Salve, Buteco! Há quase dois anos, após o Flamengo sofrer as duas primeiras derrotas (1x4 pelo Brasileiro/2020 e 1x2 pela Copa do Brasil/2020) da década para o São Paulo, eu publiquei este post dando a minha visão a respeito do histórico desse importante clássico interestadual. Ressaltei, na época, um fato - o São Paulo é o adversário, no Brasil, contra o qual o Flamengo tem o pior retrospecto - e uma impressão - é um dos adversários que historicamente mais se mobiliza para enfrentar o Mais Querido.
Depois disso, vieram mais duas derrotas, uma por goleada (0x3 pelo jogo de volta da Copa do Brasil) e outra (1x2 pelo Brasileiro/2020) nos trazendo de "brinde" o título Brasileiro.
Quem poderia adivinhar o que aconteceria a partir de então?
Desde a última vitória do São Paulo, o Flamengo venceu todas as partidas do clássico, no total de 5 (cinco), marcando 17 gols e sofrendo 3 (!), podendo-se dizer, então, que o Mais Querido está em pleno processo de diminuir a desvantagem no confronto direto, que tem os seguintes números por década, atualizados desde o post de 16 /11/2000:
Década | FLAMENGO | Empates | SÃO PAULO | Retrospecto Vitórias | ||
Vitórias | Gols | Vitórias | Gols |
1930 | 1v | 10g | 2e | 3v | 17g | 1x3 |
1940 | 3v | 18g | 4e | 4v | 24g | 4x7 |
1950 | 3v | 20g | 2e | 7v | 28g | 7x14 |
1960 | 5v | 20g | 4e | 4v | 21g | 12x18 |
1970 | 2v | 6g | 5e | 1v | 5g | 14x19 |
1980 | 3v | 10g | 1e | 3v | 12g | 17x22 |
1990 | 11v | 35g | 9e | 11v | 39g | 28x33 |
2000 | 6v | 35g | 5e | 12v | 47g | 34x45 |
2010 | 7v | 20g | 8e | 7v | 26g | 41x52 |
2020 | 5v | 20g | 0e | 4v | 14g | 46x56 |
Totais | 46v | 194g | 40e | 56v | 233g | 46x56 |
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Meu lado racional compreende que, até a chegada de Dorival, o Flamengo estava na parte debaixo da tabela, a uma distância desconfortável da zona do rebaixamento. Meu lado emocional tem dificuldades em ver o Mais Querido tratando o Campeonato Brasileiro dessa forma. Como futebol também é paixão, fica difícil dar razão exclusivamente à razão, se é que vocês me entendem...
Para torcedores da minha geração, que assistiram ao antológico gol do Nunes e à conquista do primeiro título, em 1980, que lançou o Flamengo além das fronteiras estaduais; que sofreram com a rasteira política 1987, último título nacional com Zico; que viram um time de garotos surpreender e bater os favoritos em 1992; que esperaram 17 anos até Ronaldo Angelim nos tirar da fila em 2009, e que em 2019 viram o Mister Jorge Jesus fazer história com uma pontuação recorde para o formato com 20 clubes, não é nada fácil ver o torneio ser relegado a terceiro plano.
Muito pelo contrário...
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A Copa do Brasil é a baranga rica dos torneios nacionais, não canso de frisar. Ainda assim, devemos reconhecer que a versão 2022 está "encorpada", a ponto de já nos ter propiciado eliminar os "At(h)léticos" (o Mineiro em um jogo épico), obter uma importante vantagem contra o São Paulo e enxergar uma final contra Corinthians ou Fluminense.
É a única maneira que vejo para encarar essa baranga rica com vontade.
Só que tem um porém: o jogo da próxima quarta-feira será daqueles que podemos chamar de extremamente difíceis.
Primeiro, porque o adversário está mordido pela quinta derrota consecutiva, recorde no histórico do confronto, e portanto não desejará ver essa marca ampliada. Futebol tem esse aspecto do "jogo de honra", especialmente em clássicos e numa rivalidade como a que existe entre clubes cariocas e paulistas. O fato de Rogério Ceni jamais ter vencido o Flamengo (seu clube anterior, do qual foi demitido), não nos esqueçamos, aumenta ainda mais a temperatura do clássico. E estender o recorde de vitórias consecutivas não é uma tendência histórica.
Segundo, porque a classificação para a final da Copa Sul-Americana, muito embora tenha desgastado o elenco, por outro tirou o peso da enorme fila que o São Paulo em finais internacionais. O time certamente virá mais leve e confiante para enfrentar o Flamengo.
Terceiro, porque, querendo ou não, o São Paulo tem um bom retrospecto como visitante, contra o Flamengo, em confrontos oficiais. É questão de pura e simplesmente apontar um fato histórico, nada mais.
Quarto, porque 2x0, como todo mundo que acompanha futebol sabe, é considerado um placar "traiçoeiro". Não exige a vigilância natural da "vantagem simples" de um gol e tampouco traz o conforto dos 3 ou mais gols de vantagem. "Marcando um, é só marcar o outro", diz a sabedoria popular.
Quinto, porque alguns jogadores do time do Flamengo têm sofrido com o desgaste da temporada. Nenhuma contusão importante, mas alguns alguns sinais tem sido dados pelos jogadores.
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Tenho para mim, conforme disse a vocês nos comentários durante a semana, que a "gestão da temporada" que o clube vem fazendo passa (ao menos para mim) a impressão que diretoria, comissão técnica e elenco convergem em um pacto silencioso pelas copas, colocando o Campeonato Brasileiro em terceiro plano. E talvez tenha sido esse o acordo possível após o conturbado primeiro semestre com Paulo Sousa.
Esse elenco é experiente e, quando pode decidir em casa, usa com frieza a capacidade de jogar como visitante para conquistar o direito de administrar os jogos de volta nas copas. Acredito que essa estratégia foi utilizada no jogo de volta contra o Vélez Sarsfield e acredito que alguns jogadores foram poupados em jogos recentes justamente para permitir a prevenção de lesões. Alguns deles, na medida do possível, também se poupa durante os jogos.
Contudo, o jogo de ida já deu o seu recado. Na quarta-feira o ideal é não exagerar na "administração da vantagem", como ocorreu no início do jogo da última quarta-feira, contra os argentinos. É preciso foco e sabedoria, mas sem perder a intensidade, desde o início.
O São Paulo poupou jogadores contra o Corinthians e virá para cima.
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