terça-feira, 31 de maio de 2022
Em Compasso de Espera
segunda-feira, 30 de maio de 2022
A Queda do Tabu
Salve, Buteco! A expectativa que antecedeu o Fla-Flu de ontem me gerou grande ansiedade. Um misto de sentimentos contraditórios tomou conta de mim. A vontade de quebrar o inusitado tabu se misturou com um incomum ceticismo, por conta da falta de confiança em Paulo Sousa e nos jogadores, a qual, por sua vez, colidia com a improbabilidade estatística de, considerando a História do clássico, o Flamengo perder mais uma vez. A vontade de vencer ainda brigava com o anseio pelo alívio que só viria com o fim de um trabalho no qual ainda não acredito.
Esta análise publicada pelo jornalista Marcello Neves (@mneves_) em O Globo logo após a vitória do Fluminense sobre o Fortaleza no Castelão me intrigou. Ora, se foi reativo contra o Fortaleza, Fernando Diniz armaria da mesma forma o time contra o Flamengo, seguindo o que Abel Braga havia feito de maneira bem-sucedida no Estadual.
O que se viu em campo foi justamente o contrário. O início trouxe um Fluminense bem melhor postado e com controle do clássico, entrando mais uma vez na mente do time rubro-negro. Durante todo o jogo, a maior posse de bola do adversário e o número muito maior de finalizações mostrou que Fernando Diniz não temeu se arriscar a subir as linhas contra o Flamengo de Paulo Sousa.
Minha visão sobre os noventa minutos foi sintetizada por este breve fio do jornalista Rodrigo Mattos (@_rodrigomattos_) no Twitter
"Fluminense foi melhor no clássico, mais organizado, com uma proposta mais clara. Flamengo conseguiu a virada nos minutos em que encaixou sua marcação pressão. Depois disso, foi na base do Deus nos acuda e do seu goleiro. Placar não refletiu o que foi o jogo
E foi mal o Paulo Sousa. Time zoneado quase o tempo inteiro, só a marcação pressão funcionou em certos momentos. Demorou muito para perceber que era dominado no 2º tempo e, em vez de consertar para controlar, jogou o time para trás e só não tomou empate por sorte e pelo Hugo"
Como escrevi neste post logo após a vitória sobre a Universidad Católica, o Flamengo de Paulo Sousa vive de "excertos de bom futebol, muito embora sem regularidade e nem sempre com bons resultados correspondentes." Econômico a ponto de ser sovina na prática do futebol de qualidade, nos únicos excertos durante os 90 minutos o Mais Querido construiu a virada.
Se o bom futebol foi escasso, felizmente as vitórias voltaram a acontecer.
***
Os irmãos Mário Filho e Nélson Rodrigues certamente escreveriam boas crônicas sobre pelo menos dois dos Fla-Flus de 2022. Arrisco dizer que os jogos seriam o primeiro das finais do Estadual e o de ontem. Isso porque o os times inverteram os papéis em nível de protagonismo e os acuados e reativos venceram os jogos.
Quem escrevesse sobre o Fla-Flu de ontem teria nas sagas de Andreas Pereira e Hugo Souza o enredo perfeito para contar mais um capítulo desse clássico, que pode não ser o maior, mais certamente é o mais místico e singular do futebol mundial.
***
O Campeonato Brasileiro de 2022 é, até a 8ª Rodada, o mais equilibrado dos últimos anos. Embora tenham ocorrido algumas goleadas, a tônica é os clubes mais fortes enfrentando dificuldade para vencer equipes de menor investimento e elenco inferior.
Já na temporada passada era possível assistir a saídas de três e formações de ataque posicional ou passes "quebra-linhas" até na Série B. Em 2022, a coisa se generalizou. Logo, é importante reconhecer a qualificação da concorrência.
Esta constatação não pode servir de muleta para Paulo Sousa, que tem quase um semestre de trabalho, mas ainda não conseguiu montar um time coeso e impositivo como pede o elenco. Os jogadores parecem ter noção do quão aquém estão as atuações do time. Na entrevista pós jogo, ainda no gramado Gabigol ressaltou a necessidade de melhoras, inclusive ter maior percentual de posse de bola e jogar com mais intensidade. É confortante saber que os jogadores não estão satisfeitos e têm consciência do problema.
