Irmãos rubro-negros,
Eu sou entusiasta da formação de uma liga de clubes no Brasil para gestão dos principais campeonatos nacionais. Mas sou entusiasta desde que certas premissas sejam estritamente observadas: a primeira delas, é de que a receita auferida pelo Flamengo mediante a negociação dos direitos de transmissão dos jogos do time pertençam ao Flamengo. Ponto. Regra simples de resguardo dos interesses do clube. Da experiência que a vida tem ensinado a nós, flamengos, a percepção é de que quando há esse tipo de aproximação o clube acaba abrindo a carteira para enriquecer quem lhe quer ver pelas costas.
Dito isso, reitero que o patrimônio do Flamengo ao Flamengo pertence. Isso é ponto inegociável.
Outra premissa: o reconhecimento de que 1987 é do Flamengo. Vencemos no campo, vencemos na bola e se os demais clubes não reconhecem a simples verdade dos fatos, fica difícil confiar na longevidade de qualquer iniciativa com quem não honra o que escreve ou assina.
Terceira premissa: regras claras de reciprocidade quanto ao tratamento dispensado aos torcedores do clube visitante. Em outras palavras, os signatários da liga são obrigados a assegurar a integridade psicofísica do torcedor visitante. Flamengo já jogou duas vezes com o Palmeiras em São Paulo sem a presença do seu torcedor em manobras abjetas de bastidores por parte deles. Não só isso, por "questões de segurança", o MP de São Paulo impõe limite de 5% para o torcedor visitante. Se eles querem limitar a 5% lá, nós limitaremos a 5% quando o mando for nosso.
Poderia elencar outras premissas, mas essas três, para o momento, bastam.
Já se nota, da carta emitida pelos clubes signatários, que os objetivos com a formação da liga são basicamente: (1) maior autonomia na organização do calendário do futebol brasileiro, dando mais ênfase ao Campeonato Brasileiro; (2) maior liberdade na negociação do produto quanto às suas implicações econômicas; e (3) maior representatividade nas eleições e decisões da Cbf.
Objetivos até modestos, em se tratando de uma liga de clubes, mas que, no cenário do futebol brasileiro, podem apresentar um grande avanço desde que premissas como as acima expostas sejam estabelecidas.
Repito, e irei fazê-lo muitas vezes: audiência do torcedor do Flamengo pertence ao Flamengo. Nada de ratear aquilo que nenhum clube rateia. Palmeiras não rateia patrocínio da Crefisa, Atlético-MG não rateia patrocínio da Mrv e nenhum clube abre mão de um centavo. Quando o Flamengo estava na pindaíba, éramos alvo do escárnio alheio. Não é agora, com a casa arrumada, que vamos dar de bandeja o que com tanto suor conquistamos.
Questão interessante é a seguinte: haverá alguma regra relacionada ao fair-play financeiro? Porque aquilo que foi estabelecido no Profut, salvo o refinanciamento das dívidas, nunca foi implementado.
Aceitarão os clubes participantes que, se não adotarem regras de boa governança, serão pecuniária (multas) e esportivamente (perda de pontos e até rebaixamento) punidos? Será? Teríamos aí, de vinte integrantes, ao menos uns onze ou doze, no mínimo, com despesas bem acima das receitas, atrasando salários e apresentando déficits crescentes, ano após ano. Estarão esses clubes dispostos a passar pelo que o Flamengo passou durante vários anos para ajustar as contas?
Porque sem esse tipo de clareza quanto à governança, algo sólido e de princípios, é evidente que o Flamengo tem muito mais razão em se resguardar, e com muito mais afinco reter, o máximo de liberdade de decisão quanto à negociação dos direitos econômicos de transmissão dos seus jogos, seja pela tv, rádio ou streaming.
Eu sou um grande apoiador da diretora atual do Clube de Regatas do Flamengo, capitaneada por Rodolfo Landim. Os amigos do Buteco sabem disso. Sou grato, de coração puro, a tudo o que eles têm feito pelo clube desde dezembro de 2012, quando foram eleitos num dia memorável aqui no Buteco, com recorde de comentários, frenesi indescritível. Foram eles que iniciaram esse processo e são eles que estão conquistando os títulos tão sonhados por nós.
Mas se eles colocarem o patrimônio do Flamengo como moeda de troca para a formação da Liga, eu serei um crítico dessa iniciativa e da atitude tomada. Flamengo sofreu muito, e ainda sofre, duramente, para manter suas finanças organizadas. Enquanto outros clubes gastam o que não têm, nós pagamos, dia a dia, centavo a centavo, às centenas de milhões, os débitos de gestões irresponsáveis.
Com as considerações acima, eu torço para que a Liga, dentro de seus objetivos, seja um sucesso, embora eu sinceramente ache muito difícil dentro do contexto em que se desenvolve a relação entre os clubes no Brasil. Mas, quem sabe? Só de conseguirem essa carta de intenções, se reunirem e apresentarem suas razões já é algo surpreendente.
Que seja elaborado e implementado um calendário mais racional, que valorize as competições mais rentáveis, e que aumente o período de disputa do Campeonato Brasileiro, que é a grande competição nacional. Que o sistema de pontos corridos seja mantido e aprimorado, com a utilização de todas as ferramentas tecnológicas que ajudem a moralizar o que acontece dentro de campo. Que os clubes consigam minimamente sentar à mesa e debater civilizadamente assuntos de interesse comum (esta última parte reconheço ser algo que existe só em sonho, no momento).
No mais, aguardemos os próximos desdobramentos. Para quem achava que o Flamengo estava atrelado à Ferj, está aí, com o clube em posição de liderança neste processo, a confirmação de que as coisas não são como parecem.
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Hoje tem jogo do Mengo. Vale vaga na próxima fase da Copa do Brasil. Hoje é dia não só de jogar bola, mas de lutar, brigar e disputar cada lance com a legendária raça rubro-negra, que tanto caracteriza o Clube de Regatas do Flamengo.
Time precisa estar atento, motivado e concentrado o tempo inteiro.
A esperança é de uma grande vitória do Flamengo.
Avante Mengão!
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Abraços e Saudações Rubro-Negras.
Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.