Olá, Buteco.
Aproxima-se a temporada 2023, Vitor Pereira já foi anunciado e muitas questões são levantadas a respeito de como se comportará à frente do time do Flamengo.
Trago aqui, então, algumas informações e reflexões, pra tentar temperar o debate.
Fim do Time B?
Imaginei que a experiência rubro-negra de montar dois times distintos, da maneira como foi realizada em 2022, havia ido embora com o Dorival, mas o Flamengo vai iniciar 2023 enfrentando, mais uma vez, um grande problema de calendário.
Convém transcrevermos as informações de @matheusleal1 e de @mvpcastro, postadas pelo TAkumi em 16/12, a respeito das datas do mundial de clubes e de seus possíveis efeitos sobre o calendário do Flamengo:
@matheusleal1:
A Fifa anunciou que o Mundial de Clubes será realizado em Marrocos, entre os dias 1 e 11 de fevereiro de 2023. Sendo assim, a Recopa Sul-Americana terá que ser remarcada. Inicialmente, Flamengo e Del Valle jogariam nos dias 8 e 15 de fevereiro.
Antes de embarcar para o Mundial de Clubes, o Flamengo entra em campo pela Supercopa do Brasil. A partida contra o Palmeiras está marcada para o dia 28 de janeiro.
@mvpcastro:
O Flamengo deve jogar sua semifinal (do mundial) no dia 07 de fevereiro, terça.
Dentro de uma normalidade, faz os seis primeiros jogos do Carioca (que podem ser mexidos porque tem Supercopa 28 de janeiro), viaja.
Joga o Mundial e aí tem três clássicos seguidos pelas três últimas rodadas.
E aí vai ter uma data para repor essas várias rodadas perdidas entre Supercopa e Mundial, que é a do sábado de Carnaval. Acho que vamos ver algumas sequências de 4 jogos numa semana (sab-ter-qui-dom), o que não é problema para quem pode montar dois times. É até bom pra preparar.
O que fica ruim é a Recopa que, pelo visto, vai acabar sendo jogada junto com as semifinais do Carioca, que já são jogos com maior relevância e mais difíceis. A alternativa seria jogar nos dias 22 e 29, começando a Recopa na quarta de cinzas, como foi em 2020. Aperta muito, mas dá.
Reparem que @mvpcastro levanta a hipótese de, pelo menos nessa fase inicial do calendário de 2023, mantermos dois times distintos:
“Acho que vamos ver algumas sequências de 4 jogos numa semana (sab-ter-qui-dom), o que não é problema para quem pode montar dois times. É até bom pra preparar.”
Voltemos à experiência do Dorival, de formação de dois times distintos.
Ela tinha uma premissa de priorização das copas e de não priorização do Brasileirão, premissa que só foi aceitável na circunstância excepcional que o Flamengo vivia no meio da temporada de 2022.
E, assim mesmo, aceitável apenas para uma parte da torcida porque, quando Dorival escalou o time B pra enfrentar o Palmeiras no dia 21/08, choveram críticas que permaneceram e se ampliaram nos meses seguintes, principalmente quando a carruagem do futebol do Flamengo começou a assumir jeitão de abóbora (felizmente as decisões da Copa do Brasil e da Copa Libertadores aconteceram antes do relógio marcar meia-noite).
Viajemos um pouco no tempo (licença aí, Gardner):
No dia, 16/07, pouco depois do Dorival conseguir formar o time que sapecou 7 a 1 no Tolima e que viria a conquistar o tri da Libertadores, postei o seguinte comentário no Buteco:
"Desde a era do cometa JJ eu sonho com a formação, pelo Flamengo, de um bom time B.
Dorival vem mostrando que, com um treinador razoável, o Flamengo consegue ter um time titular capaz de boas atuações, mas, para um clube poder brigar pelas três principais competições, não basta ter um bom time A, é preciso ter um time B capaz de ser competitivo, pelo menos nos jogos teoricamente mais fáceis.
JJ poupava pouco os titulares, em parte por ser o jeito dele trabalhar, em parte porque não tínhamos um banco de reservas forte.
Dorival vem poupando mais do que JJ, mas não sei se finalmente conseguirá formar o time B com que sonho."
Ensaiei, na época, possíveis formações dos times A e B, mas isto não importa agora.
O que acho que importa é constatar que, ressalvado o exagero circunstancial de disputar todo o Brasileirão com o time B, Dorival provou que, tendo elenco pra isso e sob condições muito bem estudadas, é possível formar um time B apto a disputar os jogos "teoricamente mais fáceis" (e não todo o Brasileirão).