Olhando pelo ângulo do copo meio cheio, considero vitória de ontem como a segunda da temporada na qual o time foi muito pressionado, mas saiu de campo com três pontos. A primeira havia sido aquela sobre a Universidad Católica em Santiago, no Estádio San Carlos de Apoquindo, pela Copa Libertadores da América.
Já pelo ângulo do copo meio vazio, é impossível negar que, como bem diz o nosso amigo Bcbfla (@Bcbfla), o time sofre demasiadamente quando abaixa as linhas e cede muitas finalizações aos adversários. Observem que não se trata de preconceito com jogar de linhas baixas e explorar contra-ataques nos espaços vazios. É que o Flamengo não faz nem uma coisa, nem outra, ou seja, não tem conseguido se defender bem e nem encaixar contra-ataques, o que, justiça seja feita, esteve longe de ser um problema quando Renato Portaluppi, antecessor de Paulo Sousa, dirigiu a equipe.
Enquanto Everton Ribeiro alterna boas a fracas atuações, ou mesmo bons e maus momentos durante os 90 minutos, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol andam muito mal das pernas. Não é justificável que as maiores estrelas do elenco estejam rendendo tão abaixo. É evidente que há um problema coletivo, de responsabilidade do treinador.
Afinal, no frigir os ovos os jogadores estão se esforçando para executar as complexas e conceituais ideias de jogo de Mister Paulo Sousa.
***
No próximo domingo, as 16:00h, o Mais Querido receberá o "posicional" Fortaleza de Juan Pablo Voyvoda, que, assim como o coirmão Ceará, parece ter perdido a mão na administração do Campeonato Brasileiro simultaneamente a uma competição internacional (Libertadores e Sul-Americana, respectivamente). Falta estrada a ambos os cearenses para essa prática, que, como bem sabemos, é bastante desafiadora, quase uma ciência.
Será a última partida da sequência no Rio de Janeiro. Três pontos são fundamentais e correspondem à atual distância para os três líderes - Palmeiras, Atlético/MG e Corinthians.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.
domingo, 29 de maio de 2022
Fluminense x Flamengo
Domingo, 29 de Maio de 2022, as 18:00h (USA ET 17:00h), no Estádio Jornalista Mário Filho ou "Maracanã", no Rio de Janeiro/RJ.
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Alfarrábios do Melo
RAUL, LEANDRO, MARINHO, MOZER E JÚNIOR; ANDRADE, ADÍLIO E ZICO; TITA, NUNES E LICO
Acontece que, outro dia,
lembrou-se que essa escalação somente atuou QUATRO vezes junta.
Intrigado com essa constatação,
que é absolutamente correta, resolvi investigar os motivos pelos quais
Carpegiani lançou mão da tal “formação mágica” tão poucas vezes. O resultado
segue sintetizado nas próximas linhas.
I – O INÍCIO: FIGUEIREDO, DEPOIS
MARINHO
O marco temporal inicial para a
montagem dessa escalação é a partida contra o Botafogo, pelo Terceiro Turno do
Estadual-1981. É nesse momento que Carpegiani decide colocar mais um meia na
equipe, no caso Lico, em substituição a Baroninho, ponta-esquerda “de ofício”.
Com efeito, Lico chegou em 1980, mas foi emprestado ao Joinville/SC no início
de 1981 por falta de oportunidades, voltou no segundo semestre e parecia que
seguiria sem chances, quando começou a aparecer em alguns jogos menores e ir
bem. Depois, ganhou alguns minutos na Libertadores, foi peça-chave para a
vitória em Cochabamba contra o Wilstermann-BOL e, a seguir, recebeu todos os
prêmios de melhor em campo numa difícil vitória contra o Campo Grande (2-1), em
Ítalo del Cima, em que o Flamengo colocou um time misto. Assim, Carpegiani,
impressionado com o desempenho de Lico, resolve lançá-lo como titular nesse
clássico contra o Botafogo.
