Argentina 0x0 Brasil, 18/6/1978. A "Batalha de Rosário". Com a bola, o camisa 8 Zico, que substituiu Jorge Mendonça, cercado por Galván (7), Gallego (6) e Daniel Passarela (19) |
Para essa viagem, embarquei a Máquina do Tempo do Buteco, sempre pilotada pelo nosso amigo Gardner, e nossa primeira parada é a Copa do Mundo de 1974. Porém, desde logo advirto-os: se eu contasse alguma coisa a respeito dos (aparentemente) enfadonhos 0x0 contra Iugoslávia e Escócia, da goleada sobre o Zaire (3x0), das vitórias sobre Alemanha Oriental (1x0) e Argentina (2x1), ou mesmo sobre a fatídica derrota para a Holanda (0x2), estaria simplesmente mentindo.
Isso porque, Amigos, a minha primeira memória sobre futebol remonta ao dia 6 de julho de 1974, sábado, em um apartamento da SQS 106, em Brasília. Meu pai, com uma expressão severa, claramente aborrecido, assistia a uma partida que eu sabia ser da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Pouco me recordo do diálogo. O que sobrou de lembrança foi a pergunta se o Brasil estava ganhando e a resposta enviesada de que estava 1x0 para o time que, na tela do televisor, jogava de vermelho.
6/7/1974. Após o erro de Marinho Péres, o camisa 10 polonês Lato avança e supera Alfredo e Marinho Chagas para marcar o gol da vitória por 1x0 sobre o Brasil, pelo 3º lugar da Copa do Mundo de 1974. |
Sem muito mais o que contar por aqui, vamos seguir viagem.
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3 de junho de 1978, Brasil 1x1 Suécia. Sjöberg (37') e Reinaldo (45') Da esquerda para a direita, de pé: Toninho (Flamengo), Leão (Palmeiras), Edinho (Fluminense), Amaral (Corinthians), Oscar (Ponte Preta) e Batista (Internacional). Da direita para a esquerda, agachados: Gil (Botafogo), Zico (Flamengo), Reinaldo (Atlético/MG), Rivellino (Fluminense) e Toninho Cerezo (Atlético/MG) |
Nossa próxima parada, naturalmente, situa-se no tempo exatamente a quatro anos depois de 1974. Aqui, sim, posso afirmar a vocês que foi a primeira Copa que eu realmente acompanhei, desde a primeira até a última partida do Brasil, além de alguns jogos de outras seleções. Falar em Copa do Mundo de 1978, no meu caso, é chamar lembranças como a vitória da Itália por 1x0 sobre a Argentina na fase de grupos (gol de Bettega após passe de letra de Paolo Rossi, aquele...), e a surpreendente Tunísia, que venceu o México e arrancou um empate com a Alemanha Ocidental, só perdendo para a Polônia.
Dos jogos do Brasil, logo vêm à memória as polêmicas quanto à titularidade do Zico, bem como o sentimento de indignação com o árbitro Clive Thomas (País de Gales) e a anulação do gol marcado pelo Galinho de Quintino no último lance do jogo de estreia, contra a Suécia. A comemoração típica de Reinaldo, com o punho direito cerrado apontando para cima, após marcar o gol de empate neste mesmo jogo, é outra imagem que me marcou.
Já o empate por 0x0 contra a Espanha me marcou por um único lance, absolutamente singular: o zagueiro corintiano Amaral salvou em cima da linha uma finalização do meia espanhol Cardenosa (camisa 11). A partir de então, nas peladas que disputávamos, eu e todas as crianças passamos a gritar "Amaral" em todo o lance semelhante. Infelizmente, não consegui resgatar a narração de Luciano do Valle para esse lance.
"Amaraaaaaaaal"...
Não tenham dúvidas, porém, que os momentos mais tensos para os brasileiros naquela Copa foram os 90 minutos contra a anfitriã Argentina. Lembro-me da gigantesca expectativa para esse jogo, assim como de ter rezado para o ídolo Zico entrar, jogar bem e não se machucar, pois sabia bem, já com 8 anos de idade, que corneta anti-Flamengo sopraria muito forte em caso de fracasso. A partida também reforçou bastante a minha admiração pelo lateral direito Toninho "Baiano", titular do Flamengo.
Formações iniciais de Argentina 0x0 Brasil, 18/6/1978. A "Batalha de Rosário". |
Da vitória impositiva sobre a Polônia, algoz de quatro anos antes, por 3x1 (Lato inclusive marcou o gol de honra polaco), restou a exuberância da atuação de Roberto Dinamite (Vasco da Gama), autor de dois gols, e sobretudo a triste lembrança da desavergonhada goleada sofrida pelo Peru para a Argentina (0x6), jogo até hoje envolto por fundadas suspeitas de manipulação do resultado. Afinal de contas, a Seleção do Peru, que já havia sido treinada pelos brasileiros Tim e Didi, e que disputou as Copas de 1970, 1978 e 1982, era a quarta força da América do Sul, atrás do próprio Brasil, da Argentina e do Uruguai. Certamente o escrete canarinho teria feito frente aos anfitriões, ao contrário da Holanda sem o brilho de Cruijff.
Em que pese a frustração pela desclassificação para a final, a disputa do terceiro lugar contra a Itália trouxe a alegria do golaço antológico de Nelinho (Cruzeiro), até hoje um dos mais sensacionais que tive a oportunidade de ver nos meus 53 anos de vida.