Entendo que essas "condições muito bem estudadas" precisam incluir, como premissa inegociável, a priorização do Brasileiro e da Copa Libertadores e, dentre outras coisas, estudo do calendário, sequências de adversários, preservação de jogadores e possibilidades de ajustes táticos de cada formação que venha a ser usada pelo treinador.
Como eu disse, imaginei que a experiência de montagem de um time B fixo não seria repetida, pelo menos não na temporada 2023,em que Vitor Pereira é o treinador anunciado pelo Flamengo.
Esperava que nosso novo treinador promovesse rodízios do time, sem se fixar em duas formações "titulares", uma para o time A, outra para o time B, mas uma reportagem do Fred Huber, no GE.com, indica que, preocupado com a preservação física dos jogadores, Vitor Pereira chegou a usar um time B no Corinthians, com resultados que desagradaram. Transcrevo:
“O treinador se assustou com o calendário em seu primeiro ano de Brasil. Teve dificuldades para administrar as cargas e viu jogadores sofrerem lesões. Isso fez com que adotasse algumas estratégias diferentes do início de sua passagem, poupando muitos jogadores e perdendo pontos importantes por enfraquecer demais o time. No Brasileirão, perdeu praticamente todos os jogos em que escalou um “time B” antes de jogos importantes pela Libertadores ou Copa do Brasil. Certamente aprendeu bastante com essa situação no Corinthians e poderá usar essa experiência a seu favor, no Flamengo.”
Então, levando em conta a forte pressão de calendário no início da temporada, não podemos descartar a hipótese de Vitor Pereira usar um time B, salvo se a experiência ruim no Corinthians tiver sido bem aprendida, levando-o a tentar alternativa menos radical.
Considero que o desafio de fazer um rodízio de jogadores sem formação de times A e B distintos é maior do que o imposto pela divisão do elenco em dois times.
A estratégia de divisão adotada pelo Dorival, inaceitável num ano normal porque o Flamengo não pode colocar o Brasileirão em segundo plano, não tornou fácil o trabalho dele, porque treinar dois times distintos simultaneamente não é tarefa simples, mas trouxe alguma simplificação quanto à gestão do elenco, por ser um revezamento de dois times, não um rodízio cheio de quebra-cabeças, com um time diferente a cada jogo.
Acho que, ante a severidade do calendário do futebol brasileiro, esse revezamento de dois times tem algumas virtudes, já que neutraliza ou reduz eventuais insatisfações, porque todo mundo joga, define bem a missão de cada grupo (copas para o "time A" e melhor posição possível no Brasileiro para o "time B"), poupa de maneira muito sistemática os jogadores, reduzindo a frequência e gravidade das lesões, e até pode gerar algum ganho de entrosamento de cada time.
Em 2022, o Flamengo colheu alguns desses benefícios, inclusive o da chegada ao final da temporada com quase todo o elenco em condições físicas razoáveis, algo que certamente ajudou na conquista de dois grandes títulos.
O problema é que, num ano normal, quando levamos em conta a necessidade de priorização do Brasileirão (rodadas aos sábados e domingos) e da Libertadores (rodadas em meio de semana), fica inviável o revezamento simplificado que Dorival adotou em 2022 porque, quando há rodada da competição sul-americana, o time A precisa jogar Brasileirão, no sábado ou no domingo, e jogar Libertadores, na quarta-feira.
No que diz respeito aos primeiros meses da temporada 2023, o desafio de Vitor Pereira também será grande, não apenas pelas decisões que precisará jogar a partir do fim de janeiro (jogo da Supercopa em 28 de janeiro), como pela obrigação de uso de titulares no campeonato carioca, lembrando que o Flamengo negociou cota diferenciada para transmissão de jogos e que isto impõe ao clube a contrapartida de valorizar a competição, não usando sempre o sub20.
Olhando toda a temporada, não apenas os meses iniciais, consideroque o desafio do Vitor Pereira, no que tange à gestão do elenco, tende a se configurar como mencionei em meu comentário de 16/07/22:
“...para um clube poder brigar pelas três principais competições, não basta ter um bom time A, é preciso ter um time B capaz de ser competitivo, pelo menos nos jogos teoricamente mais fáceis.”
Entendo que, para o Flamengo brigar com boas chances nas seis grandes competições que disputará em 2023 (Supercopa, Recopa, Mundial, Brasileirão, Copa Libertadores e Copa do Brasil), precisará montar um time A sempre forte e com rodízio frequente de jogadores e montar, para os jogos menos críticos, um time B capaz de ser competitivo.
