Saudações flamengas a todos.
Até aqui, o trabalho do “romântico”
Mister Paulo Sousa tem sido objeto de análises com os mais distintos tons,
colhendo elogios e críticas de intensidade variada, no melhor modo “copo meio
cheio, meio vazio”.
O tempo dirá e a posteridade se
encarregará de julgar e avaliar mais adequadamente a passagem do luso. Ou
não...
Às vezes, a própria memória
costuma pregar peças, e há certa dificuldade em avaliar se determinado
profissional teve atuação positiva ou não. Hoje trago aqui um “onze” em que se pode
aplicar essa percepção. Jogadores que foram bem, normalmente titulares, alguns
até beiraram a condição de ídolos, mas, por algum motivo (pouco tempo, poucos títulos,
lesões, relação turbulenta com a torcida, entre outros) faltou algo (ou faltou muito). E, com isso, até hoje há quem diga que
fracassaram. Ou que foram bem, mas não poderiam superar o contexto em que estavam mergulhados.
De qualquer forma, segue a lista.
Sugiro ler com o copo cheio até a metade.
FILLOL (1984-1985)
Contratado para substituir Raul,
aposentado no final de 1983, chega com o status de um dos melhores goleiros do
mundo, titular da Seleção Argentina. Seu primeiro ano é muito bom, chegando a
desequilibrar algumas partidas (notadamente uma vitória em Barranquilla contra
o Junior-COL, quando defende um pênalti no último lance). Mas, em 1985, entra
em atrito com a Diretoria, buscando ser liberado para a disputa das
Eliminatórias no meio do Brasileiro. Essa controvérsia, aliada ao aumento do
número de falhas (tem atuação desastrosa na derrota em Pelotas que virtualmente
elimina o time do Brasileiro), coloca Fillol em rota de colisão com a torcida.
Tido como caro, é negociado com o Atlético de Madrid. Conquista a Taça
Guanabara de 1984.
ZÉ MARIA (1996)
Após a saída de Charles
Guerreiro, o Flamengo sofre para encontrar um lateral-direito. Após sucessivos
fracassos e obcecado pelo Estadual que deixou escapar no ano anterior, o clube
parte para uma solução ousada e, a dois dias da decisão da Taça Guanabara, traz
por empréstimo Zé Maria, destaque da Portuguesa. Motivado, Zé Maria faz estreia
primorosa no jogo que dá ao Flamengo a Taça. O lateral tem mais algumas boas
atuações no decorrer da Taça Rio, mas não impede a eliminação da Copa do
Brasil. Conquista o Estadual, mas ao final de dois meses apresenta-se à Seleção
Olímpica e é negociado pela Lusa para o futebol italiano.
ANDRÉ CRUZ (1990)
Zagueiro de boa técnica e chute
forte, é presença constante em convocações para a Seleção no final dos anos 80.
Em 1989, a Ponte Preta acerta sua transferência para o Vasco, mas o Flamengo,
mordido pela perda de Bebeto, atravessa a transação, dando início a um
imbróglio que somente é resolvido no início de 1990, com o zagueiro tomando o
caminho da Gávea por empréstimo. André Cruz estreia justamente contra o Vasco e
marca um gol no empate de 1-1, pela Taça Guanabara. Até agrada com sua técnica,
mas a campanha ruim no Estadual mina sua passagem e o desmotiva. Em algumas
partidas chega a atuar como volante, mas em nenhum momento exerce papel de protagonista.
Quatro meses após chegar ao Flamengo, embarca rumo ao futebol europeu.
