segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O (Suposto) Novo Treinador, a Diretoria, o Elenco e o Jogo de Posição


Salve, Buteco! Dando sequência ao post de sábado, após a confirmação de que Dorival Júnior não continuará no Flamengo na temporada/2023, e considerando o peso dos setoristas que, de maneira unânime, cravam o acerto com o português Vítor Pereira, é mais do que natural passar a abordar o perfil do novo treinador, ainda que sempre exista o risco de uma reviravolta a antes de tudo estar assinado. Futebol é sobretudo business e tanto a nossa Diretoria, quanto o português não se enquadram no conceito de virgem vestal.

Falar sobre a (iminente) contratação de Vítor Pereira é, mais uma vez, falar sobre jogo de posição, filosofia de jogo predileta de três dos treinadores anteriores, por ordem cronológica - Domènec Torrent, Rogério Ceni e Paulo Sousa, os quais foram intermediados por dois brasileiros de estilo, digamos, mais tradicional - Renato Gaúcho e Dorival Júnior.

Neste espaço, não preciso me alongar sobre o que penso a respeito dessa filosofia de jogo e da dificuldade de implementá-la em um clube grande de qualquer local do mundo. Eu, Gustavo, buscaria outra alternativa, dentro de um perfil tático moderno e de bom conteúdo. 

Contudo, o Flamengo tomou mais uma vez esse caminho e, evitando me repetir, talvez seja importante frisar que, se não inventou a tática como expressão de coletividade no futebol, o jogo de posição elevou-a a um nível conceitual e de complexidade jamais visto, o que, percebam, é diferente de ser melhor ou pior. Tudo na vida é contexto.

Aos meus olhos, jogo de posição, em última análise, envolve uma concentração de poderes no treinador em proporção jamais vista anteriormente, tornando ícones nomes como Pep Guardiola e Marcelo Bielsa, por exemplo. Não é à toa que vem se tornando muito popular entre os treinadores, que de certa maneira ocupam lugares no estrelato que antes eram reservados quase que somente a atletas.

Por isso mesmo, é até previsível que, especialmente no Brasil e no Flamengo, em cujas histórias está presente a espontaneidade e a criatividade individual do jogador brasileiro, bem assim a figura do ídolo, sua implementação acarrete um choque cultural.

Navegando pela Internet durante o final de semana, deparei-me com este fio no Twitter de um especialista em scout (provavelmente corintiano) que remete a outro fio dele próprio, da época de Vítor Pereira como treinador do Corinthians. É uma boa fonte para identificar por onde, dentro de campo e em nível tático, o choque pode começar. Vale a leitura, ainda que se leve em conta que Vítor Pereira parece ser mais transigente, quanto ao estilo de jogo, do que seus "posicionais" antecessores estrangeiros no Flamengo.

Para além da tática, a questão que aflora, a partir da contatação de que o choque cultural é apenas questão de tempo, é saber qual será a postura da Diretoria diante dele. Vejam bem, estamos falando do quarto treinador adepto do jogo de posição e do contrato mais caro entre todos eles. Obviamente, uma razoável multa rescisória está sendo pactuada entre as partes, como ocorreu com Domè e PS.

Desse modo, é incogitável que se assista de braços cruzados a mais um processo de desgaste e fritura de treinador. O português parece ser ainda mais "grosso" do que Paulo Sousa, muito embora bem mais objetivo e preciso no uso das palavras. Talvez pela franqueza lógica e objetiva, além da qualidade e da experiência claramente superiores, conquiste mais respeito do elenco.

Entretanto, já se sabe de antemão que não é adepto de proximidade e amizade com os jogadores, o que equivale afirmar que não será um "paizão" como foram Abel Braga, Jorge Jesus, Renato Gaúcho e Dorival Júnior, dentre os quais apenas do querido JJ pode-se afirmar que possuía autoridade e profissionalismo genuínos, na verdadeira acepção dessas palavras, o que transformava o trato com os jogadores em uma virtude que não influía negativamente na cobrança profissional.

O que se espera da Diretoria é uma postura bem diferente da adotada com os treinadores anteriores, ou seja, que se antecipe ou reaja, conforme o caso, aos problemas e dê condições para o treinador trabalhar dentro de uma filosofia profissional e não do compadrio. 

Já de Vítor Pereira espera-se que enfrente o desafio com inteligência, evitando, metodologicamente, a repetição de problemas anteriores, inclusive recentes, como, por exemplo, destruir a relação com o elenco e apenas esperar o pagamento da multa. Afinal de contas, está no hino: vencer, vencer, vencer; e com qualidade, de preferência. O português será muito bem pago para atingir esses objetivos.

A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.