dois gols, o herói da espetacular virada (4-3) sobre o Fluminense no Estadual (o “Fla-Flu da Poeira”). Logo depois, marca, contra o mesmo adversário, o gol do título da Taça Guanabara, o que o faz ser chamado de “carrasco”. Não satisfeito, ainda anota outro gol em um Fla-Flu pelo Brasileiro do mesmo ano. Sem condições de renovar o empréstimo ou adquirir os direitos do jogador, o Flamengo acaba ficando sem Roger, que é repassado ao Celta-ESP. O lateral acaba vivendo o auge da carreira no futebol polonês, onde chega à Seleção local. Na curta passagem pelo Flamengo, conquista uma Taça Guanabara e um Estadual.

FÁBIO LUCIANO (2007-2009)

Projeta-se na Ponte Preta, mas é no Corinthians, entre 2000 e 2003, que se estabelece como um dos principais zagueiros em atividade no Brasil. Vigoroso e muito bom no jogo aéreo, realiza vitoriosa passagem pelo clube paulista, o que lhe vale uma transferência para o futebol turco. Em 2007, sofre com sérios e recorrentes problemas de lesão, e o Flamengo, que vive grave problema técnico no seu plantel de zagueiros, resolve apostar no experiente jogador. Logo na estreia, marca de cabeça o gol que abre caminho para uma suada virada contra o Náutico (2-1) no Maracanã. A seguir, toma conta da zaga e se torna uma das lideranças e principais nomes do time que arranca de forma espetacular para o 3º Lugar no Brasileiro, que dá ao Flamengo uma vaga na Libertadores. Conquista os Estaduais de 2008 e 2009, ano em que, minado pelos problemas físicos que já comprometem seu desempenho, anuncia sua aposentadoria dos gramados.

CHICÃO (2013-2014)

Após passar por vários clubes, destaca-se no Figueirense, o que chama a atenção do Corinthians, que o contrata dentro do processo de renovação do elenco iniciado em 2008. É peça importante no mais vitorioso período da história do clube paulista, atuando quase sempre como titular e líder da equipe, embora seu temperamento forte lhe renda algumas desavenças. Já veterano, vê seu ciclo no Corinthians se encerrar e é contratado pelo Flamengo em 2013, para trazer liderança a um elenco jovem. Na estreia, marca um gol de falta (é exímio cobrador), num empate (1-1) contra o Goiás pelo Brasileiro. Faz boa temporada, conquistando a Copa do Brasil, mas no ano seguinte começa a apresentar acentuada queda de rendimento, chegando a ser barrado. No final de 2014 encerra seu vínculo com o Flamengo, passando a defender o Bahia.

ANDRÉ SANTOS (2013-2014)

Chega a atuar pelo Flamengo, sem brilho (mal consegue ser titular), entre 2005 e 2006, emprestado pelo Figueirense. Em 2008, o lateral desembarca no Corinthians, onde atinge o ápice da carreira, conquistando títulos, convocação para a Seleção Brasileira (quase vai à Copa de 2010) e uma transferência para o futebol europeu, em 2009. Após algumas temporadas, retorna ao Brasil e em 2013, por indicação do treinador Mano Menezes (com quem trabalhou no alvinegro paulista), é contratado pelo Flamengo. Apesar dos evidentes problemas defensivos e da falta de intensidade, André Santos se torna uma das principais armas na construção de jogadas do ataque rubro-negro, e é uma peça-chave na conquista da Copa do Brasil (já sob Jayme de Almeida). Mas no fim do ano é protagonista involuntário de uma controvérsia envolvendo sua escalação no último jogo do Brasileiro, contra o Cruzeiro, que faz o Flamengo perder pontos. No ano seguinte, é tragado pela desmotivação decorrente da eliminação precoce na Libertadores 2014 e cai assustadoramente de rendimento, o que faz com que seja perseguido pela torcida (chega a ser agredido). Com o time ameaçado pelo rebaixamento, não tem seu contrato renovado e segue sua carreira atuando em clubes sem expressão.