GAMARRA (2000-2001)
Contratado junto ao Atlético
Madrid, chega com o prestígio de figurar na seleção dos melhores da Copa de
1998. Técnico, com senso de liderança e excepcional posicionamento, que o faz
cometer pouquíssimas faltas, logo melhora sensivelmente o desempenho da
irregular defesa do Flamengo. No entanto, sofre com sucessivas lesões ao longo
da fraca campanha da equipe no Brasileiro-2000. No Estadual-2001, enfim consegue uma
sequência de jogos e é peça importante na trajetória do Tri. Muitos atribuem às
orientações de Gamarra a evolução do jovem Juan, antes instável. Após a
conquista da Copa dos Campeões-2001, incomodado com a bagunça e os atrasos nos
salários, consegue ser transferido para o futebol grego. Sai do Flamengo
respeitado, mas sem atingir o nível de idolatria conseguido em outros clubes
brasileiros.
JUAN (2006-2010)
Egresso do Fluminense, o "Marrentinho" demora a
se firmar na equipe, chegando a ser barrado pelo esforçado lateral André. Com a
chegada de Ney Franco e seu esquema de “alas”, começa a se destacar. Marca o
gol do título da Copa do Brasil-2006, contra o Vasco. No ano seguinte vive sua
melhor fase, sendo um dos destaques da “Tropa de Elite” que arranca
milagrosamente para o 3º Lugar no Brasileiro e a vaga na Libertadores. Depois,
cai de rendimento e passa a viver relação de amor e ódio com a torcida, que
costuma pegar no seu pé, incomodada com sua suposta “indolência” em campo.
Falha na eliminação para o Internacional na Copa do Brasil-2009, mas é peça
importante no Tri Estadual e participa da conquista do Hexacampeonato
Brasileiro no mesmo ano. No final de 2010, desgastado com o péssimo momento do
time, não tem seu contrato renovado.
CACERES (2012-2015)
Credenciado pelo status de
titular da Seleção Paraguaia, chega ao Flamengo após longa “novela” envolvendo
sua liberação, onde demonstra forte vontade de atuar no clube. Logo na estreia,
é destaque na vitória por 2-0 sobre o Figueirense em Florianópolis, mostrando
muita raça e disposição. O espírito de luta segue sendo a tônica de sua
passagem pelo clube, mas certa timidez e a incapacidade de servir como
referência técnica das equipes limitadas montadas pelo clube acabam
comprometendo inclusive sua presença entre os titulares. Conquista a Copa do
Brasil-2013 (na reserva de Amaral) e o Estadual-2014 (como opção a Márcio
Araújo).
FELIPE (2003-2004)
Cria do Vasco, tenta retornar ao
cruzmaltino após conseguir a rescisão de seu contrato com o Galatasaray-TUR por
falta de pagamento. Mas, esnobado (havia saído de São Januário após briga com o
Presidente Eurico Miranda), acerta sua transferência para o Flamengo. No
rubro-negro, agora atuando como meia-atacante (é lateral de origem), logo encanta
pelo futebol de técnica diferenciada e irrita pela falta de intensidade. No
Estadual-2004, atuando como “ponta-direita”, é o nome do campeonato. Em um jogo
contra o Vasco, entorta tanto o lateral Coutinho que a narração da TV chega a
citar Garrincha. Suas atuações pelo clube (que conquista o título) o levam à
Seleção. Mas a perda da Copa do Brasil o coloca em rota de colisão com a
torcida e, ao final do ano, após marcar um gol de placa nos 6-2 contra o
Cruzeiro que livram o time do rebaixamento, joga sua camisa no chão, o que
encerra sua passagem pelo Flamengo.
AMOROSO (1996)
O Flamengo já havia tentado,
junto ao Guarani, sua contratação em 1995 para o Brasileiro, mas ao longo das
negociações Amoroso sofrera séria lesão no joelho, fazendo o rubro-negro
desistir (e trazer Edmundo para seu lugar). Mas, em 1996, enfim a Diretoria
consegue o jogador, mesmo que por curto empréstimo. Mas a trajetória de Amoroso
é instável. O meia entra em rota de colisão com o treinador Joel Santana, que
pede mais combatividade, e é barrado. Na reta final da Taça Rio, enfim sobe de
produção e, com ótimas atuações, mostra um pouco de seu futebol reluzente. Mas
é tarde. Já apalavrado com a Udinese-ITA, apenas fica a tempo de levantar a
taça do Estadual e depois parte para o futebol italiano.