Este é, a meu ver, o desafio de Vitor Pereira e, ao enunciá-lo, me dou conta de que se trata de um desafio gigantesco porque, por mais que nosso treinador esteja inspirado e por mais que a vontade do torcedor sempre seja ver o Flamengo campeão da porra toda, não temos e acho que não teremos elenco, em 2023, para tantas conquistas.
Então, assim como foi feito em 2022 e como sempre será necessário, o Flamengo vai ter que estabelecer prioridades.
Espero que o Brasileirão e a Libertadores estejam entre as principais. Sempre.
E o Quarteto “Intocável”?
Não há como pensarmos em 2023 e no trabalho do Vitor Pereira sem falarmos da manutenção, ou não, do quarteto Everton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Pedro, intocável na era Dorival, e das possíveis reações do elenco às mudanças que Vitor Pereira queira promover.
Quanto à manutenção dos quatro “intocáveis”, creio ser necessário falarmos em tese, já que iniciaremos o ano com uma janela de transferências aberta, algo que pode quebrar o quarteto sem que VP precise queimar neurônios para solucionar essa questão que, a depender de como seja conduzida e das reações que produza, pode vir a ser um problema para o treinador e para o clube.
E, ao falar em tese, parto do pressuposto de que os quatro permanecerão no Flamengo e que a eles se juntarão Cebolinha e Bruno Henrique, como possíveis candidatos a vagas no time "titular".
Escrevo "titular" entre aspas porque não consigo mais pensar em formação de times pelo Flamengo em que apenas onze jogadores sejam considerados titulares.
Valho-me, aqui, do parágrafo final postado pelo Leandro Machado na coluna "A Copa 2022 e o Flamengo 2023":
"Se vai jogar A ou B, C ou D, pouco importa. Aliás, com o número de jogos que temos em cada temporada, esse não deveria nem ser mais tema de debate. Me parece natural que um time que sai a jogar quarta-feira no Equador, contra o Emelec, não deva ser repetido, na íntegra, sábado à tarde, no calor de Fortaleza. A solução de Dorival foi trocar o time todo, abandonando o Brasileirão. Funcionou, ganhamos as duas Copas. Mas o custo é muito alto para ser repetido novamente. É preciso encontrar outra fórmula, porque disputar o campeonato nacional à vera deve ser objetivo perene."
Leandro definiu bem o contexto (número de jogos, viagens, sequências de adversários, necessidade de retorno do Brasileirão como prioridade do Flamengo) e pediu uma nova fórmula que, como comentei na primeira parte deste post, certamente deverá incorporar um rodízio permanente de jogadores, com seus desafios de ajustes táticos de cada formação e de aceitação de banco de reservas por estrelas "graduadas" do elenco.
Sem Mimimi
Existe no Buteco um debate recorrente sobre o comportamento do elenco do Flamengo, em que surgem considerações como paternalismo dos dirigentes, mimimis de jogadores, apetite saciado quanto a conquistas de títulos porque já ganharam tudo...
Como expus na coluna “Elencos Mimados ou Lideranças Inadequadas”, identifico, na eventual presença desses fatores,inadequação do trabalho de liderança desenvolvido no clube, citando, como exemplo oposto, a passagem de Jorge Jesus pelo Flamengo.
É certo que, quando ele dirigiu o Flamengo, o grupo ainda não tinha conquistado tudo, o que pode ter facilitado um pouco o trabalho do Mister, mas quem atribui tanto peso a esse fator pode estar esquecendo que, antes da chegada do português, numa época em que o Flamengo só conseguia ganhar o campeonato carioca, havia grandes queixas no Buteco pela existência do tal Fla-Blasé.
Como mencionei na referida coluna, na minha experiência de gestor de equipes aprendi que, em equipes vencedoras, seus integrantes tendem a se subordinar ao que eu chamo de “hierarquia do projeto”, aquilo que faz com que cada um esteja disposto a abrir mão de posições, pontos de vista e interesses pessoais, em favor do resultado coletivo.
Foi o que vi acontecer no Ano Mágico produzido por Jorge Jesus.
E é o que eu espero que Vitor Pereira consiga reacender no grupo para que, ao longo de 2023, os jogadores do Flamengo se mantenham motivados pela busca de grandes títulos e para que cada jogador que vá para o banco se coloque a serviço do grupo, sem mimimi.
Saudações Rubro-Negras.
Carlos César Ribeiro Batista