ELIAS (2013)

Após passagens sem brilho em outros clubes, surge como destaque na Ponte Preta que chega ao vice-campeonato paulista de 2008. A seguir, é contratado pelo Corinthians, seu clube de coração, onde rapidamente ganha projeção com seu futebol intenso e de boa técnica, além da facilidade em chegar à frente e chutar (com força) a gol. Após dois anos bem-sucedidos, o caminho natural é a saída para a Europa. No entanto, passagens apagadas no Atlético Madrid-ESP e no Sporting-POR fazem com que, em 2013, seja emprestado pelos portugueses ao Flamengo. No rubro-negro, torna-se referência técnica e, já no final da temporada, lidera o time na jornada da conquista da Copa do Brasil (destaque para o catártico gol que elimina o Cruzeiro, no Maracanã, nas Oitavas de Final). Termina o ano como o principal jogador da equipe, mas o Flamengo, vivendo severo processo de reestruturação, não consegue, mesmo após longa e arrastada negociação, mantê-lo. Elias retorna ao Sporting-POR e, anos mais tarde, volta a atuar com destaque pelo Corinthians. Ainda defende Atlético-MG e Bahia antes de encerrar a carreira.

SÓCRATES (1985-1987)

Assombra a cena esportiva paulista ao despontar como artilheiro do Campeonato Estadual de 1976 e, no ano seguinte, levar o modesto Botafogo-SP ao terceiro lugar da competição. Seu desempenho impressionante o leva a se transferir, em 1978, para o Corinthians. No Parque São Jorge, atuando um pouco mais recuado como ponta de lança, rapidamente se torna o craque do time, o principal jogador em atividade em São Paulo e titular incontestável da Seleção Brasileira. Após conquistar três Estaduais (1979, 1982 e 1983) e ser o expoente de uma Era em seu clube, segue para a Fiorentina-ITA em 1984. Mas, avesso a treinamentos e com baixa resistência física (é notório fumante), não se adapta na Europa e, já em 1985, está de volta ao Brasil. É disputado por vários clubes, chega a ser anunciado pela Ponte Preta, mas assina mesmo com o Flamengo, onde é recebido com festa. No entanto, fratura o tornozelo no último treino antes do Fla-Flu que marcaria sua estreia, perdendo todo o restante da temporada. No ano seguinte, após alguns amistosos, enfim realiza o desejo de atuar junto com Zico no Maracanã lotado, também em um Fla-Flu, na abertura do Estadual 1986, em que o Flamengo vence por 4-1 (com show do Galinho). Após a disputa da Copa do Mundo, submete-se a uma cirurgia de hérnia de disco, o que o tira dos gramados por mais alguns meses. Retorna no final de 1986, exibindo em alguns jogos lampejos de seu talento exuberante (destaque para atuações contra Goiás e Vitória). Mas, no início de 1987, desentende-se com o treinador Sebastião Lazaroni, que deseja tornar a equipe mais jovem e intensa. Após ser barrado, resolve deixar os gramados. No ano seguinte ainda ensaia breve retorno ao Santos (seu clube do coração), sem brilho.

MARQUES (1996)

Destaque na Copa São Paulo 1993 (vice-campeão), defende o Corinthians até 1995, conquistando um Estadual e uma Copa do Brasil. Versátil, capaz de atuar nas três posições do ataque e mais recuado, veloz e bom finalizador, é daqueles jogadores utilitários que nunca saem do time. Mas, em 1996, o Corinthians deseja montar uma equipe de protagonistas e o empresta ao Flamengo, numa transação que envolve a ida do atacante Edmundo ao Parque São Jorge. Em princípio, a chegada de Marques é considerada desnecessária, em um time que já conta com Romário e Sávio, além dos recém-contratados Amoroso e Iranildo para o meio. Mas Marques rapidamente conquista uma vaga de titular absoluto no onze de Joel Santana, que conquista o Estadual invicto. Seu grande momento é o gol da vitória no Fla-Flu da Taça Rio, em que o Flamengo termina com 9 jogadores em campo. O bom desempenho de Marques o leva à Seleção Brasileira, mas, ao final da temporada, o Flamengo não consegue comprar o passe do jogador. Marques ainda passa por alguns clubes, mas é no Atlético/MG que seu bom futebol enfim consegue encontrar protagonismo e idolatria.