RONALDINHO GAÚCHO (2011-2012)
Após longa negociação com o Milan-ITA, o Flamengo
supera Grêmio e Palmeiras e consegue repatriar o craque, que é recebido com
empolgada festa de uma torcida carente. O início é bom. Ronaldinho, visivelmente
motivado, coleciona boas atuações e é destaque na conquista invicta do
Estadual-2011 e no início do Brasileiro, em que o Flamengo chega a disputar a
liderança. Brilha de forma antológica com três gols nos históricos 5-4 contra o
Santos na Vila Belmiro, seu maior momento no Flamengo. No entanto, problemas
decorrentes da incapacidade do clube em quitar seus salários corroem sua
passagem, e o nível do futebol começa a se deteriorar. O Flamengo ainda se
classifica para a Libertadores-2012, mas a eliminação vexatória da competição
continental e do Estadual, aliada aos problemas de relacionamento com Vanderlei
Luxemburgo, o crônico problema dos atrasos nos salários e os atritos com parte
da torcida (irritada com seus excessos extracampo) fazem com que Ronaldinho
consiga a rescisão de seu contrato.
SÉRGIO ARAÚJO (1988-1989)
Em litígio com o treinador Telê
Santana no Atlético-MG, o veloz e arisco Sérgio Araújo chega ao Flamengo para
repor a recente saída de Renato Gaúcho, negociado com a Roma-ITA. Estreia em
grande estilo, marcando os dois gols do Flamengo no empate em 2-2 com o
Botafogo, pelo Brasileiro-1988. Mas, pouco depois, tem que lidar com a chegada justamente de Telê ao
rubro-negro. Ao longo do Brasileiro, isso não é problema, e Sérgio Araújo
segue titular, participando da espetacular classificação do Flamengo para as
Quartas-de-Final. No jogo que crava a vaga, marca contra o Atlético-MG (2-0) um
gol idêntico ao histórico feito por Renato Gaúcho em 1987. No entanto, em 1989,
com a volta de Zico, Telê precisa de um ponta mais combativo para equilibrar a
equipe, e com isso Sérgio Araújo perde espaço para Alcindo. Após o Estadual,
com a volta de Renato, é negociado com o Fluminense.
ROMÁRIO (1995-1999)
Naquela que até hoje é a maior
contratação da história do futebol brasileiro, o melhor jogador do mundo chega
ao Flamengo no início de 1995, após árdua negociação com o Barcelona-ESP.
Desfila de carro de bombeiros, protagoniza vários transbordos midiáticos e,
efetivamente, comanda o limitado time com gols e atuações marcantes. Com um
braço imobilizado, marca três gols nos 3-2 contra o Botafogo que dão a Taça
Guanabara ao Flamengo. No entanto, a traumática perda do Estadual mina sua
relação com a torcida. Ao longo de cinco temporadas, em que alternará passagens
pelo Flamengo e pelo futebol espanhol, Romário sempre é a referência técnica da
equipe, marca gols e mais gols, alguns antológicos, torna-se um dos maiores
goleadores da história do Flamengo, mas não consegue conduzir o rubro-negro a
títulos mais expressivos que Taças Guanabara e Estaduais. Sua postura
extracampo, avessa a treinamentos e cobranças, não ajuda. Ao final da
eliminação do Brasileiro-1999 (que o Flamengo chegou a liderar), tem seu
contrato prematuramente rescindido por uma Diretoria que precisa “dar uma
resposta” após um incidente disciplinar ocorrido em Caxias do Sul.
Ironicamente, após a saída de Romário, o Flamengo conquista a Copa Mercosul,
seu primeiro título continental desde 1996 (a Copa Ouro, também vencida logo
após sua venda para o Valencia-ESP).