Saudações flamengas a todos,
Em que pese o ritmo bastante lento da equipe ser natural, dado o estágio inicial da temporada, onde a questão física é sempre relevante, o treinador e o elenco ainda estarem se conhecendo e, a rigor, o foco real esteja nos jogos decisivos da sequência que iniciará dia 28 próximo, penso ser interessante pontuar algumas questões observadas nessas duas e na partida de estreia, contra o Audax (este, com os jovens egressos da base), para discussão e observação.
O NÍVEL DA BASE
O primeiro aspecto que chama a
atenção relaciona-se com o nível dos jogadores que estão compondo o “time
alternativo” do Flamengo. Para isso, invoca-se as escalações utilizadas nas
estreias de 2018 a 2021:
2018 (2-0 Volta Redonda): Gabriel
Batista, Klebinho (Dantas), Thuler, Patrick, Ramón; Jonas, Ronaldo, Jean Lucas
(Jajá), Pepê (Hugo Moura); Lucas Silva, Wendel (Vitor Gabriel);
2020 (0-0 Macaé): Gabriel
Batista, Matheuzinho, M Dantas (Pepê), Rafael Santos, Ramón; Hugo Moura,
Vinição, Yuri Cesar, Luiz Henrique; Lucas Silva (Rodrigo Muniz), Vitor Gabriel
(Wendel);
2021 (1-0 Nova Iguaçu): Gabriel
Batista, Matheuzinho, Noga, Natan, Ramón; João Gomes, Daniel Cabral (Max), Yuri
Oliveira (Mateusão), Lázaro; Thiaguinho (Gabriel), Rodrigo Muniz;
Perceba-se que em cada escalação
é possível encontrar uns quatro ou cinco jogadores que se mostraram capazes de,
ao menos, participar de jogos no profissional, mesmo sem necessariamente reunir
capacidade de figurar na equipe titular (ou mesmo reserva recorrente). Mas a
mínima condição de, ao menos “tapar um buraco” existia.
Matheus Cunha, Wesley, Noga, Cleiton,
Ramón; Igor Jesus, Victor Hugo (Everton Araujo), Matheus França (Lorran);
Thiaguinho, Mateusão (André), Werton (Petterson);
Desse time que atuou contra o
Audax, quantos jogadores reúnem condição de pertencer ao elenco do Flamengo? Ou
de sequer serem úteis como solução contingencial?
A ATITUDE EM CAMPO
É bem verdade que a condição física
não era das melhores, como já pontuado. Início de preparação, “perna presa”,
coisas que se sabe que atrapalham. Não surpreende, por exemplo, outras equipes grandes
brasileiras também estarem às voltas com resultados ruins. O que não tem nada a
ver com evidências de certa indolência e preciosismo mostrados domingo passado
e, especialmente, na quarta. Com efeito, só na primeira etapa contou-se quatro/cinco
toquinhos desnecessários de letrinha ou calcanhar, um deles desferido pelo intrépido
Leo Pereira que, não surpreendendo, redundou na mais clara chance de gol do
adversário, em um contragolpe de escanteio.
Já se teorizou e ponderou sobre uma
suposta má vontade do elenco nessas partidas muquiranas de Estadual que, de
fato e a rigor, pouco ou nada agregam. Mas elas estão aí, e o Estadual é uma
poderosa máquina de crises, capaz de produzir as mais incômodas tormentas.
Então, convém levar minimamente a sério.
ATITUDE FORA DE CAMPO
Os três jogos do Flamengo no Estadual
guardaram certa semelhança, no sentido de que o rubro-negro enfrentou
adversários que praticaram um jogo ríspido, truculento e mesmo violento. Todos,
sem exceção, sob a complacência de arbitragens, no mínimo, negligentes ou
incompetentes para coibir o antijogo. O de Cariacica, aliás, não só deixou de
impedir como estimulou a cera e o sebo do adversário, inventando motivos
inusitados para chamar a paralisação do jogo.