Ocorre que a zaga titular é
formada por Mozer e Figueiredo, com Marinho no banco. É comum que, em caso de
lesão, o jogador que entra mantenha a sequência, com o que ficou “de fora”
tendo que aguardar o momento para voltar à equipe. Os dois jovens ganharam a
posição ao longo da temporada, deixando pelo caminho nomes mais experientes,
como Rondinelli, Luís Pereira e o próprio Marinho, por lesões ou desempenho.
No entanto, Figueiredo sente a
virilha na Batalha de Santiago e é vetado do jogo decisivo em Montevideo, junto
com Lico, recuperando-se de um corte no rosto resultante da selvageria chilena.
Marinho entra no time, que faz 2-0 e conquista o continente.
Cogita-se a volta de Figueiredo à
zaga, mas, como ainda não está seguro da total recuperação da contusão, e pela
falta de ritmo de jogo, Marinho é mantido. Assim, o Flamengo escala, pela
terceira vez, o time que ficou marcado na história. E, com os 3-0 e a
conquista do maior título da existência flamenga, os onze jogadores que foram a
campo passaram a ser eternamente saudados pelo feito.
II – CONTRATOS A RENOVAR
A vitória contra o tricolor paulista
marca a última vez que os “onze heróis” de Tóquio estiveram juntos em campo. E
a única em todo o ano de 1982.
III – AS LESÕES DE NUNES E MOZER
Após o 1-1 contra os paulistas, o
Flamengo recebe o Atlético-MG no Maracanã. Raul está de volta, mas o rubro-negro
sofre uma séria baixa. No último treinamento antes da partida, Nunes torce o
joelho. A lesão tira o atacante de toda a Segunda Fase e das Oitavas-de-Final,
contra o Sport. Nunes somente retorna no segundo jogo das Quartas-de-Final,
contra o Santos, no Morumbi.
IV – AS CIRURGIAS DE RAUL E MOZER
Enquanto Raul se recupera, outro
titular começa a viver uma espécie de calvário. Mozer sofre entorse no joelho,
vai entrando e saindo do time à medida que a lesão melhora, chega a atuar no
sacrifício no jogo-extra da Taça Guanabara, em que o Flamengo ganha o
Pentacampeonato ao fazer 1-0 no Vasco, mas, com a persistência do problema,
acaba optando pela cirurgia, após a vitória por 3-0 sobre o River Plate-ARG,
pela Libertadores. Está, portanto, fora da temporada.
Raul retorna no final da Taça Rio
(Segundo Turno), mas Cantarele segue titular. Além disso, Carpegiani vai rodando
o plantel, buscando ter os jogadores inteiros na reta final, o que desagrada
alguns titulares. Raul é alçado de volta ao time no jogo final, contra o Vasco,
o que gera algum desconforto. A condução do fim do ano não funciona, e 1982
termina de um jeito um tanto amargo.
V – OS EMPRÉSTIMOS DE TITA E
NUNES: O FIM
O fracasso do final da temporada
anterior faz com que o Flamengo resolva promover uma pequena reformulação em
seu elenco. Nesse contexto, Tita, sem ambiente com parte da torcida, é
emprestado ao Grêmio, numa transação que traz à Gávea o atacante Baltazar, e
Nunes, após pesado desentendimento com Carpegiani, é colocado para treinar em separado,
acertando sua transferência por empréstimo ao Botafogo, após algumas semanas.
Com isso, desfaz-se a
possibilidade de repetição da “escalação de 1981”, que passa, portanto, à
posteridade e ao imaginário dos sonhos rubro-negros.
O time que jogou quatro vezes.
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Problemas e Solução
Como em tudo na vida é fácil apontar os problemas individuais, coletivos, processuais de qualquer tipo de pessoa, física ou jurídica. Porque todos erram, todos são falhos, mas uns erram ou acertam mais que os outros, por competência, sorte, qualidade, determinação, coragem, enfim, por vários fatores, incluindo qualidades negativas como canalhice, mentira, enganação e violência, que invariavelmente são determinantes pela maior quantidade de erros. Todas as qualidades humanas ao final de contas servem a um propósito construtivo, neutro ou destrutivo. Onde estamos neste caminho longo e turbulento? Através de nossas ações (ou falta de) sendo vistos de forma positiva, negativa ou neutra pelos outros, com intensidade maior à medida que são diretamente impactados por elas.
