Salve, Buteco! Como não poderia deixar de ser, o treinador Renato Gaúcho é alvo de críticas intensas e generalizadas, tanto da torcida, quanto da imprensa. Com um mísero ponto conquistado nos dois últimos confrontos pelo Campeonato Brasileiro, o Flamengo não conseguiu diminuir a distância para o Atlético Mineiro e a incômoda ideia de que não o fará começa a se consolidar como realidade, o que tem potencial para gerar uma enorme crise fora de hora. Mas essa crise, que por enquanto ainda não ganhou proporções mais sérias (ainda...), aos meus olhos vem sendo gestada há exatos um ano, três meses e vinte e um dias.
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Naquela sexta-feira, 5 de junho de 2020, o Flamengo oficializava a renovação de Jorge Jesus, o que parecia ser um prenúncio de que o impasse entre a Diretoria do clube e o nosso ex-treinador havia sido superado e que partiríamos para a disputa da Copa do Mundo de Clubes.
Ledo engano...
Tenho para mim que o impasse não foi superado e que as partes renovaram porque não havia, naquele momento, outra alternativa. Tanto é verdade, que a multa, mísera para os padrões europeus, a ponto de ter sido paga por um clube português (sinônimo de avareza), não segurou o treinador, insatisfeito por não ser valorizado como entendia ser devido. A vida é feita de escolhas e a Diretoria fez a sua. Poderia ter pago mais a um treinador que fazia e faria diferença. Optou por trazer um pseudo-Guardiola com uma comissão técnica inexperiente, tal como o pseudo-treinador. Mal se passaram três meses e o clube teve que desembarcar da malsucedida aventura.
Ocorre que a passagem de Domènec Torrent pelo Flamengo vai muito além dos aspectos táticos e técnicos, eis que também envolve mudanças importantes no Departamento Médico, as quais, acredito, produzem efeitos negativos até hoje. Até a chegada de Domènec, não nos esqueçamos, o setor era composto por profissionais bem conceituados que trabalharam com a mítica e legendária comissão técnica de Jorge Jesus, período no qual o elenco teve, sim, suas contusões, as quais, contudo, foram sucedidas por períodos recordes de curta recuperação, fator que inequivocamente ajudou a colocar o clube acima dos rivais no aspecto físico, a ponto de uma comissão do Grêmio, então treinado por um humilhado Renato Gaúcho (0x5 nas semifinais da Libertadores/2019), visitar o Ninho do Urubu para "melhorar a área médica em 2020."
Portanto, não bastassem a saída do grande diferencial do "Ano Mágico" (Jorge Jesus e sua comissão técnica) e a contratação da "Comissão Torrent", o clube começou uma esquisita troca de bem conceituados profissionais no Departamento Médico, até hoje mal explicada.
E como se isso já não fosse suficiente, não falta quem diga que entre os motivos de todas as saídas (inclusive de Jorge Jesus) e da vinda da "Comissão Torrent" também está a avareza, em sua mais pura essência.
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Em razão desse histórico, não me surpreendem as contusões recentes. Percebam que há um contexto que precede a chegada de Renato Portaluppi ao clube, e em razão dele é justo perguntar se as constantes trocas de profissionais do Departamento de Futebol, desde médicos até preparadores físicos, não são causa ou parte das causas dos importantes desfalques que o Flamengo vem sofrendo.
Percebam também que é nesse complexo cenário que Renato precisa decidir quem escala a cada jogo.
Pois bem. Se é difícil cravar se a visita do Grêmio ao Ninho em 2019 surtiu os efeitos esperados para o Grêmio e Renato, é inegável que, se o Renato já não tem um histórico de boa vontade e maior competitividade no Brasileiro de pontos corridos, e sim em copas, as recentes contusões e os (longos?) períodos de recuperação parecem servir como um irresistível "gatilho" para o nosso treinador honrar as suas tradições e brincar no Campeonato Brasileiro.
Percebam os primeiros sinais de tempestade se formando...
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Meu sábio amigo Marquinhos vem me alertando que o problema de brincar no Campeonato Brasileiro, primeiramente, é que ninguém combinou com os adversários que o Flamengo chegará às finais ou mesmo que conquistará ambas as copas (Libertadores e do Brasil). Além disso, o suposto maior adversário nas três competições, o Atlético Mineiro, hoje amarga um jejum de sete anos na Libertadores, seis na Copa do Brasil e nada menos do que um cinquentenário (meio século!), um jubileu de ouro no Campeonato Brasileiro.