Imaginava-se que arbitragens
maliciosas ou inadequadas haviam ficado em um passado enevoado pelas brumas de
um charuto que se apagou. Mas não parece ser o caso. Cumpre aos membros da
Diretoria do Flamengo, tão alertas para defender pautas que lhes convêm, atuar
no sentido de, ao menos, proteger seu patrimônio milionário. Porque não será
nada bom imaginar perder algum jogador do milionário plantel campeão
continental por ter sido abatido a patadas em algum confronto contra um sparring
rural.
VITOR PEREIRA E O ELENCO
A despeito da visível irritação
provocada pelas alterações promovidas pelo Genro da Nação, especialmente na
noite de quarta, as explicações dadas pelo Quincas na coletiva soaram um tanto
convincentes, por enquanto.
A cautela no uso de Pedro e
Everton Ribeiro e a falta de opções para a lateral-esquerda (cadê a base?) acabaram
fazendo com que soluções extravagantes fossem tentadas, como o uso de Marinho
na lateral-esquerda e a tentativa com o inexplicável Mateusão.
Um parêntese. Mateusão é daqueles
camaradas que apresentam severos problemas de relacionamento com a bola, que
lhe é estranha, fria, até hostil. Isso não seria um entrave maior, haja vista
que outros jogadores, também indiferentes aos encantos da pelota, lograram
alguma projeção neste abrangente mundo da bola (Dario Dadá, Jardel, Souza
Caveirão, entre tantos outros). Mas a dificuldade de posicionamento e a falta da
fome e da tarimba de finalizador o colocam em um nível similar ao dos esquecíveis
expoentes do comando do ataque flamengo de 2004 e 2005. Sim, nosso simpático
Mateusão teria dificuldades em se fixar como titular em uma eventual disputa de
posição com os inesquecíveis Negreiros, Josafá, Dill, Whelliton e Dimba. Donde,
insistir com o rapaz será malhar em ferro frio.
Entende-se que o momento de testar
e avaliar determinados nomes é, de fato, este. Mas que Vitor Pereira não abuse
da prerrogativa. É desnecessário recordar que o excesso de testes e invenções foi
um dos fatores que minaram a passagem do triste romântico Paulo Sousa. Que o
Quincas da vez tenha isso em mente quando pousar os olhos em seu banco de
reservas novamente.
GUILLERMO VARELA
Não pretendo engrossar as
vozes que marretaram com força as atuações do limitado lateral uruguaio nas
duas primeiras partidas do ano. Também é desnecessário repisar as evidentes
dificuldades apresentadas pelo jogador nos movimentos ofensivos, com os quais
demonstra nítida falta de familiaridade. Como defensivamente, nessas partidas,
quase não houve teste, dado o baixíssimo nível dos adversários, fica a imagem
dos inúmeros cruzamentos errados e dos irritantes corrupios laterais e para
trás, interrompendo ataques promissores.
A questão, a meu ver, passa pelo
fato de que, em contextos que demandarão uma postura mais agressiva e ofensiva
da equipe, Varela é a peça errada. Jamais terá a condição de emular o papel de
Rodinei ou de outros laterais ofensivos de equipes flamengas pretéritas. Para
que seja útil, deverá ser escalado em outro contexto ou desenvolvendo outra
função, bem mais conservadora. O que demandará a presença de um jogador mais agudo
no meio ou no ataque, que seja capaz de ocupar esse corredor pelo lado direito.
Esse jogador existe no elenco? Pouco provável (não, Marinho não me parece essa
opção).
De qualquer forma, seria
interessante Vitor Pereira pensar em utilizar o jogador de uma maneira mais
adequada à sua forma de jogo (nem que isso signifique sacá-lo em detrimento de Matheuzinho,
outro que não empolga). Do contrário, o risco de derretê-lo será real e
palpável.
Porque, se a torcida do Flamengo
é inigualável, ela também não perdoa aqueles com quem cisma.