Salve, Buteco! Alguns de vocês devem se lembrar, eu costumo comparar o treinador Renato Gaúcho com o seu colega de profissão Zinedine Zidane. Ambos foram cracaços de bola em nível mundial e, talvez por isso, como treinadores, sabem como poucos acomodar em um mesmo time um grande número de individualidades.
Para esses dois, o vestiário não costuma ser problema. Muito embora estejam longe de serem expoentes táticos (na verdade, muito pelo contrário), conseguem se colocar no lugar das grandes estrelas e, por saberem exatamente como elas se sentem, promovem uma espécie de organização consensual de talentos que resulta em bons times de futebol. Contudo, se por algum motivo, seja afastamentos por contusão ou mesmo limitação de investimentos do clube, as estrelas não se fazem presentes, o trabalho começa a minguar e se torna um tanto comum, podendo até chegar a ser medíocre.
Nesse tipo de situação, justamente o que se passa com Renato no momento, é que o torcedor sente falta daquela capacidade que possuem os treinadores "mais táticos", de organizar jogadores menos talentosos e os transformar em um todo forte, capaz de fazer frente até mesmo a equipes com maior investimento; daquelas incríveis variações de dinâmica e desenho tático, que chegam a minúcias como orientar como cada atleta deve se movimentar.
Porém, é difícil cravar uma linha divisória entre o teto tático do Renato e o que, em posts anteriores, eu mesmo defini como problemas que preexistiam ao seu retorno ao Flamengo, tais como a polêmica em torno da reformulação do Departamento Médico ou mesmo pontuais falhas de montagem do elenco. Aliás, falando em Departamento Médico, e essa última do Pedro, hein? As sucessivas bizarrices do setor atenuam bastante a responsabilidade do Renato, na minha opinião.
De qualquer modo, não tenho dúvidas de que, nos últimos jogos pelo Campeonato Brasileiro que antecederam jogos de copas, o time se perdeu em um círculo vicioso no qual o "correr errado", fruto da limitação tática do treinador, provocou o cansaço que gerou afobação e o deserto de ideias, o qual vem gerando ansiedade e temor de contusões (dificilmente alguém confia nesse DM), transparecendo para a torcida uma falta de vontade e raça que vem sendo definida como uma incontrolável "vontade de brincar no Brasileiro".
O rótulo tem sua razão de ser, mas acho que Renato não está de má-fé, pois acredita sinceramente que "não dá para ganhar as três". Muito provavelmente confunde os seus limites como treinador com o que julga ser impossível ser alcançado, mas, sem que ele admita, é alcançável por quem está em patamares superiores ao seu.
Aos meus olhos, porém, nada mudou. Com o retorno dos jogadores mais decisivos, o rendimento do time subirá novamente. Respeito opinião de quem considera mera consequência do talento dessas individualidades, mas se fosse assim tão simples Abel Braga, Domènec Torrent e Rogério Ceni não teriam caído, até porque teriam acumulado gordura para sobreviverem às Datas FIFA e às contusões.
Por isso mesmo, acho que não é nada simples estabelecer uma linha divisória entre a capacidade do Renato de trabalhar com esse tipo de jogador e a capacidade de improvisação que cada um deles possui. O certo, para mim, é que essas grandezas interagem bem quando o elenco todo está em boas condições físicas, o que me permite ter esperanças de que, se esse contexto se tornar realidade, teremos um desfecho positivo na Libertadores.
Não, Renato não é o técnico ideal e dificilmente acreditarei em um 2022 melhor com ele à frente do elenco. Seu negacionismo tático e suas fanfarronice e falta de auto-crítica me fazem crer em um processo de deterioração tal qual o ocorrido no Grêmio. Contudo, percebam, daí a adubar uma crise que, hoje, é pouco mais de um broto recém saído da fase de semente, vai uma grande distância.
A semana é delicada. Não temos um cenário de tão pouca margem (pontuação/resultados e desfalques) para classificação em copas desde as oitavas de final da Libertadores/2020, contra o Racing, o que recomenda muito foco na partida contra o Athletico/PR, adversário que remete a 2019, quando, no jogo de volta, Bruno Henrique estava fora e Arrascaeta saiu com poucos minutos de jogo. As coincidências de cenário não podem ser desprezadas.
Como se não bastasse, no próximo sábado tem Atlético/MG no Maracanã. Um jogo que a essa altura pouco valerá para a campanha do Brasileiro, mas que poderá ter um peso psicológico grande para eventual final da Copa do Brasil.
Temam as crises do Flamengo, pois são como grandes incêndios, daquele tipo que foge do controle e ninguém sabe como termina.
Faltam 32 (trinta e dois) dias para a final da Libertadores em Montevidéu.
Bom dia e SRN a tod@s.