Todavia, a cada rodada em que o Atlético Mineiro se sentir mais campeão brasileiro, ficará mais confiante. Logo, ao brincar no Campeonato Brasileiro, o Flamengo fornece graciosamente ao suposto ou potencial adversário nas finais de ambas as copas os insumos da autoconfiança, descartando o handicap da pressão psicológica.
E assim a tempestade, aos poucos, vai se formando...
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É exagero falar que, neste exato momento, já vivemos uma tempestade perfeita, afinal de contas, o Flamengo está vivo nas três competições. Entretanto, ao mesmo tempo é tolice ignorar que os fatores da perfect storm já começaram a conversar entre si, talvez discutindo uma, para nós, indesejável aproximação.
Senão vejamos.
Os desfalques geram medo no treinador naturalmente propenso a priorizar as copas em detrimento dos pontos corridos; as premiações das copas em um contexto de pandemia, mesmo em um ano que já se projeta superavitário, geram a cobiça da Diretoria que trabalha em cima de aumento de receitas; e claramente desmotivado para o Campeonato Brasileiro, o time começa a viver uma crise tática, pois, a cada semana que se passa, a "memória tática propositiva" dos três últimos treinadores, de "mentalidade europeia" e para os quais ofensividade nunca foi um problema, vai aos poucos se perdendo dentro das convicções conservadoras de Renato Gaúcho.
Tudo isso, amigos, ocorre em um cenário de crescente irritação da torcida, que não admite brincar no Campeonato Brasileiro.
Atento, e sem ter a liderança ameaçada, o Atlético Mineiro, que curiosamente roda pouco o elenco e raramente tem jogadores contundidos, observa a tempestade tomando forma...
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O contexto que precede sua chegada ao Flamengo não exime Renato da responsabilidade pela queda de rendimento do time no Campeonato Brasileiro. Como gestor do elenco, é dele, e de ninguém mais, o dever de motivar os atletas para cada confronto e cada competição. São também dele as decisões de quem, quando e em qual proporção utiliza jogo a jogo.
A partida de ontem não chegou a estar sob o efetivo controle do Flamengo, pois o placar só foi aberto nos descontos da etapa final. Todavia, acho que podemos afirmar que, na altura 60/65 minutos de jogo, o adversário até chegava de vez em quando, mas no geral tinha dificuldades para encontrar espaços na nossa defesa.
Porém, a partir daquele momento, que coincidiu com as duas primeiras substituições, o jogo se tornou desnecessariamente imprevisível e o América começou a encaixar com maior frequência perigosos contra-ataques, enquanto o nosso time parecia não ter forças para fazer o resultado.
Por que Renê não foi substituído e por que o problema acusado pelo próprio treinador, na parada para hidratação do primeiro tempo, persistiu até os últimos minutos da etapa final? E qual era o problema de ter jogadores como David Luiz, Filipe Luís, Arrascaeta e Gabigol no banco de reservas? Estamos falando em atuar pouco mais de vinte minutos, justamente para jogadores de maior qualidade e acostumados a momentos decisivos poderem fazer a diferença e garantir os três pontos.
Ninguém está pedindo que, irracionalmente, repitam-se as temporadas de 2017 e 2018, quando o clube se esfarelou entre as três competições sem saber rodar o elenco de maneira inteligente. Tampouco faz sentido exigir do Renato progressos táticos que estão além dos limites de conhecimento que optou por ter dentro desse tema. Sua contratação é um fato consumado com o qual teremos que lidar, no mínimo, até o final da temporada.
O que pedimos é respeito e comprometimento com o Campeonato Brasileiro, pois isso aqui não é Grêmio. ISSO AQUI É FLAMENGO!!
Renato deve ser lembrado de que o Clube de Regatas do Flamengo tem OITO títulos brasileiros, todos, sem exceção, autênticos, conquistados sem fax ou puxadinhos de qualquer natureza. Quando se fala em Campeonato Brasileiro, fala-se em protagonismo do Flamengo. São elementos indissociáveis.
A Nação Rubro-Negra quer o inédito tricampeonato. Que fique bem claro.
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Passado o frustrante domingo, hora de virar a chave para conquistar a vaga na terceira final de Libertadores da História do Mais Querido do Brasil.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.