EDÍLSON (2000-2001, 2003)

Quando chega ao Corinthians em 1997, já é um jogador consolidado por passagens marcantes e vitoriosas por Guarani e Palmeiras. No alvinegro chega ao auge da carreira, conquistando títulos expressivos e encantando a torcida com seu futebol brejeiro e irrequieto (destaque para as embaixadinhas na Final do Paulista 1999). Mas, em 2000, não resiste ao trauma gerado pela segunda eliminação seguida na Libertadores para o rival Palmeiras e, desgastado, aceita proposta do Flamengo, que vence acirrado duelo com o Vasco e traz o Capetinha para a Gávea. Edílson é uma das poucas contratações da “Era ISL” que trazem retorno em campo. Mais que isso, é o principal jogador da equipe no primeiro semestre de 2001, sagrando-se artilheiro no Estadual, em que o Flamengo de Zagallo conquista o Tricampeonato. Também é destaque na conquista, a seguir, da Copa dos Campeões. Mas os problemas de relacionamento com jogadores como Petkovic, além do verdadeiro caos interno vivido no rubro-negro, minam seu desempenho. Cai em desgraça ao ser expulso no primeiro jogo da Final da Mercosul 2001 contra o San Lorenzo-ARG e, no ano seguinte, é emprestado ao Cruzeiro. Em 2003, ainda vinculado ao Flamengo, retorna de outro empréstimo (dessa vez ao Kashiwa Reysol-JAP), e chega à Final da Copa do Brasil (irrita torcida e dirigentes ao provocar, sem necessidade, jogadores do Cruzeiro antes da Decisão), além de mostrar bom desempenho no Brasileiro. No entanto, entra em colisão com a Diretoria que assume o Flamengo em 2004 e é negociado com o Vitória.

CASAGRANDE (1993)

Desde as divisões de base do Corinthians mostra implacável faro goleador e um temperamento forte e contestador, o que o leva a ser emprestado à Caldense-MG em 1981. Sua temporada na equipe mineira é tão boa que, no ano seguinte, Casagrande é reintegrado ao elenco corintiano, onde, mesmo bastante jovem, não demora a conquistar o posto de centroavante titular. Um dos líderes do movimento conhecido como “Democracia Corintiana”, vive seu melhor momento no Corinthians nas temporadas de 1982 e 1983, em que conquista o Bicampeonato Estadual. Mas a facilidade em se envolver em confusões faz com que se desgaste no clube (chega a ser emprestado ao São Paulo) e, em 1986, é vendido ao Porto-POR. Após bem-sucedida trajetória na Europa, volta ao Brasil em 1993, contratado pelo Flamengo para repor a saída do ídolo Gaúcho. Tem bom desempenho e agrada mostrando espírito de luta e gols pelo Brasileiro e Supercopa Libertadores, mas se desencanta com o sufocante final da temporada, em que o rubro-negro chega a atuar a cada 48 horas sob o escaldante sol do verão carioca. No final do ano, pede rescisão do contrato, desejando voltar ao Corinthians, sensibilizado por ter sido ovacionado pela torcida alvinegra em um jogo no Pacaembu. Ainda atua por duas temporadas no clube paulista e encerra a carreira depois de fugaz passagem no futebol baiano.

GUERRERO (2015-2018)

Chega ao Corinthians após sólida passagem pelo futebol alemão (onde permaneceu por dez anos) e, no clube paulista, torna-se fundamental na conquista do principal título da história do alvinegro. No entanto, severas divergências não são superadas após longo e arrastado processo de renovação contratual e, em 2015, o atacante é liberado para procurar outro clube. Acaba acertando com o Flamengo, numa contratação que traz forte efeito simbólico e sinaliza que a reestruturação rubro-negra começa a produzir resultados concretos. Seu início no rubro-negro é fulminante, com três gols nas três primeiras partidas. No entanto, Guerrero, tímido e introspectivo, jamais consegue exercer o protagonismo que a carente torcida rubro-negra (que chega a lhe dedicar uma música) espera. Ademais, o peruano “some” em alguns jogos de maior importância (em especial, contra o Vasco), o que aumenta a sensação de frustração. Seu melhor momento é o Estadual de 2017, em que termina como campeão, artilheiro e melhor jogador da competição, mas o naufrágio da equipe em competições de maior porte, também aliado às recorrentes divergências surgidas no processo de liberação e retorno de convocações à Seleção Peruana, contribuem para intensificar a rejeição de boa parte da torcida. No final de 2017, é suspenso por doping detectado quando defendia a Seleção, desfalcando o Flamengo por vários meses. Retorna em 2018, mas a ratificação e ampliação do tempo da suspensão decretam o final de sua passagem pelo clube. Apesar da boa média de gols e assistências, sai sem deixar saudades, passando a defender o Internacional.