E nós, torcedores do Flamengo onde estamos nesta? Sendo impactados pelas ações da gestão de futebol sob a responsabilidade do Rodolfo Landim, reeleito sem plano de governo para este triênio pelos "donos do Flamengo", os sócios proprietários.
Quais nossas opções enquanto torcedores apesar desta gestão? Reclamar muito nas redes sociais? Vaiar e ofender dirigentes, técnico e jogadores nos estádios em jogos do Flamengo? Ir reclamar na Gávea, no CT, onde estes dirigentes estão reunidos? Onde jogadores e comissão técnicas estão reunidos? Tudo é possível, e como tudo na vida há um propósito para elas, que seria chamar a atenção dos responsáveis para a insatisfação crescente da torcida, mas seriam estas ações adequadas?
A torcida ao mostrar insatisfação ao final do último jogo ainda que o Flamengo tenha obtido uma boa classificação na fase de grupo de uma Libertadores, foi exagerado, destemperado, ou a torcida do Flamengo ficou mais exigente pelo potencial técnico observado em 2019 e que anseia repetir? Afinal, o clube hoje teria condições financeiras de repeti-lo, porém, como vemos, não tem as condições administrativas mínimas necessárias. Continua gerindo amadoristicamente um futebol profissional, pois, afinal de contas, é um clube social, e como tal, politicamente, é preciso agradar os ditos "sócios proprietários" que ficam felizes de participar de forma amadora e ineficaz um pouco que seja do background do futebol.
Portanto, na minha opinião, o "Fora Braz" por hora gritado não serve para nada. Pois o modelo de gestão de futebol continuará o mesmo. Amador e disruptivo. Iriam substituir o Braz por outro amador. E como os critérios do Landim na gestão do clube são usualmente péssimos, teríamos um Braz 2.0 ainda pior que o original. Logo, a torcida deveria exigir a contratação de uma Direção Técnica Profissional de Futebol, qualificada e reconhecida, a qual, creio, teria que ser buscada e convencida no exterior. Problema que todo profissional sabe que clube social é uma usina de problemas advindos de decisões catastróficas e suspeitas, e a cada eleição a cabeça da Hidra muda. O que chego a conclusão que a verdadeira exigência seria a separação do Social do Futebol e a transformação do Futebol em empresa, com metas específicas e livre da repugnante e danosa presença de associados em sua gestão.
terça-feira, 24 de maio de 2022
Flamengo x Sporting Cristal
segunda-feira, 23 de maio de 2022
A Fragilidade da Firmeza
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF |
No post da semana passada, falei que andava faltando o que chamei de "verve firme" de Mister Paulo Sousa. Com certeza não foi por conta do post, mas não é que no dia seguinte ela ressurgiu, quase flamejante, na entrevista coletiva após os 3x0 sobre a Universidad Católica? Declarando o que todo mundo entendeu como um pedido de Diego Alves para jogar, sem passar pelos necessários processos de treino pós-contusão, a firmeza de Mister Paulo causou um incêndio, que só foi contido quando o nosso treinador português precisou ser flexível para, em conjunto com a Vice-Presidência e a Diretoria de Futebol, lidar com o assunto e chegar a um acordo com o inquieto e veterano goleiro, cujo vínculo foi irresponsavelmente renovado antes da chegada do treinador.
O episódio me lembrou uma referência ao não-agir (wu wei) chinês, feita em um dos melhores livros que já tive a oportunidade de ler:
"Na China, o wu wei ou não ação foi comparado aos galhos esguios das árvores que cobertos de neve curvam-se até o chão. Em vez de cederem ao peso que os oprime, cedem à pressão para não se partirem. Depositada junto à raiz, a neve liberta os galhos."¹
Aos nossos olhos, as intempéries que nos fazem ceder na vida na grande maioria das vezes são injustas, como pode ter sido a que fez Mister Paulo recuar para o seu vínculo com o Flamengo não se partir. É sábio não ceder à tentação de se agarrar a uma narrativa, especialmente se não for possível dizer ao certo até que ponto ela expressa a verdade.
