sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Alfarrábios do Melo

Saudações flamengas a todos,

Passado o período coalhado de jogos pelo Brasileiro, cuja única função nesta temporada tem sido a de aporrinhar nossa paciência, finalmente vão ter início os jogos que definirão se este 2022 será contado como uma época de erros, início confuso e gloriosa recuperação final, bem ao gosto das coisas flamengas, ou se será apenas um ano infeliz a ser esquecido.

Para trazer bons fluidos para as Finais que se aproximam, deixo aqui a “obra” de um jogador querido, cuja lembrança por vezes não reflete o papel importantíssimo que exerceu no longo período que suou pelas nossas cores.

Refiro-me a Adílio.

Com efeito, desde que foi efetivado titular absoluto, em 1980, o Camisa 8 da Cruzada participou de 13 partidas tipo finalíssima (assim definida como o último jogo do campeonato/torneio, onde os dois adversários poderiam sair com o troféu). Nesses 13 jogos anotou 7 gols, marca que impressiona, especialmente quando se coteja com os números de Nunes, tido (com justiça) como o Artilheiro das Decisões, e seus 6 gols em 8 finalíssimas.

Assim, segue abaixo a lista dos momentos em que o nosso “Brown” brilhou nas decisões de que participou. E que o exemplo do craque faça o Mengão reencontrar o caminho das taças.

Em tempo: estão listados jogos que decidiram Taça Guanabara e Taça Rio. Os mais novos podem estranhar, mas esse tipo de troféu, que era conquistado pelos campeões, respectivamente, do Primeiro e Segundo Turno do Estadual, costumava ser muito celebrado, com direito a volta olímpica, hino, invasão de campo, essas coisas.

ADÍLIO – O “OUTRO” ARTILHEIRO DAS DECISÕES

 

1 – FLAMENGO 2-1 VASCO, Campeonato Estadual 1981

Em uma Final que se arrasta para a terceira partida (poderia ter sido liquidada pelo Flamengo já na primeira), o rubro-negro, em um início arrasador, faz 2-0 em menos de 20 minutos. Quem abre o placar é Adílio, que aproveita a sobra de uma bola que bate no rosto de Zico e afunda as redes de Mazaropi num chute raivoso. O segundo tento é de Nunes. O Vasco ainda desconta no fim, mas não há mais tempo (resta colocar a culpa no ladrilheiro). Flamengo Campeão Estadual.

 

2 – FLAMENGO 3-0 LIVERPOOL, Mundial Interclubes 1981

O jogo já está 1-0, gol de Nunes, quando Zico cobra uma falta de longe, Grobbelaar “bate roupa”, Lico briga pelo rebote e Adílio, esperto, aproveita a sobra e empurra a bola para o gol. Nunes fará o terceiro, estabelecendo a vitória que dá ao Flamengo o maior título de sua história. Curiosamente, os goleadores da tarde são os mesmos que liquidaram o Vasco semanas antes;

 

3 – FLAMENGO 1-0 VASCO, Taça Guanabara 1982

Após uma disputa muito equilibrada no turno, Flamengo e Vasco terminam empatados em pontos, o que força a realização de um jogo-extra (aliás, o insosso 0-0 no jogo entre os dois, pela última rodada, recebe vaias e gritos de todo o Maracanã, inesperadamente unido no grito de “marmelada”). Mais solto, o Flamengo está sempre mais próximo de abrir o placar, mas o Vasco resiste. Quando tudo indica que a partida irá para a prorrogação (e talvez pênaltis), aos 45’ Zico, livre, aciona Adílio na ponta-esquerda. O menino da Cruzada avança lépido, ganha na corrida e rola macio na saída de Mazaropi. O Flamengo conquista o pentacampeonato da Taça Guanabara.

 

4 – FLAMENGO 3-0 SANTOS, Campeonato Brasileiro 1983

Exercendo nova função sob o comando de Carlos Alberto Torres, revezando-se com Zico numa espécie de papel de “falso-nove”, Adílio cresce na reta final do Brasileiro. E, contra o Santos, no jogo final no Maracanã, vai fazendo uma partida exuberante, uma das melhores de sua carreira. O jogo está 2-0, placar justo para dar o título direto ao rubro-negro, mas o Santos continua lutando, o que torna a partida dramática (o Peixe precisa de um gol para levar a briga para a prorrogação). Mas, a 2 minutos do fim, Robertinho chama o lateral santista para dançar e cruza na cabeça de Adílio, inapelável. Flamengo 3-0 e o Tricampeonato Brasileiro conquistado.

 

5– FLAMENGO 1-0 BANGU, Taça Rio 1983

Abatido e parecendo sem reação após a venda de Zico, o Flamengo faz uma campanha inacreditável na Taça Guanabara, onde perde 4 dos 5 clássicos, considerando América e Bangu na listagem (o outro é um pobre 0-0 com o Fluminense). Mas, na Taça Rio, o rubro-negro mostra um poder de recuperação impressionante e, superando as quedas de Treinador, Diretoria e até Presidente, termina o turno empatado em pontos com o Bangu, à época o queridinho da cidade. Antes do jogo-extra o Bangu provoca, lembrando da goleada de seis aplicada no turno. Mas, humilde e focado, o Flamengo engole os alvirrubros de Castos e, em exibição de uma raça impressionante (termina a partida com Adílio e Mozer, lesionados, fazendo número), vence por 1-0. O gol é marcado ainda no primeiro tempo, quando Adílio escora de forma mascada um cruzamento rasteiro de Edmar.


6 – FLAMENGO 1-0 FLUMINENSE, Taça Guanabara 1984

(Jogo que motivou a produção desse texto). O Fluminense é o favorito, embalado pela conquista do Brasileiro. Mas perde foco ao longo da competição, com desavenças entre jogadores e, no fim, grande controvérsia decorrente de uma iniciativa política (a visita ao candidato Paulo Maluf). O Flamengo, dirigido por Zagalo, lambe as feridas da perda de Libertadores e trabalha duro. Após início irregular, encontra seu caminho, engata sequência de vitórias e chega na última rodada empatado em pontos com o tricolor. Mas ninguém tirará esse título da Gávea. Ainda na primeira etapa, Adílio escora de cabeça cruzamento de bola parada e faz o gol que define o título. É uma espécie de vingança contra o ex-Presidente flamengo (o que vendeu Zico), que havia dito que Adílio não sabia cabecear.

 

7 – FLAMENGO 1-0 BANGU, Taça Rio 1985

O Flamengo monta um time com Zico, Sócrates, Bebeto, Leandro, Mozer etc, mas perde várias estrelas por lesão, de forma inacreditável. E resta ao torcedor se conformar com jovens ainda em formação, como Valtinho, Paulo Henrique e Wallace, entre outros. O início é difícil, mas o treinador Sebastião Lazaroni, ex-preparador físico do clube, assume e monta um conjunto aguerrido, intenso e de defesa sólida, com a técnica em segundo plano. Os frutos vêm na Taça Rio. Com uma campanha muito regular, o rubro-negro termina o turno empatado com o favorito Bangu (vice-campeão brasileiro), provocando mais um jogo-extra. No primeiro tempo, Bebeto, em progressão, inicia tabela com o centroavante Chiquinho, mas a zaga banguense consegue travar. Mas a bola sobra para os pés de Adílio, que emenda rasteiro e faz o gol do jogo. Depois, o Flamengo segura o placar e garante mais um troféu para a Gávea.