segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A Glória Eterna e o "Teto" de Dorival

Foto: Marcelo Cortes/Flamengo

Salve, Buteco! Às vezes os torcedores mais velhos são muito chatos. Falam demais do passado e tendem a valorizá-lo muito mais do que o presente. Talvez o maior castigo que pudemos sofrer foi ver o desmanche do Clube de Regatas do Flamengo, acelerado a partir do final da "Geração Zico", e assistir a todo o penoso processo de deterioração que só começou a ser revertido, em forma de reconstrução, a partir de 2013. Talvez os mais jovens possam levar esse ponto em consideração.

Uma das vantagens de ter passado por tudo isso é ter testemunhado tudo o que importantes rivais brasileiros conquistaram, o que nos coloca em posição privilegiada para apontar algumas características pitorescas de suas conquistas.

Tomem, por exemplo, o Grêmio de Futebol Porto-Alegrense, que, em 2017, superou nos mata-matas, na bacia das almas, os "poderosíssimos" Botafogo (0x0 e 1x0), Barcelona de Guayaquil (3x0 e 0x1) e Lanús (1x0 e 2x1); ou o Cruzeiro, que, em 1997, após superar o Grêmio nas quartas-de-final, bateu o Colo-Colo no sufoco (1x0 e 2x3), somente nos pênaltis (4x1), e venceu o modesto Sporting Cristal por contagem simples (0x0 e 1x0).

Meu exemplo favorito é o do festejado Palmeiras de 1999: após brilhante campanha nos mata-matas, superando o campeão Vasco da Gama (1x1 e 4x2), o arquirrival Corinthians (2x0 e 0x2 - 4x2 nos pênaltis) e o River Plate (0x1 e 3x0), passou um enorme sufoco para conquistar o título em cima do inexpressivo Deportivo Cáli (0x1, 2x1 e apertados 4x3 nos pênaltis). 

Ora, ora ora... Que coisa, né? Vocês por acaso veem, na imprensa esportiva nacional, comparações entre o custo do elenco entre aquelas duas equipes? 

Pois é...

Finais de copas normalmente são duras mesmo, o ápice dos jogos normalmente "pegados" que caracterizam esse tipo de competição. O Flamengo não jogou bem mesmo a final de sábado, mas será que jogou menos do que o próprio Palmeiras na final de 2020, a pior e mais horrorosa da História da competição?

A campanha do Flamengo foi brilhante, a melhor da História. Nenhum clube venceu todos os jogos de mata-mata desde a primeira edição da Libertadores. Mais do que isso, o Flamengo jogou bem, encantou todos, até os jogos das semifinais. 

O Flamengo fez História e isso dói na ressentida torcida arco-íris. A Glória Eterna é para poucos. Incomoda-os saber que, em alguns anos, o Mais Querido será o que a terá conquistado por mais vezes. Pelo menos entre os Brasileiros.

Comemorem sem peso na consciência.

***

Reconhecer a dificuldade das copas e especialmente de suas finais não impede que também se reconheça a queda de rendimento do time do Flamengo a partir de setembro. A rigor, pode-se afirmar que o último espetáculo do time titular ocorreu no último dia de agosto (31), nos 4x0 sobre o Vélez Sarsfield pelo primeiro jogo das quartas de final da Libertadores.

De lá para cá, o futebol passou a ser econômico. Há inúmeros fatores que podem explicar a queda de rendimento, começando pelo desgaste físico por conta do número de jogos, passando pela própria dosagem do ritmo pelos experientes jogadores. Esses diversos fatores interagem entre si. 

Dorival chegou, sem pré-temporada e com o "pau comendo" para recuperar um grupo rachado e com a moral baixa. Em 21 (vinte e um) dias, transformou o time e conseguiu reverter a vantagem do Atlético Mineiro nas oitavas de final da Copa do Brasil. A "gestão de grupo" o forçou a ter cuidados com a decisão de quem joga, dentro da "hierarquia do elenco", preexistente a sua chegada, bem como com os interesses de alguns para convocação ou mesmo não se contundir antes da Copa do Mundo.