Há problemas no Flamengo que antecedem a chegada de Mister Paulo, alguns deles muito antigos, outros que vêm "apenas" desde a pandemia até hoje. A torcida sempre vaiou, politicagem sempre existiu; mas o quanto essas questões são realmente problemas também depende muito da maneira pela qual se lida com elas.
As vaias se dissiparão ao longo de uma sequência de vitórias, que também farão a politicagem ceder espaço, como sempre. São fatores que existem independentemente da vontade e das ações do nosso treinador português, o qual também não possui controle algum sobre quem lhe chefia ou com quem interage (Departamento Médico, por exemplo).
De forma semelhante, a perda de conhecimento científico e a desastrosa "renovação" de funcionários no Departamento de Futebol, assim como a não menos danosa preparação física das duas temporadas anteriores são fatores preexistentes e, portanto, não dependem da vontade e das ações do atual Mister.
O xis da questão é como ele se comporta diante desse contexto.
***
Acho que o time do Flamengo faz muito esforço para marcar gols, mas também acho que as causas são múltiplas e não se restringem aos movimentos táticos que o treinador exige dos jogadores, passando sobretudo pelos problemas que acabei de afirmar que preexistem à chegada da atual comissão técnica. Sendo mais explícito, vão desde diagnóstico e tratamento de contusões, passando por transição e preparação física, chegando até mesmo ao extracampo dos atletas.
O melhor do trabalho de Mister Paulo no Flamengo, a meu ver, está na comissão técnica, talvez com a exceção da insistência exageradamente conceitual do preparador de goleiros com Hugo, causando a colisão do conceito com os maus resultados decorrentes das falhas individuais que comprometem o desempenho do time.
Um bom exemplo do lado bom pode ser dado na recente incorporação à comissão técnica do bioquímico Miguel Cabezas, noticiada pelo jornalista Cahê Mota (@cahemota) neste tuíte, segundo o qual, "Por meio de coletas realizadas pela fisiologia e nutrição, ele faz avaliações do metabolismo dos atletas pela urina, sangue e saliva."
Na mesma linha, não acredito que o "problema físico", apontado por alguns torcedores e até jornalistas, decorra dos profissionais que compõem a comissão técnica, os quais, a meu ver, possuem currículos inquestionáveis. As maiores causas me parecem ser justamente esses problemas preexistentes e, em alguns casos, infelizmente contemporâneos ao trabalho de Mister Paulo, os quais, como visto, escapam ao seu controle.
Por outro lado, há também o que é inato à própria estrutura do futebol brasileiro por conta das características geográficas do país, como muito bem ressaltou o português Alex Brito nesta ótima live da qual participou a convite do jornalista Bernardo Ramos (@bernardoramosal), em seu canal no YouTube (a partir de 32'20'').
Mas voltando ao que escrevi no início desse tópico, desconfio que a exigência tática do modelo de jogo de Mister Paulo seja limitada por todo esse complexo contexto. Não trato essa impressão como verdade absoluta, até porque o tema é muito técnico, mas tenho a convicção de que a proporção entre firmeza e flexibilidade nas decisões do treinador - equação que, aqui sim, está inteiramente sob o seu controle -, terá grande peso no sucesso do Flamengo sob o seu comando.
Ao final de sua passagem pelo clube, essas decisões dirão muito sobre a própria qualidade de Paulo Sousa como treinador, até porque é mais do que justo cobrá-lo para fazer o melhor em prol do rendimento do elenco que, na pior fase desde a sua montagem, foi entregue ao treinador na condição de vice-campeão brasileiro e da Libertadores, tricampeão carioca e semifinalista da Copa do Brasil. É difícil crer que, de dezembro para cá, tenha se deteriorado tanto, inclusive no aspecto físico e considerando as idades de alguns atletas, a ponto de justificar duas finais perdidas e a pífia campanha no Campeonato Brasileiro.
Aos adeptos da "Teoria da Reestruturação", vale lembrar que, no final do ano, Flamengo e Paulo Sousa poderão romper o vínculo sem o pagamento de multa rescisória. Logo, a ideia de reestruturação, sempre invocada pelos defensores do nosso treinador, só fará sentido se vier acompanhada de resultados.
