segunda-feira, 2 de agosto de 2021

O Sonho e os Sinais da Vida Real

Salve, Buteco! Parece que estamos vivendo em um sonho. Desde a estreia na Argentina, contra o Defensa y Justica, Renato Gaúcho completou 6 jogos no comando do Flamengo, alcançando 6 vitórias, com 24 gols marcados e 3 sofridos, transformando um Flamengo dominante, mas irregular, em um verdadeiro rolo compressor. E desde que alcançou "outro patamar" sob o comando do Mister Jorge Jesus, em 2019, passando depois por um segundo treinador europeu e um brasileiro metido a europeu, esses dois últimos adeptos do sistema de jogo posicional, o Flamengo de Renato Gaúcho é o "mais anárquico" e "mais brasileiro", dando prazer de assistir. Em alguns momentos, é como se eu estivesse vendo o Flamengo do Zico (e em 1987, também de Renato) novamente desfilando nos gramados brasileiros.

Deixo claro, desde logo, que, se acho o "mais brasileiro" dos Flamengos desde 2019, por enquanto eu não acho que possa chamá-lo de "o menos europeu". É que a marcação alta continua lá, no estilo "Laranja Mecânica", não apenas lembrando a eficiência que destaquei, há duas semanas, no time de Becaccece, mas chegando a reeditar os tempos do Mister. A pegada está mais forte e mais intensa, é fácil perceber. Um dos motivos é a volta de Willian Arão ao meio de campo. O primeiro gol saiu justamente de uma roubada de bola na intermediária corintiana, permitindo a Everton Ribeiro, o melhor do time no jogo de ontem, abrir o placar com uma belo tiro de fora da área, com a canhota.

Para além disso, os jogadores voltaram a ter mais liberdade para se movimentar, porém em uma proporção que parece ser ainda maior do que em 2019. Talvez por esse mesmo motivo, o time esteja tocando um pouco mais a bola, naquele velho estilo brasileiro que  dá gosto de ver, a não ser pelo excesso de preciosismo que marca algumas jogadas, inclusive antes de se construir um placar seguro.

É nesse ponto que o time não pode "deixar de ser europeu". A mescla de estilos tem que se dar no que ambas as escolas têm de melhor. A alternância entre o toque de bola e o jogo vertical é possível. O que está faltando é um pouco mais de discernimento e menos de displicência.

Mistura, do bem, tem tudo a ver com Flamengo. A paixão não conhece fronteiras entre idades, regiões, religiões e classes sociais. É bom que assim também seja nos diversos estilos de se jogar futebol.

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Não foram poucos, desde os responsáveis pela transmissão de Corinthians 1x3 Flamengo, até torcedores, que destacaram a raridade de, entre dois clubes gigantes do futebol brasileiro, um apresentar tanta superioridade sobre o outro. É o tal "outro patamar. Por isso mesmo, antes das substituições no segundo tempo, pouco se pôde ressalvar na atuação do Mais Querido, além de algumas desnecessárias "reboladas". Contudo, e longe de reclamar de barriga cheia, tenho para mim que a vida real deu os primeiros sinais de que é impossível continuarmos a viver de maneira perene o sonho desses últimos seis jogos. 

A título de exemplo, alguns jogadores naturalmente sentiram o desgaste da maratona com jogos nos meios e finais de semana, e por isso o time caiu bastante de rendimento com as cinco substituições, permitindo ao Corinthians "crescer" nos minutos finais. Além disso, a dupla Gabigol e Pedro novamente não funcionou, o que me leva a ter dúvida sobre até que ponto se pode falar em perda de motivação do Queixada, após a frustração do sonho olímpico, e aonde entra a continuidade de um problema tático. 

Vejam bem, não ignoro que o time tirou o pé, mas também me parece inegável que tirou o pé porque precisou dosar as energias, o que fez esses pequenos problemas aparecerem, ainda que de maneira tímida. A questão é o contexto. É como se a vida real começasse a timidamente alertar quanto a alguns problemas que podem aumentar de proporção na volta dos jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2021.

Espero que os três reforços venham, o que em tese facilitará a administração dessa maratona.

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E já que estamos falando do Gabi, esse "Carrossel do Renight" me dá a impressão de que ainda não ajustou a movimentação do nosso principal jogador. O problema não é ele sair da área a criar espaços, mas a bola estar chegando pouco para o nosso Herói de Lima finalizar. A causa pode estar justamente na falta de objetividade no último passe, felizmente enxergada por Renato, que destacou o fato na coletiva pós-jogo. Um bom exemplo foi a "fomeagem" do Vitinho, no lance que levou ele e Gabi a terem um leve bate-boca de jogo.

Nada que não possa ser ajustado.

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A narração de Gustavo Villani, na Globo, foi absolutamente asquerosa. Totalmente focada nos problemas do Corinthians e ignorando os méritos do Flamengo, a equipe de transmissão chegou, de maneira cafajeste, cobrar do Corinthians que recorresse a faltas, chegando a insinuar que o jogo deveria ser mais bruto. A sugestão de emprego da violência foi implícita, mas impossível de não ser notada.

É por essas e outras que anseio pela aprovação da "Lei do Mandante". Ninguém pode ter tanto poder. A concorrência fará bem, exigindo, pelas circunstâncias, que haja competição para a apresentação de melhores produtos para o torcedor.

Ninguém quer privilégio, mas o despeito com a paixão do torcedor é intolerável.

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Os 6x0 sobre o ABC no Maracanã possibilitaram ao Renato mandar um time alternativo para disputar o jogo de volta em Natal,  no Frasqueirão. O time será dirigido por Alexandre Mendes, enquanto os titulares permanecerão no Rio se recondicionando e treinando para a sequência contra Internacional e Olímpia, dois times técnica e taticamente limitados, mas que certamente marcarão bem mais forte do que fez ontem o Corinthians, em Itaquera.

Espero que seja possível dar oportunidade a alguns jogadores da base, além de ritmo de jogo aos reservas. Pedro, por exemplo, é um que precisa não só de ritmo, mas de uma boa conversa de pé de ouvido, para que também fique "Renightizado".

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Desejando-lhes uma ótima semana, deixo, como sempre, a palavra com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.