Salve, Buteco! Já tem um tempo que eu queria voltar um pouco menos do que dois anos no tempo e lembrar da situação do time na 18ª Rodada do Campeonato Brasileiro. Vice-líder, o Mais Querido foi a Porto Alegre para, no domingo de 25 de outubro, enfrentar o líder Internacional, dirigido pelo ótimo treinador argentino Eduardo Coudet. Mostrando grande capacidade de reação após estar perdendo por 0x2, o time de Domènec Torrent, mesmo fortemente prejudicado pela arbitragem (inclusive o VAR), teve forças para se recuperar e empatar o jogo no finalzinho dos acréscimos, aos 50 minutos do segundo tempo, com um gol de Everton Ribeiro.
O jogo foi muito elogiado pela crítica, em razão do alto padrão tático das duas equipes, uma superior em cada etapa do confronto. Além disso, o Flamengo vinha de outras duas convincentes exibições, uma goleada por 5x1 sobre o Corinthians no Itaquerão (18/10) e uma boa vitória (3x1) do time reserva sobre o Junior de Barranquilla pela sexta rodada da Fase de Grupos da Libertadores (21/10).
Com oito partidas adiadas, eis a tabela do Brasileirão/2020 após a disputa da 18ª Rodada:
É curioso como, uma semana depois, Domènec Torrent começou efetivamente a ter sua permanência à frente da equipe inviabilizada. Depois da sequência de três vitórias, veio outra, dessa vez com fraco futebol, contra o Athletico/PR, no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil (1x0 em 28/10). No domingo seguinte veio a surpreendente goleada sofrida para o São Paulo de Fernando Diniz em pleno Maracanã (1x4 em 1/11).
Dois dias antes da vexatória goleada sofrida para o São Paulo, o Palmeiras anunciou a contratação de Abel Ferreira. Adepto de uma filosofia de jogo mais conservadora e predominantemente reativa, o português representava justamente o oposto da primeira opção da Diretoria alviverde, o espanhol Miguel-Ángel Ramírez, adversário do Flamengo na Fase de Grupos da Libertadores, o Independiente Del Valle, que, em Quito, aplicou a maior goleada sofrida pelo Mais Querido na História da competição.
Ao mesmo tempo, a filosofia de jogo do novo treinador correspondia, claro que com maiores sofisticação e qualidade, com a que vinha sendo adotada no clube por seus sucessores, no mínimo, desde as campanhas vitoriosas de 2016 e 2018.
E foi assim que a sorte sorriu para o Palmeiras.
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Oito dias depois do anúncio de Abel Ferreira pelo Palmeiras, o Flamengo foi novamente goleado, dessa vez para o Atlético/MG de Jorge Sampaoli, no Mineirão, e o catalão Domènec Torrent foi demitido na segunda-feira seguinte. O Flamengo foi buscar Rogério Ceni no Fortaleza e acabou conseguido, com muito sofrimento, ser campeão brasileiro de 2020.
Depois da Supercopa e do Estadual de 2021, o Nareba caiu e a Nação Rubro Negra nunca mais comemorou um título, tendo apenas amargado vice-campeonatos. Enquanto isso, com o mesmo treinador, o Palmeiras conquistou uma Copa do Brasil, duas Libertadores de maneira consecutiva e um estadual, completando o primeiro semestre de 2022, disparado, como o melhor time do Brasil e da América do Sul.
Em vez de romper com a sorte e se indispor com o treinador que reverteu o quadro de insucessos após a conquista do Brasileiro de 2018, a Diretoria palestrina passou por cima dos momentos de desgaste (que existiram, não tenham dúvida) e apostou no português, com ele firmando um justo contrato no qual, ao mesmo tempo, reconhece o seu valor e ainda investe no futuro do clube, qualificando o entorno da comissão técnica com profissionais de primeira linha, inclusive o seu hoje coordenador científico, treinado pela Exxos quando ainda se encontrava no Flamengo.
Neste ponto, observem, a sorte foi sucedida pela competência.
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Como mostra a cronologia de matérias jornalistas trazidas neste post, além de investir mal e porcamente em treinadores após a saída de Jorge Jesus, optando pela mediocridade dos mais baratos, a Diretoria do Flamengo rumou em direção contrária à tomada pela direção palmeirense, inclusive ao se indispor em proporção perfeitamente evitável com o Mister. Tudo o que existia em 2019, em nível de estrutura de pessoal, foi perdido a partir da pandemia.
Para além disso, o elenco perdeu individualidades e envelheceu em alguns postos-chave. A sucessão de treinadores resultou em uma equipe taticamente amorfa e psicologicamente fraca e desmotivada.
Alguns jogadores estão irreconhecíveis, como Gabigol, com 2 gols em 11 rodadas, lento e disperso, tecnicamente sofrível e pálido como uma alma penada.
Com o desempenho do elenco atual, o risco de rebaixamento é real, tanto mais quando se constata, objetivamente, que, em um universo de 35 (trinta e cinco) jogos, o Flamengo foi efetivamente competitivo, jogando de igual para igual ou melhor contra adversários fortes, em três ocasiões: 2x2 contra o Atlético/MG, 0x0 contra o Palmeiras e 3x1 sobre o São Paulo. Chama ainda a atenção que foram dois empates, um deles com derrota e perda de título nos pênaltis, e apenas uma vitória.
Ao contrário das anteriores, não existem fatos concretos apontando para a competitividade desse elenco na temporada em curso. Li no Twitter alguns rubro-negros experientes cravando que o Flamengo se recuperará no Campeonato Brasileiro. Esse tipo de discurso é negacionista e será fatalmente usado pela Diretoria para encobrir seus erros e adiar o inevitável, que é a dispensa ou negociação de alguns medalhões do elenco.
Dorival Júnior não tem culpa alguma do curso de eventos que o antecederam. Todavia, é preciso reconhecer que pisou em falso na estreia, com todo o respeito. O empoderamento de quem acabou de contribuir para o insucesso do treinador Paulo Sousa, no contexto atual, no qual não é possível sustentar meritoriamente a titularidade de alguns dos escalados, pode ter efeito moral devastador no elenco já dividido e, insisto, mentalmente enfraquecido e desmotivado.
Espero que o experiente treinador consiga reverter rapidamente o quadro ou, do contrário, sua terceira passagem pelo clube será bem mais breve e mal sucedida do que as anteriores.
É preciso que fique claro: a gestão de Rodolfo Landim e Marcos Braz no futebol do Flamengo é destruidora e irresponsável em um nível sem precedentes. Não sobrou quase nada. Até a base vem colecionando insucessos.
As causas possíveis vão desde puro egocentrismo até interesses inconfessáveis. Difícil cravar precisamente o que está ocorrendo. Podemos apenas apontar absurdas incoerências como a renovação da Panela 85, a venda do principal jogador no Brasileiro/2020 e a contratação de uma comissão técnica estrangeira com a incumbência de rejuvenescer o elenco e mudar completamente o sistema de jogo, mesmo sem peças para executar o plano do treinador, e mesmo tendo esse sistema de jogo sido efusivamente rejeitado pelo mesmo elenco, mimado desde 2019 pela mesmíssima Diretoria.
O certo é que o tempo está passando e o ambiente sendo corroído com velocidade preocupante.
Não é momento para desdenhar das previsões com os piores cenários possíveis.
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A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.