Ademais, reformulação de elenco são processos independentes entre si, ainda que se relacionem, e o clube precisa sobreviver entre as janelas de transferências internacionais, enquanto a Diretoria não cumpre suas promessas para o treinador (se é que o fará).
***
De concreto, agradou-me no último sábado a ideia da escalação que iniciou partida, a qual pode ser útil em situações que exijam do time reverter desvantagens. Porém, a execução deixou a desejar. Ao longo dos 90 minutos, nos altos e baixos, o Flamengo, preocupantemente, foi aquele time dos jogos contra o Vasco da Gama no Estadual. Muita posse de bola, mas rombudo, com pouca objetividade e cedendo espaços para os contra-ataques do adversário. Inclusive foi assim que Apodi, com sua "chapada", desperdiçou a chance de empate para o Goiás. No final, o resultado veio, mas com sofrimento evitável.
Como não existe bobo no futebol e está óbvia a dificuldade do time contra sistemas defensivos fechados, o Mais Querido ainda enfrentará muito adversários como Vasco de Zé Ricardo e o Goiás de Jair Ventura. Reparem que estou me referindo a treinadores que estão muito longe do prestígio atribuído pelo Flamengo a Mister Paulo quando o contratou.
A fase de Bruno Henrique há tempos não é boa e Vitinho faz falta para o elenco rodar. Há atenuantes, mas a verdade é uma só: o Flamengo precisa jogar mais futebol e melhorar o seu rendimento dentro das quatro linhas, o que, descontados todos os problemas, é de responsabilidade sobretudo do treinador.
***
Falando em resultados, a semana desafiará o Mais Querido em dois aspectos. Para começar, o segundo lugar geral da Fase de Grupos da Libertadores muito provavelmente será decidido pelo saldo de gols que Flamengo e River Plate tiverem após seus últimos jogos, como mandantes, respectivamente, contra os peruanos Sporting Cristal e Alianza Lima.
Em segundo lugar, o time que colheu quatro vice-campeonatos de novembro/2021 até abril/2022, dois deles com Mister Paulo, enfrentará o Fluminense, adversário contra o qual perdeu quatro dos últimos cinco confrontos e se encontra sob nova direção. Com estilo oposto ao de Abel Braga, Fernando Diniz desafiará Mister Paulo com outras armas, à exceção do lado mental ou psicológico, presente em todas essas nossas recentes derrotas.
Será que nossos jogadores derreterão mais uma vez diante desse mesmo adversário?
Bom momento para demonstrar competitividade e capacidade de superar adversidades em jogos decisivos, ponto mais fraco desse quase um semestre de Paulo Sousa à frente do Flamengo.
***
Bom dia e SRN a tod@s.
1 Borel, Henri; Wu wei, a sabedoria do não-agir, pág. 17, introdução de Luis Carlos Lisboa; 1ª reimpressão; Attar Editorial, São Paulo; 2011.
sábado, 21 de maio de 2022
Flamengo x Goiás
Sábado, 21 de Maio de 2022, as 16:30h (USA ET 15:30h), no Estádio Jornalista Mário Filho ou "Maracanã", no Rio de Janeiro/RJ.
sexta-feira, 20 de maio de 2022
Alfarrábios do Melo
A gota d’água.
A derrota para o Bangu (1-2),
numa gelada noite de terça-feira no Maracanã, faz com que os pouco mais de 7
mil torcedores que se aventuraram a testar a paciência explodam em um grito
uníssono, implacável e indiscutível. “Fora, Yustrich!”
Com efeito, o rubro-negro oferece
à sua abnegada Nação mais uma jornada de futebol árido e miserável,
transpirando correria, brutalidade e mais nada. Um futebol triste, carrancudo,
soturno, completamente dissociado daquilo que o Flamengo representa. É o estilo
Yustrich, em que o rendimento físico deve suplantar qualquer sopro esquálido de
individualidade. E o chute de Dionísio, o Bode Atômico, que na cara do gol
desfere a bola em direção à bandeirinha de escanteio, é a síntese desse
pavoroso espetáculo. O Bangu, penúltimo colocado do Turno Final do Campeonato
Carioca, abre dois gols com inadmissível facilidade. O gol de “honra” de
Zanata, já nos descontos e debaixo de vaia, não aplaca a fúria de uma torcida
que anseia por mudanças. Clama por um time.