E além disso tudo, há também o "teto" (expressão utilizada em vários grupos dos quais participo) do próprio Dorival, que para mim é de difícil mensuração, por conta de todos os problemas que ele precisou superar. Mas ele existe, não tenho dúvida. O Flamengo não precisava ter tomado aquele sufoco do Corinthians no Maracanã, e nem sofrido o gol de empate. Decisões ruins foram tomadas, que quase nos custaram o título.

***

Ainda não consegui formar opinião acerca do jogo de sábado. Jornalistas sérios como Paulo Calçade, André Kfouri e Victor Birner, no Linha de Passe da ESPN, ainda no próprio sábado à noite, concordaram que era questão de tempo (e não da expulsão) para o Flamengo encontrar uma saída e superar a marcação individual de encaixe de Felipão, que funcionou bem até mais ou menos meia hora de jogo. Zinho opinou no mesmo sentido durante a transmissão.

Meus amigos Luiz Filho (@lavfilho) e Adriano Melo (@AdrianoMelo72), no WhatsApp, foram pelo mesmo caminho e enxergaram o Flamengo começando a desembaraçar o jogo. O primeiro tempo da final de 2019 foi um pouco parecido com a meia hora inicial de sábado. Tudo ocorreu em formatos táticos diferentes, inclusive porque eram duas equipes muito melhor treinadas do que os finalistas de 2022; todavia, as estratégias tinham esse ponto em comum - marcar o quarteto ofensivo rubro-negro e impedi-lo de criar.

O River Plate de Marcelo Gallardo marcou forte o Flamengo de Jorge Jesus, mas cansou no segundo tempo, enquanto o Athletico de Felipão demorou bem menos tempo para começar a arriar. A entrada de Ayrton Lucas, mais agudo do que Filipe Luís, ajudou. O nosso jovem lateral potiguar provou que estava à altura da final. Aliás, a primeira linha (defensiva) esteve impecável e foi muito importante no final do jogo.

Everton Ribeiro emulou Bruno Henrique e Arrascaeta de 2019, e achou, na tabela com Rodinei, cruzando de direita, a assistência para Gabigol emular a si próprio na final de Lima.

***

A queda de rendimento do time, a partir de setembro, coincidiu com as de Giorgian De Arrascaeta e de Pedro. Felizmente, Everton Ribeiro, o melhor de ambas as finais, e Gabigol passaram a produzir mais. 

Arrascaeta parece mesmo estar contundido, enquanto Pedro está zerado fisicamente. De Arrasca tenho a dúvida sobre o quanto está contundido e o quanto teme ficar de fora da Copa por contusão. Quanto a Pedro, tenho a convicção de que a convocação e a Copa do Mundo entraram em sua mente, dominando-a, muito antes do tempo.

Toda vez que constato um problema de postura nos atletas me lembro do obscurantismo do pensamento da Diretoria quanto à presença de psicólogos no Departamento de Futebol.

Inclusive por esse fator, acabo me perguntando, será que todo esse contexto abordado neste post, somado ao calor com forte humidade de Guayaquil, e o horário do jogo, influíram no desempenho do time no segundo tempo? Fiquei com a impressão de que cabia mais, mas quando olho para a História, inclusive de rivais, fico cheio de dúvidas. Até que ponto é justo cobrar desse Flamengo, nesse contexto, uma quebra de padrão histórico?

Pesados todos esses fatores, para vocês qual é o "teto" de Dorival Júnior?

***

Negociações, renovações e contratações de jogadores; renovação ou não do treinador, e o Mundial de Clubes são assuntos que pretendo abordar com o tempo, mas sem pressa.

Agora é hora de comemorar, Pessoal, e de ter orgulho desse time. 

A palavra está com vocês.

Boa semana e SRN a tod@s.