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Faremos agora uma rápida parada na segunda-feira de 25 de junho de 1979, para lembrar as participações do Galinho de Quintino e de Toninho Baiano na Seleção FIFA do Resto do Mundo que enfrentou a Argentina campeã de 1978, reforçada com Maradona em campo, em partida disputada em Buenos Aires, no Monumental de Nuñez.
O jogo foi importantíssimo para a afirmação do Galinho como um dos melhores jogadores do mundo, vitimado que era por ataques especialmente da amargurada imprensa paulista, que levianamente o acusava de ser "jogador de Maracanã":
Argentina 1x2 Seleção FIFA/Resto do Mundo
Local: Estádio Monumental de Nuñes. Público: 82.000
Árbitro: Abraham Klein (Israel).
Gols: Maradona, Galvan (Contra) e Zico. Cartões Amarelos: Tardelli. Cartão Vermelho: Tardelli.
Argentina
1 Fillol 4 Olguín 2 Galván 6 Passarella e 3 Tarantini. 5 Gallego 8 Ardiles, e 10 Maradona. 7 Houseman 9 Luque (Outes ) e 11 Valencia. Técnico: César Menotti.
FIFA/Resto do Mundo
1 Leão (Koncilia), 2 Kaltz (Alemanha), 6 Krol (Holanda), 5 Pezzey (Áustria) e 3 Cabrini (Itália, substituído por 13 Toninho). 4 Tardelli (Itália), 8 Platini (França, substituído por 14 Zico) e 10 Asensi (Espanha). 7 Causio (Itália), 9 Paolo Rossi (Itália) e 11 Boniek (Polônia). Técnico: Enzo Bearzot (Itália).
Reservas: 12 Koncilia (Áustria) 13 Toninho (Brasil) 14 Zico (Brasil) e 15 Tahamata (Holanda).
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Nossa última parada é o ano de 1982, a aclamada Copa do Mundo da Espanha. Já prestes a entrar na adolescência, a lembrança mais marcante é a das festas após as vitórias do Brasil na competição. O povo, literalmente, ia para as ruas festejar. Talvez um compacto da tensa e emocionante estreia, contra a forte URSS de Dasayev, Bessonov, Daraselia, Gavrilov, Shengelia e Blokhin ajude a explicar:
Não sou o único que considera o time de 1982 o mais fantástico ou mágico já produzido pela Seleção Brasileira. A linha com Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior, Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico e Éder era a fina classe do futebol mundial. Nem a França de Janvion, Bossis, Trésor, Tigana, Genghini, Giresse e Platini poderia pensar em se comparar.
Aliás, a final que o mundo todo esperava era essa - Brasil x França e a celebração máxima do futebol arte em uma Copa do Mundo. Quiseram os Deuses do Futebol, contudo, que triunfasse o "futebol-força" da Itália e da Alemanha, o antijogo de Gentile e o futebol reativo italiano de Enzo Bearzot, projetando em que se transformaria o futebol europeu a partir de então até a década seguinte, antes da virada do século.
A divertida Copa da estreante e surpreendente Seleção de Camarões, de N'Kono e Roger Milla, da zebra argelina comandada por Madjer e Belloumi, e da monumental goleada da Hungria (10x1 sobre El Salvador), terminava então de maneira melancólica, deixando saudades e nostalgia. Absolutamente tudo, a partir de então, passaria a ser diferente no mundo do futebol.
Minha relação com a Seleção Brasileira, da mesma forma, jamais seria a mesma. A derrota para a França em 1986 e a reação dos torcedores anti-Flamengo ao pênalti perdido por Zico durante o tempo regulamentar apenas pioraria as coisas.
Mas essa já é outra história, que já não tinha mais nada a ver com a minha infância...
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Aliás, como tinha menos de 1 ano de idade em 1970, eu efetivamente só veria o Brasil campeão do mundo em 1994, quando minha infância já se encontrava distante, por mais de década. Aquela seleção, se prestarmos bem atenção, tinha por base o Flamengo de 1987 - Jorginho, Aldair, Leonardo, Zinho e Bebeto. Contudo, possivelmente pela conturbada transferência do "Traíra" para o Vasco da Gama em 1989, bem como pelo fato de serem todos os citados ex-atletas rubro-negros, e muito embora tenha torcido e vibrado muito com o tetra, não senti a mesma "Conexão Flamenga" de 1978 e 1982.
Todavia, e apesar da CBF e do Tite, essa Copa do Mundo de 2022, com os confessos rubro-negros Vinicius Jr. e Lucas Paquetá, que fazem questão de não esconder suas conexões com o Ninho do Urubu, bem como com as presenças de Everton Ribeiro e Pedro no elenco, trazem-me pela primeira vez, desde 1982, ainda que em bem menor proporção, um pouquinho dessa "Conexão Flamenga", reforçada pelo brilho de Arrascaeta, pela Seleção Uruguaia, na vitória por 2x0 contra Gana.
Será que virá por aí um título com brilho protagonista dos atletas rubro-negros?
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É hora de voltar. Nosso piloto Gardner alerta que estamos no limite do combustível em nosso plano de viagem.
Espero que tenham gostado.
Bom FDS e SRN a tod@s.