Salve, Buteco! Não nego que apreensivo antes da bola rolar ontem, no campo do Palmeiras, por conta dos desfalques, especialmente na defesa. Por conta disso, eu me perguntava se não seria melhor o Flamengo tentar tirar o Palmeiras de sua zona de conforto, forçando-o a propor o jogo, ficando com a bola. Porém, o Flamengo do professor Renato não se fez de rogado e aceitou de bom grado o convite do anfitrião, sentindo-se a vontade para propor o jogo, do mesmo modo que havia feito no último jogo em solo paulistano, na Arena Corinthians.
Enquanto Arrascaeta esteve em campo, o Mais Querido se articulava bem e parecia estar melhor no jogo, porém em um lance isolado, Wesley, em jogada individual, aproveitou-se da indecisão de Isla e Andreas Pereira e abriu o placar. Felizmente, no lance seguinte ao gol sofrido a qualidade na articulação das jogadas, mostrada até então, produziu seu resultado com um inusitado gol de cabeça de Michael, o destaque do jogo, em perfeita assistência de Everton Ribeiro, talvez o melhor do primeiro tempo.
Abro um parêntesis para dois leves sopros de corneta: primeiro, Andreas Pereira terá que me convencer que consegue executar a função que antes era do Gérson. A impressão é que se trata de um meia característico, a disputar posição e rodar o elenco com Arrascaeta e Everton Ribeiro, o que me leva ao segundo sopro na corneta: não gostei da mexida do Renato no primeiro tempo. O mais lógico, como bem frisou o Maestro Junior na transmissão da Globo, era adiantar Andreas e colocar desde logo o Thiago Maia no jogo. Vitinho atua bem quando joga como meia avançado e não como Arrascaeta vinha jogando até sair, buscando o jogo e flutuando por todo o campo do Palmeiras.
Por conta disso, e apesar da inegável boa fase do Vitinho, a partir da saída do Arrascaeta o time perdeu o meio de campo e mal conseguiu passar da linha divisória, sofrendo pressão até o final da primeira etapa. Mas antes disso, comprovando o seu bom momento, Vitinho quase marcou um golaço numa conclusão com efeito da entrada da área. Uma pena a bola não ter entrado depois de beliscar a trave direita de Weverton.
O time foi para o vestiário com ajustes a serem feitos, mas Renato não decepcionou. A maneira como se recuperou no jogo merece reconhecimento e elogios.
Tendo apenas Andreas Pereira como meia típico, ou seja, com características para organização do jogo, Renato adaptou-se ao contexto desfavorável e postou o Flamengo de maneira muito segura na defesa. O Palmeiras não criou absolutamente nada na etapa final, nem quando precisou buscar o resultado, após a virada com o gol de Pedro, aproveitando a perfeita cobrança de escanteio feita por Vitinho.
Nem mesmo após as substituições, quando passou a jogar sem meias típicos, o time perdeu o controle, tanto que matou o adversário com mais uma assistência do Vitinho, dessa vez para o Michael, merecidamente eleito o melhor em campo. Há diversas formas de se controlar um jogo e uma delas é ceder a posse de bola ao adversário, porém tornando-a improdutiva. Foi o que o Flamengo pragmaticamente e com sucesso fez na partida de ontem, após a saída de Arrascaeta.
Há detalhes que não podem ser omitidos: estamos falando do time terminando com Vitinho de centroavante, Rodinei de lateral esquerdo e Ramon de ponta direita (por conta das cãibras), e com Michael executando o papel de fio desencapado, desequilibrando o jogo.
Fala-se muito, não sem razão, sobre a qualidade do elenco do Flamengo. Contudo, a deterioração do trabalho de Rogério Ceni com os desfalques durante a Copa América, a partir do jogo de ontem, ganhou um parâmetro de comparação e um contraponto importantes a favor do nosso atual treinador.
Renato vem atuando como grande um chef de cozinha, formando o menu de acordo com os ingredientes que dispõe a cada jogo. Ontem, assou costelinhas de porco na panela de pressão. Diante das adversidades, controlou o ambiente e entregou um prato que, se não foi de alta culinária, no mínimo não faria feio em qualquer restaurante de ponta.
A maneira como faz cada ingrediente, ops, jogador se destacar, cumprindo um papel tático que realça suas melhores características, em um contexto harmônico, é comparável à assinatura de um grande chef. Que continue assim, afinal de contas, a Nação Rubro-Negra não está preocupada com dieta ou com peso. Muito pelo contrário, está sempre com fome e querendo muito mais.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.
PS: "partidaça" de Michael, Bruno Viana, Ramon, Willian Arão e Everton Ribeiro!