Salve, Buteco! O dilema não é novo. Não é de hoje que debatemos nesse espaço a dificuldade de avançar nas duas copas (Libertadores ou Sul-Americana e Copa do Brasil) e ao mesmo tempo disputar a vera o título brasileiro. "Ah, Gustavo, mas o Jorge Jesus em 2019..." deixem-me completar: foi eliminado pelo futuro campeão Athletico/PR ainda nas oitavas de final, né, amigos? Vocês se recordam do contexto? Bruno Henrique, no domingo anterior, sentiu o tornozelo nos 6x1 contra o Goiás e não foi sequer relacionado, e Arrascaeta sentiu ainda no primeiro tempo, com apenas 13 minutos de jogo. Isso aconteceu aos 17 de julho, uma quarta-feira.
Aquele Flamengo de 2019 existiu em duas competições, não em três. Apesar da goleada contra o Goiás, a magia só veio para ficar no mês de agosto, depois dos 0x3 para o Bahia, no dia 4. Seis dias de treino separaram aquela derrota do triunfo sobre o Grêmio de Renato Gaúcho, no dia 10 (3x1). Mais uma semana de treino até os 4x1 sobre o Vasco da Gama, no Mané Garrincha, no dia 17, e o resto é História, inclusive o setembro, mágico e inteirinho com meios de semana livres para treino.
Amigos, não tem mistério. O elenco, em relação a 2019/2020, perdeu algumas peças-chave, casos de Gérson, negociado com o Olympique de Marselha, e Rodrigo Caio, infelizmente acometido por uma sequência de contusões preocupantes. Alguns outros estão apresentando nítida queda de rendimento, casos de Diego Alves e Filipe Luís. E além deles, Diego Ribas, liderança importante do elenco, que inegavelmente tem seu valor e se "reinventou" jogando mais recuado, mas que a cada partida demonstra que não tem fôlego para ser titular como volante e nem muito menos jogar duas vezes por semana. O tempo é inexorável e disputamos, atualmente, três competições simultâneas.
Quando a lista de relacionados foi divulgada, ainda no sábado, comentei aqui no Buteco e no Twitter que o elenco viajaria para Fortaleza com apenas dois volantes, um deles João Gomes, que desde suas primeiras partidas no profissional tem jogado muito mais como segundo do que como primeiro volante e ainda adora tomar um cartão amarelo, e Diego Ribas, adaptado à posição e com a já comentada dificuldade, cada vez mais nítida, de acompanhar o ritmo frenético do futebol profissional atual. Justamente por isso, achei que o Flamengo fosse perder, sinceramente. Estava até preparado para isso.
Na prática, porém, o jogo foi mais equilibrado do que eu esperava e o Flamengo, com mais finalizações e com as oportunidades de gol perdidas, como já é praxe, poderia ter vencido. Ainda assim, apesar de todo esse contexto, a atuação do time acabou decepcionando. E já que falei sobre o Mister alguns parágrafos atrás, permitam-me um parêntesis: sempre que posso, viúva confessa que sou, assisto a algumas partidas o Benfica, e isso só faz aumentar a saudade e a falta que sinto daquela organização tática.
Mal comparando, o Benfica me dá a impressão de ter um elenco nível Grêmio ou São Paulo. Tem lá seus valores, mas também tem muito jogador ruim. Não engrena, mas toda vez que assisto tenho aquela mesma impressão, de que é um time todo ajeitadinho, organizado, justamente o que senti que faltava nos tempos de Domènec e Ceni, e que vem faltando nos últimos jogos com Renato, especificamente nas etapas finais das partidas (fecho aqui os parêntesis).
Refiro-me aos dois jogos contra o Olimpia e aos quatro últimos pelo Brasileiro. Parece que o time se dispersa na etapa final e o jogo vira um grande faroeste, no melhor estilo "matar ou morrer", com espaços de lado a lado e trocas intensas de tiros, e o Flamengo geralmente levando a melhor por conta da qualidade de seus pistoleiros. Aquela coesão dos primeiros jogos com Renato, que durava os 90 minutos, parece que deu um tempo.
Talvez por isso mesmo, não tenho gostado do sistema defensivo, o que acaba aumentando a sensação de insegurança. É claro que tudo isso tem tudo a ver com a maratona de jogos, a ausência de Rodrigo Caio e a falta de um titular na vaga do Diego, e também é claro que o cenário pode ser transitório e tudo melhorar com as chegadas dos reforços, não apenas pela qualidade individual de cada um deles (para mim, inegável), mas por o elenco passar a ter mais opções para rodar e inclusive utilizar melhor os veteranos.
Percebam, porém, que o Renato não é o Mister, o que temos para hoje é esse elenco (talvez com o reforço de Andreas Pereira) e quarta-feira tem Grêmio, na Arena, em Porto Alegre. E com o risco do Bruno Viana jogar, pois na hora que o Léo Pereira resolveu demonstrar regularidade e transmitir confiança, veio a contusão que esperamos não ser grave.
Não sei se dá pra cravar com 100% de certeza que o Flamengo abandonou ou está brincando no Campeonato Brasileiro, mas a impressão é que a competição, hoje, é apenas a terceira prioridade. E enquanto o elenco for esse, parece também que jogaremos a vera as copas e administraremos a situação no Brasileirão. Tudo muito parecido com os tempos de Renato no Grêmio.
Se tem um lado bom, é que ao menos poderemos esperar um time mais focado e um melhor rendimento nos meios de semana, inclusive na próxima quarta-feira. E é bom que assim seja, pois a Copa do Brasil é a última chance de título (e de classificação para a Libertadores) para o Grêmio esse ano.
O certo, enfim, é que a nossa realidade atual no Brasileiro, na qual não enxergo alteração em um futuro próximo, é de distância para o líder e de muita brincadeira (de mau gosto). Essa realidade pode até ser justificável e transitória, dado o contexto de três competições simultâneas, baixas no elenco e falta dos reforços, mas ninguém é obrigado a gostar dela.
A palavra está com vocês.
Bom dia e SRN a tod@s.