segunda-feira, 26 de julho de 2021

Marcado na História

Foto: Alexandre Vidal (

Salve, Buteco! Certa vez li um artigo muito interessante sobre futebol, no qual o articulista escreveu que, em clássicos ou jogos entre rivais equivalentes, não se prevê goleadas, pois elas simplesmente acontecem. Ninguém sabe de onde vêm e nem para onde vão. Infelizmente, não me lembro do autor e nem do veículo, mas para mim as palavras tiveram significado e nunca deixaram a minha memória. Os analistas táticos podem dissecar uma goleada, apontando erros e acertos dos treinadores e dos jogadores, mas a rigor não é exatamente fácil prever quando ocorrerá e nem explicar como ou por que aconteceu.

Ontem eu acordei confiante. Aliás, vinha confiante, não apenas pelos dois últimos jogos de Renato Gaúcho no comando do Flamengo, mas também porque, ao ler as escalações, não vi como o São Paulo poderia oferecer maiores dificuldades para o Flamengo. Na minha cabeça, seria um jogo para dois gols de diferença, sem maiores sustos... até vinte segundos de bola rolando. Quando o Diego, atualmente um termômetro do nosso meio campo, tomou um giro na intermediária são-paulina e puxou o adversário, cometendo a falta, subitamente as minhas expectativas se reverteram, até porque, nos cinco minutos iniciais, o São Paulo contra-atacou duas vezes com muito perigo e o nosso capitão e camisa 10 (que me vingou falando poucas e boas pro Reinaldo) voltou andando pra defesa, não acompanhando os lances.

É bem verdade que, no primeiro tempo, o Flamengo criou várias chances concretas, mas a minha sensação, na etapa final, é que o São Paulo, tal como no início do jogo, chegava ao nosso gol mais vezes e tinha um leve predomínio, que acabou se confirmando pela abertura do placar, logo aos 8 minutos. Achei que Diego e Filipe Luís não conseguiram entrar no ritmo do jogo e Gabigol errou praticamente tudo o que tentou. A rigor, só estava gostando das atuações do Matheuzinho, do Arrascaeta e do Bruno Henrique, e, na minha cabeça, o meio campo parecia cansado. Enfim, não era bom sinal.

Aliás, até os 25 minutos da etapa final, eu estava com a impressão de que o Crespo vencia, por pontos (por pouco), o duelo tático com o Renato. Não era um "nó tático", expressão que a gíria futebolística passou a empregar para definir uma categórica supremacia tática de um treinador sobre outro, mas aos meus olhos era uma pequena vantagem, inclusive pela decisão do argentino de poupar jogadores e apostar em um time mais jovem e com vigor físico para marcar forte os nossos setores de criação e ataque.

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Nada do que escrevi até aqui tem o intuito de diminuir o mérito do Renato pela goleada. O Flamengo vinha de exatos quatro anos de jejum de vitórias contra o São Paulo e os quatro últimos confrontos, pelo Brasileiro e pela Copa do Brasil de 2020, foram indiscutivelmente traumáticos. É fácil cobrar do treinador que poupe ou que não poupe, que escale esse ou aquele jogador. Difícil é tomar as decisões certas e colher o resultado, especialmente diante de uma importante trava psicológica. 

Não é exagero. Estamos falando de quatro revezes consecutivos, com 3 gols marcados e 11 sofridos, duas goleadas, falhas bisonhas de goleiro e um título brasileiro conquistado com uma frustrante derrota.

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De onde veio essa goleada? Como explicar cinco gols em 25 minutos finais de um, até então, equilibrado jogo contra o São Paulo das quatro derrotas seguidas, dos 3 gols marcados e 11 sofridos? Contra um quadrifinalista da Libertadores/2021, classificado com uma indiscutível vitória sobre o Racing na Argentina?

Minha resposta envolve três nomes: Renato Gaúcho, Giorgian De Arrascaeta e Bruno Henrique. Renato, porque devolveu a alegria a um grupo vencedor e, especialmente a Bruno Henrique, a confiança e a motivação para voltar a ser um atacante de ponta no Flamengo, condição que o próprio Renato sabe exatamente o que é e significa.

Arrascaeta, porque é um mago, um jogador absolutamente diferenciado, um artista da bola, de cujos pés saíram as assistências para os três primeiros gols.

Bruno Henrique, porque foi o personagem do jogo. Já vi, nos meus mais de 45 anos acompanhando futebol, Zico, Gaúcho, Adriano Imperador e Leandro Machado marcarem dois gols em uma mesma partida contra o São Paulo, mas hat-trick, só tinha visto o Sávio fazer, em 1996, na final da Copa Ouro Sul-Americana (3x1).

Foram 25 minutos historicamente avassaladores, como um tsunami, como uma avalanche, como um furacão F-5 na escala Saffir-Simpson.

E como se não bastasse, os 5x1 de ontem marcaram a maior goleada do Mais Querido sobre o São Paulo na História.

Obrigado Renato, Arrascaeta, Bruno Henrique e todos os demais que entraram em campo.

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A palavra está com vocês.

Bom dia e SRN a tod@s.