Yustrich, irritado por se julgar
“bode expiatório”, sai enfurecido da reunião. Descontrolado, agride um
jornalista e quase atropela um fotógrafo que tenta abordá-lo. E vai embora
levando sua truculência e seus conceitos quase militares de jogo coletivo.
A Diretoria age rápido e, para o
lugar de Yustrich, contrata um velho conhecido. O paraguaio Fleitas Solich está
de volta.
* * *
“É campeão!”
O próximo adversário, o Flamengo,
está longe de inspirar receio.
Solich assiste ao Flamengo nas
tribunas. Demonstra certa preocupação com o nível de uma equipe em que lutam
nomes como Tinteiro, Onça, Fio e Buião. A pálida reserva de talento está no
zagueiro/volante Reyes, no lateral Rodrigues Neto, no meia Zanata e, com boa
vontade, no lateral Murilo e no atacante Arílson. É pouco. E Don Fleitas logo
percebe isso.
“Eles têm um time certinho. São
habilidosos, organizados e é evidente que detêm o favoritismo, afinal estão
invictos. Será muito difícil derrotá-los”, pondera, manhoso, o experiente
Solich, sem deixar de acrescentar, piscando um olho e sorrindo, “mas não
impossível...”
Fleitas sabe que a diferença
entre as equipes é abissal. O adversário é mais qualificado e está motivado e
confiante na conquista de um título cada vez mais próximo. Além do mais, vencer
o Flamengo dispensa estímulo adicional para um botafoguense. Jornalistas são
quase unânimes em apontar uma vitória indiscutível do Botafogo, talvez até por
uma margem ampla. É nessa supremacia de prognóstico que Solich aposta para
tentar uma improvável surpresa.
E, de certa forma, acontece o que
todos esperavam.
Sim. Os quase 40 mil espectadores
que vão ao Maracanã presenciam uma equipe muito superior em campo, ocupando
todos os espaços, brigando com fome por todas as bolas, mas, principalmente,
desenvolvendo um jogo coletivo extremamente inteligente, com deslocamentos
insinuantes capazes de desnortear a defesa adversária. Um futebol vertical,
cortante, intenso e pleno de arte em sua objetividade. Um time confiante,
impositivo, incapaz de conceder o menor espaço ao rival que, sem forças, acaba
subjugado até com facilidade. E, no fim, o placar de 2-0 se mostra tímido, tal
a disparidade de forças apresentada no gramado. Ou seja, um espetáculo que se
desenvolve exatamente como anunciado ao longo da semana pelos jornais.
Ressalvando-se apenas um detalhe: é o Flamengo que vence.
O Flamengo termina em quarto
lugar. Um jogador emenda: “Se Fleitas tivesse chegado cinco rodadas antes,
seríamos os campeões”.
* * *
Encerrado o Carioca, a
expectativa repousa no início do Campeonato Brasileiro. Mas antes ainda há
tempo para a disputa da Taça Guanabara, torneio curto com apenas seis equipes
(Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, América e Bangu). E não demora para as
limitações do plantel rubro-negro logo se fazerem sentir.
Com efeito, após um início ruim
no torneio, o Flamengo arranca, a duras penas, um 0-0 contra um desmotivado
América, que manda a campo um time misto. O melhor do jogo é o goleiro
Ubirajara Alcântara, que faz grandes defesas e impede uma derrota vergonhosa. A
péssima atuação acende o alerta na Diretoria que, mesmo diante dos problemas
financeiros do clube, parte em busca de reforços.
Enquanto isso, Solich começa a
preparar a utilização de alguns jovens.
Um dos primeiros reforços é Zé
Eduardo, meia-atacante vindo do Bahia. O jogador se apresenta e se coloca à
disposição de Solich, mas acaba de fora do coletivo-apronto para o jogo contra
o Vasco por opção do treinador, que quer aproveitá-lo com calma. Na verdade,
Solich está pensando em fazer algumas experiências no clássico, já com vistas
ao Brasileiro, que está à porta.
Ninguém ainda sabe. Mas este será
o preâmbulo de uma Era.